Heart on Fire in Her Hands (Hiatus Indeterminado) escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 3
Capítulo 2: Ao pôr-do-sol e à luz do luar


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal!
Como vocês estão?

Antes de tudo, muito obrigada pelo feedback incrível que vocês estão dando nessa fanfic *-* Ele só tem me inspirado ainda mais e me feito escrever como uma maluca, como podem.

E sobre esse capítulo, ele é uma continuação do interior... Aqui, temos o luau ♥ Espero que gostam!

As músicas para esse capítulo são "Santa Monica" da banda Theory of a Deadman e "Crazy" do Aerosmith!

Boa leitura!



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Quinn ainda estava distraída quando chegou à mesa de Kurt e Santana. Os dois aparentemente não haviam reparado no que acontecera quando ela e Brittany entraram no restaurante e ela ainda estava totalmente perdida nos olhos castanhos que até saíram de sua visão, mas, não de seu pensamento.

Ela realmente não conseguia compreender o que acontecera há minutos, tudo fora bastante intenso e, infelizmente, rápido. E Quinn era uma garota que precisava analisar todas as hipóteses contidas dentro de uma situação, por isso, ela realmente não se surpreendia por estar tão perdida em seus pensamentos... Ela não estava preparada para encontrar aquele tipo de desejo em uma mulher.

Os olhos castanhos a atraíram e, principalmente, deixaram mistérios dentro dela. Mistérios que a faziam corar e suspirar como uma boba. Quinn até tinha medo do que eles pudessem significar, porém, estava curiosa... Ela não vira muita coisa além dos olhos castanhos escurecidos, do sorriso elétrico e da boca carnuda. E, talvez, essa ausência de informações estivesse instigando a sua curiosidade.

Quinn não sabia como descrever o que sentia, ela nunca havia se sentido daquela forma.

— Hey, branquela! Terra para o “Fantástico Mundo de Fabray”! - A loira escutou a voz de Santana, brincalhona, seguida por um pedaço de nacho embebido em chilli jogado em seu rosto. O chilli chegou aos lábios de Quinn, apimentado e escaldante, intensificando o vermelho nas bochechas da loira e lacrimejando os seus olhos. Quinn voltou-se irritada para Santana e... Nervosa? Por que estava nervosa? - Onde você está com a cabeça, hein? Pedimos sua opinião há horas.

Quinn abriu e fechou a boca mais de uma vez, olhou culpada para Santana que franziu a testa levemente, não precisava conhecer a latina por muito tempo para saber que ela estava curiosa pelo seu comportamento. A loira olhou para Brittany que estava distraída tomando seu suco e observando o restaurante. Kurt também estava ocupado em molhar seu nacho no molho azedo. Quinn abriu o melhor de seus sorrisos tranqüilos, procurando esconder os pensamentos turbulentos que não saíam de sua cabeça e as sensações escaldantes que não saíam de sua pele, e disfarçou:

— Estava pensando no píer, aquele local é lindo... Eu tenho que voltar lá ao pôr-do-sol e, talvez, ao amanhecer para pegar novas luzes nas fotos.

— Blá, blá, blá... E eu iludida pensando que você já pudesse ter arrumado um amor de verão para se distrair! - Santana comentou irônica e entediada enquanto apontava um nacho para o rosto de Quinn. A loira disfarçou, ocupando-se em limpar o lugar sujo por chilli e apanhar um burrito. Ela mordeu uma ponta do burrito, mas, praticamente não sentiu o gosto dele. Por que estava tão interessada numa mulher que acabara de conhecer? - Bem, agora que eu tenho a atenção de vossa majestade, estamos pensando em vir até uma espécie de luau nessa região da praia, à noite, o que acha?

— Por mim tudo bem... Só que quando foi que fomos convidados para esse tipo de coisa? Até onde eu sabia, nós não tínhamos nada programado para hoje à noite. - Quinn se esforçou para que sua atenção se voltasse para aquele assunto e realmente estava interessada, Santana era uma pessoa que planejava absolutamente tudo em que se envolvia e ela não tinha planejado nada para aquela noite. Santana virou-se para dar um beijo na têmpora de Brittany que sorriu, Quinn acabou sorrindo para elas também enquanto Kurt tomava o rumo da conversa:

— Encontrei umas colegas de New York aqui, o convite partiu delas... E eu já aviso que só vou se vocês forem comigo, eu não preciso de nada me lembrando o que deixei naquela cidade.

Existia um pouco de drama na voz de Kurt, porém, ainda assim, Quinn preocupou-se com ele. Ela jamais havia sido traída e desconfiava que seu próprio pai traía sua mãe, não tinha a experiência necessária para aconselhar ou consolar Kurt e essa sensação de impotência a incomodava. Quinn, nesse momento, esqueceu-se da morena de olhos quentes e sorriso avassalador e ocupou-se em estudar as feições do amigo.

Kurt podia até não querer se lembrar do que ficara em New York, mas, ele também parecia disposto a não ficar com aquele humor por todo o verão. Existia um brilho distinto de animação em seus olhos azuis. Quinn sorriu satisfeita para isso e mordeu mais um pedaço de seu burrito antes de dizer gentil:

— Se realmente não lhe incomodar, eu topo. Viemos para cá para nos divertirmos, certo?

Quinn olhou para Santana e Brittany à procura de apoio. A latina a olhava, boquiaberta enquanto a sua namorava acenava freneticamente com a cabeça, ela até mesmo deu um grito de animação. Quinn ria de Brittany quando Santana, ainda surpresa, perguntou:

— O que tinha naquele píer para você concordar em ir para uma festa, Fabray?

Kurt riu roucamente para a pergunta de Santana e Quinn deu de ombros, como se fosse nada. Mas, ela realmente encontrara alguma coisa e não fora no píer, fora naquele restaurante, com aquela morena. Quinn suspirou, ela parecia uma maluca por voltar a lembrar-se daqueles olhos quando eles em nada tinham a ver com a sua atitude... Ou tinham?

