Dois Solteirões e Uma Pequena Dama escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 4
Capítulo 04 – O Titio Apronta




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E então, pela manhã, Emmett despertou sentindo um calorzinho nas costelas. Passou a mão ao redor, reconhecendo a estrutura do corpo pequeno, tomando conhecimento de Pétala ao seu lado na cama. Com isso, as covinhas brincaram em suas bochechas àquela hora da manhã. Sequer tinha aberto os olhos quando abraçou o corpo pequeno da filha com cuidado.

Diante isso como negar ter sido tomado pelo carinho paterno?

— Ah, Pétala... – ele murmurou. – Minha Pétala querida. – E então abriu os olhos. Logo depois ergueu o torso, afastando-se do travesseiro, tentando vê-la melhor, aconchegada em seu braço. Deu-lhe um cheirinho na testa e disse: – Tão perfumada quanto às pétalas de uma verdadeira flor. Eu te amo, filhinha. Amo-te pra valer. Farei o que estiver ao meu alcance pra fazer sua vida feliz.

De repente, ele se lembrou de ela ter feito xixi em sua cama na noite anterior. O pensamento o obrigou apalpar os lençóis embaixo de Pétala para ter certeza de que não acontecera o mesmo outra vez. Suspirou aliviado. Tudo sequinho. Não teria de passar por todo aquele trabalho novamente. Certamente havia sido acidente, como ela mesma havia dito. Não era de se entranhar, tão pequena e já enfrentando grandes mudanças na vida. Uma perda irreparável. Mudanças difíceis. Adaptação.

A porta do quarto foi aberta de supetão.

— Cadê ela? – disparou Edward, olhando no colchão aos pés da cama de Emmett, encontrando-o vazio. – Ela já acordou? – ergueu os olhos, reconhecendo a figura pequena embaixo das cobertas de Emmett, ao lado do dele. – Ela está dormindo?

Pétala despertou ao som da voz dele. E sentou na cama, bem pertinho do pai. A ovelhinha sendo arrastada pela mão até estar em seu colo.

Emmett tinha dormido com a calça do pijama azul-marinho e uma camiseta branca larga.

Ele passou a mão no bracinho dela encoberto pelo pijaminha cor-de-rosa de algodão. E olhou para o irmão.

— Ela estava dormindo até você aparecer e acordá-la com suas perguntas. O que deu em você pra fazer isso? – voltando à atenção a criança, murmurou: – Bom dai, princesa.

— Eu queria vê-la – o irmão respondeu. – Afinal, ela dormiu aqui no seu quarto, não no meu. É tão estranho dizer isso. Mas é a verdade. Fico com saudades quando ela está longe.

Preguiçosa, e ainda meio sonolenta Pétala jogou metade do corpo no colo do pai. Esfregando a cabeça na barriga dele como se fosse um gatinho buscando por carinho. Emmett esfregou as costas da filha com a mão, em movimentos cuidadosos e cheio de carinho.

— Ei, Pétala – Edward voltou a falar. – Você não quer descer e tomar café da manhã com o titio? Eu fiz panquecas.

Emmett se assombrou com aquela revelação.

— Você o quê? Olha só, eu não sei de que planeta você veio, mas já pode ir saindo do corpo de meu irmão. É o quê? Algum fantasma de um chefe de cozinha? Sai desse corpo que ele não te pertence.

— Engraçadinho – Edward se queixou. E chegou mais perto da cama estendendo os braços pra Pétala. – Vem com o titio, princesa. Vamos comer panquecas com calda de morango. Você deve gostar de morangos. Apesar de eles não serem cor-de-rosa.

Pétala ergueu a cabeça do colo do pai, mostrando-se interessada no que o tio dizia agora.

— E bolo? – pediu.

— Bom, sim, temos bolo também. Mas esse aí não fui eu quem fez, não. E nem é de morango. Comprei na padaria. Mas a moça lá garantiu que é gostoso.

— Oba! – a criança sonolenta já não existia mais. Em vez disso havia agora uma garotinha pulante. Os pezinhos afundando nos cobertores de inverno enquanto caminhava para os braços do tio.

Edward a colocou nas costas e caminhou rumo à porta aberta.

— Enquanto você dá comida pra ela, eu vou me arrumar pra ir ao escritório. Você vai cuidar dela hoje, não vai? – Emmett já estava de pé ao lado da cama quando ouviu a resposta do irmão.

— Sim. Mas você vai dar banho nela antes de sair. – Ele já passava pela porta quando lhe falou. – Não pense que serei eu a fazer isso.

— Está bem – Emmett respondeu entrando no banheiro do quarto.

