Supremacia escrita por White Rabbit


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo


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Supremacia

 House of Rising Sun- Lauren O'Connel

“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas infantis” – 1Coríntios 13:11

 

— Vocês dois tem certeza disso? – questionou ao casal diante dela, que apenas acenaram em afirmativo como resposta- como podemos ter deixado isso passar por todos esses anos.

— As provas foram muito bem escondidas senhoras e todos os envolvidos desapareceram misteriosamente- um deles começou a falar- mas depois que achamos aquilo naquele quarto de hotel tudo se conectou.

— Vocês tem certeza que ligam a ela? – perguntou enquanto fazia sinal para que eles o seguissem.

— Sim, e olhando por esse lado faz sentido que fosse ela. Devido a tudo o que aconteceu.

— Vocês tem razão... Vamos acabar logo com isso.

Adentrou a sala a passos duros, o barulho dos saltos ecoando por todo o salão. Ali apenas quatro cadeiras dispostas de forma que três ficassem de frente para uma como numa espécie de tribunal. Ajeitou os cabelos pela quinta vez enquanto sentava-se na cadeira do centro, acompanhado pelos outros dois membros do conselho. O órgão responsável por resolver as questões “jurídicas” do clã e lidera-lo em casos de necessidade. Se fosse uma ocorrência menor a própria suprema poderia ter resolvido, mas aquele era um caso especial.

A mulher estava sentada na cadeira diante deles, com um sorriso arrogante plantado no rosto e uma ar de superioridade que ela nunca presenciara antes. “Mesmo nessa situação continua com o rei na barriga”, foi a primeira que pensou enquanto se recordava do seu passado. Um passado que transformara sua vida por completo e o qual ela ainda se lembrava plenamente. Aquela sala, aquelas paredes, aquela casa... Tudo aquilo lhe trazia muitas lembranças, boas e ruins. Mas não era hora de pensar nisso, tinha questões mais importantes para resolver.

— Estamos aqui reunidos para decidir o futuro desse clã- começou a falar com a voz firme- muitas coisas vieram a tona ultimamente e como líder do conselho eu achei que deveríamos intervir. Afinal é uma questão bastante difícil de se lidar.

— Difícil de lidar?- a mulher questionou com uma risada larga- eu sei como cuidar dos cachorros, não preciso chamar a carrocinha.

— Não é o que parece- retrucou instantaneamente- essa casa esteve entregue as moscas desde aquele dia, mas acho que isso não é algo para discutirmos agora.

Aquele dia. Seu passado vinha a tona lentamente, ela se lembrava de tudo tão claro como se estivesse vendo tudo num filme. “As coisas poderiam ter sido diferentes” ela pensara enquanto se perdia em lembranças.

° ° °

O carro parou em frente a mansão, um casarão antigo porém bastante conservado, ainda mantinha o estilo das antigas casas de Nova Orleans, com as paredes pintadas de uma cor creme e um jardim bem cuidado em frente à casa. O portão de ferro estava um tanto antigo, mas ainda dava para ler as inscrições que foram colocadas numa placa de cobre em frente a ele: “Academia da Srta. Robichaux para jovens excepcionais”. A garota prendeu os cabelos num rabo de cavalo longo enquanto um homem parrudo abria a porta do carro para ela.

Respirou fundo, segurando a mala de couro com as mãos trêmulas. O homem abriu um portão de ferro e fez sinal para que ela entrasse. Mesmo com certo receio ele atravessou o arco do portão e andou em direção a porta da casa. Sua vida havia mudado muito rápido em poucas horas, tudo por causa daquele incidente na escola. Aquela garota estúpida a tinha irritado novamente, tudo o que ela fez foi olhar para a garota e logo chamas nasciam em seu braço, a fazendo berrar alto. Ela não sabia como havia feito isso, mas logo que sua mãe soube do ocorrido a havia despachado para aquele lugar.

“- Sua avó tinha o mesmo problema- podia ouvir a voz nervosa de sua mãe, o rosto assombrado como se temesse pela vida da filha- mas tem um lugar onde você vai estar protegida, vai aprender a controlar isso...

— O que eu sou mãe? Porque eu tenho que passar por isso?

— Você é uma delas meu amor, uma das bruxas sobreviventes de Salém.

— Mas como assim? Como eu posso ser uma bruxa?

— Não sei te responder meu anjo, mas lá você vai encontrar tudo o que precisa saber.”

