Meu Refúgio Em Teus Braços escrita por Eterno Ronin


Capítulo 1
Capítulo I: Flores Que Insistem Em Nascer


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por dar uma chance a fic!
Desejo uma boa leitura!



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O mundo havia tornado-se escuro e tenebroso demais para mim, foi quando encontrei aquela mulher. Uma luz no abismo, minha válvula de escape.

Minha mãe recebeu uma irrecusável oferta de emprego em outra cidade, tivemos que nos mudar e deixei para trás os poucos amigos que tinha. No começo tive um pouco de receio dessa vida nova, mas em poucos dias eu já tinha vários novos amigos e arrumei inclusive uma namorada. Minha mãe também estava feliz, embora não nos víssemos com a mesma freqüência de antes. Tudo ia bem, ate eu descobrir que aquilo não passava de uma ilusão.

Minha namorada se chamava Diana. Era uma garota alegre e muito esforçada, muito bonita aliais, com lindos e macios cabelos loiros e olhos azuis que transmitiam certo ar de ingenuidade, para meu azar esses olhos ingênuos apenas escondiam uma garota cheia de libertinagem que provavelmente não possuía nenhum carinho por mim.

A maioria dos garotos da classe eram meus amigos, ou ao menos eu pensava assim. Os únicos amigos que eu tive foram deixados para trás em minha antiga cidade. Só agora vejo a falta que eles me fazem.

Eu vivi uma ilusão e quando ela desfez-se, me deparei com um mundo muito mais sombrio do que eu me recordava.

Certo dia uma garota do terceiro ano me chamou até sua classe e me perguntou com um sorriso indecente: "Como é dividir a namorada com metade do colégio?" Não consegui acreditar naquilo. Neguei e disse que ela mentia. Com aquele mesmo sorriso indecente ela me mostrou uma foto no seu celular. Era uma montagem com uma imagem minha. Em conjunto aos meus curtos cabelos escuro e olhos avelãs que herdei de minha mãe, me adicionaram um nariz de palhaço e um par de cornos. Em baixo da imagem estava escrito: "Alex o anfitrião mais querido de todos. Obrigado por compartilha sua namorada com todo o colégio!" Eu sair em silêncio enquanto aquela garota ria pelas minhas costas.

Tentei passar a situação a limpo. Perguntei a Diana sobre essa história. Tive esperança de tudo não passar de uma brincadeira de mau gosto. O silêncio de Diana perante minhas perguntas apenas confirmou a traição. Já ciente de tudo, com voz de choro perguntei:

— Você sequer gostava de mim. Foi tudo uma brincadeira aos seus olhos, não é mesmo? – Não esperei para ouvir as desculpas dela, sair sem rumo, só não queria continuar ao lado daquela garota.

Enquanto apenas trocávamos beijos e palavras de amor, Diana transava com aqueles que se diziam meus amigos, não apenas com meus "amigos", a lista de traições não era nada modesta.

Ao ir para casa aquele dia, tudo que queria era pode chorar nós braços de minha mãe, como se eu ainda fosse uma criança. Como de costume a casa estava vazia. Tudo que encontrei foi um bilhete de minha mãe na geladeira, avisando que ela se atrasaria novamente. Foi naquele momento, que comecei a me dar conta do quão sozinho eu estava.

Foi igual a uma fileira de dominós desmoronando, peça após peça. Aos poucos comecei a refletir sobre minha vida, me perguntei várias coisas que nunca tinha notado antes, então cheguei à conclusão de que esse mundo é cruel e escuro demais para mim...

Seguir dia após dia da mesma maneira, perdido em pensamentos e sem o menor interesse pelas pessoas em minha volta. Todos começaram a tornarem-se insuportáveis. A solidão era a única companhia que eu queria. Por mais de uma vez aqueles idiotas, que se diziam meus amigos, tentaram conversa comigo e restaurar uma amizade que nunca existiu. Diana a sua maneira, também tentou justificar o injustificável. Mandando sempre suas amiguinhas tão depravadas quanto ela me levarem seus recados. Perdi as contas de quantos bilhetes de desculpas encontrei em minha pasta, os que não foram jogados no lixo, eu queimei. Tudo ao meu redor perdeu o brilho. Ate mesmo coisas que eu sempre gostei como jogar basquete, ir ao cinema, escutar música... Já não era a mesma coisa. A traição não me fez entrar naquele estado melancólico, ela apenas abriu meus olhos para a triste realidade, ao menos é isso que acredito.