Quinn desviou os olhos de Santana e encontrou Brittany a observando, silenciosa e curiosa, sentiu como se ela conseguisse enxergar as respostas que procurava, parecia que a amiga lia a sua alma. Quinn desviou os olhos dela e, dessa vez, encontrou outra loira. Alta, bronzeada, bonita e... Californiana. Essa loira lhe sorriu e perguntou a todos na mesa:

— Desejam mais alguma coisa?

— Estamos satisfeitíssimos, a propósito, a comida estava deliciosa como sempre, Ruby. - Santana respondeu vacilante, as bochechas coraram e Kurt riu escandalosamente. Ruby olhou curiosa para a reação dele e sua expressão assumiu um tom divertido, Brittany beliscou a namorada por debaixo da mesa e Santana logo fechou o rosto em uma expressão séria e distante. - Pode nos trazer a conta, por favor.

Ruby sorriu para eles, um sorriso de dentes brancos e perfeitos, e caminhou até o balcão do caixa. Kurt continuava a rir e estava muito vermelho, Quinn estava completamente por fora do que acontecia e o moreno, ainda entre risadas, disse:

— Acho que B não gosta tanto da ideia do ménage.

— Eu até gosto, só não gosto do papel de trouxa que Santana faz toda vez que vê Ruby. - Brittany respondeu enciumada, cruzando os braços na altura dos seios e desviando os olhos de Santana, a latina encolheu-se chateada e, quando olhou para Kurt rindo histericamente em sua frente, não pode deixar de chutar-lhe as canelas embaixo da mesa. Kurt parou de rir instantaneamente e resmungou de dor, Quinn finalmente permitiu-se a rir também e quando Ruby voltou à mesa, já encontrou o grupo em seu normal, novamente.

Ela não percebeu, mas Brittany a acompanhou com os olhos depois que eles pagaram a conta e se dirigiram ao estacionamento. Santana até tentou reconquistá-la, sem sucesso. Quinn saltou para o banco de trás do Old Beetle e ela e Kurt inclinaram os corpos em direção ao sol, cantando uma música qualquer que tocava no rádio.

E Quinn, novamente, se lembrou dela. Aquela morena do restaurante era a mesma que estava de chapéu e cantava no Jeep azul. Quinn ficou em silêncio por alguns segundos, processando a informação.

Analisando a situação, como fazia sempre em qualquer momento de sua vida, ela se perguntou: qual a probabilidade de dois encontros acontecerem em um mesmo dia? Até onde isso era coincidência e quando passava a ser destino?

Sua resposta? Talvez, a coincidência se transformasse em destino se existisse uma terceira vez.

# # # # #

O Jeep azul voltou a estacionar nas proximidades do “Jewelry of the Coast”, dessa vez, não foi no estacionamento do restaurante e sim, ao meio fio do calçadão à beira da praia.

Puck mal desligara o jipe e Sam já saltara para fora, ele apanhara a caixa de bebidas enquanto Finn abraçava um monte de toras de madeira. Os dois correram e gritaram até chegarem à areia e Rachel riu dos amigos. A morena apanhou a case de dois violões e Marley parou ao lado dela, olhando para os meninos por cima dos ombros. Puck fechou a sua porta, apanhou o cajón, apoiando em um dos ombros e com a outra mão, apanhou mais uma case de violão. Puck passou pelas meninas e piscou risonho para Marley que riu dele, a loira corada virou-se para Rachel e perguntou:

— Eles sempre são assim?

— Desde que eu os conheço. Eles não conseguem ficar parados. - Rachel respondeu orgulhosa, a felicidade daqueles garotos conseguia até mesmo camuflar toda a tristeza que ela sentia dentro de si. Marley voltou os olhos azuis para ela e as duas começaram a caminhar, Marley trazia algumas cadeiras, edredons e saídas de praia. - Eles sempre arrumam algo para fazer, garanto que você voltará renovada para New York!

— Sobre isso, mais uma vez, muito obrigada... Eu mal cheguei e já estou me divertindo como nunca. Não sei se eu mereço isso. - Marley respondeu satisfeita e olhando para o horizonte. O sol ainda estava firme e forte, mas, os tons do céu já pendiam para o alaranjado. Logo, o sol se poria e eles estariam à beira da fogueira sob a luz do luar. Rachel parou de caminhar e olhou feio para Marley, a loira encolheu os ombros e sorriu desajeitada. A morena a empurrou com os ombros e sibilou:

— Para de agradecer, Rose! Você merece tudo isso e muito mais... Eu só estou dando alguns empurrãozinhos.

— É que você não precisava fazer nada disso, sabe, Rach? - Marley justificou séria, um pouquinho ressentida. Ela tinha tão pouco a oferecer a Rachel, sentia como se a amizade entre elas fosse injusta para a morena, queria ser capaz de dar algo a ela, especialmente, algo que ajudasse naquela tristeza silenciosa que ela escondia em seus olhos. - Eu queria, sei lá... Dar a você algo que você não tivesse.

— Você me dá a sua companhia e seus conselhos e suas broncas, até mesmo, as suas piadas péssimas! - Rachel, novamente, abriu um sorriso e este não chegou aos seus olhos. Marley olhava para ela e a morena optou por evitá-la, apoiando as cases próximas as toras de madeira e a caixa de bebida deixada pelos meninos. A loira olhou para a amiga por mais alguns segundos, preocupada, antes de finalmente deixá-la sozinha a dedilhar o violão na areia.

Marley caminhou até a beira do mar, onde Finn e Sam molhavam os pés. Ela foi recepcionada por um abraço do loiro que a apertou junto de si. Não pode deixar de sorrir para o carinho de Sam, muito menos, para a segurança que ele lhe passava. Marley sentia que estabelecia uma conexão com ele, tão forte como a que tinha com Rachel.

