Summer Breeze escrita por Plug


Capítulo 1
Summer Breeze




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Você pode me chamar de amante do vendo. Sinto prazer em senti-lo no meu rosto, da forma como machuca a minha pele quando estou em alta velocidade sobre uma motocicleta. Pode parecer loucura correr dessa maneira sem usar proteção, como um capacete, “mas a vida é curta e se você não a aproveita da melhor forma, sentindo o melhor que ela pode oferecer, então não pode dizer que viveu de verdade”, pelo menos era isso que ele me dizia quando me chamava para subir na garupa e partir em direção ao nosso novo destino.

A vida como motociclista é emocionante, pelo menos para mim é. Estar sempre na estrada, beber muito em bares que provavelmente nunca mais verá na vida, conhecer pessoas de todos os tipos. Sinto-me como se estivesse em uma viagem ao redor do mundo em 180 dias, talvez eu devesse escrever um diário, meus filhos poderiam encontrá-lo entre as minhas coisas depois que eu morresse e publicá-lo. Não sei se alguém perderia tempo para comprar e ler, mas garanto que o que eu teria para contar seria interessante.

Mas nem sempre eu vivi assim, tinha uma vida comum como a de muitas pessoas, estudos, trabalho, internet, leitura às vezes, coisas que a maioria das pessoas fazem. Tudo mudou quando eu conheci certo alguém e mudou drasticamente. Eu estava tediosamente conversando com algumas amigas em mais um dos vários grupos do whatsapp e elas tiveram a ideia de fazer algo diferente naquela noite, sair um pouco, passar algumas horas em um bar da cidade, conhecer pessoas e quem sabe encontrar alguém interessante. Eu não estava muito afim, mas devido à insistência eu decidi ir.

O bar estava movimentado em um sexta à noite? Claro que sim, era de se esperar. Musica alta, pessoas conversando em todos os cantos, muitas risadas, minhas amigas havia encontrado um grupo de rapazes e estavam claramente dando mole para eles enquanto conversavam, eu decidi ficar em meu canto e tomar a minha cerveja em paz. Foi quando ele entrou no bar, chegou junto com um grupo de motociclistas, eram cerca de meia dúzia, destoavam claramente dos demais ali com suas roupas pretas, casacos de couro, tatuagens sinistras, havia três garotas com eles, se vestiam com o mesmo estilo. Não eram muito velhos, deveriam estar na casa dos quarenta. A maioria tinha um belo físico, um deles ostentava uma barriguinha de chope, mas era charmoso. As garotas eram bem mais novas, deveriam ter a minha idade aproximadamente, algo em torno dos vinte e poucos anos.

Apenas um chamou a minha atenção para valer, alto, forte, cabelo castanho penteado para trás, jeito de cafajeste, não era do tipo galã de cinema, mas tinha uma beleza que me atraía. O acompanhei com o olhar em sua trajetória em direção ao balcão do bar, pediu algumas cervejas e voltou a se encontrar com os amigos em uma das mesas. Não conseguia tirar os olhos dele, havia me hipnotizado e parece que ele tinha percebido que alguém o observava, porque olhou diretamente para mim e fez contato olho a olho. Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar por um instante, voltei a olhar mais uma vez e ele ainda me olhava, mas com um sorriso no rosto, como ele era lindo. Teria correspondido o sorriso se uma das meninas não viesse até mim e me puxasse para perto do grupo, o perdi de vista.

Tentei encontra-lo depois, mas não achei pelo bar, nem os seus amigos. Senti uma tristeza momentânea, mas desencanei, não era o tipo de cara que ficaria em preso a um lugar por causa de uma garota, se tivéssemos alguma coisa eu provavelmente seria mais um dos casos que ele teria na vida. Afastei-me para ir ao banheiro, felizmente ninguém se ofereceu para ir junto, estavam todas entretidas com os garotos que conheceram.

Antes de sair do banheiro me olhei no espelho, deu uma ajeitada naquele meu cabelo castanho e ondulado, abri a bolsa e tirei meu batom, dei uma retocada. Quando sai de lá me deparei com ele, cara a cara, estava indo em direção ao banheiro masculino, que ficava no mesmo corredor que o feminino, frente a frente.

— Olá. – Ele disse com um sorriso no rosto.

— Oi. – Eu respondi sentindo que meu rosto deveria estar vermelho de vergonha.