[...]

Minutos mais tarde, quando Emmett desceu as escadas encontrou a filha sentada na banqueta comendo panquecas com chantilly e calda de morango. Edward, do outro lado da bancada, de pé de frente para ela, comendo sem parar.

Emmett sacudiu a cabeça, se aproximando. – Ainda tem panquecas? Deixou alguma pra mim? Preciso testemunhar esse milagre.

Edward lançou um olhar à tigela em cima do fogão. A frigideira suja ao lado. Ignorando a farinha respingada na superfície dos armários, pia e fogão.

— Sim. Ainda tem algumas ali na tigela.

Emmett foi até lá. Mas antes tinha olhado claramente no prato da filha.

— Sabe você não deveria ter dado toda essa calda de morango pra ela. – Ele pegou a tigela e voltou para junto de Pétala. – Todo esse açúcar pode lhe fazer.

— Ela gosta – o irmão respondeu como não significasse grande coisa.

— Isso não importa. Da próxima vez dê menos açúcar pra ela. Ponha você mesmo à calda e guarde o frasco longe dos olhos e de das mãos dela. – Ele alcançou o frasco na mão de Pétala antes que ela pusesse mais calda às panquecas. – Não, querida. Isso já e o bastante. – Derramou um pouco nas panquecas na tigela dele e depois pôs o frasco bem longe da filha. Ainda que ela estivesse fazendo beicinho. Ressentida por ter lhe tomado o doce.

— Ela vai chorar – Edward comentou. Foi o que bastou para que o choro começasse.

 – Ela não iria chorar se você não tivesse falado. Ela só estava ressentida, mas isso ia passar logo. – Emmett a pegou na banqueta e a pôs sentada em seu colo.

— A culpa é sua por ela está chorando. Foi você quem tomou o doce dela.

— Você por acaso pretende causar uma série de danos à saúde da criança? Porque é isso que você vai conseguir agindo dessa maneira – Emmett se queixou. E levou um pedaço de panqueca a boca. Depois de mastigá-lo, olhou outra vez para o irmão. – Não me faça mudar de ideia sobre deixá-la a seus cuidados hoje.

Edward ergueu as mãos, ainda segurando os talheres, se rendendo. Depois voltou comer suas panquecas com o mesmo prazer de antes. Emmett também continuou comendo as de seu prato. Pétala não quis mais as dela. Emmett acabou pegando tudo pra ele. Ela tomou o leite com chocolate no copinho lilás antivazamento. Permanecia no colo do pai, embora já não chorasse mais.

E quando Emmett pensou que estava tudo bem, que poderia comer sossegado, Pétala avisou que precisava ir ao banheiro.

— Eu preciso fazer cocô, papai.

Ele limpou a boca com o guardanapo, aborrecido, e se levantou.

— Está bem, vamos logo com isso. – Enquanto se afastava, deu uma breve olhada pra trás. – Vê se não come minha comida – avisou a Edward. E Edward abaixou a mão discretamente. Estava a ponto de roubar uma panqueca na tigela do irmão quando o ouviu se queixar.

— Fique tranquilo. Nem estou pensando nisso.

No banheiro, Emmett a ajudou retirar o pijama com pezinhos, e ela correu imediatamente para sentar no troninho.

— Me chame quando terminar. – E ele voltou para a cozinha onde terminou de fazer a primeira refeição do dia. Ele ainda podia ouvir o som musical do troninho no banheiro perto dali.

— Já terminei papai. Vem me limpar.

— É mano, vai lá. Você ouviu. Ela chamou o papai. Não o titio.

— Eu percebi. – Emmett falou ao se levantar. Desanimado, caminhou até o banheiro. Depois de limpá-la achou melhor lhe dar logo um banho. Já que o irmão disse que não faria isso quando ele saísse.

Deixou Pétala toda bonitinha. Com meia-calça branca, macaquinho florido e uma blusinha de mangas compridas lilás. Nos pezinhos, um all star cor-de-rosa.

— Se você for levá-la ao parque mais tarde, não se esqueça de trocar essas meias por umas mais grossas. Ou uma calça – ele recomendou ao irmão antes de sair.

— Pode deixar.

— E não se esqueça do casaco, também. Não a deixe por muito tempo exposta ao frio.

— Cara, é sério. Você está aparecendo a nossa mãe falando. É assustador.

— Será por que sou filho dela, e, de repente, me descobrir pai? Essas coisas podem mudar um homem. Ou pode fazê-lo fugir. – Ele virou o rosto, buscando ver a filha. – Pétala vem dá tchau ao papai, filhinha.

