O amor que não pude dar escrita por Killer Queen


Capítulo 1
One


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695259/chapter/1

Coisa triste gostar de uma pessoa, ser correspondido, saber disso e mesmo assim não poder ficar com essa pessoa.

Confuso? É, eu sei.

Mas a questão toda é que eu deixei o meu irmão mais novo segurar uma barra quando nossa mãe estava no hospital em fase terminal por causa do câncer enquanto eu me formava na faculdade e ingressava na carreira de professor longe de casa.  

No fim, eu me esforcei ao máximo para voltar pra casa e ficar próximo do meu irmão quando nossa mãe morreu, e, entre esforços e sacrifícios, eu a conheci: senhorita Murao.

Murao era minha aluna do terceiro ano do ensino médio, colega e amiga da namorada do meu irmão e, bem, do meu irmão.

Eu sei que eu sou um professor e devo transmitir a ideia de ser um adulto responsável, mas Murao era linda, inteligente, madura e encantadora com os seus 17 anos. Eu não devia pensar nela de outra forma, mas eu fracassei. Eu procurava por ela no intervalo com a desculpa de prezar pela segurança dos outros alunos, ia na biblioteca ver ela lendo livros de poesia com a desculpa de ver algumas obras para sugerir para a turma. Mas a única verdade é que eu ia por ela, e só ela.

Num determinado dia, enquanto eu estava dando aula, notei que Murao me olhava ansiosa, e, logicamente, tentei disfarçar olhando para a janela, chão, apagador... Qualquer coisa, menos olhar para ela. Mas também não queria desaponta-la. 

Então ela veio em minha direção com o seu caderno, lápis e borracha, com uma expressão determinada e um tanto vermelha. O que eu devia fazer? Correr? Não. Ela era só uma aluna. Devia querer uma explicação. Mas porque não levantou a mão como os outros alunos? Murao me deixava extremamente nervoso.

— Tanaka sensei, estou com uma dúvida sobre a inferência logica em que o senhor propôs nesse... – ela suspirou - teste. Noto que há duas possibilidades para a finalização desta questão... O que o senhor acha que melhor se enquadraria?

Ah, ela queria apenas esclarecer uma duvida sobre o texto. Mas então porque ela corava? Peguei o seu caderno, li oque ela havia feito no exercício com atenção. Letra bonita. Garota linda. Ela não parecia precisar de ajuda. Tudo estava certo.

— sobre isso, eu acho que não há duvidas. Você respondeu perfeitamente senhorita Murao. – respondi incerto.

Ela me fitou por um longo segundo, sustentei seu olhar.

— não era disso que eu me referia – ela disse num tom de voz que só eu ouviria e botou um pequenino bilhete disfarçadamente na pagina marcada do meu livro e foi para o seu lugar e não me olhou mais.

O que ela estava fazendo?

Usei a desculpa que iria à sala dos professores e levei meu livro com o bilhete. Quando li, percebi que ela havia marcado um encontro no pátio da escola uma hora após o término das aulas. O que ela estava pensando? O que os outros vão pensar se nos ver? E oque eu estava pensando em ficar feliz com isso?

Mas no fim, eu resolvi ir. Passei antes no meu armário para largar o material didático e matar tempo tomando um café amargo na secretaria. Quando chegou a hora, lá estava ela sentada em um banco fora da vista dos outros. Eu imaginava o que ela queria, mas eu tinha consciência que era errado.

— senhorita Murao, o que houve? – falei me aproximando.

Ela fez sinal para eu sentar ao seu lado. Eu hesitei, mas no fim eu estava ali.

— Tanaka sensei, eu sei que não devia... Mas eu quero ser sincera sobre meus sentimentos em relação ao senhor. Eu... Gosto muito do senhor.

Como eu queria dizer que era mútuo. Mas na verdade eu disse:

— sim... Você é minha aluna preferida também. – me fiz de desentendido - Você é amiga do meu irmão, te considero quase uma irmãzinha também. – e baguncei seus cabelos e dei um sorriso.

Ela estava desapontada, eu estava triste por mentir.