Mesmo em meio a uma multidão, eu estava sempre sozinho. Comecei a preferir estar sozinho. O vazio dentro do meu peito começava a me devorar, de dentro para fora.

Uma cafeteria não muito longe de minha casa passou a ser meu refúgio. Lá eu podia sentar-me e me isolar de tudo. Como provavelmente não haveria ninguém me esperando em casa, não me incomodava com o tempo. Ficava naquele lugar ate tarde da noite. Por mais que aquilo fosse uma cafeteria, eles não serviam apenas café. Quase sempre eu pedia apenas uma fatia de bolo, e quase sempre a algumas mesas de distância, estava uma bela mulher de longos cabelos negros, lendo um livro. Eu ainda não sabia, mas aquela mulher quem me resgataria daquele poço de tristezas.

Era mais uma noite qualquer, sem importância para mim. O céu estava nublado, de forma que não era possível ver nenhuma estrela, não que fosse fácil observar alguma estrela com o céu limpo da cidade. Caminhei mais lentamente do que o de costume até a cafeteria. Sem perceber acabei pisando em cima de uma pequena flor, que persistia em crescer dentro de uma rachadura na calçada. Só a notei após tê-la esmagado. Eu só reparava em pichações espalhadas pela cidade, mendigos implorando por algum trocado e nas garotas mais jovens que eu, obrigadas a venderem seus corpos em alguma esquina. Eu só conseguia enxergar a podridão no mundo. Uma flor lutando para crescer sob o asfalto, como eu não a vi? O mau era algo sempre visível aos meus olhos, já a bondade e beleza desse mundo se tornaram uma distante e inalcançável paisagem, mesmo se estivesse diante de mim.

Entrei na cafeteria, que estava mais vazia que o habitual. Além de mim havia apenas um tiozinho gerente de lá, uma garçonete aparentemente da minha idade, um cara sentado perto da porta e aquela mulher, como sempre concentrada na leitura de algum livro.

Escolhi uma mesa qualquer e pedir um bolo de cenoura. Antes mesmo da fatia de bolo chegar a minha mesa, um homem de capuz entrou, tirou uma faca da cintura com a mão trêmula e anunciou um assalto. Assustada a garçonete derrubou a bandeja com meu bolo de cenoura. O cara sentado a algumas mesas de distância pulou da cadeira e saiu correndo pela porta. O gerente que estava atrás do caixa se trancou dentro do banheiro, aquele tiozinho foi tão rápido, que apenas conseguir ver a porta do banheiro se fechando bruscamente. Aquela bela mulher, apenas direcionou o olhar na direção do assaltante e depois voltou a sua atenção para o livro que lia. Ela Pareceu-me tão fascinante, tal como aquela flor que brotou na calçada, era aquela mulher lendo seu livro, um vislumbre de calma e beleza em meio ao caos. Distrai-me de tal maneira a observando que mal percebi o assaltante me apontando a faca e ordenando que eu entregasse minha carteira.

— Não podia esperar para assaltar esse lugar depois que me servissem o bolo? – Perguntei ao homem encapuzado sem demonstra um pingo de medo. Realmente não sentir medo algum, mesmo sabendo que eu deveria.

— Acha que eu tô brincando?! – O assaltante encostou a ponta da lâmina em minha testa. A mão dele tremia tanto ao segurar a faca que ele acabou me cortando um pouco na testa. Sangue deslizou na forma de uma fina linha, desde o pequeno corte em minha testa até meus lábios.

Passei minha língua sob meus lábios, limpando o sangue deles. Aquilo pareceu assustar o assaltante. Meu coração palpitava, mas não de medo. Quis o desafiar a cortar minha garganta, não para demonstrar coragem, eu realmente queria que ele o fizesse. O sangue voltava a banhar meus lábios. A lâmina da faca brilhava ao refletir a luz das lâmpadas. Queria encontrar meu fim nas mãos daquele homem. "Por que não corta minha garganta?" estava prestes a proferir tais palavras, não como um desafio, estaria mais para um pedido. Antes que as palavras saíssem de minha boca, a voz daquela mulher ecoou por toda aquela cafeteria. Aquela doce voz salvou-me, não daquele desconhecido encapuzado, mas sim desse desejo imundo que tornavam posse de mim.

