A Cura

Escrito por Noel Blue

Capítulo Único

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Temos que viver, não importa quantos céus tenham caído. (D.H. Lawrence)

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Você me tocou, naquele dia. Pousou sua mão grande e pesada sobre o meu ombro, e senti os seus dedos frios sobre a minha pele. Só então percebi que eles sempre foram tão frios quanto os olhares que trocamos. Nunca quentes. Sempre ríspidos demais, rápidos demais. Mas não desisti. Meus olhos insistiam em te procurar, onde quer que eu fosse, e mesmo que você estivesse na minha frente, não conseguia ter ver, porque você estava coberto pela máscara da invenção. A invenção que eu fazia de você. Do que eu queria de você.

Mas a verdade é que você nunca esteve realmente aqui. Nem mesmo quando você voltou, trazendo consigo o tempo perdido na escuridão infinita dos seus próprios desejos.

Sasuke, te sinto mais distante a cada dia e me vejo caminhando em uma corda bamba atrás de você, dividida entre o que devo fazer e o que quero fazer. E toda vez que deito a cabeça sobre o meu travesseiro me pergunto: se eu cair, você me segura?

Mas sua mão parece distante demais da minha e, quando olho para baixo, vejo um abismo sem fim. E eu me desespero, porque eu não quero cair para sempre.

Você não sabe? Eu te amei desde que consigo me lembrar.

Você não sabe? Meu coração estava batendo quando o entreguei a você.

Você não sabe?  Hoje, ele está parado, dentro de um pote de vidro servindo de enfeite na sua sala de estar.

A noite é curta e a queda é longa. A guerra não deixa apenas mortos, deixa ferimentos que um dia virarão cicatrizes. E eu não consigo me curar, tenho a impressão de que as minhas feridas nunca irão cicatrizar. Mas você parece bem, e eu sinto que não tem espaço na sua vida para pessoas como eu, machucadas e perdidas.

Sasuke, colidimos como cometas e a explosão foi tão forte que destruiu quase tudo que eu sentia por você. Você não parece se importar e quando eu pergunto se um dia você sentiu algo por mim, você parece não ouvir, então eu mesma respondo, no silêncio da noite.

E quando todos dormem, eu vou ao lugar onde tudo começou. Sento em um banco que para mim é amaldiçoado, e penso em você. Sinto meu sangue voltar a bombear lentamente em minhas veias e percebo que você pode ficar com meu coração velho e morto. Outro novo surgiu no lugar.

Eu choro.

E dessa vez, as lágrimas são a cura.