Entretanto, a conexão que tinha com Rachel ainda impedia a morena de compartilhar certas coisas com ela. Marley passara quase todo aquele ano com Rachel e, mesmo sendo bastante observadora, não conseguia determinar o que entristecia os olhos castanhos tão intensos de Rachel. Em alguns momentos, como aquele, Rachel simplesmente se desligava do mundo e se prendia em seu universo particular. E nesses momentos, quase sempre, ela dedilhava seu violão.

O sol finalmente começava a ceder e distante, no horizonte, começava a se pôr. Marley estava abraçada a Sam e Finn estava agachado na areia, olhando com um sorriso para o espetáculo natural que se desenrolava diante de seus olhos. Puck estava junto a eles, mas, olhou discretamente para trás. Rachel estava sentada na areia, o violão sobre o colo e os olhos castanhos brilhando por lágrimas seguradas e pela tristeza escondida.

Puck deu às costas ao sol e foi em direção a sua estrela. Rachel sorriu ao notar que ele se aproximara e suspirou quando ele a puxou para um abraço de lado, Puck acariciou seu braço e beijou sua cabeça. Rachel sentiu a respiração dele em seus cabelos e o ouviu perguntar preocupado:

— Está bem, pequena?

— Sim, você sabe que o primeiro dia do Verão sempre é difícil... Por mais bonito que seja, por mais gente que tenha ao meu redor, eu só queria que ela ainda estivesse aqui. - Rachel respondeu dura, procurando-se manter firme enquanto seus suspiros pesados entre as palavras entregavam a sua dor. A morena olhou para o violão em suas mãos e seu dedo fechou-se na madeira que constituía seu instrumento, um aperto que pretendia alcançar seja lá quem ela perdera. Puck sorriu para o sol, algumas estrelas já estavam visíveis no céu alaranjado, emocionado, sussurrou:

— Claro que ela está aqui. Ela esteve nos últimos quatro anos em que você veio... Acha que esse pôr-do-sol não é obra dela? É como você sempre diz... Ela quer que você viva, você não precisa definhar porque ela se foi.

Rachel afastou-se de Puck, apenas o bastante para conseguir olhá-lo nos olhos. Os olhos esverdeados dele estavam úmidos como os seus, mas, como sempre, ele se mantinha forte por ela. Puck a protegia enquanto ela, silenciosamente, desabava. Por isso, escondida entre os braços dele, Rachel permitiu derramar algumas lágrimas.

O sol efetivamente desaparecia no horizonte e a lua debruçava seu brilho prateado e preguiçoso sobre eles. Finn saiu da beira do mar e caminhou até eles, empilhando as toras de madeira e acendendo a fogueira. Sam e Marley chegaram depois, o loiro retirou mais um violão da case e sentou-se em uma das cadeiras trazidas por Marley, Finn apanhou o cajón e também se acomodou. Puck foi o último a apanhar o seu próprio violão, mas, antes, apanhou uma garrafa de cerveja e a abriu.

Marley e Rachel se olharam através da movimentação dos meninos. A morena abriu um sorriso e a loira, preocupada, o retribuiu firme. Essas eram coisas que Marley lhe dava em troca de tudo que proporcionava a ela: confiança e paciência. Um dia, Rachel seria capaz de contar o que lhe entristecia os olhos.

Mas, não hoje, não no começo daquele verão.

# # # # #

Quinn enxergou a fogueira na praia antes mesmo que se aproximassem o bastante. Também escutava as músicas e as risadas que partiam de um pequeno grupo na areia, o pessoal do grupo das amigas de Kurt parecia bem animado. Santana estacionou o Old Beetle alguns metros atrás e todos desceram. Quinn observou a lua, seu brilho prateado desenhava sombras perfeitas no calçadão e na areia, os tons estavam frios, mas, a noite estava quente.

Enquanto caminhavam em direção ao grupo, o clima californiano efetivamente tomava conta de suas mentes e de seus corações. O vento soprava liberdade, o cheiro do mar significava renovação e a noite cheia de estrelas simbolizava o infinito. Naquela noite, eles eram jovens ansiosos por aventura e crianças gananciosas por descobertas. E a noite parecia pequena para o que poderiam conquistar.

Conforme Quinn e os outros se aproximavam, a música se tornava mais alta. A loira só desviou os olhos da lua quando escutou quem cantava e, principalmente, reconheceu o timbre da voz. Quinn virou-se esperando encontrar, novamente, o sorriso brilhante e os olhos castanhos. Seu coração já estava acelerado pela mera suposição de reencontrar a morena do restaurante...

E Quinn a encontrou.

Ela estava sentada sobre uma saída de praia, as pernas cruzadas e um violão sobre elas. A morena cantava alguma música qualquer que provocava risos nos garotos, os mesmos do jipe, que sentavam ao redor dela. Do lado dela, uma garota loira batucava desengonçadamente nas coxas, tentando acompanhar a música. Porém, não era como se Quinn tivesse reparado nos outros... Na verdade, não era como se ela pudesse ver outra pessoa além da morena.

Quinn abaixou nos olhos, suas bochechas coraram intensamente. Ela agradeceu por estar próxima à fogueira e ao calor, estas seriam justificativas ideais para o seu nervosismo. Próxima o bastante, a morena finalmente a notou. Os olhos castanhos encontraram os olhos verdes, mais uma vez, Quinn se esqueceu do que a cercava porque o calor vindo deles incendiou não só o seu corpo, como também o seu coração.

— Hummel e Lopez, certo? - A morena perguntou com um sorriso charmoso e levando todos a olharem para os recém-chegados. A loira ao seu lado se levantou e adiantou-se para dar um abraço rápido em Kurt, Quinn engoliu em seco. - Eu não sabia que vocês tinham companhia!