E ali estava ela, em frente da porta de uma mansão cheia de desconhecidos, onde ela deveria aprender a lidar com o seu “problema”. Ia erguer a mão para tocar a campainha, mas a porta abriu-se antes disso. Ela engoliu em seco e entrou na mansão a passos curtos. Assim que estava dentro, a porta fechou-se atrás de si, só conseguia notar o silêncio do lugar. A casa era realmente espaçosa, na sala onde estava havia uma grande lareira e várias poltronas dispostas pelo local, além de dezenas de quadros de mulheres com ares de seriedade que pareciam encará-la a todo tempo, o que era um tanto estranho.

— O-olá? – sua voz ecoou pela casa, não houve resposta- tem alguém em casa?

— Estava te esperando jovem Damarys- virou-se na direção da voz assustada, e lá estava uma mulher alta e de pele branca, com os cabelos pretos presos num coque e usava um vestido bastante elegante, aparentava ter cerca de quarenta anos, mas estava bastante “conservada” - eu te assustei querida?

— Um pouco, é que eu não tinha te visto aí- respondeu timidamente, num piscar de olhos a mulher evaporou-se do sofá e estava em pé ao seu lado, fazendo a garota recuar num susto- como... você...

— Como eu fiz isso? Ora querida, é apenas um dos meus poderes. Sou uma bruxa assim como você- e pôs as mãos em volta dos ombros da garota que apenas a fitava curiosa- faz tempo que não recebo uma bruxa com poderes de Pirocinese nesse clã, e você me parece ser bastante determinada, com certeza tem muito potencial.

— Pirocinese? Então esse é o meu poder?

— Sim, criar fogo com a mente... Não é incrível? É uma das sete maravilhas mais difíceis de se possuir naturalmente.

— Espera um pouco, sete maravilhas? – perguntou confusa, estava recebendo informações de mais para poder processar, a mulher apenas a encarou com seus olhos castanhos e deu um leve riso.

— Em breve você aprenderá minha querida. Oh, eu nem me apresentei. Me chamo Rawena Oogoneel, a bruxa que cuida desta academia e também a atual suprema deste clã. Antes que pergunte, suprema é uma espécie de líder que deve tomar decisões importantes para que o clã esteja sempre seguro. Mas isso é assunto para depois não é minha querida?

— Bruxas? Então tudo aquilo que minha mãe falou...

— Isso mesmo, era verdade. Você e eu somos descendentes das bruxas que sobreviveram as caças de Salém e que se escondem em seus quartinhos cor-de-rosa até os dias de hoje. Mas somente aqui no clã é que elas podem estar seguras de verdade a mulher estralou os dedos e logo um homem de terno surgiu pelo corredor, um senhor de idade, mas que tinha um ar bastante simpático- Edgard, mostre a nossa nova bruxinha o quarto dela.

— Sim senhora- o homem tomou a mala das mãos de Damarys e fez um sinal para que ela o seguisse- por aqui senhorita Hubner.

Subiu as escadas junto com o mordomo. Sua cabeça agora era um turbilhão de pensamentos. Em pouco menos de doze horas havia descoberto que podia criar fogo com a mente, que era uma bruxa e que agora teria que viver numa espécie de clã seguindo regras e ensinamentos dos quais ela nunca ouvira falar. O mordomo a levou a um dos quartos, nele haviam quatro camas e lá dentro haviam três garotas que a fitavam curiosas.

— Esse é o seu novo quarto senhorita Hubner- o mordomo disse pondo sua mala no chão- estamos reformando os outros, por isso terão de dividir os aposentos por enquanto. Aproveite sua estadia.

— Obrigado- ela disse enquanto o homem se retirava, e pôs-se a fitar as três garotas.

— Seja bem-vinda novata- uma delas se pronunciou em um tom um tanto ameaçador- me chamo Lindsay. Essas duas abobalhadas aqui são Erica e Olga- as duas meninas a repreenderam com o olhar- e você é?

— Sou Damarys...

— Damarys... nome interessante- a menina abriu um sorriso entusiasmado- você é virgem?

— O que? – perguntou assombrada.

— Deixe ela em paz Lindsay- a garota com nome de Erica interveio- ela não é como as amiguinhas que você costuma trazer aqui quando a suprema não está olhando.

— Não ligue para Lindsay- Olga disse num sorriso simpático- ela parece uma menininha malvada, mimada e traiçoeira, mas ela é muito mais do que isso...

— Muito engraçado- a garota disse numa gargalhada falsa enquanto se jogava em uma das camas.