A menininha largou os brinquedos no tapete da sala e correu para abraçar as pernas dele.

— Para onde você vai, papai? – ela inclinava o pescoço, tentando olhar no rosto dele.

Emmett a pegou no colo.

— Estou indo trabalhar.

— Na terra?

— No escritório, querida – ele respondeu. Só depois tomando consciência da origem de tal pergunta. – Sim, na terra – disse, sendo mais cauteloso. – Só uns poucos minutinhos de carro. Volto a qualquer hora que precisar de mim. – Beijou o rostinho dela. – O titio vai cuidar de você hoje, seja boazinha. – Ele a pôs no chão novamente. E Pétala correu para perto do tio, no sofá.

— Parece que somos apenas nos dois agora – Edward falou com ela assim que Emmett saiu do apartamento. – O que você quer fazer?

— Ver desenho, e depois... Brincar. Brincar muito.

— Desenho a caminho, Pequena Dama.

O tio foi à procura do controle da tevê. Assim que ligou, percebeu que estava sintonizada no canal infantil. Era assim agora, desde a chegada de Pétala, eles não tinham mais vontade. Tudo se baseava no que ela queria.

Pétala ficou toda feliz quando viu que era o desenho da Doutora Brinquedos na tela da tevê gigante. Até se dedicou a cantar junto com a musiquinha de abertura.

— A Doutora vem para concertar, se é um brinquedo vai melhor. Tá tudo bem, nada a temer a Doutora sabe o que fazer...

[...]

Horas mais tarde, após vários desenhos e brincadeiras com a sobrinha, Edward sentia-se faminto. Acabou ligando para um restaurante que ficava nas proximidades do condomínio e pediu que entregassem lá o almoço.

Enquanto aguardavam a entrega, ele serviu de cobaia para a sobrinha que brincava de salão de beleza. Assim, quando o entregador tocou a campainha, depois de ter sido liberado pra subir, estava com os cabelos curtos cheios de presilhas tic-tac coloridas.

O rapaz o olhou de um jeito esquisito, se divertindo à custa dele. Edward sentiu vontade de soltar uma série de palavrões. Mas deteve-se por causa da sobrinha que olhava pra ele com aqueles olhinhos escuros brilhantes. Nem pensar de ela repetir todos os palavrões que estavam na sua cabeça. Emmett certamente o esganaria.

— Sua filha? – o rapaz a porta perguntou.

— Minha sobrinha – Edward entregou o pagamento. Agradeceu e fechou a porta.

— Comidinha! – Pétala gritou, correndo pra cozinha na frente do tio.

Edward até acabou se esquecendo da vergonha que acabou de passar por conta dos cabelos cheios de enfeites coloridos.

— Comidinha pra quem? – ele perguntou a ela.

— Comidinha para o titio e pra Pétala – a resposta veio animada, com ela pulando pela cozinha.

Ele foi arrumar a mesa. Mas levou tudo de volta ao balcão logo que percebeu que Pétala não ficaria confortável sentada à mesa. Ela ficava muito baixa no assento da cadeira.

Sentou na banqueta ao lado da sobrinha. Dedicando-se a cortar os alimentos no pratinho dela sempre que preciso. O guardanapo sempre a disposição para limpá-la quando preciso.

— Ei, Pétala – ele comentou, com o garfo na mão. – Eu tive uma ideia. Nós vamos fazer um passeio bem legal agora à tarde.

— No parquinho?

— Não.

— No papai?

— Não. Isso é muito mais divertido que uma visita ao parquinho e que visitar o papai no trabalho. Vai rolar um jogo de baseball da liga amadora daqui a pouco, não muito longe daqui, e nós dois vamos até lá assistir.

— Ah – Pétala ficou sem saber se ficava feliz com a ideia de ir aquele passeio. Nunca tinha feito algo assim antes. Não tinha certeza se seria divertido. Não sabia o que esperar.

Aproximadamente uma hora depois, ele a fez trocar o macaquinho florido por uma calça legging de listras coloridas, vestir um casaco vermelho por cima da blusinha de mangas compridas. E pôr uma touca de lã cor-de-rosa na cabeça.

Segurou na mãozinha dela e juntos pegaram o elevador até o térreo. No estacionamento ele descobriu que a cadeirinha de segurança da sobrinha tinha ficado no carro do irmão.

Pensou muito no que fazer. E no final, acabou pondo ela no banco de trás presa ao cinto de segurança. Pétala permaneceu olhando pra frente o tempo todo, agarrada a sua ovelhinha de pelúcia. A bolsinha cor-de-rosa pendurada por baixo do casaco.