— Essas são Brittany, minha namorada. - Santana apresentou Brittany que acenou animada, ela simplesmente adorava conhecer gente nova, o extremo oposto de Quinn. Essa loira segurou sua câmera firmemente e esperou. Santana virou-se por ela, abraçando-a pelos ombros. - E essa é Quinn, nossa melhor amiga. Ela é meio tímida, mas... Juro que é uma pessoa sensacional, mesmo!

Quinn deu uma cotovelada nas costelas da latina e os demais riram de sua atitude, Santana não poderia envergonhá-la daquela forma, não na frente daquela morena. Aliás, ela se levantara e caminhara até eles. A morena não estava longe, mas, Quinn sentiu o seu perfume da mesma forma... Algo meio amadeirado, diferente de outros cheiros femininos. Ela sorriu e disse:

— Aqueles são Sam, Puckerman e Finn. São inofensivos, quer dizer, menos Puckerman. Esse realmente é perigoso!

— Hey, pare de fazer minha caveira para essas jovens donzelas! - O garoto careca se aproximou com um sorriso de flerte, Santana revirou os olhos para ele. Ele preocupou-se em abraçar a morena enquanto bebia um gole de sua cerveja. - Ela se preocupa em me ofender, mas, sequer se apresenta... Ela é Rachel e a loirinha maravilhosa é Marley.

A loira que abraçara Kurt encolheu os olhos e sorriu tão tímida quanto Quinn. Essa sorriu para ela, evitando olhar para Rachel enquanto sentia que era atentamente observada. Sam e Finn levantaram-se de seus lugares e puxaram o grupo recém chegado para perto. Marley e Kurt já estavam engatados em uma conversa enquanto Santana lutava para tirar as mãos de Puck da cintura de Brittany.

E Quinn? Quinn caminhava alguns passos atrás, Rachel a olhou por cima dos ombros quando saltou as toras de madeira para voltar ao seu violão e Quinn sentiu seu corpo estremecer, não de frio, mas, de algo mais, de algo que ela estava curiosa e não sabia como descobrir o que era. A loira sentou-se em frente a Rachel, em uma cadeira de praia, trocaram um breve olhar e, novamente, os olhos castanhos a escaldaram. Os meninos voltaram aos seus instrumentos, menos Finn que foi até a caixa de bebidas. Rachel dedilhou algumas notas até que outra voz, já conhecida, exclamou:

— Já começaram sem mim?

Ruby vinha pela areia, descalça e os cabelos loiros ao vento, ela tinha um dos sorrisos sedutores e um daqueles olhares que derreteriam a mais fria das pessoas. Os meninos a saudaram com gritos e Santana encolheu-se envergonhada sob o olhar atento de Brittany. Quinn, que voltara a olhar para Rachel, percebeu a morena olhar diferente para Ruby, de uma forma que deixou Quinn seriamente incomodada. Tudo só ficou ainda mais confuso quando Ruby sentou-se ao lado de Rachel na saída de praia e Quinn apertou as mãos nos braços da cadeira, desviando os olhos.

Aliás, Quinn não era a única que se incomodara com a chegada de Ruby. Marley acompanhou a loira recém-chegada com os olhos, ela até mesmo suspirou quando ela se sentou ao lado de Rachel. O seu coração estava acelerado e a sua postura curvou-se, desanimada. Curiosamente, desejara que Ruby sentasse perto dela... Existia espaço o bastante para as duas na saída de praia. Na verdade, não existia. Mas, Marley a queria por perto de qualquer forma.   

Por isso, a nova-iorquina resolveu voltar com a sua atenção para Kurt e até continuaria a olhá-lo, mas, Rachel tomou um gole de sua cerveja e pigarreou, chamando a atenção de todos na roda em volta da fogueira. Ela olhou de lado para Ruby e sorriu conspiratória para ela, Quinn suspirou desanimada e Rachel disse:

— Já que estão todos aqui, vamos começar com música boa! E que essa noite dure, no mínimo, para sempre.

Até mesmo Marley e Quinn aplaudiram bem desanimadas. Rachel puxou os primeiros acordes da música, ela virou o corpo para Ruby que arqueou a sobrancelha para ela, curiosa. Quando a californiana reconheceu a música riu, assim como Rachel antes de cantá-la.

She fills my bed with gasoline

You think I wouldn’t notice

Her mind’s made up

The love is gone

I think someone’s trying to show us a sign

That even if we thought it would last

The moment would pass

My bones will break, and my heart would give

Oh, it hurts to live

Ruby balançava-se ao ritmo da música e cantarolava em silêncio e de olhos fechados. Não precisava observá-la por muito tempo para saber que aquela música era importante tanto para ela quanto para Rachel. E era justamente essa ligação entre elas que Quinn e Marley observavam. Enquanto Quinn suspirava pela voz de Rachel e amargava os olhares entre ela e Ruby, Marley observava as duas de forma melancólica. Em seus olhos azuis, existia uma tristeza velada e uma ânsia contida. E nos olhos verdes de Quinn estava o calor de quem, inconscientemente, tinha ciúmes.

And I remember the day, when you left Santa Monica

You left me to remain with all your excuses for everything

And I remember the day, when you left Santa Monica

And I remember the day you told me it’s over

Rachel não admitiria, mas, existia certa nostalgia em sua voz enquanto cantava aquela música, assim como existiam lembranças que passavam, sem parar, em sua mente. Ela podia não sentir o mesmo por Ruby, entretanto, o carinho entre elas era latente. Ruby não fora uma mulher qualquer na vida de Rachel, a morena a colocava acima das demais e acima dos demais romances de verão que tivera. Talvez, ela e Ruby tivessem dado certo... Só que o tempo passara e as duas estavam mudadas. E Rachel acreditava que o sentimento amadurecera da melhor forma. Ela tinha saudades, porém, não desejava ter de volta. Rachel não vivia de passado.

E, exatamente quando pensava isso, seus olhos desconectaram-se da figura de Ruby e encontraram a loira do outro lado da fogueira. A loira do restaurante, dos belos olhos verdes que, infelizmente, não estavam ligados aos seus e sim, à lua. Rachel sentiu seu coração acelerar, pressentiu o perigo e voltou a sua segurança. Voltou a Ruby.

