Definitivamente, se tinha algo que America não se cansava de fazer era observar, Charles Redmire, vulgo Shakespeare Boy*. O menino havia recebido tal apelido por sempre andar com algum exemplar de Shakespeare debaixo dos braços.

Ela adorava o fato de que o garoto sempre entrava pelas portas da cafeteria às três da tarde, pontualmente. Adorava observar os cabelos negros caírem por cima dos olhos, aqueles incrivelmente verdes. Adorava observar o jeito que o menino mordia os lábios ao ler. Ela adorava observá-lo, não importava realmente o que, ele era perfeito. Entretanto, o encontro de olhos verdes e castanhos nunca tinha acontecido.

Até aquele dia.

***

Uma hora havia se passado desde que o garoto entrou na cafeteria, sentando-se em sua mesa habitual e pedindo seu costumeiro café sem açúcar. E também já havia uma hora desde que America o observava por cima do livro em suas mãos, que, curiosamente, estava virado de cabeça para baixo.

Foi quando olhava quase que fixamente para os lábios do garoto (que se mexiam levemente ao ler o texto) que o mesmo, provavelmente sentindo seu olhar, levantou os olhos e encontrou os olhos castanhos de America. A menina não pôde evitar corar e desviar os olhos rapidamente, sentindo-se quente e envergonhada por ter sido pega no flagra.

O menino soltou um pequeno sorriso e voltou o olhar para o livro a sua frente. Foi analisando a situação que percebeu que ele também não era o único que gostava de observá-la. Aparentemente, ela também parecia ter sua atenção atraída em direção ao garoto, assim como os olhos do mesmo nunca conseguiam ficar longe dela por mais do que alguns segundos.

A situação analisada e conclusões tiradas, ele pegou uma caneta e um guardanapo.

Era hora de lançar o dado e torcer para que a sorte estivesse a seu favor.

***

America chegou ao seu apartamento ofegando, os olhos arregalados. Ela tinha quase que saído correndo da cafeteria ao ser flagrada pelo garoto, deixando até sua jaqueta cair no chão e, Charlie, como ficaria o conhecendo mais tarde, a pegou delicadamente do chão e ajudou-a a vesti-la. Tudo sem dizer uma única palavra, apenas com um lindo sorriso em seu rosto.

A menina até colocou as mãos no coração, tentando sentir seus batimentos. Mas ela achou algo bem diferente. Dentro do bolso, acima do coração, um guardanapo estava delicadamente dobrado. America ficou confusa, afinal não se lembrava de ter o colocado ali. Um pensamento passou por sua mente rapidamente: a imagem do pequeno Shakespeare colocando o guardanapo ali grudou em sua cabeça, recusando-se a sair dali. Resolveu desdobrá-lo de uma vez, afinal, qual dano poderia causar?

No papel grosso e escrito em letras elegantes e bonitas, a seguinte mensagem:

“Tarde demais a conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-la, amei-a”.

O que acha de tomarmos um café juntos enquanto observamos um ao outro?”

— From: Shakespeare Boy. To: Covergirl

America sorriu abertamente e, mesmo sem ter mais ninguém na sala, sentiu o rosto esquentando de vergonha.

Agora poderia observar cada detalhe, sarda ou pintinha desenhada naquela pele. Sua sorte estava a seu favor, definitivamente.