Entre feitiços, muito cocô, e um Borela. escrita por Lucas Stumpf


Capítulo 12
A nova piada da escola




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Embora todos esperassem que a Sonserina fosse perder pontos pelo acidente causado por Pedro na Aula de Voo, os professores resolveram relevar o caso, levando em conta os problemas que o garoto tinha com esse tipo de atividade.

— Mas eu não tenho ânus frouxo! - argumentou o gordo quando a professora Sprout abordou o quarteto na hora do café para oferecer um elixir que prometia ajudar Pedro a superar o problema de ânus frouxo que fora reportado aos professores logo depois da aula de voo.

— Mas o professor Flitwick... - começou a professora de Herbologia.

— AI AQUELE GNOMO INFELIZ, DO QUE SABE? - E Pedro saiu bamboleando escadaria acima, corando a cada degrau.

Os garotos o seguiram, e Ysa só precisou erguer o pé esquerdo para atingir o topo da escada.

Não foi difícil chegar à conclusão de que essa era uma das ocasiões na qual não era bom mexer com Pedro... Ysa sabia que a escola iria tirar sarro dele por alguns dias, mas com sorte duraria menos do que os casos de Gabi e Borela.

Ao chegarem na sala de Transfiguração, um burburinho de deboche acompanhou os garotos enquanto seguiam até seus lugares. Palavras como "Babaca" e "Desastrado" podiam ser discernidas. Pedro praticamente atirou-se em sua carteira, com a cabeça enfiada na mochila.

— Não fica assim não. - disse Lucas, assumindo seu lugar. Enquanto tirava o material, continuou: - Lembra de como foi com o Borela. Amanhã vai ser bem pior. Se anime enquanto as piadas estão leves.

No instante seguinte, ouviu-se um som abafado de soluços, em compasso com o corpo de Pedro que sofria com leves espasmos.

O gordo levantou a cabeça e virou-se para os três. O rosto sardento estava vermelho e encharcado, os olhos emoldurados pareciam prestes a saltarem do rosto.

— Por que essas merdas acontecem comigo? - Pedro quis saber, gaguejando com o choro. - Eu já sou um gordo, virgem, feio que nenhuma mulher quer, grito pra minha avó me trazer a toalha no banho, e ainda por cima passo vergonha na frente da escola...

 

Antes que qualquer amigo pudesse dizer algo, um som surdo roubou a atenção de todos para o fundo da sala, onde viram uma bruxa alta com vestes esmeralda e um grande chapéu com uma pena castanha que subia até muito além de sua ponta. 

— Lamento o atraso. - pediu profa. Minerva, enquanto se dirigia até sua mesa.

Pouco antes de se sentar, ela fez um gesto com a varinha, e o giz começou a escrever com uma bela caligrafia no quadro negro:

"As cinco leis de Gamp para a transfiguração universal"

O giz ficou ali, colado no quadro, como se estivesse pensando no que mais escrever. Profa. Minerva tomou à palavra:

— Algum de vocês sabe me dizer quais são essas cinco leis?

Ysa olhou em volta, e viu a mão de Gabriel se erguer no ar.

— Sim, sr. Decian?

Gabriel abaixou a mão e respondeu:

— Comida, ouro, dinheiro, objetos animados e a vida.

A turma ficou em silêncio, e a expressão dura e severa da professora se manteve imutável por alguns segundos... até que sorriu.

— Muito bem. Dez pontos para a Corvinal.

E Ysa deu-lhe um sorriso que fora totalmente ignorado por Gabriel, fazendo a garota fingir que sequer ocorrera.

O giz rapidamente escreveu as respostas de Gabriel no quadro, e depois notou-se que ele redigia com perfeição tudo o que a professora falava.

— É importante ressaltar que os campos da magia estão limitados e submissos a determinadas regras. Existem cinco principais exceções à Lei de Gamp, lei fundamental que rege os elementos concretos da Transfiguração Elementar

"A primeira exceção é a comida. ela pode ser convocada se a pessoa souber onde achá-la. Em meio a isso, a comida pode ser transformada e aumentada a sua quantidade; porém, não se pode produzir comida do nada; a segunda exceção é o ouro. E ela segue o mesmo princípio da comida; a terceira exceção é o dinheiro. E mesmo que siga o mesmo princípio dos demais, tal regra se aplica para todo o tipo de dinheiro, seja ele bruxo ou trouxa; a quarta exceção são os objetos animados. Eles podem ser criados ou transmutados, muito embora não sejam duradouros, porém, não desfeitos, a não ser que seu surgimento seja de uma forma 'não natural' por fim, a exceção mais delicada de todas... A vida. Não se pode convocar uma pessoa, tão menos ressuscitar, conjurar, duplicar ou desaparecer. A menos que ela não esteja em seu estado pré-morte..."