Edward ligou o aparelho de som logo que o carro se pôs em movimento. Mudando de estação, encontrou sem querer a música do filme Frozen, Livre Estou. Pétala saltou no assento e, com sua voz infantil, se pôs a cantar com toda empolgação.

— A neve branca brilhando no chão. Sem pegadas pra seguir. Um reino de isolamento. E a rainha está aqui.

— Mas o quê? – Edward soltou de repente. Olhando rápido pra trás, observando a sobrinha dar a alma na canção. Ele se atreveu diminuir o volume pra ver como ela reagia a sua interferência. A expressão feliz e dedicada cedeu lugar a frustração e raiva. Edward riu sem se controlar, e novamente aumentou o volume. Já estava no primeiro refrão. E ela cantou junto com o rádio. Dando a alma a canção.

— Livre estou, livre estou. Não posso mais segurar. Livre estou, livre estou. Eu saí pra não voltar.

Ele não voltou a interferir. Deixou que ela continuasse cantando com o rádio até o final.

Mais tarde, os dois estavam sentados nas arquibancadas aguardando o início do jogo.

Edward já tinha conversado com duas garotas desde que chegara ali com Pétala. Ele trocou número de telefone com as duas, antes que elas retomassem aos seus lugares. Uma terceira, de cabelos louros, olhava pra ele, com um sorrisinho, de longe.

Ele começava considerar Pétala um imã para atrair mulheres. Todas elas pareciam se encantar com sua presença.

O jogo teve início. Apesar de não está entendendo nada, Pétala se divertia com as maluquices do tio, torcendo pro seu time favorito.

Quando menos esperava, a ovelhinha de pelúcia escapuliu das mãos dela, caindo embaixo das arquibancadas. Pétala ficou apavorada olhando o vão que separava uma arquibancada da outra. Não conseguiu localizar coraçãozinho na escuridão que estava lá embaixo, por isso começou a chorar.

Uma garota, que se encontrava pouco acima do local onde estavam, percebeu o momento que a ovelhinha de pelúcia despencou e sumiu no espaço entre as arquibancadas.

Edward olhou a sobrinha imediatamente, imaginando se teria se machucado.

— O que aconteceu? Você se machucou?

Chorando, Pétala mostrou ao tio o vão por onde sua ovelhinha tinha desaparecido.

— A coraçãozinho... – soluçou.

— Ela caiu?

— Caiu... Ela caiu. Titio... Ela sumiu no buraco.

— Está bem, o titio vai pegar ela pra você. Não chore mais. Você fica aqui enquanto eu...

Pétala agarrou-se as pernas dele. – Não. – Ela não queria ter de ficar sozinha. Sem coraçãozinho e sem o tio, não ficaria. Tinha medo. Tinha medo de ele não voltar.

— O titio só vai lá embaixo pegar a coraçãozinho e já volta.

A menina chorou ainda mais, sem querer se soltar das pernas dele.

— Eu volto pra você.

A garota que os observava desde que o brinquedo caiu, foi chegando mais perto do local onde estavam.

— Eu vi onde ela caiu – disse a Edward, na arquibancada acima. – Eu vou até lá pegá-la de volta. Você fica aqui com ela.

Edward ergueu os olhos, olhando a figura dela com atenção. Esquecendo-se por um instante o que estava fazendo ali.

— Você tem certeza? – falou, por fim.

— Sim. Ela não vai querer ficar sem você. E não vai parar de chorar até ter o brinquedo de volta.

— Obrigado, então.

A garota vestia jeans escuro e uma camiseta do time pelo qual estava torcendo. Seu all star cano médio, surrado.

Ela desapareceu entre as pessoas, ainda enquanto Edward tentava consolar a sobrinha. Garantindo que teria a coraçãozinho de volta.

Levou alguns minutos até a garota voltar. Mas quando isso aconteceu, Pétala abriu um sorriso gigantesco, idêntico ao do pai. E esticou os braços para receber sua ovelhinha de pelúcia de volta.

Edward viu a garota retirar os farrapos de grama seca da pelúcia branca antes de entregar o brinquedo a sua sobrinha. Pétala abraçou a ovelhinha como quem abraça a um amigo querido após um momento de sufoco.

Ele se viu olhando da sobrinha para a garota do all star surrado.

— Obrigado por devolver coraçãozinho a ela. Eu estava indo pegar de volta. Mas você fez isso, então, muito obrigado.

— Não foi nada. Eu vi quando sua filha deixou o brinquedo cair e ele desapareceu no vão entre uma arquibancada e outra. Eu sabia exatamente o que fazer para pegá-lo de volta. Já estava pensando em ir lá buscá-lo antes mesmo de ela começar a chorar.