— Noite agitada em? – Ele falou apontando para o grupo barulhento que as minhas amigas haviam formado, elas realmente não sabiam se controlar depois que bebiam.

— Pois é. – Eu disse sentindo vergonha por isso, mas feliz por saber que ele havia reparado em mim a ponto de saber com quem eu estava. – Sabe... noite das garotas.

— Imagino. – Ele disse. – Mas parece que você não está tão animada com isso. Ou é impressão minha?

— Não é impressão sua. Não estava no clima para isso hoje. – Contei. – Já estava pensando em ir para casa.

— Que pena. – Ele falou e deu um passo a frente, ficando mais próximo de mim. – Gostaria muito de conhecê-la um pouco mais.

— Talvez eu tenha tempo para tomar mais uma cerveja. – Falei.

— Então me permita pagar-lhe uma. – Ele falou e fez sinal para que eu fosse à frente.

Conversamos por um bom tempo, ele me falou sobre a sua vida, era formado em direito, trabalhou durante anos em uma firma e então percebeu que aquilo não fazia feliz. Comprou uma moto e se juntou a um grupo de motociclistas, passou a viver os dias da sua vida nas estradas. Falei sobre a minha vida também, que estava cursando psicologia e trabalhando como atendente em uma loja de roupas por meio período para ajudar a pagar a faculdade.

Não demorou muito e eu estava ficando muito à vontade na presença dele. Logo me peguei tagarelando, falando sobre vários assuntos diferentes, enquanto o fazia ela ajeitou uma mecha do meu cabelo que caia sobre meu rosto, mas ao invés de tirar a mão ele acariciou meu rosto, seu toque me fez sentir arrepios e lutei contra o impulso de fechar os olhos. Quando sua mão alcançou meu pescoço ele me puxou em sua direção e me beijou.

Eu me assustei com a ação no inicio, mas deixei rolar. Podia sentir seu corpo junto ao meu, sua outra mão em torno de minha cintura. Não sabia se era devido à experiência, mas ele fazia aquilo muito bem.

Mas aquele foi um beijo de despedida. As meninas vieram me chamar, estava mesmo tarde e precisava ir. Ele me disse que passaria dois dias na cidade e depois partiria, que se eu quisesse poderia encontrá-lo no bar após o meu expediente, eu claramente disse que o faria.

Naquela noite fui dormir pensando em como seria viver como ele, sem lugar fixo, apenas pegando aquilo que o destino resolvia te dar. Encontrei-me com ele no dia seguinte como o combinado, me colocou na garupa da sua moto e me levou para um passeio pelas redondezas, visitamos cidades próximas, lugares belíssimos, me sentia como se fosse verdadeiramente livre. Passei o resto daquele dia com ele e me senti diferente, como se tivesse passado a vida toda dentro de uma gaiola e que por um memento havia escapado, mas agora teria de voltar para dentro das grades novamente. Comentei sobre isso com ele e ouvi o inesperado.

— Então venha comigo... – Ele disse sem pensar duas vezes antes de propor. – Minha moto será a sua moto, meu destino o seu destino e poderemos desfrutar mais da liberdade que nos foi prometida.

— Você está falando sério? – Perguntei e me respondeu com um beijo.

Aquela ideia era louca. Nunca que meus pais permitiriam uma coisa dessas.

— Estou partindo amanha pela manha, se quiser vir comigo estarei te esperando até às nove horas na frente do bar. – Ele me disse, tirou uma cartela de cigarros do bolso da jaqueta, escolheu um, pôs na boca e o acendeu com um isqueiro. – Se você não aparecer até lá eu vou considerar que decidiu por não vir e partirei.

— Certo. – Eu disse e ficamos em um silencio constrangedor por um momento, até que eu decidi tomar a iniciativa e o beijei.

Eu fugi de casa. Nem ao menos me despedi dos meu pais, mas deixei uma carta falando sobre a minha decisão. Se tentasse argumentar com eles sabia que seria difícil, precisava fazer isso e estava decidida, ninguém iria me impedir. Decidi não levar muito, pus algumas peças de roupa na mochila, maquiagem, alguma grana por precaução e outros itens pessoais que não podia deixar para trás.