It hurts to breathe

Well every time that you’re not next to me

Her mind’s made up

The girl is gone

And now I’m forced to see

I think I’m on my way

Oh, it hurts to live today

Oh, and she says: “don’t you wish you were dead like me?”

Quinn estava visivelmente confusa e seriamente incomodada. Porque a morena olhava para ela e ela podia sentir o calor dos olhos castanhos ardendo em sua pele. Estava quente, mas, também estava incompreensível. Quinn sabia que se sentia atraída por ela, não era a primeira vez que se sentia daquela forma por uma menina... Mas, era a primeira vez que Quinn queria fazer alguma coisa em relação ao que sentia.

Rachel a instigava das maneiras mais intensas e perfeitas possíveis. Quinn, mais do que atraída, estava curiosa. Queria saber o que mais existia naqueles olhos castanhos, queria saber do que ela era feita e o que ela fazia para ser daquela forma... Tão atraente, tão sedutora e tão segura de si. Rachel parecia ser inalcançável e esse desafio impulsionava Quinn.

Por alguns segundos, ela gostaria que sua timidez se esvaísse. Ela gostaria de ser como Ruby e ter alguma conexão com Rachel.

And I remember the day, when you left Santa Monica

You left me to remain with all your excuses for everything

And I remember the day, when you left Santa Monica

And I remember the day you told me it’s over

Marley não conseguia tirar os olhos de Ruby. Aliás, provavelmente, só estava mantendo os olhos nela porque ela permanecia de olhos fechados, seguindo o ritmo da música enquanto seu corpo dourado se balançava. Marley olhava para ela à procura de respostas porque, toda vez que aqueles olhos azuis chegavam aos seus, ela se perdia... Ruby era envolvente e atraente.

Mas, também, era misteriosa. Ruby tinha aquele ar conquistador e sedutor, entretanto, os olhos azuis dela, escuros e profundos, guardavam certas coisas que Marley queria descobrir e tinha medo de conhecer.

Marley soube que Ruby seria um problema no instante em que colocou os olhos sobre ela e isso não era porque Ruby podia ser uma má pessoa e sim, porque se atraiu instantaneamente por ela, assim como qualquer outro ou outra. E esse era o principal problema.

No mundo em que Rachel e Ruby se relacionavam, Marley era mera espectadora.

A batida da música se intensificou com o cajón assim como os pensamentos de Marley aceleravam.

I wanted more than this

I needed more than this

I deserve more than this

But it just won’t stop

It just don’t go away

Ruby abriu os olhos e suspirou. As lembranças de seu relacionamento com Rachel eram intensas e especiais, aquela música era sobre o fim delas, mas, também, narrava o começo do que tinham naqueles dias.

Claro que sentia saudades de tudo que viveram, mas, além da saudade, existia a amizade e essa era uma especificidade de sua relação com Rachel que ela não abria mão e lutava para manter. A conexão com Rachel ia além do corpo e da atração, o que elas tinham se encaixava justamente nas porções que elas tinham de mais quebradas.

Ruby desviou seus olhos de Rachel e eles, inevitavelmente, alcançaram Marley. Como já era costume, a nova-iorquina abaixou os próprios e Ruby se viu com saudades da energia simples e apaziguadora que tinha ali.

Marley era diferente e a conexão com ela também era. Por isso, seu corpo parou de se balançar e seus olhos se concentraram em Marley. A outra finalmente ergueu os olhos e Ruby sorriu extasiada.

Pedira por mais quando Rachel saíra de sua vida e, talvez, merecesse o que Marley queria lhe dar.

I needed more than this

I wanted more than this

I asked for more than this

But it just won’t stop

It just won’t go away

Assim como Ruby encontrou Marley, Quinn finalmente deixou a lua em paz e olhou para Rachel. Entre as chamas da fogueira, os olhos castanhos encontraram os olhos verdes. Quinn, inquieta, levantou-se da cadeira e caminhou até a caixa de bebidas. Suas mãos tremiam apenas com o som da voz de Rachel.

Essa voz, enrouquecida pela falta de prática, fazia suas mãos tremerem.

E a sensação dos olhos de Rachel sobre si deixavam-na nervosa. Ela não sabia o que esperar, ela não sabia o que sentir em relação a Rachel... Era tudo tão quente, intenso e acelerado que não fazia o menor sentido.

Quinn não gostava de não ter explicações, muito menos, quando seus sentimentos estavam envolvidos.

And I remember the day, when you left Santa Monica

You left me to remain with all your excuses for everything

And I remember the day, when you left Santa Monica

And I remember the day you told me it’s over  

A música terminou com aplausos de Santana e Brittany, assovios animados de Kurt e dedilhadas aleatórias de Sam ao violão. Rachel terminou os acordes tão inesperadamente quanto começara, estava afoita e insegura pelo que vira nos olhos de Quinn. Seus olhos buscaram Puck que olhava curioso para sua expressão, ela desviou dele apenas para acompanhar Finn caminhando desajeitado em direção a Quinn.

Ela franziu a testa e rangeu os dentes. Que merda estava acontecendo ali?

— Rachel é intimidadora no começo, mas, ela é boa pessoa... - Quinn assustou-se com a voz masculina que interrompeu o seu fluxo ansioso de pensamentos. A loira se virou em direção a voz e o mais alto dos rapazes a observava com um sorriso gentil, ele estendeu a mão, corando. - Sou Finn Hudson, é um prazer conhecê-la.

— Quinn Fabray, é um prazer também. - Quinn estava tímida e insegura, mas, preferiu colocar um sorriso nos lábios e retribuir o cumprimento do rapaz. Os dois apertaram as mãos, a mão dele era grande e fria. Finn continuou sorrindo para ela até apanhar uma garrafa de cerveja na caixa, ele ofereceu a Quinn que negou. Finn abriu a garrafa e deu um gole, observando a fogueira.