Edward afagou os cabelos de Pétala, que ainda abraçava a ovelhinha com o mesmo carinho.

— Na verdade, ela não é minha filha. É minha sobrinha.

— Ah, me desculpa. Eu pensei...

— Tudo bem. Estou cuidando dela hoje. – Ele ofereceu a mão à garota. – Desculpe, eu nem me apresentei. O meu nome é Edward.

A garota de olhos que lembrava o chocolate segurou sua mão.

— Isabella – disse. – Mas me chame apenas de Bella. Prefiro assim.

Edward concordou com um movimento de cabeça. E pôs a mão no ombro de Pétala.

— Essa é minha sobrinha, Pétala.

— Pétala – Bella repetiu. – Que nome diferente. E muito bonito, por sinal. – Ela afastou com a ponta dos dedos uma mecha escura dos cabelos de Pétala para trás da orelha. – Ele combina perfeitamente com você – disse pra garotinha. – Uma pequena Pétala. Tão delicada quanto à própria pétala de uma flor.

Pétala sorriu pra ela, gostando da forma como falou de seu nome.

— E ainda tem covinhas – comentou Bella, achando realmente fofo.

— Infelizmente isso ela não puxou a mim – Edward fez graça.

Isabela riu. – Bom, eu vou voltar pro meu lugar. Vou deixá-los assistir o resto do jogo em paz.

— Você não atrapalha em nada. Pelo contrario, só ajudou.

Pétala puxou a barra da camisa dela. – Fica aqui com a gente – pediu, deixando Bella indecisa.

Edward olhou da sobrinha para ela. Um sorriso torto marcando seus lábios ao falar.

— Parece que alguém aqui gostou de você.

— Tudo bem, eu fico – Bella declarou. Estendendo a mão, fez carinho no rosto de Pétala.

Eles sentaram-se na arquibancada. Bella puxou Pétala para sentar em seu colo, e a pequena se distraiu mexendo numa mecha de seus cabelos.

— Você gostou do meu cabelo?– Ela perguntou. Pétala afirmou com a cabeça. – O seu também é muito bonito, sabia?

— O do titio também? ­– Pétala pediu a ela.

Bella se pegou olhando os cabelos de Edward quase que sem pensar.

— Sim. Os cabelos do seu titio também são muito bonitos.

Edward ouviu tudo se sentindo o máximo.

— É só um pouquinho bagunçado – ela completou, e as duas riram juntas.

Edward passou a mão no cabelo como que tentasse arrumá-lo. Bella moveu a mão até encostar-se a dele.

— Não. Deixe assim – sugeriu. – Ele é o seu charme.

Nem precisou falar duas vezes. No instante seguinte, Edward estava bagunçando os próprios cabelos novamente. O sorriso torto nos lábios, enquanto olhava para ela.

Os minutos correram. O jogo chegou ao fim. O time para o qual estavam torcendo não se saiu muito bem. Mesmo assim nenhum dos dois pareciam desapontados. Pétala muito menos.

Edward adorou conhecer Isabella. E ela, a ele. Não sentiam necessidade de seguir caminhos diferentes, ainda que soubessem que era preciso. Queriam estar juntos por mais tempo. A conversa era agradável e fácil.

Puseram-se a caminhar sem pressa pelo estacionamento lotado. Pétala caminhava na frente deles, se lambuzando com um sorvete de morango que o tio comprou pra ela. Bella tomava um de limão, e Edward, um de chocolate. A ovelhinha da sobrinha estava embaixo do braço dele.

— Então – começou Bella, após uma lambida do sorvete –, por que está cuidando dela hoje?

— É uma longa história – respondeu. – E louca também.

— Não me incomodo em ouvi-la. Na verdade, estou bem curiosa.

— Bem. Já que você insiste, então eu vou te contar tudo.

E foi assim que ele contou a Isabella como Pétala veio parar no apartamento com eles. E como vinham se reversando para cuidar dela e dos negócios da família, até que soubessem o que fazer. Falou do susto inicial. A surpresa. E a felicidades de tê-la com eles agora que a ficha caiu.

Estava sendo difícil, mas também estavam aprendendo a cada segundo vivido ao lado dela.  

Isabella ouviu tudo com atenção e ficou ainda mais interessada em estar ao lado de Pétala. Queria lhe dar um pouco do carinho perdido com a ausência da mãe. Queria ser uma amiga, alguém com quem ela pudesse contar. Ainda que isso significasse brincar de bonecas ou ser cobaia de salão de beleza infantil.

