Connected | BTS Fanfic escrita por Choi Jinhee


Capítulo 7
(Má) Sorte


Notas iniciais do capítulo

Olá~~
Aqui vai mais um capítulo, espero que gostem ♥
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695646/chapter/7

Eu nem acreditava no que tinha feito. Tremia tanto que tive que segurar o microfone com as duas mãos para disfarçar. Pensava que, no momento em que abrisse a boca, a minha voz falharia, nós passaríamos vergonha e eu teria estragado tudo mais uma vez.   

Mas dessa vez foi diferente. Dessa vez deu certo.

Bem, eu havia, sim, ensaiado a música com Namjoon inúmeras vezes. Eu mesma a compus e a conhecia com a palma da mão. Havíamos cantado, mudado o tom, gravado e regravado; era fácil trabalhar com meu irmão. Mesmo assim, antes de me apresentar, tinha quase certeza de que algo daria muito errado. Eu passaria vergonha. E seria demitida. E teria que voltar para a casa dos meus pais. E nunca mais seria feliz.

E, na presença do público, — se antes havia alguma dúvida — agora tinha certeza de que daria tudo errado.

Estagnei quando vi aquele monte de gente ao redor do palco. Deu branco e não consegui pensar em mais nada se não nos olhos de cada uma daquelas pessoas, voltados pra mim, esperando pelo meu próximo movimento.

Acabei parando a dois passos da marcação no chão e o holofote não me iluminava por completo. Olhei para Namjoon, que terminava de cantar seu último verso, e acalmei minha respiração antes de andar até o lugar correto.

Apostei tudo naquele momento; minha carreira, meu futuro, a confiança dos produtores (e do Namjoon, que acreditara em mim para apresentar uma música minha comigo) e, é claro, minha felicidade. Não sabia como iria lidar se fosse demitida, mas pelo menos teria feito uma apresentação com uma música original – o mais próximo do meu objetivo que estive minha vida inteira.

Soltei a primeira nota e, a partir daí, foi automático. Com a mente em branco, eu simplesmente abri a boca e cantei. Não tinha nem em mente o que estava cantando; mas soava certo, e sabia que se  parasse para raciocinar, eu iria atrapalhar a performance. Então, apenas continuei o que estava fazendo e cantei.

Tudo bem que não foi a melhor apresentação do mundo, mas foi bem feita, tudo pré-programado. O vídeo no telão era uma progressão de luzes em um cenário de chuva – e então as estações mudavam de acordo com a música. Confetes foram lançados na plateia suavemente durante os refrãos, e um casal de dançarinos coreografavam no espaço do palco entre eu e Namjoon, atraindo os olhares para os dois.

Esperava que os espectadores tivessem se arrepiado da maneira que eu me arrepiei; de tão lindo e emocionante que fora.

Guardaria aquela apresentação com carinho e orgulho; além de que, com certeza, somaria alguns pontinhos positivos na minha reputação — que não estava lá muito boa, diga-se de passagem.

Já nas últimas notas — a música havia passado tão rápido! —, espiei o público. Só conseguia enxergar os lightsticks balançando levemente no escuro, no ritmo da música. Alguns tentavam cantarolar o refrão, e meu coração se apertou no peito.

Pela primeira vez em muito tempo, algo parecia certo.

E, quando a música acabou e as luzes se apagaram, fui presenteada com uma salva de palmas e urros de alegria que me deixaram extasiada. E eu não fazia nem ideia do que tinha cantado, ainda sem conseguir raciocinar direito, mas parecia que tinham gostado, então tudo bem.

Alguém tocou meu ombro.

— Você foi ótima! — Namjoon falou no meu ouvido.

Quando seus braços me envolveram, senti meu coração voltar a bater no peito — tão rápido que chegou a doer. Um nó se formou na minha garganta e me esforcei para não chorar. Fazia tanto tempo que ele não me abraçava — um abraço de verdade, não um rápido de despedida.

