Uma batida eletrônica, luzes pirotécnicas e corpos suados e dançantes confinados a um só lugar. Harlow Baudelaire tentava se enfiar no meio da multidão, sentir o calor humano, sentir alguma coisa [Desde Aaron, seu corpo permanecia em um estado quase que de overdose. Muita bebida, muitas drogas e noites mal dormidas com homens de quase toda New York. Era assim que ela passava seus dias, tentando esquecê-lo e se sentir viva.].

 No meio da confusão, um par de mãos segurou sua cintura e a puxou fortemente, fazendo com que a mulher derramasse boa parte de sua vodca na roupa. O homem que a encarava podia ser considerado bonito. Alto, com olhos verdes, loiro escuro e musculoso. Harlow apenas deu de ombros e empurrou o homem em direção ao banheiro.

 Ele beijava-a e tentava tirar suas roupas, o cheiro forte de bebida empesteava o banheiro. A Baudelaire apenas continuou a encarar seu reflexo na parede e deixou-o fazer o que quisesse. Satisfeito, ele fechou as calças e saiu do banheiro, deixando Harlow sentada na pia e com o olhar perdido.

 A mulher ainda ficou na boate por algumas horas [foram mais três idas ao banheiro, isso quando ela se dignava a levá-los a um lugar mais privado. Algumas mulheres, alguns homens... Sabia que estava sendo uma vadia muito fácil, mas não fazia muita diferença, pelo menos não enquanto ela estivesse naquele estado de êxtase.], fumando, bebendo, engolindo pílulas atrás de pílulas. Eram quatro da manhã quando ela começou a cambalear em direção ao seu apartamento. Harlow andava pelas ruas calmamente, com uma garrafa de vodca na mão direita e um cigarro na esquerda. Seu caminho era colorido, uma vez que o LSD ainda fazia efeito.

 Suas mãos tremiam, tentando acertar o buraco da fechadura.  Quando ela, finalmente, se viu em sua sala, correu ao banheiro, sentindo a bile querendo sair. Depois de vomitar toda sua janta ali, engoliu mais algumas pílulas de LSD e ligou o rádio. Logo, uma voz suave e feminina preencheu o ambiente com uma batida intoxicante. Harlow tentava dançar no meio da sala, o som alto.

High, all the time, to keep you off my mind

Ooh-ooh,ooh-ooh

Spend my days locked in a haze

Tryna forget you, babe, I fall back down

Gotta stay high, all my life

To forget I’m missing you

 Harlow percebeu, mais uma vez, a ironia da vida. Sua vida transformada em uma música depreciativa. Tudo o que eu queria... E é claro que a música continuava, fazendo com que a mulher se sentasse no chão, com a Vodca nas mãos e lágrimas amargas no rosto.

Staying in my play pretend where the fun ain’t got no end

Can’t go home alone again, need someone to numb the pain

Staying in my play pretend where the fun ain’t got no end

Can’t go home alone again, need someone to numb the pain

You’re gone and I got to stay

High, all the time, to keep you off my mind

 A mulher chorava no chão, a maquiagem toda borrada e escorrendo. A garrafa de bebida, vazia aos seus pés. Ele havia ido e a deixado ali, sozinha e tendo que ficar chapada todo o tempo. Apenas para esquecê-lo... Ela conseguiu desligar o rádio e se arrastar para seu quarto, onde deitou-se e dormiu, sabendo que no dia seguinte ainda estaria presa naquela neblina de drogas, bebidas e sexo, sem nem um pequeno deslumbre de seu Aaron...