Damarys pôs a mala junto a cama desocupada e sentou-se observando atentamente suas companheiras “bruxas’’. Lindsay tinha os cabelos num tom castanho escuro, lisos e longos que iam até a metade das costas, a pele era levemente bronzeada e seus olhos castanhos tinham um tom “doce”, apesar de sua voz dizer completamente o contrário. Tinha um corpo com curvas bem acentuadas, e aquele ar de “menina malvada’’ que lembrava muito a garota que a irritava na escola. Erica tinha os cabelos pretos curtos, além de leves traços asiáticos e uma pele muito clara, um sorriso doce e um olhar pensativo, parecia ser uma pessoa bastante inteligente. Já Olga tinha a pele negra e os cabelos cheios que ela achou lindos, olhos negros penetrantes por detrás dos óculos e um corpo no mínimo invejável, mas ao contrário de Lindsay ela tinha um ar de simpatia e bondade, que conquistaria qualquer pessoa.

— Vai ficar nos olhando o tempo todo? – Lindsay disse em meio a uma risada.

— Desculpe, é que eu...

— Qual é o seu poder? – Erica interrompeu a olhando curiosa.

— Criar fogo com a mente, pelo menos foi o que disseram que eu fazia.

— Faz tempo que não vemos alguém com pirocinese por aqui- Olga disse sorrindo e pegou um saquinho de pano que estava ao seu lado- isso aqui está cheio de búzios, eu sou adivinha sabe. Parece não ser muita coisa, mas é uma habilidade excelente.

— Deve ser sim- respondeu sorrindo- e vocês duas? – em questão de segundos Lindsay já não estava mais em sua cama, mas agora estava de pé diante da garota com um sorriso travesso no rosto- Nossa, você faz transmutação.

— Pelo visto já andou estudando um pouco sobre nós- Erica mexia a mão levemente enquanto Damarys a observava sem entender o que a garota fazia, quando desviou o foco um pouco para o lado pode ver que um pequeno caderno flutuava no ar seguindo os comandos da mão da garota- eu consigo fazer telecinese. Embora ainda esteja melhorando minhas habilidades.

— Isso é incrível- falou empolgada- nunca podia imaginar que pudessem existir pessoas com poderes.

— Devia ver a nossa suprema- Lindsay disse- ela consegue fazer todas as sete maravilhas e é muito poderosa.

— O que são essas sete maravilhas?

— São os poderes mais comuns das bruxas- Erica começou a explicar- é normal uma bruxa apresentar pelo menos um deles e desenvolver os outros com o tempo. Telecinese, Adivinhação, Pirocinese, Transmutação, Controle da Mente, descer ao submundo e por fim ressuscitar os mortos.

— Nossa...- sibilou absorvendo cada palavra.

— Mas relaxa, você me parece ter muito potencial, sei que tem um futuro brilhante pela frente- Olga disse num tom que a deixou um tanto assustada.

Na época ela não imaginava, mas aquelas palavras mudariam toda sua vida.

° ° °

E a profecia de Olga tinha se cumprido. Anos depois Rawena faleceu repentinamente e o conselho as avaliou para descobrir quem seria a sucessora, levaram Erica inicialmente, mas ela não conseguira realizar todas as sete maravilhas, morrendo no processo. A seguir levaram Lindsay e esta conseguiu se tornando a mais nova suprema do clã. Se ela já era arrogante e mimada na época, tornou-se uma pessoa completamente imprudente e cheia de orgulho, levando o clã a quase a extinção, tomando decisões erradas e não se importando com nada. Olga sumira no mundo e ela, Damarys, havia sido eleita para participar do conselho, após mostrar que tinha muito potencial.

Com o tempo ela foi promovida a líder do conselho, tomando decisões sábias, resolvendo casos complicados e dando um jeito na sujeira que a suprema insistia em deixar por onde passava. Mas aquela revelação mudara tudo, Rawena fora assassinada, veneno foi posto em sua comida de forma que fosse difícil identificar. Damarys desconfiava que tinha algo errado desde que os laudos de óbito da antiga suprema haviam “desaparecido”. E agora um dos membros do conselho achara o lugar onde conseguiram o veneno, e quem o comprara. E estavam diante da culpada, que as fitava com ar de superioridade, mexendo nos cabelos castanhos a todo tempo:

— Se forem demorar muito avisem, que eu chamo minha manicure- falou em tom de troço- você já foi mais prática Damarys, o tempo vem lhe tirando o juízo ou você só está mais lerda mesmo?

— Você está muito engraçadinha hoje Lindsay, espero que esse sorriso se mantenha até eu mostrar o que eu trouxe. Mas vamos por partes não é verdade.