Rachel estava de cabeça baixa, dedilhando algo enquanto Ruby olhava as estrelas. Kurt e Marley voltaram a conversar enquanto o casal, Santana e Brittany, se beijavam sob olhares excitados de Puck. Sam estava distraído, olhando para Kurt. Finn suspirou e disse:

— Ela tem esse jeito de bad girl, mas, o coração é enorme... Só um coração gigante poderia ter perdoado minhas investidas iniciais e me aceitado no grupo.

— Desculpe, ela? Quem? - Quinn distraíra-se com os movimentos de Rachel. A forma como ela colocava os cabelos castanhos ondulados atrás das orelhas quando o vento batia ou os fios saíam do lugar por causa do abaixar da sua cabeça. Ela parecia tão pequena, mas, exalava tanta força... Chegava a ser incompreensível relacionar uma baixa estatura com tanta intensidade. Finn riu roucamente e tomou mais um gole de sua cerveja antes de responder:

— Rachel. Eu dei em cima dela até descobrir que ela tinha algo com Ruby, mas... Não foi tão traumatizante assim, afinal, quem pode competir com Ruby Clearwood?

Diante das palavras de Finn a respeito da californiana, os olhos de Quinn foram em direção a ela. Ruby realmente era uma mulher muito bonita e a simplicidade em seus gestos e na forma como falava não a deixavam menos e sim, mais atraente. Ela era bonita por fora e parecia ser ainda mais linda por dentro. Realmente, não parecia ter como competir com ela e isso entristeceu Quinn.

A loira começou a caminhar de volta para a fogueira e Finn a acompanhou, educadamente. Quinn acabou sentando-se ao lado de Sam e o loiro sorriu para ela, Finn estava acomodado no outro lado, sentado sobre o cajón. Sam deixou o violão de lado e perguntou divertido:

— Resolveu juntar-se aos loucos do bando?

Quinn, mesmo incomodada, riu do bom humor de Sam. Ele parecia ser inatingível, com aquele sorriso tão brilhante quanto o de Rachel. Finn sorriu para o amigo e disse brincalhão:

— Apenas, me agradeça por ter trazido essa bela moça para o nosso lado.

— Claro que sim, Hudson... Muito obrigado. - Sam agradeceu com ironia e Finn revirou os olhos para ele, a interação dos dois era leve e Quinn precisava daquilo, já tinha toneladas de suposições em seus ombros desde que olhara para Rachel. Sam a cutucou nas costelas. - Vamos cuidar bem de você e prometemos bater em Puckerman se ele ficar de gracinhas.

Puck - que estava sentado do lado de Sam e alheio à conversa - se virou ao escutar seu nome. O careca apenas mostrou o dedo do meio para o amigo antes de beber sua cerveja, provocando mais risos em Quinn. Santana, do outro lado da fogueira, escutou a risada de Quinn e abriu um sorriso satisfeito ao vê-la rodeada pelos meninos, conversando animada.

Quinn estava se permitindo, finalmente.

# # # # #

— Eu vou pegar algo para beber, aceita alguma coisa? - Marley perguntou a Kurt enquanto se levantava e retirava a areia grudada em suas coxas, a sua nuca queimou e ela sabia que tinha alguém a olhando, mas, não queria saber quem era. Kurt sorriu para ela e comentou brincalhão:

— Eu não quero nada, mas, vai beber cerveja, Rose? Berry está acabando com a sua pose de boa moça.

— Sim, ela é uma péssima influência, K! - Marley respondeu leve, rindo do comentário do moreno antes de caminhar até a caixa de bebidas.

Ela passou por Ruby e por Rachel que, propositalmente, colocou o pé em seu caminho. Marley pulou a perna da amiga e chutou seu pé, a morena grunhiu de dor antes de resmungar algo. Marley ria dela quando escutou um assovio de Puck que a fez corar, o careca estava, novamente, zoando com ela. Marley também passou por Sam, Finn e Quinn que conversavam até chegar à caixa que estava em um ponto mais distante da fogueira e, consequentemente, mais escuro.

Marley se agachou e apanhou a garrafa, ela a abriu e tomou um gole. Não era a maior das apreciadoras da bebida, mas, o gosto amargo estava começando a alcançar um lugar em seu paladar. A nova-iorquina observou a lua por alguns instantes e suspirou, ela sabia que aquele Verão seria intenso de todas as formas.

Porém, não sabia que ia ser intenso logo de cara. Mal tinha tido tempo de respirar naquelas últimas horas.

Marley, distraída, virou-se e, mais uma vez, seu corpo bateu fortemente a outro. A garrafa de cerveja, no impacto, jogou metade do conteúdo por fora que, por sorte, não atingiu Marley e sim, quem trombara nela. Marley escutou a risada rouca e familiar, assim como também sentiu mãos firmes, levemente calejadas, segurando seus braços desnudos. Marley ergueu os olhos, mais uma vez, o azul escuro e marítimo encontrou o azul assustado e celeste, a nova-iorquina se agarrou à garrafa escorregadia enquanto o timbre rouco ecoava sensual em seus ouvidos:

— Pela segunda vez? Sabe o que dizem sobre a terceira, não é? É sorte.

Marley sorriu nervosa e deu um passo desajeitado para trás, a parte interna de seus joelhos atingiu a caixa de bebidas e ela quase caiu. Novamente, as mãos de Ruby a seguraram e a puxaram para perto. A nova-iorquina olhou para a blusa dela e aquela foi uma péssima ideia, o tecido molhado marcara os seios e o abdômen de Ruby. Marley engoliu em seco e murmurou:

— E-eu... Desculpa. Eu juro que não foi de propósito.