Minha mente foi invadida por lembranças da nossa casa, dos nossos pais, dos nossos amigos e da vida que tínhamos antes de tentarmos essa loucura que é a fama. Uma sensação nostálgica e até de culpa me invadiu. Sentia falta da despreocupação de não ter prazos, de encontrar nosso pai arrumando a mesa para o café, da nossa mãe contabilizando os gastos da empresa que os dois haviam construído e de Namjoon descendo as escadas às pressas para não perder a primeira aula da faculdade. Era tudo tão simples, e eu era satisfeita com minha vida.

Mesmo assim, não conseguia me arrepender da escolha de seguir com aquela carreira sofrida.

Bem, acho não poderia chamar de vida isso o que eu vinha levando. As aulas de canto começam logo após acordar, e então eu sofria no intensivo de teatro, leitura de roteiro, teoria musical, avaliações dos três instrumentos que precisava dominar e, pra encerrar o dia, três horas de academia que me deixavam com vontade de vomitar de tanto esforço. Às vezes não conseguia comer direito, seja de enjôo, por falta de tempo ou por ter dormido antes de lembrar que precisava de comida.

Já fazia quase um mês que eu não ia para a universidade ou pegava num livro. Devia ter tanta matéria acumulada e tantas provas atrasadas que não ficaria surpresa se a minha matrícula estivesse sido cancelada.

Meu maior medo era de que todo aquele esforço acabasse sendo em vão. Mesmo assim, não conseguia me arrepender de lutar pelo meu sonho.

— Nami? Você está chorando?

Impedi que ele soltasse o abraço, escondendo a cabeça em seu ombro.

— Não! — funguei — Estou feliz. Parece que as pessoas gostaram.

— Parece?! Você está brincando? Estavam até cantando o refrão com a gente!

Namjoon sorriu, me arrastando para o camarim. Não pude deixar de reparar alguns organizadores cochichando, no caminho pelo backstage. Aplaudiram-nos quando passamos, felizes.

A última vez que um deles sorrira para mim foi quando assinei o contrato para me tornar trainee.

Fechei a porta e meu irmão abriu uma garrafa d’água em cima da penteadeira e a passou para mim.

— Acha que se eu pedir agora eles me deixam debutar como cantora? Estou gostando do training para ser atriz, mas... Você sabe que não é esse o meu sonho.

— Nami. — estava animado, trocando sua jaqueta por um paletó — Se forem inteligentes, vão te debutar amanhã como artista solo.

— Oppa, estou falando sério.

— Eu também. Não subestime o seu talento. Tudo o que precisa é de um pouco mais de autoconfiança. As coisas vão melhorar, eu te garanto. — Ele tirou um confete do meu cabelo e me entregou um chaveiro com o formato de um violão. — Por que não aproveita que amanhã é domingo e vai pro nosso apartamento descansar um pouco? Tenho certeza que uma cama macia vai te fazer bem.

Deixei um sorriso escapar; sonhava com a minha cama desde que o training começara, anos atrás. O tilintar das chaves era como bálsamo para meus ouvidos. Namjoon era muito cuidadoso comigo, e eu me sentia em débito por ele por todo carinho que demonstrava. Eu deveria me esforçar para ser uma irmã melhor.

— Okay. — peguei as chaves — Te espero aqui ou te encontro lá?

Ele abriu a porta do camarim, ajeitando o relógio no pulso.

— Ainda tenho um show pra terminar, então pode ir na frente.

— Espera! — peguei seu braço, de súbito — Obrigada. E te amo. Achei que deveria dizer isso.

Ele abriu um sorriso imenso, e me abraçou.

— Já faz um tempo desde que eu disse pela última vez. — Me justifiquei — Você está ficando famoso e tenho medo que esqueça.

Ele afrouxou o abraço o suficiente para me dar um beijo na testa.