O sol já tinha se posto quando os três se despediram no estacionamento. Eles trocaram números de telefone e até marcaram de se encontrar no próximo fim de semana.

[...]

Emmett andava de um lado a outro no apartamento, com o telefone fixo na mão, quando então os dois passaram pela porta.

Pétala estava nos ombros do tio. E tinha um boné de baseball virado pra trás na cabeça, e ele era enorme. A ovelhinha de pelúcia presa entre as mãos dos dois, no alto. E eles cantavam juntos Livre Estou, de Frozen.

Emmett disparou, com a mão que segurava o telefone, erguida. – Onde você estava seu filho da mãe? – Ele largou o telefone no sofá, de repente. – Por que não atendeu a droga do celular? – olhou novamente a filha nos ombros do irmão, e foi pegá-la.

— Calma aí! – Edward pediu.

Emmett ignorou seu pedido. Arrancando Pétala de cima dos ombros dele. Pétala e o tio tinham parado de cantar diante sua interferência.

— Estou ligando a mais de uma hora pro seu celular e você não me atende, seu infeliz. Por que não atende? O que está pensando?

Emmett analisou a figura da filha inteira. Percebendo ela toda grudenta e com manchas de comida na roupa. Tirou o boné da cabeça dela e jogou em cima do sofá.

— Para onde você a levou?

— A gente tava vendo o jogo com a Bella – Pétala entregou.

— Você levou minha filha para um estádio sem minha permissão? E quem diabos é essa tal de Bella?

— Cara, você está muito estressado – o irmão provocou. Passando por ele indo sentar-se no sofá. – A gente foi ver um jogo de baseball. E nem tinha tanta gente assim. E Bella, ela é uma garota linda que conheci graças a Pétala. Você tinha razão quando disse que ela dava sorte com a mulherada.

— Você levou minha filha, uma criança, ao estádio só pra facilitar seu papo com as mulheres?! – sua revolta estava clara no tom de voz.

— Não foi bem assim. Eu queria ver o jogo e como estava aqui à toa, acabei indo e levando ela comigo. A mulherada ter chagado em mim foi apenas um bônus.

— Eu... – Emmett estava furioso.

— Não diga àquela palavra que começa com M. Você sabe que ela chora.

— Seu filho da mãe!

— Obrigado por cuidar de minha filha, Edward – Edward ironizou. – Seria bacana se você dissesse isso. Porque, sabe, ela se divertiu hoje. No caminho pra cá até passamos numa loja de discos e compramos o CD da trilha sonora do Filme Frozen. Sabia que ela adora a música Livre Estou? E que canta com o coração?

O irmão ignorou tudo o que disse.

— O que deu para ela comer? Por que está tão grudenta desse jeito?

— Sorvete! – a garotinha confessou sorridente.

O pai não resistiu ao sorriso de covinhas idêntico ao seu. Beijou mais de uma vez nas bochechinhas dela, ainda que grudenta. E sorriu.

— Vou dar um banho nela – avisou. E seguiu rumo às escadas.

Ao alcançar o patamar, olhou para baixo, e, embora não conseguisse mais ver o irmão na sala, disse:

— Obrigado por cuidar dela hoje.

Edward sorriu. – Eu gosto muito dessa criança. Gosto mesmo.

[...]

Mais tarde, depois do banho e de ter rejeitado o jantar, Pétala deitou no sofá da sala com o polegar na boca e a ovelhinha junto ao peito. A bolsinha tinha ficado no quarto.

Emmett não gostou nenhum pouco em saber que a recusa do jantar devia-se as porcarias que a filha tinha comido fora de casa na companhia do tio. Ainda assim, preferiu ficar calado.

Mas quando Pétala começou ficar inquieta no sofá, de tempos em tempos com muxoxos de choro, a coisa começou mudar de figura.

Sentado no sofá oposto, com o notebook no colo, ele observava a filha cada vez que ela se movia. O irmão, Edward, estava no quarto dele.

Na última vez que olhou pra Pétala, soube que tinha de perguntar.

— O que foi papai?

Pétala soltou mais alguns muxoxos de choro, inquieta.

Ele ficou olhando ela se sentar no sofá e depois deslizar pra fora com as mãozinhas na barriga. Estava usando um pijama de mangas compridas e calça em estampas de ursinhos.  Nos pés, apenas meias brancas de algodão.

— Papai... – ela murmurou chorosa. Cambaleando pro colo dele.

O pai largou o notebook de lado no mesmo instante. Apressando-se para pegá-la no colo.

— Papai... Papai.

Emmett a ajeitou no colo, analisando seu rostinho contorcido de dor.