— Pela segunda vez? Duvido. Acho que você quer chamar a minha atenção. - Ruby flertou com um sorriso, antes de jogar os cabelos loiros para trás, com um movimento das mãos. Marley engoliu em seco, observando-a. As duas se olharam e Ruby mordeu o lábio inferior, bastante envolvida. - Mas, não se preocupe. Eu já estou de olho em você.

Marley só riu porque achou que não fosse sério, mas, quando voltou os olhos para os olhos de Ruby, notou que, talvez, não fosse brincadeira. O rubor subiu pelas suas bochechas e ela tomou praticamente todo o conteúdo que ainda restava na garrafa. Ruby apenas riu da espontaneidade nervosa da mais nova e, segurando a barra da blusa que usava, confidenciou:

— Além do mais, estamos na Califórnia. Uma camisa molhada não é lá grande problema.

A nova-iorquina ainda olhava para os olhos de Ruby quando a californiana sorriu sedutora e tirou a camisa molhada. Foi a partir daí que os olhos de Marley desceram para o colo e, enfim, o abdômen levemente definido por gominhos. Novamente, engoliu em seco. Era muita pele dourada exposta, era demais para seus olhos. E Marley só ergueu os olhos porque Ruby riu baixinho e disse tendenciosa:

— Qualquer coisa é motivo para ficar de biquíni... Você deveria fazer o mesmo.

Ruby piscou para ela e inclinou-se em sua direção, Marley afastou o corpo para o lado, e Ruby agachou-se, apanhando uma garrafa de cerveja para si. Ela abriu e bebeu um gole satisfeito, olhando nos olhos de Marley. A nova-iorquina até apreciava os silêncios, mas, naquele momento, ela queria gritar.

Seu coração a ensurdecia, o rubor estava deixando-a quente demais e a cerveja em suas mãos parecia não ser capaz de distraí-la. Não tinha como distrair-se com uma mulher daquela na sua frente. Marley, então, contentou-se a olhar, passava menos vergonha quando olhava.

Porém, novamente, a música voltou à fogueira. Ruby olhou por cima dos ombros de Marley e sorriu, ela passou pela mais nova e sussurrou roucamente em seu ouvido:

— Acho que essa é a sua deixa.

Marley virou-se tão rápido que se desequilibrou, mas, conseguiu se manter em pé. Seus olhos encontraram os de Rachel e a morena apenas a observava com um olhar repleto de suposições enquanto tocava. Longe de Ruby que, finalmente, desfilara por todos e se sentara, dessa vez, do lado de Kurt, Marley reconheceu a música.

Ela quis matar Rachel. Porque aquela música era a que Rachel a escutara cantar em Julliard quando se conheceram. A morena riu roucamente quando percebeu o nervosismo da amiga e, olhando-a em desafio, começou.

Come here baby

You know drive me up a wall

the way you make good on all the nasty tricks you pull

Seems like we’re makin’ up more than we’re makin’ love

And it always seems you got somn’ on your mind other than me

Girl, you got to change your crazy ways

You hear me

Rachel fizera caretas de sedução que só provocaram risos em Marley, os garotos também riram e Santana revirou os olhos, aquela morena se achava a rainha do flerte, não era possível!

Marley tomou todo o conteúdo da garrafa de cerveja e a jogou no lixo. Caminhou em direção à fogueira e fez a sua melhor expressão de flerte para a morena, Rachel riu de forma satisfeita enquanto a observava e Marley assumiu a primeira voz.

Say you’re leavin’ on a seven thirty train

And that you’re headin’ out to Hollywood

Girl you been givin’ me that line so many times

It kinds gets like feelin’ bad looks good

Os aplausos sobrepuseram a voz de Marley, afinal, ninguém esperava que ela tivesse aquela voz. Ela estudava Música, mas, o que ela entregava era puro talento, assim como Rachel em seu violão. As duas amigas se olhavam com sorrisos nos rostos, aquela música fora mágica para elas, marcara o início daquela amizade.

A amizade que muitos questionavam, afinal, Rachel Berry não era a melhor influência do mundo e Marley Rose parecia muito quieta para ter uma amiga tão louca. Porém, as duas se completavam em suas diferenças.

Marley finalmente sentou ao lado de Rachel e a empurrou com o ombro. Rachel a empurrou de volta, jamais errando uma nota. A nova-iorquina desviou seus olhos do instrumento da amiga e eles, como atração magnética, chegaram a Ruby.

That kind lovin’

Turns a man to a slave

That kind lovin’

Sends a man right to his grave...

Ruby bebericava a sua cerveja quando recebeu os olhos azuis límpidos de Marley. A nova-iorquina tinha uma energia diferente da qual estava acostumada, não existia timidez e nem vergonha. Marley entregava, com a música, o que era desajeitada demais para fazer ou falar.

A californiana tomou um gole de sua cerveja e o engoliu com dificuldade.

Alguma coisa no timbre de Marley a embriagava muito mais do que o álcool em suas mãos. Ela viu as chamas brincarem nos olhos de Marley como se os olhos dela realmente fossem feitos disso... E eles não eram? Porque Ruby, acostumada ao sol da Califórnia, jamais sentira tanto calor assim.

Uma nova Marley se abria diante de si e essa Marley era assustadoramente sedutora. Ruby arqueou a sobrancelha para sua descoberta, mas, ela não fugia do perigo e manteve o contato visual, ansiosa por mais.

I go crazy, crazy, baby, I go crazy

You turn it on

Then you’re gone

You drive me

Crazy, crazy, crazy, for you baby...

What can I do, honey

I feel like the color blue...

A voz de Marley era uma montanha russa de notas altas e baixas e de intensidade, só que também era de uma beleza singular, única.

A nova-iorquina amava cantar e seu amor pela música estava presente em cada nota que alcançava. Ela também cantava pelo que estava vivendo naquele momento... Aquela loucura de sensações e de sentimentos que eram encabeçados pela liberdade. Nunca se sentira daquela forma e devia tudo a Rachel.