— Ah, como se a gente não soubesse disso. - reclamou Lucas, enquanto deitava sobre sua classe.

Ysa concordou com a cabeça, porém, ela nuca ouvira falar dessas leis antes, mesmo vinda de uma família sangue puro. Não que sua família não fosse competente, mas ela se interessava mais em paquerar o garoto que morava na casa ao lado, do que ouvir as explicações da mãe. 

Depois de uma longa explicação, a professora pediu para que cada um tentasse transfigurar um dominó no objeto mais próximo de um metal preciso que conseguisse. Gabriel conseguiu obter estanho. Lucas obteve lata. Pedro obteve um péssimo resultado, transfigurando o dominó em areia... Quando chegou a vez de Ysa, a menina sentiu sua garganta secar. Era a primeira vez que teria de fazer algo na frente da turma toda.

Ela segurou o galho de Salgueiro-lutador que era sua varinha em mãos, e visualizou ouro fortemente em sua mente. No segundo seguinte, viu diante de si um tipo de ferro enferrujado, que, para sua surpresa, não a inundou com um sentimento de decepção. A professora tomou o ferro em mãos e o avaliou friamente.

— Desempenho aceitável. - comentou, colocando o ferro novamente sobre a carteira de Ysadora.

A garota deu um longo suspiro, que fizera voar cerca de cem castelos ao redor do mundo.

Assim que o sinal bateu, os quatro desceram para seu período vago, com um emburrado e cabisbaixo Pedro entre eles.

— Você só conseguiu areia porque estava com a cabeça cheia demais. - disse Lucas.

— Talvez... - disse Gabriel, distante. - Mas acho que ele não conseguiria um bom resultado mesmo em seus melhores estados.

— Vai ao raio que o parta, Gabriel! - trovejou Pedro, abaixando ainda mais a cabeça.

Ao chegarem ao primeiro andar, alguns segunda e terceiranistas cochicharam entre si, apontando para Pedro, e em seguida riram. Pedro bufava e seus óculos se embaçavam como Ysa nunca tinha antes visto.

— Idiotas. - murmurou Pedro, de cara amarrada. 

Ao saírem para os jardins do castelo, eles seguiram até a margem do Lago Negro, e Ysa conseguiu ver a lula gigante pouco abaixo da superfície. "Engraçado", pensou ela. "A lula tem um tentáculo faltando e algo que lembrava muito o número '13' desenhado na pele..."

— Eu quero muito que o Gabi ou o Borela façam mais alguma coisa, só pra virarem a nova piada da escola e o pessoal esquecer de mim! - disse Pedro.

— Relaxa. - disse Gabriel, tacando uma pedra no lago. - São o Gabi e o Borela. Logo acontece alguma coisa.

— Por falar nisso, não os vimos desde a segunda cerimônia do chapéu. - observou Lucas, mirando o céu.

— Ainda bem, né? - falou Gabriel.

— Já pararam pra pensar no que cai do céu, mas não é chuva? - perguntou Ysadora, sonhadora.

— O avião da Chapecoense? - palpitou Lucas.

— Que merda de pergunta, Ysadora! - repreendeu Gabriel, deitando na grama.

Ysadora sorriu e respondeu com uma expressão idiota:

— Ué, a neve.

Os três garotos ficaram em silêncio. Mirando-a com expressões que mesclavam a raiva e a indignação.

— Bem vemos que sua idade condiz com sua maturidade. - observou Lucas.

— Posso bater nela? - perguntou Pedro.

— Sabe que com um peteleco ela te faz dar a volta ao mundo, né? - disse Gabriel.

— Ysadora - falou Lucas, com uma voz sutil. -, sabe por que a neve é branca?

A garota negou com a cabeça, intrigada.