— Eu sei que você não quer fazer isso. – Foi o que disse a misteriosa mulher de longos cabelos negros, em pé ao meu lado e ao do assaltante. Sua voz era calma e ao mesmo tempo firme. O homem soltou a faca e caiu de joelhos no chão chorando.

"Eu sei que você não quer fazer isso." Essas palavras haviam penetrado em mim, muito mais profundamente do que qualquer faca seria capaz. Sei que ela estava falando com o assaltante, mas aquelas palavras serviram tanto para ele como para mim. Uma linha de sangue percorria todo meu rosto.

No chão daquela cafeteria havia uma fatia de bolo de cenoura, uma faca estilo Rambo, e por fim um assaltante arrependido em meio as lágrimas.

O assaltante chorão contou alguma história sobre está numa situação difícil, não ter dinheiro para alimentar a família, não ter conseguido emprego... Nada que tenha me surpreendido. Ele era apenas um homem em desespero. Um criminoso experiente usaria uma arma de fogo, também não tremeria tanto. O cara sequer me cortou propositalmente. A garçonete chorou ao ouvi a história dele, embora eu acredite que suas lágrimas eram mais motivadas pelo susto que levara. A mulher de cabelos negros olhou pensativa depois disse:

— Vá embora... Vá e nunca mais faça outra loucura dessas – a voz soou suave e libertadora.

O assaltante chorão olhou para cada um de nós três. A bela mulher lhe deu um triste sorriso e olhou piedosamente. A garçonete em meio a lágrimas consentiu com a cabeça para que ele fosse embora. Por fim ele olhou para mim pedindo aprovação para partir. Eu não era ninguém para julgá-lo culpado ou inocente, mas já que as duas garotas tinham o liberado. Limpei o sangue da minha testa e disse para ele partir logo. E o homem secou as lágrimas e partiu sem olhar para trás.

Enquanto a garçonete tentava convence o gerente assustado a sair do banheiro, a mulher de longos cabelos colocava um curativo em minha testa. Suas mãos deslizavam limpando o sangue do meu rosto com um lenço macio. De olhos fechados eu sentia seu suave toque sobre minha pele e ouvia as primeiras gotas de chuva caindo no telhado da cafeteria.

— O bandido levou quanto dinheiro? – Perguntou o gerente mais preocupado com o dinheiro no caixa do que conosco.

— Não levou nada. O garoto aqui o colocou para correr – ela respondeu o gerente enquanto terminava de colar o curativo em minha testa. Não consenti com a mentira, apenas não a neguei.

— Bom rapaz! Muito bom. – O gerente pegou um papel e me entregou. – Isso vale um café grátis – disse o tiozinho, como se aquilo fosse uma grande recompensa. Será que ele nunca havia notado que eu nunca pedia café?

Fiquei alguns instantes contemplando minha "recompensa" sei que eu não tinha colocado o bandido para correr de verdade, mas acho que merecia uma recompensa um pouco melhor. Contentaria-me com uma fatia de bolo. Vi a faca que foi deixada para trás no chão. Num momento em que o gerente estava distraído conversando algo com a garçonete peguei a faca do chão, enrolei-a no lenço que foi usado para limpa meu rosto e coloquei-a na minha cintura, depois a cobrir com minha camisa. Aquela mulher que eu não sabia o nome foi a única que me viu pegando a faca foi, ela não pareceu se importar muito com isso.

— Está chovendo forte. Quer uma carona para sua casa? – Ela ofereceu-me a carona e não tive motivos para recusar. Fomos embora juntos.

O carro dela era um Oldsmobile Toronado vermelho, um carro clássico muito bem conservado que fazia inveja em muitos zero quilômetro. Como eu não era nenhum especialista em carros o achei apenas grande e confortável na época, apenas muito tempo depois soube o quão incrível aquele carro era. Conseguirmos seguir apenas por alguns metros e ficamos presos em um engarrafamento. Nem me importei, o banco daquele carro era mais confortável que o sofá de casa, por falar em casa, provavelmente como sempre minha mãe não estaria lá. Fiquei um tempo observando a chuva e ouvindo o som de buzinas e xingamentos de outros motoristas. Pouco a pouco desviei meu olhar para a misteriosa motorista, pela primeira vez eu notará a cor azul de seus olhos. Seus cabelos eram uma cachoeira negra e brilhante, seu busto largo e cheio. O vestido negro que ela usava ressaltava bastante as linhas de seu corpo. Nenhuma garota do meu colégio podia se comparar a ela no quesito beleza. Mesmo estando ao lado dela, ela continuava sendo alguém tão distante e misteriosa quanto sempre.

