Asas de Vidro escrita por Bruna Gonçalves


Capítulo 9
Nono


Notas iniciais do capítulo

Hey!

Postei esse capítulo bem rápido dessa vez, mas eu estou tão animada com o decorrer dessa história que eu escrevi como uma louca! Esse ficou um pouco maior que os de costume, mas esse precisava de mais palavras.

Espero que gostem, meus anjos!



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Acordei naquela manhã de sábado e Isaac não estava na cama ao meu lado. Cocei meus olhos irritados pela luz do sol e calcei meus chinelos. Chamei o nome dele algumas vezes, mas não obtive resposta alguma de qualquer canto da casa. Desci até o andar de baixo e Isaac não estava em lugar nenhum. Fiquei preocupada, já que normalmente eu era avisada por ele quando ficaria sozinha.

Resolvi preparar um café, e quando tomei um gole do líquido fumegante, tomei um susto com o som da campainha. E, ao abrir a porta, tomei um susto ainda maior.

— Scott? — Apertei a xícara quente em meus dedos. — O que houve?

Apesar de ser louco, nunca imaginei que ele apareceria em plena luz do dia em minha casa, sabendo que Isaac poderia estar comigo e acabar com ele mais uma vez.

— Esperei a manhã inteira para que seu namoradinho saísse. — Sua voz não estava irônica ou sarcástica como sempre. Scott estava sério, como eu nunca tinha visto. — Precisamos ter uma conversa séria, Alexis. De policial para civil.

Deixei que ele entrasse, e nos sentamos na mesa da sala. Scott trazia uma pasta em suas mãos, e a abriu com certo nervosismo. Vários papéis foram colocados a minha frente.

— O que é tudo isso?                          

— Depois daquela conversa que tivemos no mercado, eu resolvi fazer algumas pesquisas para descobrir se o seu namorado possui um passado ruim. E nisso, descobri que nenhum Isaac Davies participou das Forças Armadas. E não o encontrei em nenhum registro civil. — Os olhos dele foram em direção aos meus, e senti medo. Me estendeu alguns dos papéis, e nenhum Isaac Davies constava naquela lista.

— O que você quer dizer? — Minha voz saiu trêmula.                      

— Temo dizer isso a você, mas o Isaac que você conhece não é real. — Scott pigarreou. — E pode ser perigoso.

Minha visão escureceu por alguns segundos, e tudo que eu pude ouvir foi o som da xícara se partindo no chão em dezenas de pedaços. Pisquei meus olhos com força, tentando acordar daquele pesadelo. Aquilo não poderia ser verdade.

— Isso é uma brincadeira, Scott? — Sussurrei, sentindo as lágrimas se formarem atrás de meus olhos. — Tudo para me fazer voltar para você?

— Eu nunca brincaria com isso, Alexis. — Ele segurou minhas mãos, que tremiam. — Acho que você precisa de um tempo para pensar sobre as coisas. Se acontecer algo ou se lembrar de qualquer coisa suspeita, me ligue, certo? Eu voltarei para cá em uma hora. — Scott se levantou e beijou o topo da minha cabeça. Fazendo um gesto adorável pela primeira vez em todo o tempo que o conheci. — Fique bem.

Então ele saiu da minha casa, me deixando sozinha com meus pensamentos. Minha cabeça doía e o chão girava sob meus pés, e eu mal conseguia ficar de pé. Tudo rodava na minha memória, todos os momentos que eu dividi com Isaac naqueles três meses. E ele mentiu para mim naquele tempo todo.

Eu precisava me lembrar de algo suspeito antes que Isaac aparecesse. Qualquer coisa que me parecesse um pouco estranha. E então minha memória me levou até a casa de Isaac, no dia que eu entrei naquele quarto. Várias caixas, provavelmente da mudança, mas apenas uma pilha identificada. Com a letra A.

Corri até a porta dos fundos, já que eu não teria tempo de dar a volta na estrada. Eu precisava descobrir o que estava de errado, antes que ele voltasse.

Como quando eu tinha sete anos, passei por baixo da cerca, sujando meu pijama com terra e grama. Foi mais difícil passar por ali daquela vez, mas eu não tinha outra escolha. Corri pela grama e pelas flores, sentindo meus joelhos tremerem e minha cabeça girar. Já na porta da frente do casarão branco, coloquei minhas mãos na terra do vaso da frente, onde eu sabia que Isaac escondia sua chave reserva. Com a porta destrancada, respirei fundo antes de entrar, tentando recobrar o fôlego.

Subi as escadas e passei pelo corredor, em direção ao quarto. Ainda tinha algumas caixas ali, e a pilha identificada estava no mesmo lugar. Tive que acender a luz, já que a janela continuava fechada com tábuas e pregos.

Abri uma das caixas com a letra A e encontrei vários cadernos e pastas. Abri um deles e encontrei a caligrafia de Isaac nas páginas amareladas. Era um diário, detalhando cada momento do dia de alguém.