— Não importa o quão famoso eu fique, não vou deixar nunca de te amar, Nami-ah. — ele cutucou minha covinha, que apareceu quando sorri — Mas você vai ter que ficar me lembrando que me ama, porque eu esqueço rápido.

— Talvez daqui a alguns anos eu diga de novo. — O empurrei — Vá terminar seu show. A festa é sua.

— Estou bonito? — ele fez uma pose.

— Tá razoável.

Ele me deu a língua e se virou, correndo de volta para o palco.

Aos poucos, me afastei do foco das luzes e me sentei em uma das cadeiras do staff, observando Namjoon agir como o anfitrião. Retornou o show com vigor e emoção, dominando o palco tão rápido que parecia que havia nascido para aquilo.

Me perguntava quanto tempo mais teria que esperar para que fosse eu ali no palco.

— Eu só queria ter tido um pouco da sua sorte, oppa. — suspirei.

Pelo canto do olho, percebi alguém se aproximar. Meu ânimo se alegrou; seria um dos produtores? Talvez finalmente recebesse um elogio. Talvez viessem propor algo; talvez aquele fosse o momento que decidiria minha carreira.

Mas parecia eu já tinha gasto toda a minha sorte naquela noite.

— Com inveja do namoradinho, trainee? — Suga parou na minha frente, olhando para mim de cabeça erguida.

— O que você está fazendo aqui? — controlei minha voz, sem levantar o olhar.

— Eu trabalho aqui. Mas vim mesmo porque queria perguntar como uma trainee, que tem um histórico tão fracassado, conseguiu apresentar uma música com um artista que já debutou; principalmente esse aí em questão. — apontou com a cabeça, com desdém — Colaborações são raras aqui na YG.

— Pensei que não se importasse com trainees.

— Não me importo. Mas, aparentemente, tem gente que sim. — olhou para trás, para o palco onde Namjoon apresentava um rap — Quer saber?

— Na verdade, não.

— Depois do que eu acabei de ver, — continuou, ignorando a minha resposta — você não precisa nem responder. Eu já vi o porquê. Aliás, qualquer um que passasse aqui saberia que o seu namoradinho está te mantendo na empresa. E se você ainda não foi expulsa, foi porque ele não deixou.

Aquilo me chamou a atenção. Não contive minha surpresa, vendo para onde sua mente o estava guiando. E não seria nada bom.

— Quer você acredite ou não, é o meu talento que me mantém na empresa. — me defendi, tentando guiar o assunto por outro rumo.

Ele devia ter escutado nossa conversa e a interpretado mal. Eu não queria que as pessoas soubessem que eu e Namjoon éramos irmãos, e por isso ninguém na empresa sabia. Mas, se Suga espalhasse que achava que nós éramos namorados, tudo iria por água abaixo.

— Claro, claro. Diga isso para si mesma se for fazer você se sentir melhor. — ele riu — Aposto que o seu namorado ali que te fez acreditar nisso.

— Você não viu a reação do público? — apontei — Eles adoraram a música que eu compus.

— As pessoas adoram qualquer coisa. Elas precisam de alguma coisa pra adorar, e é pra isso que nós servimos. Para agradar. Você não fez nada mais do que foi treinada para fazer.

— Que tipo de idol você é? Como pode dizer isso? Não tem paixão pelo que faz? Pela música?

Ele riu.

— Tanto quanto você ama aquele seu namorado? Talvez tenha.

Olhei horrorizada para ele.

— Algo muito ruim deve ter acontecido na sua vida para você ter se tornado essa pessoa amarga.

— Acontece com todos, eventualmente. — deu de ombros — Logo vai aprender também. Quando for demitida ou quando aquele cara terminar com você. O que vier primeiro.

Levantei da cadeira, pegando minha bolsa no chão.

— Olha só, eu estava tendo um dia muito bom até você chegar, então vou me retirar. E, antes que isso se torne uma merda colossal, pare de dizer que o Rap Monster é meu namorado.