— O que foi? Fala pro papai.

— Tá dodói... – choramingou outra vez. Em momento algum afastando as mãozinhas da barriga. E então, de repente, disparou a chorar. – Tá dodói... – repetiu na mesma agonia.

Emmett afagou a barriguinha dela por baixo da blusa do pijama e isso pareceu acalmá-la um pouco.

— Já vai passar... Não chore.

— Tá dodói...

— O papai já sabe que está dodói.

E então, Edward estava ali de frente a eles, a expressão preocupada estampada no rosto.

— O que ela tem? – ele pediu, sem hesitar.

Emmett tinha ficado de é com a criança chorosa nos braços, ainda enquanto ele falava.

— Caramba, Edward! O que você deu para ela comer hoje? O que deu pra ela comer naquela droga de jogo?

— Ela comeu metade de um cachorro quente e um salgadinho antes do jogo começar. E quando o jogo terminou, dei pra ela um sorvete de morango. Nada mais. Eu juro.

— Percebe? Algo lhe fez mal. Ela está com dor de barriga. – A insegurança e a falta de experiência com crianças fazendo sua voz ficar um tom mais alto e agressivo. – Eu não tenho a menor ideia do que dar pra ela tomar. Nem o que fazer pra que se senta melhor.

O irmão balançou a cabeça dando a entender que também não sabia o que fazer.

— Não tem outro jeito – lançou Emmett, depois de um instante sem saber o que fazer. – Preciso que fique com ela para que eu possa ir até a farmácia mais próxima. Alguém lá, um farmacêutico, deve saber o que fazer.

Ele entregou a criança aos braços do tio.

— Leve ela lá pra cima. Ponha deitada na minha cama. – Ele segurou o rostinho da filha entre as mãos grandes com todo cuidado. – O papai já volta. Vou buscar o remédio pro seu dodói. O titio vai ficar aqui cuidando de você.

Pétala chorou um pouco mais quando o pai se afastou dela.

Emmett catou as chaves e seguiu em direção à porta. Gritando antes de sair:

— Cuide dela!

— E se ela fizer cocô? – Edward perguntou, aflito. – É uma dor de barriga, caramba.

— Você limpa. Não foi você quem deu as porcarias pra ela comer.

Ele desapareceu pela porta com o irmão gemendo de desgosto atrás de suas costas.

Foi apenas questão de segundos para Pétala estar sentada no troninho, no banheiro social. E Edward de costas, na porta, esperando ela terminar. Começava se sentir culpado. Se não tivesse dado todas aquelas coisas pra ela comer era possível que não estivesse se sentindo mal agora.

[...]

Emmett entrou na farmácia a algumas quadras do edifício, depois de estacionar dobrando a esquina.

Um relógio grande, na parede central, marcava 21h45min.

Ele se encaminhou ao corredor onde avistou uma moça loura de costas. Ela usava uma blusa branca de mangas compridas e uma calça escura com sapatos de salto alto. Não viu ninguém mais, exceto pelo homem que acabara de entrar numa das portas que ficava atrás de um balcão.

— Com licença? – ele pediu, cautelosamente, olhando as costas da loura. Ela tinha o cabelo comprido e estava preso num rabo de cavalo bem feito.

A moça se virou ao som de sua voz. A primeira olhada foi impactante. Ambos se viram olhando fixamente um pro outro sem expressar qualquer outra reação. Nenhum deles encontrou o que dizer pelos próximos cinco segundos.

Quando o impacto inicial passou, Emmett foi o primeiro a falar. Limpando a garganta antes disso.

— Você trabalha aqui?

— Não. A farmácia pertence ao meu irmão. Só estou de passagem. Estava aproveitando para pegar umas coisas. – Vendo a frustração cruzar o rosto dele acrescentou: – Se quiser posso te ajudar, mesmo assim. Está com a receita aí? Posso levar lá dentro pro meu irmão da uma olhada.

— Na verdade, eu não tenho uma receita – ele olhou as próprias mãos sem saber o que fazer. – É que estou com uma criança com dor de barriga em casa.

— Sua esposa anotou o nome do medicamento em algum papel?

— Não sou casado.

Ela não soube bem o que dizer. Olhando pra ele como que esperasse uma continuação.

— Faz só alguns dias que estou com ela. Acontece que não sei o que fazer. Meu irmão mais novo ficou cuidando dela pra mim.

Ele viu que a moça olhava pra ele agora de um jeito diferente. Que bem podia ser desconfiança. Então, quis muito se explicar.

— A mãe dela faleceu recentemente, por isso Pétala foi morar comigo.

