Blood of my blood escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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A mulher pegou o bebê em suas mãos, mal sentindo sua respiração.

Vernon parecia mudo, andando de um lado para outro, gesticulando e falando, mas nada entrava na mente de Petúnia. Ela tapou a boca, segurando as lágrimas ao ver o pequeno abrir seus olhos para ela. Sentiu-se amaldiçoada.

Os olhos de Lílian iriam segui-la para sempre.

 

...

 

Ma...— Petúnia continuou olhando a mamadeira na panela, esperando ela esquentar pacientemente. – Mama...

Ela virou-se lentamente, olhando fixamente para Dudley, mas o bebê volumoso estava aos roncos, com a cabeça pendendo em sua cadeirinha de comer.

Mama!— chamou mais uma vez o segundo bebê, em uma cadeira manca e de segunda mão. Ele parecia extremamente feliz, apertando suas mãozinhas em direção da mulher, com os enormes olhos verdes e a cicatriz em sua testa. O coração de Petúnia contorceu-se de uma forma que poderia ser levado como o primeiro sintoma de um infarto.

Ela quis correr e gritar por Lílian, implorar para que levasse seu filho embora.

Eu não sou sua mãe, eu não sou sua mãe, eu não sou...— sussurrou para a panela fervendo no fogão, virando-se para frente novamente. O bebê logo começou a chorar, chamando sua mãe, decepcionado. Petúnia continuou firme, sentindo-se oca ao notar a ausência de lágrimas.

Ignorou Harry até ele parar de chama-la de mãe.

Odiou Lílian com todas as suas forças.

 

...

 

— Olha tia, olha o que eu fiz! – o pequeno Harry de cinco anos balançava sua folha, animado em ter recebido três giz de cera quebrados por Dudley, sendo que o mesmo tinha uma caixa com mais de vinte cores diferentes. – Olhe meu desenho!

A mulher bufou antes de olhar para baixo, pegando bruscamente o papel da mão do menino. Fitou os traços tortos, olhando um homem gordo e uma mulher feita de palito, com um vestido azul de bolinhas. Ao lado dela, um garotinho gordo e um magro, com uma cicatriz na cabeça.

Olhou o sol sorridente, lembrando-se dos sóis sorridentes que Lílian desenhava pela casa quando pequena. Olhou o garoto, atordoada.

Odiava sua necessidade de atenção, a forma como sempre queria agradá-la de alguma forma. Passou a mão pela testa, trêmula, e amassou o desenho, jogando no chão.

— Saia da minha frente. – ordenou, voltando para seu tricô. O menino, educado a não abrir o berreiro, saiu correndo para seu armário e Petúnia conseguia ouvir seu choro dali.

Ela também costumava chorava por qualquer coisa.

Qualquer voz que fosse mais alta, qualquer expressão que fosse muito forte... Lá estava ela. Respirou fundo, sentindo um ódio imensurável por Dumbledore, que recusou dar a guarda de Harry para outra pessoa, por mais que ela tenha mandado um milhão de cartas.

Não suportava o garoto, não conseguia respirar perto dele, não conseguia olhá-lo, não conseguia mover-se, ela não conseguia. Estava presa.

 

...

 

— Aqui! – gritou Harry no jardim. – Isso!

Dudley já estava cansado nos primeiros segundos do jogo, Harry sabia que isso acontecia, então nunca se empolgava quando o garoto o forçava a jogar futebol. Ia, jogava tão mal quanto ele e esperava que cansasse, o que levaria uns vinte minutos no máximo.

O garoto gordo chutou a bola e bateu no estômago de Harry, que caiu, machucado. Petúnia riu, pela janela, esquecendo-se da louça que estava lavando. O garoto levantou-se, segurando as lágrimas e acariciando sua barriga, pronto para mais uma.

Era nessa hora que Petúnia corria para casa, chorosa, e Lílian gargalhava da irmã, segurando a bola. E mesmo que fosse ela quem estivesse ganhando, a irmã permanecia. Sabendo que iria perder, mas ficava, diferente dela.

Voltou para a louça, fechando a torneira aberta.

 

...

 

— Feliz dia das mães, mãe! – correu Dudley, praticamente jogando o cartão na cara de Petúnia, correndo desesperado para a cozinha. A mulher derreteu-se ao pegar no chão o presente do filho, sorrindo para o desenho mal feito. Pousou o cartão no peito, emocionada.

Harry colocou a mochila de Dudley no lugar certo e segurou suas calças largas, aproximando-se de Petúnia com uma flor na mão.

— Feliz dia das mães. – disse Harry, erguendo a flor para ela. Ele estava feliz naquele mês, porque ganhara os óculos que tanto precisava. A mulher olhou o lírio nas mãos do garoto, abalada. Ele sempre ficava rastejando-se pelos cantos da casa no dia das mães, envergonhado por não ter o que dar a Petúnia, uma vez que Vernon sempre leva Dudley para comprar os presentes.