— não é assim que eu quero que você goste de mim. Eu sou uma mulher, não há tanta diferença de idade entre nós, apenas oito anos, por favor. – ela disse se aproximando com os olhos marejados.

— eu não te vejo assim. Eu sou seu professor. – e o troféu de mentiroso vai para mim! – sinto muito. – e me levantei indo embora deixando Murao sozinha.

Nem preciso dizer que ela adquiriu raiva de mim por um bom tempo, certo? Eu me sentia mal, mas eu poderia perder o meu emprego e fazê-la ficar mal falada na escola se eu me submetesse às nossas vontades. Eu preferia que ela me odiasse a nos prejudicar.

Mas me doía ver que havia um garoto querendo conquistar ela. Eu sabia que seria melhor ela superar o coração partido com um novo amor, mas eu não me conformava. Quando ela estava descendo as escadas da escola, eu corri para falar com ela.

— oi... faz tempo que não nos falamos... posso te ajudar a levar os livros? – apontei para a pilha de livros que ela segurava.

— ah, acho que sim... – ela me responde na defensiva, me alcançando os livros. – como o senhor está?

— eu estou bem. Vi que você está conhecendo novas pessoas, fico feliz por você e, quem sabe... Seu novo namorado.

— não tenho namorado. – Murao me disse, ríspida.

— não é oque parece. – ponderei. – mas de qualquer jeito, quero te ver feliz com alguém da tua idade.

— quem eu realmente amo, não me quer... mas eu entendi. – ela disse pensativa - Sou só uma aluna. O que alguém como eu poderia oferecer e, bem... não quero te prejudicar, sensei.

— desculpe. Não quero problemas.

Ela ficou em silencio. Senti-me mal por ser tão ruim com uma garota incrível como ela. Ela pegou seus livros e foi embora.

Caminhei até o carro para ir embora, me segurando para não voltar ate ela correndo e dizer o que eu realmente queria. Chegando em casa, tomei algumas cervejas para tentar me acalmar. Eu queria muito estar com Murao, mas não podia.  Uma meia hora depois, quando estava atirado no sofá, ouvi batidas na porta. Queria socar o meu irmão por não levar a chave e me fazer ter que levantar nessa hora. Quando abri a porta, não era meu irmão, era Murao.

— o que você faz aqui? Você no deve... – eu estava nervoso.

— só queria fazer uma pergunta, Tanaka.

— sobre a matéria? Pergunte-me na escola. Em minha casa é... - Murao me interrompeu.

— você nunca teve interesse amoroso por mim, professor? Por favor, seja verdadeiro.

Eu podia dar mais desculpas, como sempre fiz, mas eu não quis.

Eu não aguentaria mais.

Eu não gostava de Murao.

Eu era perdidamente apaixonado por ela.

— a verdade é que eu gosto de você, Murao. Mas eu sei que não devo. Eu sou um adulto já. – suspirei triste – você terá toda a vida pela frente, não vou prejudicar você por capricho meu.

Ela sorriu. Eu amava seu sorriso, até porque era raro vê-la sorrir. Então se aproximou. Eu me esquivei. Sei dos meus limites.

— eu entendo. Mas eu não vou desistir do senhor... não depois de agora. Eu ainda vou me casar com você, Tanaka. – ela riu e seguiu avançando em minha direção, tocando meu rosto com suas mãos, acariciando minhas bochechas.

— Murao... – fechei os olhos, apreciando o toque – pare. Você deve ir. Não torna as coisas mais difíceis.

Ela ignorou.

 – gosto dessa sua marca de nascença no rosto – ela disse tocando minha marquinha próxima ao olho – quero ver melhor.

Continuei com os olhos fechados em silencio. Quando vi, ela me beijou. Eu perdi meu controle no qual lutei tanto para ter, eu ia causar problemas se me deixasse envolver. Separei-me dela bruscamente. Murao me olhou magoada, mas assentiu.

— eu queria isso sempre, Murao, me entenda. Enquanto eu for seu professor, não podemos ter nada. Eu... eu lutei tanto para chegar onde cheguei... mas eu sinto que devia desistir de tudo, mas eu não consigo, não posso.