— O nome dela é Pétala? – e ela já não olhava mais pra ele com desconfiança. Mas com simpatia.

Emmett balançou a cabeça concordando sobre o nome da filha.

— Pétala é um nome lindo. Não foi você quem escolheu, não é mesmo? Quero dizer, não me parece um nome que um homem escolheria, ainda que para uma garotinha. É  delicado demais.

— Não. Eu nem sabia da existência dela até vir morar comigo.

— Você disse que seu irmão ficou cuidando dela?

— Sim. Dividimos o mesmo apartamento desde que saímos da faculdade. Somo sócios numa agencia de seguros. Nosso pai foi quem...

Ela o interrompeu, fazendo sinal com a mão. – Você não precisa me falar todas essas coisas. Na verdade, quero me diga apenas uma.

— O que quer saber?

— Você confia nele? No seu irmão, pra cuidar dela?

— Mas é claro. Ele seria incapaz de fazer mal a alguém. Ainda mais a ela.

Ela deu alguns passos à esquerda. Parou diante uma prateleira de medicamentos. Esticou o braço e retirou de lá uma caixinha.

— Quantos anos você disse que sua filha tem?

— Eu não disse.

— Ah, me desculpe. Pensei que tivesse dito.

— Quatro anos. Ela tem quatro anos.

A moça devolveu a caixinha à prateleira e pegou outra, mais ao lado.

— É só dar pra ela cinco gotinhas num intervalo de quatro horas. Na bula você encontrará tudo o que precisa saber. Enquanto as gotinhas não fazem efeito, você pode estar fazendo compressas de água morna na barriguinha dela, isso vai aliviar o desconforto. Se ela estiver com diarreia, um chá de maçã ou um soro caseiro podem ajudar.

Emmett pegou a caixinha olhando atentamente o rótulo. Em seguida ergueu o olhar, buscando o da moça.

— Você tem filhos?

— Não. Ao menos que eu saiba – ela provocou num tom de brincadeira. Emmett riu um pouco, embora não estivesse totalmente certo de que era pra rir. – Estou só brincando com você. – Ela pôs a mão no braço dele. Ambos sentiram o corpo reagir com ansiedade. E no mesmo instante seus olhos se encontraram, permanecendo assim por um instante interminável. – Parece tão preocupado – ela falou, afastando a mão do braço dele devagar. Consciente do que tinha acabado de acontecer. E ele sentia o mesmo. – Tenho dois sobrinhos pequenos, então, digamos que sei um pouco sobre crianças.

— Só por você ser mulher já é uma vantagem.

— Não, eu não acho que seja assim. Há pais muito bons. Meu irmão é um deles. E, presumo que você também seja. Do contrario, não estaria aqui tão preocupado querendo um remédio para aliviar a dor de barriga de sua filha.

Emmett se sentiu um pouco convencido com as palavras dela.

— Olha, faz como te disse. E a amanhã marca uma hora com o pediatra.

— Mas eu não conheço nenhum pediatra.

— Tudo bem, vamos fazer assim: você me passa o número de seu telefone. Tentarei conseguir com meu irmão ou minha cunhada o número do pediatra de meus sobrinhos e então te ligo de volta pra passar as informações. Assim você aproveita e me diz como está a Pétala.

Emmett gostou de saber que ela não havia esquecido o nome de sua filhinha. E o fato de ela parecer mais interessada em cuidar da criança que flertar com ele. Então pegou a carteira no bolso. Retirou um cartão de visitas e entregou na mão dela.

— Aqui tem todos os meus contatos.

Ela deu uma breve olhada, segurando-o nas pontas dos dedos.

— Perfeito. Então seu nome é Emmett McCarty?! – comentou, levantando as vistas. – O meu é Rosalie Hale.

Ela estendeu a mão e ele envolveu com a sua.

— Prazer em conhecê-la, Rosalie Hale.

— Me chame apenas de Rose.

— Rose – ele repetiu. – Prazer em conhecê-la, Rose. – os dois riram ainda apertando-se as mãos. E a estranha sensação estava de volta. Rosalie foi a primeira a puxar a mão.

Emmett olhou pra ela meio sem jeito e se encaminhou ao caixa, onde, de repente, havia uma moça de cabelos vermelhos e maçãs do rosto encobertas de sardas. Seus olhos eram da cor de avelã. E seu sorriso era simpático.

Quando estava saindo, viu que Rosalie falava com o mesmo homem louro que havia desaparecido pela porta atrás do balcão de medicamentos quando chegou à farmácia. Pensou em dar um tchauzinho a ela, porém teve receio que não o notasse.

 


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Notas finais do capítulo

Sill