Ela olhou de lado para a amiga que dedilhava o violão e cantarolava a música, baixinho e mantendo-se obediente como segunda voz quando tinha uma voz tão boa quanto a sua. O mundo precisava escutar mais Rachel Berry e Marley não entendia por que ela se calava. Provavelmente, estava tudo relacionado àquele passado que Rachel não falava.

Mas, não era o momento para falar sobre aquilo.

Os olhos de Marley foram para Ruby e não se surpreendeu por ser retribuída, estava acostumando-se ao azul escuro fazendo casa em seu azul celeste. Contudo, não estava acostumada àquele tipo de olhar.

Ruby a olhava como se a tivesse redescoberto. Um sorriso no canto dos lábios da californiana provocou um sorriso cheio de melodia nos lábios da nova-iorquina. Ruby virou a garrafa e Marley cantou firme.   

You packin’ up your stuff and talkin’ it’s like tough

And tryin’ to tell me that it’s time to go

But I know you ain’t wearin’ nothin’ underneath that overcoat

And it’s all show

Rachel poderia perceber a interação entre a sua ex e sua melhor amiga se tivesse prestado atenção às duas. Porém, seus olhos castanhos estavam na loira sentada entre Finn e Sam.

Ela observava Marley cantar com um sorriso no rosto, balançando a cabeça no ritmo da música e até cantarolando alguns versos. E o sorriso dela, distante da timidez e do rubor, era ainda mais lindo.

Quinn era tão bonita como Ruby, mas, tão diferente quanto.

Se Ruby estava sempre aberta a novas experiências e ao desconhecido, Quinn parecia querer saber onde pisava e com quem caminhava. Quinn parecia viver de certezas e de terra firme, diferentemente de Rachel e sua inconseqüência e espontaneidade. Em qualquer outra situação da vida, Rachel poderia achar Quinn tediosa.

Só que, naquela noite, diante daquela fogueira... Ela só conseguia pensar que Quinn era linda.

That kind of lovin’

Makes me wanna pull

Down the shade

That kind of lovin’

Now I’m never gonna be the same

Quinn estava envolvida na música, abandonando as amarras de sua timidez e focando na intensidade daquele momento. Talvez, esse Verão fosse a oportunidade de experimentar uma vida de liberdade, sem receio e cheia de novidades.

Não sabia quando teria aquela oportunidade, nem se a teria de novo.

Aquele momento pareceu finito e passageiro e ela precisava vivê-lo da melhor forma. Logo, estaria de volta para os dias chuvosos e provavelmente frios de Connecticut. Precisava do sol, do calor, das experiências... Precisava de loucuras, precisava de Santa Monica e da Califórnia.

E, como se fosse um aviso subliminar de seu destino, Quinn encontrou Rachel.

Os olhos castanhos a observavam quando ela abriu os próprios. E a boca carnuda voltou a sorrir para ela. O sorriso brilhante, o sorriso que deixava Quinn louca e a fazia questionar.

Naquele momento, ele deu respostas para perguntas que Quinn sequer pensava ter questionado.

I go crazy, crazy, baby, I go crazy

You turn it on

Then you’re gone

You drive me

Crazy, crazy, crazy, for you baby...

What can I do, honey

I feel like the color blue...

Marley não sabe da onde veio a coragem, mas ela, ainda veio. Com essa coragem nos olhos e muito que falar, ela cantou.

Direta e exclusivamente para Ruby.

I’m losing my mind, girl

‘Cause I’m goin’ crazy...

Rachel terminou a música e conforme o som morria entremeado às ondas do mar, Marley desviou os olhos e sorriu para as palmas e para o que Ruby lhe entregou num último olhar. A surpresa estava ocupando os olhos da californiana e Marley se orgulhava disso.

— Acho que eu nunca vi tanta sapatisse na minha vida. - Santana comentou baixinho para Kurt, olhando de Ruby para Marley. Brittany desviou os olhos da fogueira e olhou para a namorada que segurava a risada diante do próprio comentário. Kurt riu da amiga e acenou com a cabeça, depois, completou:

— E eu acho que existe muito mais.

— O que quer dizer com isso? - Santana perguntou surpresa ao amigo, procurando pelo que ele encontrara em Rachel e Quinn, mas, as duas estavam conversando com Marley e Sam, respectivamente. Kurt sorriu maléfico, somente ele percebera os olhares entre Rachel e Quinn e não seria ele quem sairia falando. O moreno agitou as mãos e fingiu não escutar os resmungos da amiga. Santana cruzou os braços, insatisfeita. E Finn, do outro lado da roda, comentou:

— A maré mudou e a gente nem percebeu.

— Pulamos uma parte do ritual e, talvez, essa mudança seja bem-vinda. - Puck comentou cheio de significado, olhando diretamente para Rachel enquanto se levantava. O bad boy, discretamente, havia percebido o que estava rolando entre a amiga e Quinn e esperaria a hora certa para falar com ela. Rachel acenou com a cabeça, também se levantando.

Todos se levantaram e esse era sinal que a noite tinha acabado.

Marley trocou um último olhar para Ruby que sorriu e piscou.

Rachel olhou para Quinn que abaixou os olhos, a loira corava e sorria para os próprios pés. A morena suspirou e guardou seu violão. E enquanto arrumava suas coisas, escutou o adeus sussurrado pela voz nasalada de Quinn em meio às vozes de seus melhores amigos.

E a loucura maior da noite foi que, apenas aquele simples “boa noite” fez Rachel dormir como nunca. Naquela noite, não existiram pesadelos. Naquela noite, ela descansou.

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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Sei que Faberry está devagar... Mas, logo engrena, eu preciso determinar bem a personalidade da Rachel e de Quinn para fazer o relacionamento das duas fluir.
Sobre isso, o que acham que há no passado de Rachel, hein?

Mas, enquanto isso, temos Ruby e Marley... O que acham?

Espero mais desse feedback incrível, nos vemos na próxima, beijos!