Faltando vinte minutos para as nove eu cheguei no bar, ele já estava lá como prometido, me recebeu com um beijo e subiu na moto, fiz o mesmo. O motor rugiu e ele saiu em disparada pelas ruas, encontrou com o resto do grupo em um ponto da estrada e seguimos juntos para o próximo destino, que eu não fazia ideia de onde seria. Não passávamos muito tempo em um lugar, geralmente era questão de horas, exceto em alguns casos em que tiravam um tempo de um dia ou mais em um lugar para dormir, tomar banho e outras coisas. Na ultima parada de descanso ficamos em uma cidade não muito grande em outro estado, paramos em uma pousada e depois de concluir o processo de hospedagem saímos para um bar. Àquela altura já fazia mais de um mês que estava com eles.

Bebi muito e me diverti ouvindo historias e piadas dos rapazes enquanto permanecia sentada no colo dele recebendo seus beijos e caricias. Precisei levantar para ir ao banheiro, lá me encontrei com uma das garotas que acompanhavam um dos caras, ela se chamava Lohany.

— Então você é a nova garota do BD? – Ela perguntou enquanto retocava o batom no espelho.

— Parece que sim. – Respondi e a vi dar um riso sarcástico pelo reflexo no espelho. – Algum problema?

— Não... – Ela disse. – Só que fiquei imaginando por quanto tempo você duraria, tentei maginar que talvez seja por muito tempo, mas não resisti à inocência do meu pensamento, provavelmente será largada em breve, como a maioria.

— Bom, se serei “largada” ou não isso é entre mim e ele. – Eu disse. – O que não é da sua conta, então se não se importa, gostaria de poder cuidar da minha vida. Se eu quisesse que você cuidasse dela para mim eu te pagaria. – Não costumava ser grossa com as pessoas, mas aquela garota me tirava do sério. – Mas agora que parei para imaginar percebi a inocência do meu pensamento... para que eu precisaria contratar uma puta?

— Ta achando o que garota? – Ela segurou meu braço, irritada e me olhou nos olhos. – Que só porque veio de uma família boa, teve oportunidade de estudo é melhor que os outros? Que só porque um cara bonitão decidiu te dar trela é a gostosona do pedaço? Vê se acorda querida, ele só tá com você porque é o brinquedinho novo, quando ele cansar de te usar vai te jogar fora e achar algo novo, fica a dica.

— Me solta! – Puxei meu braço. Ela saiu do banheiro sem olhar para trás.

Não acredito que aquela vadia veio mesmo procurar confusão onde não tinha, já havia percebido que ela olhava para o BD de forma diferente, por isso não ia bem com a cara dela desde o inicio, mas agora eu tinha certeza de que não gostava dela. Torcia para que caísse da garupa alguma hora e fosse atropelada por um caminhão.

Voltei para o grupo e fiz questão se sentar no colo dele novamente. Ela me encarou por um momento, mas teve de desencanar quando o namorado a beijou. Voltamos para a pousada quando faltavam poucas horas para amanhecer. BD e eu ficamos no mesmo quarto, tinha uma cama de casal. Nós estávamos dormindo juntos sempre, mas ainda não tínhamos tido nada. Não que fosse por falta de tentativa dele, só que eu não me sentia pronta, ainda era virgem e vários medos me atormentavam.

Ele foi entrando no quarto e logo se jogou na cama, estava caindo de bêbado. Tirei os seus sapatos e a jaqueta. Ele parecia uma criança inocente enquanto dormia. Troquei de roupa, deitei ao seu lado e o abracei por trás.

No dia seguinte acordei quase ao meio dia, ele já não estava na cama. Levantei e olhei pela janela, as motos ainda estavam estacionadas na rua. Arrumei-me e desci para a parte da recepção, onde também ficava um salão com mesas, era o restaurante da pousada. Alguns estavam por lá comendo, inclusive a adorável Lohany, sentada ao lado dele e o acariciando enquanto comia.

— Bom dia. – Eu disse assim que me aproximei.

— Bom dia, querida. – Ele se levantou e me beijou.

— Estava bom... – Lohany disse em voz baixa, mas eu pude ouvir.

— Senta aqui. – Ele arrastou uma cadeira para mim. - Peça alguma coisa para comer. O que quiser.

 - Obrigada. – Eu disse e sentei.

— Acho que eu vou indo ver se os rapazes já acordaram... – Lohany disse e seguiu em direção ao andar dos quartos.

— Não gosto dela. – Eu disse.