— E aquele eu te amo que disseram um para o outro? — ele apontou na direção do camarim — E aposto que essas chaves na sua mão são dele. Não se faça de sonsa, qualquer um que visse aquela ceninha saberia que vocês dois estão juntos.

Fiz uma cara confusa, como se não soubesse do que ele estava falando.

— Não que eu esteja te julgando. No nosso ramo vale tudo. — ele deu de ombros — Mas sabe, até que você é bem esperta. Se aproveitou que o seu namorado é o mais novo queridinho da YG e garantiu logo o seu lugar na empresa. Foi uma boa jogada, trainee.

— Eu sou muitas coisas, mas aproveitadora não. Não preciso de ninguém para me manter aqui e pela última vez: Não. Estou. Namorando. Com. Namjoon.

— Namjoon? — levantou a sobrancelha — O que aconteceu com Rap Monster?

Nunca tive tanta vontade de xingar alguém. Respirei fundo, cerrando os punhos.

— Não me importo com o que você pensa, mas não vai acabar bem pro seu lado se sair por aí inventando calúnias do seu maior rival na indústria musical. E nós dois sabemos quem ganharia nessa história. Não é ele que está com uma má reputação ultimamente.

Suga arregalou os olhos, entendendo o significado das minhas palavras. Quando falou, sua voz estava ameaçadoramente mais baixa do que antes.

— Ainda não decidi o que vou fazer com essa informação privilegiada, mas o que quer que seja, as fãs vão perdoar a mim e ao seu namoradinho em poucos dias. Mas você? Sua carreira acaba ali.

Fechei os olhos, me acalmando. O xinguei inúmeras vezes mentalmente; ele era um idiota covarde que se aproveitava das fraquezas das pessoas, um típico manipulador calculista que ameaçava os outros por se julgar superior por causa da sua posição de sucesso. Eu o odiava. Ainda mais agora que, além de tentar me atingir, ele ainda queria prejudicar Namjoon.

E eu não podia permitir isso de maneira nenhuma.

— Não conte pra ninguém que Namjoon e eu nos conhecemos.

— Agora você vem falar manso, né? — ele riu, seco — Quer eu mantenha tudo isso em segredo? O Rap Monster não tem nenhum escândalo envolvendo o nome dele... Ainda. Talvez eu possa fazer esse favor. Já está na hora de um furo na carreira de santo do garoto ‘’prodígio’’.

Senti meu sangue gelar, e o pânico revirar minha barriga. Esqueci o orgulho e tentei estabilizar minha voz.

— Tudo bem, me desculpa. Eu não quis falar com você desse jeito. — ele sorriu e controlei o instinto de dar um soco naqueles dentes branquinhos — Mas você precisa acreditar em mim quando eu digo que não estamos namorando. Nós nos conhecemos na empresa e ele gostou de uma composição minha. Só isso.

— Ah, a namorada defendendo o namorado. Previsível.

Ele não é meu namorado.

— Me poupe desse teatro. O que vocês são então? Irmãos? – ele riu — Isso seria ainda pior.

— Min Yoongi. — respirei fundo — Estou falando sério. Por favor.

— Também estou. — ele suspirou, apoiando o braço na cadeira que eu estava sentada momentos antes — Quer que eu fique calado? Convença-me. Todo mundo tem um preço, e eu não sou diferente.

Por um momento agonizante, pensei que estivesse falando em pagar com o meu corpo; mas ele era Min Yoongi. O que não faltava era mulher e dinheiro. O que diabos eu usaria para negociar com alguém daquele tipo?

— Nós ainda não tivemos um treinamento propriamente dito. — ele pensou — Ontem, você fez todo aquele escândalo, conseguiu acabar com a minha paciência e não fizemos nada. Hoje, por conta dessa festinha do Rap Monster, as atividades da YG foram canceladas. E amanhã eu não vou desperdiçar meu domingo com você.

— Aonde você quer chegar com isso?

