—Jane? - Blue havia acabado de colocar seu pijama e estava pronta para ir pra cama quando o telefone tocou, era Gansey.

—Já são quase duas da manhã! - falou em resposta. 

—Eu sei, é que... você pode sair? 

Não, pensou Blue, mas por algum motivo que até mesmo ela desconhecia não quis dizer em voz alta, sua mãe não deixaria ela sair numa hora daquelas, mas se fosse alguma coisa importante, talvez ela pudesse tentar. 

—Por que? Aconteceu alguma coisa? 

—Uma catástrofe, pode vir aqui fora? - sua voz soava estranha, parecia estar nervoso. 

—Você está aqui? - surpreendeu-se, foi até a janela e viu o pig estacionado na frente da sua casa, bom contanto que não saíssem dali, sua mão não implicaria, trocou de roupa rapidinho e saiu.

—O que houve? 

—Não estou conseguindo dormir. - disse ele.

—E por isso veio até aqui? Fala sério Gansey. 

Ele deu um meio sorriso. 

—Eu sei, é estranho, mas é que fiquei virando de um lado pro outro na cama e não consegui dormir, foi quando decidi pegar o pig e dirigir sem rumo, acabei vindo parar aqui. - admitiu, parecia um adolescente e isso era novidade para Blue, pois ele sempre parecera ser um adulto, mesmo com a idade que tinha, falava, se vestia e agia como adulto.

—Eu estava me arrumando pra ir pra cama - disse a garota.

—Desculpe-me, não quis te perturbar, eu estava apenas sem rumo.

—Tudo bem. - disse ela, estava começando a se preocupar. - O que te fez perder o sono?

—De verdade? - riu nervoso. - Você.

Blue o encarou.

—Eu? - Ele fez que sim com a cabeça e depois encarou o céu, como se tivesse tentando contar todas as estrelas uma por uma. - Como assim?

—Estou confuso. - respondeu ainda contando estrelas. - Você sempre me confundiu, eu não sei nem explicar.

—Tenta. - insistiu Blue. 

—É que quando estou perto de você, ouço uma voz lá no fundo da minha mente pra me afastar o mais rápido possível, mas eu sempre a ignorei, pois não fazia sentido algum. 

Blue sabia bem o porque, nunca se esquecera do dia de São Marcos onde vira Gansey pela primeira vez. 

—Mas quando estou longe - continuou Gansey - ouço uma voz que vem do fundo do meu coração implorando pra eu me aproximar de você. Eu nunca senti isso, sabe, essa urgência de estar ao lado de uma pessoa. 

O que ele estava dizendo? Pensou Blue, que ele gostava dela? Não, isso não podia ser verdade. Ela sabia que isso acabaria muito mal, mas embora ela soubesse dessa verdade, não conseguia controlar a sensação estranha em seu estômago, eram essas as tais borboletas? As que indicavam que estava se apaixonando? 

—Gansey... 

—Beije-me. - ele a interrompeu. - Por favor Blue, eu preciso disso, tenho que ter certeza do que estou sentindo, será que estou me apaixonando por você? 

—Você nunca se apaixonou antes? 

—Não, nunca tive tempo para isso antes. Blue, eu sei que você tem essa profecia de que se beijar seu verdadeiro amor ele morrerá, sei que provavelmente não passou pela sua cabeça que eu poderia ser essa pessoa, então por isso eu lhe peço, beije-me, preciso saber se o que estou sentindo é verdadeiro, ou se é só uma ilusão. 

—Não posso. - disse, triste, ela queria tanto.

—Beije me - pediu Gansey novamente.

Blue o olhou fixamente nos olhos por alguns segundos, surpresa com a proposta, ela não podia beijá-lo, nunca, disso ela tinha certeza, mas seus olhos a traíram e num instante começou a encarar os lábios do garoto, ele percebendo o olhar de Blue, perguntou.

—Porque?

—É complicado. - é tudo que a garota responde.

—Blue... 

Uma lágrima escapou dos olhos de Blue e ela limpou com a manga da blusa, Gansey a abraçou.

—Me desculpe, eu só queria... não me sentir tão perdido. Estou tão confuso. 

—Eu quero te beijar. - admitiu Blue, sem olhar pra ele. - Mas tenho medo, Gansey, medo do que isso pode causar. - lembrou-se novamente no dia de São Marcos.

—Você acredita que eu posso ser seu verdadeiro amor? - questionou ele, não de uma maneira arrogante ou nada do tipo, era simplesmente curiosidade, e uma pontada de esperança, notou Blue, o que só piorou a situação. 

—Eu não sei. Tudo o que eu sei é que quero te beijar, quero estar ao seu lado, sinto que preciso de você, mas não posso me deixar levar por um sentimento que não posso ter. 

—Blue... eu acho que estou me apaixonando por você de verdade, não preciso nem do beijo mais pra ter certeza agora, só precisei ouvir você dizer que precisa de mim.

—Eu também acho que estou me apaixonando por você. - Blue respondeu ainda não conseguindo olhar Gansey nos olhos, nunca pensou que seria tão difícil ter essa conversa. - O que vamos fazer? - perguntou sem esperanças. 

—Vamos achar Glendower, eu tenho um pedido a fazer. 

Blue finalmente olhou para o garoto e ele sorria, se antes seu único propósito para encontrar o rei galês era a sua infinita curiosidade, agora sua motivação ficara mais forte, não era mais questão de querer, era necessidade, e ele faria de tudo para ter seu pedido realizado. Blue finalmente se deixou ter um pouquinho de esperança, e prometeu para si mesma que iria fazer o impossível para ajudar Gansey nessa busca.