— eu sei professor – ela disse olhando pra baixo mexendo no seu casaco - eu te deixarei em paz nesse próximo trimestre, mas eu me formarei em pouco tempo... não serei mais sua aluna no próximo ano.

— eu estou ciente disso. Eu esperarei a formatura para te ver. Eu prometo.

Depois daquele dia, não falei mais com Murao, apenas via minha aluna de longe durante esse trimestre, ela sorria, mexia na sua franja e olhava para outro lado. Eu ainda estava disposto a desistir dela se ela arrumasse alguém da sua idade e ser feliz como uma adolescente normal, mas não era algo que ela cogitava pelo visto, afinal havíamos feito uma promessa pro próximo ano.

Pedi um afastamento no ultimo trimestre, queria dar essa opção de escolha pra ela, mas perguntava com frequência ao meu irmão como ela estava. 

Às vezes temos que tomar uma decisão difícil pra proteger quem amamos, é o jeito que nós adultos fizemos. Mas porque eu me sentia tão triste?

Resolvi viajar durante aqueles meses para me distrair e não pensar nisso. Talvez no fundo eu ainda tinha esperança de que tudo ia se resolver entre ela e aquele outro moleque da turma, já que tudo seria mais fácil na vida dela, mas me sentia com raiva de mim mesmo por pensar nisso.  Eu amava ela.

Eu voltaria por ela.

E, quando voltei na formatura da turma dela, eu a vi conversando feliz com o tal garoto. Ela de certo pensava que eu havia quebrado a promessa e seguido seu caminho. Eu não queria me meter na vida dela mais, mas agora eu é que estava com o coração partido, porque no fundo eu havia me dado esperanças de que eu ia casar com ela, como ela tinha me dito naquele dia. É. Eu sou um mané.

Mas Murao me viu naquela semana quando eu chegava em casa após fazer as compras pra fazer a janta. Ela correu em minha direção  e me abraçou, derrubando as minhas sacolas. Ela seguia linda como eu lembrava.

— pensei que você havia partido pra sempre – ela começou a chorar – eu senti tanta tua falta, Tanaka. Porque você não me procurou? – ela exigiu.

— você parecia bem, senhorita Murao. – eu disse pegando minhas sacolas e me afastando dela.

— eu não sou mais sua aluna, Tanaka, não me trate como tal. Você prometeu.

É. Eu sei. Eu havia prometido. Eu queria. Ela não era minha aluna. Então porque eu ficava tão receoso sobre ficar com ela ainda?

Pessoas passariam na rua e comentariam. Eu a deixaria mal falada se não terminasse com isso logo. Eu jamais quis prejudicar ela. Provavelmente eu perderia meus créditos como profissional se me envolvesse. Não. Eu não devia ficar com ela. Não na nossa cidade. Ela pareceu que leu meus pensamentos.

— eu vou embora com você. Eu... Eu te amo Tanaka.

— você faria isso? – perguntei incrédulo.

— sim. Eu faria tudo por você.

Ela estava fora de si. Eu não me perdoaria por interferir tanto na vida dela. Eu a abracei.

— quero que você seja feliz, mas isso é loucura. Você tem a vida inteira pela frente. Eu vou te deixar em paz para seguir teu caminho, é o mais logico a se fazer. E você sabe disso.

— mas você disse que ficaríamos juntos. – ela chorava. fiquei mal em ver ela assim.

— eu disse que a gente se veria, não que ficaríamos juntos. Agora... segue tua vida, por favor.  – e deixei o amor da minha vida pra trás.  

Seria a ultima vez que eu veria Murao, eu iria embora para a américa me especializar em pedagogia. Nunca disse que a amava, sei que a magoei, mas eu acredito que fiz algo bom por ela. No fundo eu sei que fui apenas uma sombra na vida dela, uma inspiração na qual confundiu sua linha tênue de pensamento. eu seria apenas uma memoria, talvez boa pra ela.

Nunca amei ninguém como amei Murao. Mas esperava que ela seguisse sua vida e encontrasse alguém possível para ela amar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

tchauzinho



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O amor que não pude dar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.