Depois de um tempo parados no trânsito me cansei do som chuva, das buzinas e dos xingamentos. Eu queria ouvir a voz daquela mulher, queria a conhecer melhor, então quebrei o silêncio.

— Por que disse que eu tinha enfrentado e expulsado o bandido? – Talvez fosse melhor puxar assunto de outra maneira, mas essa foi a primeira coisa que passou em minha mente.

— De certa forma foi verdade. Você realmente o enfrentou, não com força física, mas com a sua atitude inconsequente – me respondeu tranquilamente e com o olhar sempre direcionado ao trânsito.

— Não sou o único inconsequente. Você permitiu que um criminoso escapasse. Acho que o motivo para ter dito aquilo foi simplesmente porque o gerente não compreenderia muito bem a sua "boa ação" – agora o olhar dela se direcionou para mim, junto a um sorriso.

— Foi mais divertido desse jeito, não acha? – Ela tinha o sorriso de uma criança travessa – além do mais, se ficasse segurando aquele cara até a polícia chegar passaríamos a noite inteira na delegacia por conta da burocracia. É uma noite bela demais para ser desperdiçada.

— Bela mesmo com essa chuva toda? Enquanto permanecemos nesse trânsito, perderemos a noite de qualquer maneira.

— A que horas você precisa voltar para casa? – Ela me perguntou com aquele mesmo sorriso de criança prestes a fazer uma travessura.

— Não tem ninguém me esperando em casa, tampouco alguém que vá sentir minha falta caso não encontre comigo amanhã de manhã, se é isso que quer saber.

Assim que o trânsito começou a flui seguirmos um rumor diferente, um que não levava a minha casa. Não me atrevi a perguntar para onde nós iríamos e sinceramente pouco me importava. O frio da noite era de certa forma aconchegante.

— Sabe o que eu pensei ao te ver com uma faca apontada na testa? – Me perguntou enquanto seguíamos aparentemente sem rumo pela estrada.

— Que eu era muito corajoso, talvez muito burro, provavelmente os dois – Ela soltou um risinho.

— Não, não... Eu vi... – As palavras ficaram presas em sua garganta. Eu nunca soube o que ela me responderia.

Paramos perto de um ferro-velho onde alguns punks desocupados faziam festas. A chuva estava mais branda. Tudo que restava eram chuviscos. Podíamos ouvi claramente o grotesco som da musica vinda do ferro-velho. Não esperava que aquela mulher quisesse sair de dentro do carro, mas saiu e me convidou a acompanhá-la. Ela ficava ainda mais linda ao ser molhada pela chuva.

Sair de carro com uma desconhecida até um lugar vazio e perto de onde ocorria uma festa ilegal era no mínimo perigoso. Na verdade a vida é perigosa em si, às vezes em maior e outras em menor grau. Pode-se pular de um avião sem pára-quedas e sobreviver, assim como é possível escorregar no banheiro e morrer. Talvez perigo seja uma questão de sorte e azar, não... Imprudência e azar são coisas bem diferentes. Eu estava sendo mesmo imprudente, mas não acreditava que minha situação poderia piorar.

— A chuva é linda, não acha? – Perguntou-me com o olhar em direção ao céu. Estrelas começavam a surgir por trás das nuvens.

A chuva era realmente bela. Nunca antes eu tinha parado para observar o céu, ele sempre esteve sobre minha cabeça. Talvez por ter me acostumando com ele me esqueci como era belo. Cheguei à conclusão de que ainda existia muita beleza em meio a sujeira desse mundo.

— Você não me disse seu nome ainda. Gostarei de saber como se chama...

— É um nome japonês... Pode achar meio diferente. Diga-me o seu primeiro.

— É Alexandre, mas todos me chamam de Alex.

— Meu nome é Sora, significa céu. – Era um nome que convinha bastante. A mulher que me fez ver a beleza do céu tinha o nome dele.

Passamos a maior parte da noite sentada no capo do carro dela, olhando o céu e escutando aquela música (que mais se parecia com barulho do que com música). Esqueci-me de tudo naquele momento. Eu estava feliz.

Encontrei nos braços de Sora um refúgio para minha solidão...


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Notas finais do capítulo

Obrigado a você que leu e gostou, se não gostou foda-se!



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