— Vá direto ao ponto.

— Recentemente encontramos os laudos de óbito que mostram o resultado da autópsia de nossa antiga suprema, Rawena... Ao que parece ele não morreu de causas naturais como pensamos, afinal havia uma substância bem peculiar no corpo dela- Lindsay olhava agora com ar de interrogação- um veneno bastante poderoso.

— Entendo, mas o que eu tenho a ver com isso?

— Esse veneno não é um veneno qualquer, é um veneno bastante conhecido no mundo das bruxas e não poderia ser conseguido em qualquer lugar. Procuramos por todos os pontos em que ele pode ser conseguido e encontramos a resposta em um deles, aqui mesmo e Nova Orleans.

— Ainda não estou entendendo o que eu tenho a ver com isso. Querem que eu descubra quem matou a Rawena? Eu descubro, não tem problema. Apenas me deixem em paz.

— Não será necessário minha cara, porque nós já descobrimos o culpado- puxou do bolso uma foto, impressa de uma espécie de câmera de segurança que mostrava Lindsay quando mais jovem saindo do dito local com uma pequena sacola em mãos- foi você.

— Isso só pode ser uma pegadinha- ela riu alto- saíram das suas casas até aqui para isso? Para me acusar falsamente?

— Não estamos acusando falsamente minha cara, você comprou aquele veneno. Um dia antes da morte de Rawena vocês eram as únicas em casa, você podia ter colocado isso na água, no chá ou qualquer outra coisa, se me lembro bem vocês eram bem íntimas.

— Éramos sim, mas isso não significa que eu a matei. Por qual motivo eu faria isso?

— Para conseguir ser a nova suprema, afinal a nova só surge quando a antiga vai embora não é mesmo?

— Isso é ridículo, afinal quando ela morreu Erica foi chamada para o teste das Sete Maravilhas e não eu.

— Mas Erica nunca foi a próxima suprema, era você. Sempre foi você Lindsay- a mulher levantou-se atônita e fez menção de que ia sair- vai a algum lugar?

— Preciso de um pouco de água, toda essa palhaçada me deu sede- rapidamente Damarys fez um sinal e um dos que a acompanhava saiu do local voltando com um copo de água o qual Lindsay bebeu rapidamente- isso é ridículo.

— Ridículo ou não teremos a certeza agora, essa água que você bebeu estava enfeitiçada, o feitiço da verdade... lembra dele? Agora você não será capaz de mentir.

Os olhos castanhos dela se arregalaram de pavor enquanto a mulher estatelara diante deles. Não tinha mais o ar de orgulho, nem toda aquela superioridade que exalava, não era mais a poderosa Lindsay que achava que podia fazer tudo. Era só mais uma bruxa qualquer, prestes a ser condenada. Damarys mantinha-se séria, mas ria por dentro. Ria por saber que tivera seu trabalho cumprido e que tinha resolvido mais um problema do clã, assim como Olga dissera, ela tinha muito potencial.

— Vou perguntar só uma vez, foi você Lindsay?

— Sim, fui eu. Eu envenenei aquela velha burra, está satisfeita? Eu sabia que seria a próxima, sabia que ela não duraria muito então só ajudei ela a ir mais rápido. Sumir com os laudos foi fácil, só precisei controlar algumas mentes, matar umas pessoas. E vocês nunca descobririam.

— Confissão interessante, e bastante verdadeira minha cara- ela riu alto- e mais verdadeira ainda quando foi sem o uso de magia.

— O que?

— Aquela água nunca esteve enfeitiçada para começo de conversa. Você caiu no truque direitinho e revelou tudo, como eu esperava que fizesse- olhou para Lindsay, um ar macabro em seu sorriso, a suprema apenas recuou um pouco, ainda assustada- até que achemos outra suprema, o clã ficara sobre a liderança deste conselho.

Ela levantou-se e estalou os dedos, logo vários seguranças entraram na sala, indo até Lindsay que apenas fitava o chão cabisbaixa, ela poderia tentar fugir, mas não conseguiria. Estava pronta para dar cabo dela ali mesmo se ela fizesse alguma coisa. Ajeitou os cabelos negros enquanto saia da sala, o barulho dos saltos ecoando pelo salão amplo, ao chegar a porta que dava até a saída, virou-se e com um sorriso vitorioso disse:

— Queimem a bruxa!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.

E Damarys se estiver lendo isso, te amo tá ♥ Feliz aniversário my little witch!



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