Mas ali estava ele, com seu primeiro presente, ajudado pela sua professora.

— Eu sou alérgica a lírios. – retrucou ela, fria. – Tire isso da minha frente.

Ela virou as costas, segurando o choro, extremamente furiosa. Odiava Lílian, odiava Lílian, a odiava com todas as suas forças. Queria berrar. Queria abrir seu peito e berrar com toda a força de seus pulmões.

Trancou Harry em seu armário o resto do dia, incapacitada de olhá-lo.

Não aguentaria olhá-lo... Não conseguiria...

 

...

 

— Ele não vem? – indagou o fotografo, apontando para o garotinho de roupas largas, observando o trio tirar a foto.

Petúnia olhou para Harry, visivelmente constrangido com todas aquelas famílias na fila para tirarem uma foto no plano de fundo falso, enquanto ele aguarda os Dursley serem fotografados. Queria ir para... O lugar onde habita, já que não pode chamar aquele lugar de casa. Não é sua família, não é sua casa. Nada é seu.

— Não. – respondeu Vernon. – Tire a foto logo!

A mulher sorriu com seu filho quase partindo suas pernas tamanho peso em seu colo, mas seu sorriso pareceu cortar o rosto assim que o flash sumiu. Não quis ver nenhum filme, e não cedeu a manha de Dudley, queria ir para casa, ficar em qualquer cômodo em que Harry não estivesse.

Sua presença lhe dava um enjoo constante.

...

Lanterns On The Lake - I Love You, Sleepyhead

Olhou o garoto voltando com suas malas, sorridente, e sentiu-se completamente morta.

Lílian a amaldiçoou, riu dela até mesmo na morte.

Sua vida inteira invejou a irmã. Sua confiança, sua beleza, seu talento. Tudo nela era inalcançável e intocável para Petúnia, até mesmo o amor dos pais. Não satisfeita, ela lhe manda uma cópia dela.

Ela assiste o garoto ir para Hogwarts da mesma forma que assistiu Lílian ir, e deixa-la para trás.

Não consegue suportar sua presença, porque tem medo de amá-lo e ele deixa-la como Lílian fizera. A trair como Lílian fizera. Não iria suportar ser deixada para trás mais uma vez. Não consegue aguentar olhar os olhos felizes do garoto, da mesma forma que eram os de Lílian quando a olhava. Ou a raiva nos olhos, exatamente como os dela quando Petúnia era maldosa. Ou as lágrimas.

Petúnia não consegue lidar com as lágrimas.

Sua irmã estava certa, ela não consegue ser meio termo. É preto ou branco, não há uma terceira cor para Petúnia. Caso se permitisse amar Harry, iria morrer da mesma forma que morreu quando Lílian a deixou. A segunda opção era mais segura.

— Você não perdeu uma mãe naquela noite em Godric Hollow’s. – disse Harry, agora maior do que ela. Havia traços nele que ela não reconhecia, claro, mas em sua grande parte, Petúnia sentia-se presa em uma memória que ela levou anos para conseguir fugir.

— Eu perdi uma irmã. – respondeu ela, sem vacilar.

Livrou-se dele, finalmente. Não queria saber se estava morto ou vivo, era egoísta demais para isso. Mas decepcionou-se ao saber que Harry nunca foi o problema. Seu peito continuou apertado, os lírios ainda lhe davam alergia e olhos verdes ainda lhe arrepiavam. Lílian iria persegui-la até o fim de sua vida.

Quando estava velha e decrépita, muito próxima da morte. Pela janela de seu asilo, ela notou um homem grisalho, observando a Casa de Repouso. Ele ajustou seus óculos redondos, colocando as mãos nos bolsos novamente. Petúnia não sorriu, mas seu coração parecia ter sido invadido novamente.

Sentiu-se menos oca.

Assim que ele percebeu que ela tinha o notado, em um estampido, o homem desapareceu, deixando a velha Petúnia fitando a rua vazia. Sentou-se novamente, recusando-se a olhar para a janela novamente. Ela sabia que fora perdoada... Nunca pediu desculpas, não disse que se arrependia, mas fora perdoada...

Os traços de Lílian sempre a irritaram.


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Notas finais do capítulo

Para as passagens de anos, eu me inspirei nesse post da buzzfeed, em que algum fã imaginou como seria a vida do Harry antes de Hogwarts:

Post (item 10): https://www.buzzfeed.com/ariellecalderon/times-tumblr-made-harry-potter-fans-cry-all-over-again?utm_term=.yx9jm8jO0k#.of1X52XNM8


Lembrar da vida do Harry antes de Hogwarts me faz mal porque deve ter sido uma bosta, não gosto de pensar sobre.

Espero que gostem ;)