— Porque ela se esqueceu a cor que uma vez foi... - as palavras de Lucas soaram anormalmente frias, e não era porque estava falando da neve.

— Que bosta. - comentou Gabriel. - Bem, pelo menos você desencasquetou com aquela obsessão pelo Snape.

Lucas empertigou-se.

— É que desde que não cheguem em nós, não haverá problemas... Eu acho. Mas por garantia podemos achar um meio de obliviar o Gabi.

— Mas ainda não sabemos como executar um feitiço desses. - disse Ysa.

Lucas revirou os olhos.

— Eu sei, giganta. É por isso que vamos armar para alguém obliviar o Gabi.

— Mas como vamos pedir isso pra alguém, sem soar suspeito? - perguntou Gabriel. - Pra saber executar um feitiço assim, precisa de um grande conhecimento, logo, o bruxo que for apagar a memória do Gabi não será qualquer um.

— É porque não vamos simplesmente pedir. - disse Lucas, com malícia. - Eu já planejei tudo. Venho pensando nisso desde quando embarcamos no expresso e já coloquei em ação logo antes de dormir.
"Primeiro de tudo, vou usar o Flitwick. O comportamento dele é absurdamente metódico. Ele sempre fica na sua sala das 22:00 até às 00:00. Sem exceção. Mandei uma carta anônima para ele, me passando por uma professora que sempre o amou, mas não pode se revelar agora. Disfarcei o máximo possível minha caligrafia para que ficasse obvio que era uma pessoa tentando camuflar quem era. Eu sabia que o Flitwick seria o alvo perfeito, uma vez que por ser um péssimo partido, ele nunca deve ter sido cortejado, então foi fácil anuviar a mente dele."

"Hoje de manhã, recebi a resposta. E como esperado, ele estava muito feliz e curioso. Logo mandei outra carta, atiçando-o ainda mais. Depois de receber a outra resposta, resolvi partir para uma abordagem um pouco mais 'ousada', a ponto de conseguir compromete-lo caso fosse preciso. Com certeza quem lesse aquelas cartas teria um grandioso poder sobre ele."

— Ah, entendi. - falou Ysadora. - Vai chantageá-lo para que oblivie o Gabi!

— Isso seria muito simples, Ysa. - respondeu Lucas. - Flitwick é muito mais poderoso que eu, e poderia facilmente me obliviar se eu o ameaçasse. O restante do plano eu... Pretendo executar esta noite. Quero que venham comigo até a floresta proibida às dez horas da noite.

— E por quê? - Pedro quis saber.

— Descobri que o Gabi e o Borela estão dormindo em uma cabaninha dentro da floresta proibida. Eu pretendo chamar Gabi para conversar. Mostrar as cartas a ele e dizer para usá-las para chantagear Flitwick e fazê-lo aceita-lo novamente na casa de Corvinal.

"É claro que o Flitwick vai obliviar o Gabi para que esqueça o conteúdo das cartas. O Gabi não terá a menor chance contra um professor, mas diferente de mim, ele não vai considerar esse fato e vai aceitar".

— Mas o Gabi só vai perder as memórias relacionadas as cartas! - observou Gabriel. - O que tem a ver nós com isso tudo?

Lucas então enfiou a mão nas vestes e puxou um envelope de carta.

— Aqui eu detalhei com exatidão o dia 2 de outubro desse ano. O dia em que demos a Gabi, a Stelfart. Além de fazer o Gabi ler isso, ainda vou dizer a ele que a carta foi escrita nessa data. Assim que o Flitwick obliviar o Gabi, ele esquecerá tudo relacionado as cartas, tal como o dia 2 de outubro, uma vez que ele é o conteúdo de uma delas.

— Mas como tem certeza de que isso dará certo? - Pedro quis saber, não fazendo nenhum esforço para conter o interesse.

Lucas tornou a guardar a carta nas vestes.

— Eu sempre tive interesse no Obliviate, e sempre pensei em como poderia usá-lo a meu favor. Então diversas vezes fiz esse teste de cartas detalhando datas com meus pais, depois fazendo-os apagarem a memória um do outro relacionado as tais cartas... A memória da data ali detalhada também ia embora.

— Mas como tem certeza de que tudo seguirá por esse caminho? - perguntou Gabriel.

— Quando se é bom em antecipar a mente humana... O acaso não existe... - disse Lucas, vagamente.

 


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