— Um desafio. — concluiu — Como segunda vai ser o primeiro dia do training, vou te propor um desafio até lá. Se você conseguir, te garanto o meu silêncio. Se não, você já sabe.

Pensei sobre aquilo. Não queria concordar; sentia que seria como concordar que Namjoon e eu estávamos namorando. Não que qualquer coisa que eu dissesse fosse fazê-lo mudar de ideia, mas aquele era um jogo de palavras perigoso.

— Quero que me apresente duas, não... Cinco músicas inéditas. No training de segunda.

Cinco?! Isso é impossível. Você sabe que é impossível.

— Você que compôs essa que o seu namorado acabou de divulgar. Se conseguiu fazer aquela, consegue fazer mais cinco.

— Essa música demorou quase uma semana para ficar pronta. Como acha que eu vou fazer cinco músicas brotarem na minha cabeça em dois dias?

Ele riu, dando de ombros.

— Não faço a mínima ideia. Só sei que vou ficar bem surpreso se você conseguir.

O encarei, sentido o ódio borbulhar no sangue. Queria dar um soco naquele sorriso. E eu não batia em ninguém desde a sexta série, quando uma menina colocou  chiclete no meu cabelo.

— Não faça essa cara. — ele fez um muxoxo — É um preço justo, não acha? Eu tenho um escândalo nas minhas mãos que, se manejado da maneira correta, desestabilizaria a carreira do meu maior rival. Mas estou te dando uma chance para preservar o nome dele. Além do seu, claro. A escolha é sua.

Tentei arquitetar um plano na minha mente, mas ela estava em branco de tanta raiva.

— E então, temos um acordo? – ele estendeu a mão.

Hesitei.

— Tudo bem. — não apertei sua mão — As cinco músicas estarão com você na segunda-feira.

Respirei fundo; tinha uma breve noção do que iria fazer. Apertei as chaves na minha mão, observando o chaveiro em formato de violão. Havia algo no meu quarto em Nonhyeon que poderia me ajudar.

       Durante algum tempo que eu passei perdida em pensamentos, só se ouvia o coro dos fãs e as vozes de alguns staffs que andavam pelo backstage – em uma área mais próxima do palco, longe de onde estávamos.

— E então? — chamou.

— E então o que? —Respondi, irritada.

Olhou para mim, medindo minha reação.

— Você não vai discutir? Não vai me contrariar nem nada? — assobiou — Pensei que fosse começar a gritar e a dizer como tudo isso era injusto, como fez ontem.

— Nada do que eu disser fará diferença para você.

— Se quer saber, eu acho que-

— Na verdade, eu não quero saber. — ele fez uma carranca quando o interrompi — Nada de bom sai da sua boca. Agora, se me der licença, eu preciso ir.

— Tudo bem. — olhou para seu relógio de pulso — Você tem um trabalho para fazer.

Ajustei minha bolsa nos ombros e saí. Ainda o ouvi gritando, em um tom debochado:

— Aproveite o fim de semana.

Sem olhar para trás, mostrei o dedo do meio para ele.

Saí da empresa e cortei caminho pelas ruas rapidamente seguindo o trajeto mais curto para a estação de metrô, rezando para chegar em casa o mais rápido possível.

* * *

       O nosso apartamento em Nonhyeon estava do mesmo jeito que me lembrava: pequeno, silencioso e aconchegante. Havia um espaço central que eu e Namjoon havíamos dividido em uma pequena sala de estar e uma cozinha improvisada. Nós dois nunca fomos muito organizados, mas também não éramos típicos bagunceiros; o apartamento tinha o essencial, e tudo, ou pelo menos a maioria das coisas, estava no seu devido lugar.

A sala de estar tinha um pequeno sofá bege que competia espaço com uma mesinha de centro e uma televisão. Na cozinha, a geladeira e o fogão estavam praticamente grudados um no outro; era isso ou não conseguiríamos sequer andar até a bancada da pia. Namjoon comprou uns pedaços de madeira e improvisou um balcão, já que não havia espaço para uma mesa de jantar. A obra havia rendido um prego no dedo dele, mas depois de algumas semanas tudo voltou ao normal e tínhamos um lugar para comer.

