O garoto no cemitério escrita por Sam


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Quando fui assistir o espetacular homem aranha, um ano atrás se me lembro bem, essa ideia surgiu e eu a escrevi para ser de um capítulo mesmo. Encontrei-a no Word e estou pensando bastante sobre ela. ♥



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O inesperado está sempre à espreita

— Banquete do amor

 

 

É... A perda foi difícil de aceitar, mas quando me deparei com aquele caixão e todos os familiares eu soube que era real. A segunda perda da minha vida e agora eu não tinha mais ninguém. Responder a policia não ajudou em nada. Semanas de buscas para no fim o resultado ser a injustiça e a culpa de não poder mudar o que aconteceu. Havia os pesadelos tomando posse da minha mente toda noite, só que nada se comparava com a realidade; Sem testamento Rebecca ficou com tudo o que pertencia ao meu pai, incluindo eu. Tive de abandonar meu quarto para morar no porão quando ainda era pequena. Rebecca ainda me mandava cuidar de toda a casa, assim não precisaria pagar uma empregada. Quando completei quatorze anos comecei a trabalhar na pizzaria que antes pertencia ao meu pai. Além de passear com pizzas e bebidas nas mãos ainda tive de continuar sendo a serviçal na casa que eu já não considerava mais.

E agora eu estava ali, anos depois, atravessando o enorme gramado de casa com o boné que meu pai havia me presenteado, no dia do assassinato, na cabeça e dois buques de flores diferentes em cada mão. Eu sempre usava aquele boné cinza com o B estampado em letras vermelhas. Já havia lavado a louça e arrumado toda aquela casa além de levar o lixo para fora, então aproveitei a saída de Rebecca para a clínica de cirurgia para ir visitar meu pai. O que eu fazia todo dia desde sua morte.

Caminhei uma distância considerável até meu destino, só que caminhadas nunca me irritavam. Andar sozinha era bom, sentir a brisa e respirar o ar fresco ajudam a manter a cabeça no lugar e os planos em dia.

"— Que bom revê-la mais um dia. Como vai? —". Levantei minha cabeça, vendo o senhor Collins com seus cabelos grisalhos, óculos escuros, e um doce sorriso no rosto.

Eu sempre o encontrava por ali, íamos ao cemitério ao mesmo horário. Ele consecutivamente levava rosas brancas para a esposa. "— Bem e o senhor? Belas rosas. —".

Ele retribui meu sorriso. "— Melhor impossível. As suas também são. Veio visitar mais alguma pessoa hoje? —".

Não o compreendi até me recordar de que eu estava com dois buquês nas mãos. Rosas vermelhas e tulipas. "— Ah, não. As rosas levarei para o meu amigo depois que sair daqui. —".

Educadamente eu o acompanhei. Como de costume, as nossas conversas fluíam naturamente. O senhor Collins adorava me contar de como se divertia com Christine quando eram jovens e recém-casados. E eu? Bom, o escutava interessada. Tudo o que envolvia amor me deixava totalmente fascinada. Isso explicaria as montanhas de filmes de romances e dramas que tinham no meu quarto/porão.

"— Você é muito forte para uma jovem. Admiro isso. —". Collins comentou quando o deixei no túmulo da mulher.

Eu fiquei agradecida pelo comentário, apenas não soube se era digna dele. "— Obrigada. —". Li mentalmente o nome completo de sua mulher estampado no mural dedicado a ela. "— Mas, senhor Collins... Eu é que admiro o senhor. —".

Conversei mais um pouco com ele, trazendo alguns risos para aquele rosto que se entristeceu com as memórias, depois me encaminhei para o túmulo das pessoas que eu mais amava. Papai havia sido enterrado ao lado da minha mãe por pedido da família. Rebecca odiou a situação no mesmo nível que todos a odiavam.