“Alexis passou a maior parte do dia no quarto, brincando com suas bonecas. Sua babá, Joanne, fez um lanche para ela e foi embora. Aparentemente, a menina vai ficar sozinha por algum tempo até que seu pai volte do trabalho. Alexis decidiu que iria brincar com sua boneca Lucy no quintal vizinho, depois de ver uma borboleta azul. Ficou um pouco nas flores, e subiu em uma árvore para alcançar a tal borboleta. Preciso intervir, antes que ela se machuque.”

Isaac descreveu meu dia naquelas poucas linhas, com detalhes impressionantes. O dia mais importante da minha vida, quando vi aquele anjo pela primeira e última vez. E eu fui uma idiota de não perceber. Isaac e aquele anjo misterioso tinham uma semelhança impressionante. Eram a mesma pessoa.

Tinha tudo naquele diário, todo o meu cotidiano, as coisas que eu fazia durante todo o dia. Abri os outros, e não encontrei nada de diferente.

As coisas começaram a se encaixar na minha cabeça. Aquele colar que eu ganhara de um desconhecido não foi por acaso. Foi Isaac que me deu, junto com aquela rosa. Me vigiando todos os dias, seria fácil descobrir que eu gostava de rosas vermelhas.

Em uma das pastas, encontrei algo que me fez perder todo o ar que restava em meus pulmões. Ali guardados, encontrei vários desenhos meus que eu fiz quando era uma criança, com aquele anjo que me salvou em um dia. Coisas que ninguém nunca poderia encontrar. Coisas que só eu sabia que existiam.

Aquele “A” era meu. Alexis.

Desabei no chão, segurando aquilo tudo contra o meu corpo como a minha própria vida. Eu tinha sido enganada durante todo aquele tempo, e Isaac sempre esteve me vigiando. Escrevendo coisas sobre mim como se eu fosse um objeto a ser estudado.

— Alexis? — Era a voz de Isaac no andar de baixo. Ele tinha voltado e estava me procurando. — Você está aqui?

Meu corpo tremia, e as palavras não saíam de meus lábios. Eu simplesmente não podia acreditar que aquilo tudo era real.

Eu podia ouvir seus passos na escada, se aproximando no corredor. E eu vi seu corpo na porta, se ajoelhando ao meu lado, preocupado. Deixou cair um buquê de rosas e lírios na minha frente, provavelmente um presente para mim.

— Alexis, você está sangrando! — Eu finalmente olhei para ele. E pude enxergar o medo nos olhos dele. — Você atravessou a cerca?

Olhei para o meu braço e pude ver um corte profundo e aberto, com o sangue manchando o pedaço rasgado da minha blusa azul com vermelho escuro. Mas aquilo não importava naquele momento.

— Você mentiu para mim. — Sussurrei, as lágrimas manchando meu rosto pálido. — Por quê?

— Você está perdendo muito sangue, vamos cuidar desse machucado primeiro. — Ele falava como se minha descoberta não fosse algo importante. Como se quisesse mudar de assunto. — Depois nós conversamos.

As mãos dele me seguraram, e um toque de Isaac nunca foi tão duro.

— Eu quero saber a verdade, Isaac. — Puxei meu braço, sentindo a dor se espalhar por todo o meu corpo, me causando arrepios. — Agora!

O eco de meu grito percorreu toda a casa, o que assustou o rapaz na minha frente. Isaac abaixou a cabeça e sentou ao meu lado, derrotado. Em algum momento naqueles poucos minutos, nós dois chorávamos em um abraço apertado.

— Eu não menti... — Ele murmurou. — Só não podia contar para você.

— Contar o quê?

— O que eu sou...

Então a voz de Isaac foi cortada pelo som da porta sendo escancarada com violência. Consegui ouvir o som de um revolver sendo carregado no andar de baixo, e passos duros nos degraus da escada. Scott gritava meu nome, muito preocupado, abrindo todas as portas do segundo andar. Quando chegou até o quarto em que estávamos, ouvi o som da trava da arma ser liberada.

— Saia de perto dela! — Scott gritou. — Ou eu atiro em você.

Em vez de soltar, Isaac me apertou mais forte contra seu corpo, suas lágrimas molhando meu rosto. E eu não rejeitei aquele gesto. Sua boca foi em direção ao meu ouvido, deixando um beijo em mim no caminho.

— Me desculpe, anjo. — Ele sussurrou. — Eu te amo.

Então eu ouvi o som de um disparo e tudo ficou escuro.

E eu senti muito frio.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Gostaram?

Tenho que dizer que fiquei muito feliz com a quantidade de visualizações que recebi no último capítulo, e tudo que tenho a dizer é "muito obrigada"! Espero que tenham gostado e deixem reviews para me animar!

Um beijo!



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