A chuva batia calmamente nas janelas, seu som sendo o único no apartamento.

Max estava sentado no sofá, os olhos fixos na televisão desligada, como se pudesse ver além dela. Seus cabelos negros estavam bagunçados e tinha olheiras. Na mão esquerda, segurava firme um quadro e, na direita, uma enorme vasilha de sorvete jazia vazia. O quadro era recente, ainda brilhando, a moldura envolvendo um casal abraçado em uma ponte, ao pôr do sol. Max e Peter. Peter e Max.

O moreno, cansado de admirar sua antiga felicidade, soltou o quadro no sofá e levantou-se, não deixando de lançar um olhar furtivo em direção ao telefone, esperando-o tocar. Completamente desolado e desapontado, dirigiu-se para a cozinha, decidido a beber uma boa xícara de café e passar o tempo.

Enquanto esperava a água esquentar, sua ficha caiu pela primeira vez. Quando moravam juntos, Max e Peter, essa era exatamente sua rotina. Acordar, fazer o café dos dois, escrever os textos do trabalho o mais rápido possível, almoçar sozinho e passar o resto do dia assim, angustiado, esperando por Peter. Até mesmo ele percebia como aquilo era doentio, obsessivo e anormal. Mas Max não podia evitar. Ele amava o outro demais para que sequer se importasse de como isso parecesse para terceiros. Foi despertado com a chaleira cantando atrás de si.

Peter preferia chá ao café, como o bom britânico que era. E, se Max fosse pensar no assunto, o sotaque inglês de Peter definitivamente lhe dava certo charme a mais. Não que o loiro precisasse. Peter era o tipo de homem que podia convencê-lo a se jogar de uma ponte com apenas um único sorriso.

E foi ali, na cozinha silenciosa e anormalmente fria, que Max percebeu que não conseguia se livrar de Peter. Não conseguia, simplesmente. O que quer que sobrou de sua consciência dizia-lhe para esquecer, mas seu tolo coração se negava veementemente. No final do dia, Max ainda era total e irreparavelmente devotado a Peter e, como se não fosse o bastante, Max ainda esperava-o todos os dias.