"— Se eu dissesse que está difícil continuar sem vocês... Acreditariam em mim? —". Meus joelhos estavam dobrados ao meio dos dois túmulos e já doíam, no entanto, aquela dor não era nada se comparada ao que se passava dentro da minha cabeça. "— Trouxe tulipas. Sei que são as preferidas de vocês pela plantação feita no quintal dos fundos. Aquela mulher destruiu tudo, mas salvei algumas. Claro que peguei uma para mim, mas o resto está aqui. —". Coloquei o buquê de rosas no chão, usando a outra mão para separar as tulipas do outro. Cinco para Joseph e cinco para Rachel. Suspirei, segurando minha tristeza diante deles. "— Amanhã eu volto. —".

Com dificuldade eu me levantei após pegar as rosas de Connor. Meus olhos ameaçavam soltar o que eu tanto me esforçava para esconder; o choro. Eles não poderiam ver isso, sempre me encorajavam a ser forte. Segui em direção ao tumulo de Christine. Talvez pudesse acompanhar o senhor Collins até sua casa. No caminho eu observava os outros murais de homenagem. Era ruim ver que tantas pessoas deixavam o mundo com tanta felicidade para viver ou lições para aprender.

que um mural conseguiu me prender.

Olhei para os lados antes de me aproximar. Gwen Stacy, repeti o nome em minha mente. Pelo o que ali dizia ela havia morrido há muito pouco tempo. Um sentimento revoltante surgiu. A morte não me agradava, ainda mais quando ela se apresentava a uma vida tão jovem. Automaticamente eu peguei duas rosas do buquê de Connor, abaixando-me para deixa-las no lugar onde aquela garota havia sido enterrada. Eu sabia que isso não a traria de volta, mas foi o suficiente para que uma ideia surgisse na minha cabeça.

Deixei o cemitério e segui para loja de flores mais próxima, comprando alguns pequenos buquês e voltando logo depois. Várias das pessoas que estavam enterradas ali haviam sido esquecidas pelas famílias, eu os deixaria um pedido de desculpa por elas.

Distribui as flores pelos túmulos. Quem me visse de longe poderia pensar que eu era louca ou muito sentimental. Para mim eu seria uma mistura perfeita dos dois.

Quando finalizei meu objetivo senti um peso terrível sair das minhas costas. Ajudar era bom, e me fez pensar que meus pais deveriam estar sorrindo para mim. Já estava pronta para voltar para meu emprego de escrava da madrasta quando vi um garoto. Ele estava parado diante do túmulo da jovem Gwen. Quis ir embora, mesmo assim também senti vontade de saber mais da garota.

Isso era um tanto estranho. 

"— Namorada? —". Perguntei com as mãos cruzadas depois de segundos parada atrás do rapaz.

De todas as formas de abordar alguém eu escolhi a mais intrometida possível. Não me surpreenderia se ele saísse dali me deixando sem resposta.

O garoto limpou as lagrimas e me olhou virando um pouco a cabeça, voltando-se para o túmulo depois. "— Ela era mais que isso. —". A voz dele estava cheia de rancor.

Não era bom para uma pessoa sentir-se assim como ele estava. Eu reconheci o ódio, que me rodeou por não ter impedido a morte do meu pai, nele. Mesmo querendo respondê-lo eu não achei respostas. Falar que sentia muito seria inútil. Ele já deveria ter escutado a mesma coisa de várias bocas.

"— Eu costumo fazer uma coisa para a dor... —". Procurei pela palavra certa, e descobri que ela não existia. "— Compre flores. Distribua pelos túmulos. As pessoas gostam de serem lembradas, até as que se foram. Vai se sentir melhor no final. —". Era uma dica estranha vindo de uma garota que ele nunca viu na vida. Entenderia se não a seguisse.

Virei-me para ir embora, respeitando seu momento com a garota, porém parei quando o ouvi dizer um ‘’ ei ’’ em um tom fraco, olhando-o por cima do ombro.  

"— Qual seu nome? —". Perguntou aparentemente curioso.

"—... Harlow. —".

"— Peter. —".


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Notas finais do capítulo

E então, daria uma futura namorada legal? Quem sabe, né. ♥