— De quem? – Ele perguntou distraído enquanto comia. – Da Lohany?

— Sim. – Falei e ele riu.

— O que ela te fez? – Perguntou, mas não demonstrou preocupação. Senti havia perguntado apenas porque se sentiu obrigado a isso.

— Nada. – Não queria parecer à chata. – Apenas não vou com a cara dela.

— Normal. – Ele disse. – A Lohany tem um gênio forte, com ela é 8 ou 80. Ou você a adora ou a odeia.

— Você parece conhecer ela bem. – Falei.

— Um pouco... – Ele tirou um cantil de dentro da jaqueta e despejou algo que estava dentro dele no seu copo de suco. – Já tivemos um caso, mas faz muito tempo. – Ele se levantou e me beijou. Seus beijos costumavam ser ótimos, mas aquele não fora tão bom quanto os de antes.

Ele saiu do salão e me deixou sozinha para ir cuidar da moto. Durante a tarde fomos a um pequeno parque de diversão que tinha na cidade, fizeram barbaridades pelos brinquedos. Principalmente em um que se chamava túnel do amor, onde um casal subia em um barco e deixava que a correnteza da água os levasse pelo passeio por dentro do túnel, mas acho que o pessoal pensou que se chamava túnel do sexo. Passamos horas no parque até que ele me chamou em um canto.

— O que acha de voltarmos à pousada? – Perguntou enquanto me segurava pela cintura e deixava alguns beijos no meu pescoço. – Estava pensando em passar o resto do dia a sós com você.

Eu sabia o que aquilo significava, eu gostava muito dele, mas ainda não me sentia pronta para dar mais esse passo. Pode parecer caretice, principalmente por ter tido a coragem de largar tudo na vida e seguir com ele, mas isso era diferente, uma experiência única e eu queria que fosse especial. Por isso eu enrolei um pouco e o convenci de ficar mais tempo no parque, naquele momento foi fácil, durante a noite que seria mais complicado e foi.

Voltamos para a pousada e já havia passado da meia-noite, subimos para o quarto e entramos aos beijos. Ele me jogou sobre a cama e tirou a camisa, depois se deitou sobre mim e começou a me beijar lentamente, enquanto descia cada vez mais, passando pelo meu pescoço, ombros, peito.

— Espera... – Eu disse com a voz vacilante.

— O que foi? – Ele perguntou ainda me beijando.

— Eu não estou pronta ainda... – Falei. Ser sincera era a opção que parecia ser a certa naquele momento, ele iria me entender.

— Eu sei, preciso tirar a sua roupa primeiro... – Ele riu e começou a suspender a minha blusa.

— Não é isso... – Eu o detive. – Não estou pronta para “isso”. – Coloquei uma ênfase na ultima palavra. – Sinto que está meio cedo...

— Entendi. – Ele disse, em seu rosto havia certa decepção, mas senti uma ponta de alivio. – Me desculpa querida, mas eu não aguento esperar mais...

Ele continuou a tirar a minha blusa, tentei impedir, mas ele a rasgou. Pedi para que parasse, mas ele não parecia me ouvir, apenas desabotoou a calça e em seguida fez o mesmo na minha, a puxando para baixo e tirando fora. Implorei tentando tirar suas mãos de meu corpo, mas ele não deu ouvidos, continuou em busca de seu objetivo. Tentei bater, arranhar, mas não adiantou, parecia que quanto mais eu resistia, mais ele se sentia excitado.

Ele me virou de costas e rasgou minha calcinha. Segurou meus braços presos nas costas e o que aconteceu depois eu tentei apagar da minha mente, não precisava lembrar. Sei que no momento eu gritei, pedi por ajuda, mas se alguém escutava nos quartos ao lado pareciam não se importar, talvez aquela não deveria ser a primeira vez que ele fazia isso, os amigos deveriam saber. Quando ele terminou se jogou na cama ao meu lado ofegante, então pegou um cigarro, acendeu e começou a fumar ali mesmo.

— Durma um pouco querida. – Ele disse. – Acordaremos cedo para continuar o caminho amanhã.

Aquele foi pior momento da minha vida. Me sentia suja, usada, impotente, houve um momento que pensei que tivesse sido minha culpa, que se eu não tivesse resistido e feito com ele logo no inicio aquilo não aconteceria.