O apartamento em si não era o melhor lugar do mundo, mas era um dos poucos lugares, além da casa dos nossos pais, que me faziam sentir à vontade.

Corri para o meu quarto. Notei que Namjoon havia trocado a roupa de cama e havia arrumado um pouco da bagunça que eu havia deixado quando me mudei definitivamente para os dormitórios da YG. Os livros da universidade estavam organizados em cima da escrivaninha e o meu violão estava encostado na cabeceira da cama.

Meus olhos pesaram só de olhar para o meu travesseiro. E, por mais que quisesse me jogar no colchão e dormir até perder a noção do tempo, eu ainda tinha que deixar as cinco músicas preparadas.

Abri a gaveta da escrivaninha e retirei de lá uma pasta grossa. Agradeci silenciosamente a Namjoon por ter me aconselhado a fazer isso logo no primeiro dia em que eu comecei a compor.

Nunca entregue todas as suas composições para a YG. Guarde as melhores, umas e outras que você se apegar mais e algumas que você nunca conseguiu terminar. Elas vão ser úteis um dia.

E como vão.

Eu não precisaria passar o resto da madrugada em claro para compor cinco músicas inéditas, porque já tinha muito mais do que cinco músicas inéditas comigo, bem aqui na minha frente. Era só escolher.

Folheei as composições, lendo-as cuidadosamente. Eu não poderia escolher as melhores. Não queria entregar as minhas masterpieces de mão beijada. Foram anos de aprimoramento até que eu finalmente sentisse que não havia nada mais para modificar. Além do mais, Suga era esperto. Ele deduziria que eu peguei essas letras de alguém ou que elas já haviam sido compostas há muito tempo — e isso deixaria a minha situação na empresa ainda pior. Tudo que os trainees e idols produziam deveria ser entregue para a YG. Caso contrário, seria uma violação do contrato.

 Algumas mais antigas, de quando eu não tinha nem técnica ou experiência, surgiram no fim da pasta. Mas se os produtores vissem aquilo, diriam que eu estava regredindo, e eu com certeza seria demitida.

Então, fui escolhendo as que se aproximavam de um meio termo. Nada muito ruim e nem tão extraordinário. Eu deveria ter umas sete ou oito dessas que só precisavam de um ajuste aqui e ali e logo estariam prontas.

Senti um vazio depois que selecionei as cinco. Sabia que, a partir do momento que as entregasse, não as veria tão cedo. Era horrível ter que me desfazer de algo que havia me dedicando tanto tempo e esforço para fazer; era como se eu estivesse jogando fora um fragmento meu.

Deixei meu sentimentalismo de lado e fixei as músicas umas nas outras com um clip, guardando a pasta na gaveta. Saí do quarto, procurando pelo gravador na cozinha.

— O que você tá fazendo aí?

— Que susto! — dei um pulo, assustada.

Namjoon estava deitado no sofá, mexendo no celular.

— Quando você chegou? — pus a mão no peito, sentindo os batimentos cardíacos — Quase me matou do coração.

— Eu até gritei. — Ele se espreguiçou, os pés e braços sobrando pelas laterais do sofá curto demais para o seu corpo — Você não respondeu, então assumi que estivesse dormindo.

— Tanto faz. — balancei a mão no ar — Você ainda tem aquele seu microfone e o gravador?

— Estão no meu quarto. — bocejou — É urgente? Tenho novos que tem uma qualidade de áudio muito melhor, só que estão lá na empresa. Posso trazer para você amanhã.

— Não precisa, eu posso me virar com os daqui.

— O dia de hoje te deu inspiração? — sorriu.

— Quase isso. Enfim, é melhor gravar antes que eu esqueça. — concordei, rumando para seu quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!