“Eowyn, ele já está acordando. Venha.”

Beijei sua face - “Até logo.”

Antes que eu pudesse me levantar, Karl abriu os olhos.

~~*~~

Pensei que meu marido não poderia ficar mais perfeito do que era antes. Estava enganada.

Tudo em Karl estava diferente, aperfeiçoado. Sua pele estava branca e seus olhos mais verdes que nunca. Apesar de tudo isso, continuava sendo o mesmo Karl de alguns dias atrás, exceto pelo fato de não sermos mais da mesma espécie. Mas isso são tudo detalhes, não são?

Amy já estava entre eu e Karl, garantindo a minha proteção para o caso da sede dele ser muita.

“Amy, por favor, não me ofenda. Posso ser recém-nascido, mas isso não quer dizer que não sei os meus limites. Eu ainda posso ficar perto da Eowyn sem sentir necessidade de ataca-la. Pode se retirar.”

Amy parecia apreensiva, mas, no final, cedeu. Num segundo tinha saído do quarto.

No segundo seguinte Karl estava a poucos centímetros de mim. Assustada, pulei para trás.

“Não acredito nisso. Você está com medo de mim?” - Perguntou rindo, mas deixando transparecer a mágoa por trás daquelas palavras.

“Não, não estou com medo. Mas isso não me impede de assustar quando você se locomove assim tão rápido. Não sei se percebeu, mas eu ainda sou humana!”

“Desculpa. Ainda não me acostumei com isso.”

“Dessa vez passa. Mas da próxima você vai ver.”

“Acho que não vou ver não. Você é lerda demais para mim.”

“Pois é, só virando vampiro você consegue me vencer!” - brinquei

“Não é verdade!”

“Você sabe que é. E se não sabe, vai ter que esperar eu me transformar pra saber e... por que você está me encarando assim?”

“Desculpe-me, é que não olhar pra você é simplesmente impossível.” – sorri. Fazia muito tempo que eu não o ouvia falar isso. Da outra vez eu não recebi tão bem, mas também não sabia que era completamente apaixonada por ele. [Não lembra? Capítulo 7 de Hunter. http://fanfiction.nyah.com.br/historia/66339/Hunter/capitulo/8 ]

“Eu sei que sou linda, mas você já devia ter se acostumado com isso.”

“Não é isso, é que você está diferente.”

“Eu? Diferente? Você já se olhou no espelho por acaso?”

“Não, mas não é só você. Agora eu consigo enxergar detalhes, e noto que nunca tinha te visto direito antes.”

“E isso é bom ou ruim?”

“Maravilhosamente bom.” - disse ele, e se inclinou para me beijar. Após alguns segundos, ele se afastou. - “Eu sei que beijo bem, mas você já devia ter se acostumado.” - brincou, pois meu coração estava batendo forte contra a minha caixa torácica.

“É, mas parece que você não se acostumou.” - comentei, notando a sede nos seus olhos. - “Karl, você precisa se alimentar.”

“Prometo que volto logo.” - disse e saiu pela janela, ou foi o que pareceu, já que foi rápido demais para os meus olhos.

Alguns segundos depois me senti mais sozinha do que nunca. Desde a visita dos Reynolds à minha antiga família eu nunca estivera completamente sozinha entre os vampiros. Por dois anos tive Sarah ao meu lado, e no tempo restante pude contar com Karl. Eu agora era a única humana restante, a não ser se contasse a minha criança não-nascida. Karl se transformara e Sarah estava morta.

Com uma lágrima de dor voltei a pensar na minha querida irmã. Desde quando recebi a notícia, há quase um mês, tenho tentado bloquear o pensamento. Mas agora estava abatida demais para tentar resistir a ele.

Os outros ainda alimentavam, ou ao menos fingiam alimentar, a esperança de ela estar viva entre os feiticeiros, mas eu descartara essa opção no segundo que a ouvi, não por falta de fé na teoria, mas por medo de ela ser verdade. E se Sarah estivesse passando pelo mesmo que as duas passaram durante muito tempo, quando capturadas pelos Reynolds? Eu simplesmente não podia aceitar que ela poderia algum dia chegar a sofrer tanto assim.

Seria muito clichê dizer que passou um filme pela minha cabeça? Acho que talvez não, já que não era a hora da minha morte, nem o filme da minha vida. O que começou a surgir na minha mente foram pesadelos que eu já tivera, quase todos envolvendo a morte das pessoas que eu mais amei.

“Eowyn. Pare de pensar nisso. Ficar se lembrando disso não faz bem pra ninguém, especialmente alguém grávida.” - ouvi a voz de Karl.

“C-como você sabe o que eu estava pensando?”

“Não sei. Voltei da caçada e ouvi você chorando, e queria saber no que você estava pensando, e então consegui.”

“Então esse é o seu poder.” - agradeci silenciosamente por ter algo para distrair meus pensamentos.

“Não é só isso, também consigo mover objetos sem encostar neles. Enquanto estava caçando, acidentalmente joguei um coelho para longe sem nem encostar nele” - não sabia se ele estava falando a verdade ou se falava aquilo só pra me animar. Sempre quis jogar um coelho longe, odeio esses animais.

“Então além de telepatia você também possui o poder da telecinesia.” - respondi desanimada.

“Eowyn...”

“Não precisa falar nada. Apesar de não ser telepata sei o que você está pensando e concordo. Já senti pena de mim mesma o bastante por um mês. Agora eu quero ajuda pra treinar e esquecer disso tudo.”

“Não era isso que eu ia dizer.”

“Eu sei disso, mas quero me convencer que guardar tudo isso pra mim é melhor que virar uma emo. Por favor não tente me dizer o contrário.”

“Não vou. Mas saiba que não vou deixar você guardar tudo isso só pra você.”

“É tão bom saber que o meu próprio marido não me deixa guardar meus próprios pensamentos para mim mesma!” - ironizei. - “Já que você pode ler minha mente, tenho direito de saber o que se passa pela sua.”

“E quem disse que eu vou te contar?”

“EU disse. E se você não contar vou...”

“Vai o que, humana? Nem tente me bater, vai acabar machucando a si mesma.”

Karl riu um pouco da minha expressão de raiva.

“Sabe, espero que esses meses não demorem muito a passar. O seu eu vampiro já está me dando nos nervos.”

“E o que não te da nos nervos?”

Lançei um olhar irritado a ele. Por que todos os vampiros tem que ser, em algum momento, idiotas?

“Porque nós gostamos de ver essa sua cara estressada. Não só os vampiros, mas os humanos também.”

Joguei a primeira coisa que vi nele e fui para o nosso quarto dormir.

Os próximos meses seriam muito longos.