Não consegui dormir, apenas fiquei ali, deitada em posição fetal, perdida em meus pensamentos. Ele ainda dormia ao meu lado, podia ouvir o seu ronco, a cada respiração o som me dava a impressão que estava ao lado de um monstro adormecido.

 Quando amanheceu me levantei e fui para o banheiro, me sentia imunda, precisava de um banho, esfreguei a minha pele com toda a força que tinha, ainda conseguia sentir a sensação dos beijos dele pelo meu corpo, do contato entre nossas peles, sem contar que além da dor moral que sentir ainda tinha a dor física que apenas servia para provar que tudo fora mesmo verdade.

Por mais incrível que pareça eu continuei a seguir com ele mesmo depois de tudo, porque eu não tinha escolha, estava em um lugar desconhecido, não tinha dinheiro suficiente para tentar pegar um transporte e voltar para casa. Queria muito poder voltar para casa, fingir que nada daquilo havia acontecido, mas querer não é poder.

Seguimos de lá para outros destinos, era a mesma rotina, até parar em mais uma cidade para passar a noite. De repente aquela sensação de liberdade que eu sentia ao estar na garupa daquela moto não existia mais, agora parecia que eu havia entrado em um filme de cinema mudo, que tudo em volta estava em preto e branco.

Depois de horas em um bar voltamos para o hotel barato de beira de estrada no qual estávamos hospedados, mas não sem antes parar no bar do hotel para curtir mais um pouco. Não fiquei muito tempo, apenas sai de lá e voltei para o hotel, tinha a chave do quarto, entrei e me sentei na cama encarando o nada por algum tempo, meus olhos percorreram o espaço e localizei um maço de cigarros junto a um isqueiro sobre o criado mudo, peguei o maço e tirei um cigarro de dentro, nunca havia fumado, mas “sempre há uma primeira vez para tudo”, era o que ele dizia as vezes. Acendi o cigarro e guardei o isqueiro no bolso, estava meio frio, então peguei a jaqueta dele e vesti, depois sai por um tempo e dei uma volta pelo lugar enquanto fumava.

Voltei minutos depois e vi BD e Lohany entrarem no quarto juntos, me aproximei para ver o que acontecia e pude ver os dois se pegando pela janela, as peças de roupa de ambos eram tiradas em grande velocidade e logo estavam usando a nossa cama para fazer o que bem pretendiam. Como eu era burra, abandonei uma vida perfeita pelo que? A ilusão de viver uma aventura? De ter liberdade? Apenas consegui rir da minha desgraça naquele momento e ao ver aquela cena as emoções que eu havia aprisionado vieram à tona, a vergonha, a tristeza, a solidão, o medo, a raiva, o desprezo, o ódio.

Entrei no quarto e nem perceberam a minha presença, estavam tão bêbados que mal conseguiam pensar no que estavam fazendo. A chave estava na fechadura pelo lado de dentro, eu a tirei, peguei o isqueiro que estava em meu bolso, acendi e encostei a chama na cortina da janela, em questão de segundo ela pegou fogo. Fechei a porta e a tranquei por fora, então me afastei e sentei sobre uma pedra grande que ficava a poucos metros do quarto, naquele terreno de chão onde as motos estavam estacionadas. Sentia um frio externo, mas também um frio interior, que me deixava vazia. Logo o fogo aumentou e eu pude senti-lo em minhas costas, aquecendo o meu corpo e os gritos que pude ouvir lá dentro serviram como faíscas que ascendeu uma fogueira dentro de mim, completando o vazio que existia.

Sabia que era questão de tempo para que os outros percebessem o incêndio e viessem para ver o que estava acontecendo, senti algo pesar no bolso da jaqueta, pus a mão dentro e retirei as chaves da moto. Levantei-me, andei até ela, subi, pus a chave na ignição, dei a partida e o motor emitiu aquele som cortante que me empolgava. Então girei o acelerador e parti pela estrada. O dia estava amanhecendo, o sol subia no horizonte e tudo ficava claro aos poucos, eu levantava a poeira por onde passava naquela estrada de chão, a paisagem passava ao meu redor, fazia alguns meses que não chovia, estava tudo seco, podia ouvir o som dos pássaros na brisa do verão que açoitava o meu cabelo. Não sabia para onde iria ou o que iria fazer, mas naquele momento eu só fiz uma coisa, eu dirigi, eu simplesmente dirigi.


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