Era para ser um domingo normal. Daqueles que passamos em casa sem fazer nada e reclamando por segunda estar tão próxima. Mas, durante seis meses, nada em minha rotina era normal. Desde que descobriram o câncer de minha mãe, passamos a viver de uma maneira totalmente diferente. E, naquele domingo, além de ser dia das crianças, era também o dia em que receberíamos a melhor ou pior notícia de nossas existências. E para ser sincera, eu realmente não sabia se estava preparada.

Naquela época, eu já alcançava meus doze anos, porém me comportava de forma muito mais madura que as demais pessoas que compartilhavam a mesma idade que eu. Eu sentia que precisava ser forte. Não queria dar preocupações desnecessárias aos meus pais, ainda mais diante dos problemas que eles estavam enfrentando. Que nós estávamos enfrentando.

Lembro-me de ter olhado para o céu estrelado naquele sábado, noite anterior ao dia decisivo, e pensado se Deus poderia me dar um único presente. Eu tinha consciência que não era mais uma criança no quesito maturidade, mas torcia para ele ainda me considerar pela idade. Sendo assim, fechei meus olhos com força e rezei baixinho, num pedido desesperado para que Ele curasse minha mãe.

Quando entramos na sala do médico, percebi o quão apreensivos meus pais se encontravam, embora tentassem camuflar suas emoções com sorrisos confiantes. Eu via e sentia a pressão e a tensão no ar. Ficava até difícil de respirar. O médico chamou nossa atenção e um nó se formou em minha garganta. Estava preparada para desabar em lágrimas. Somente esperava que estas fossem de felicidade.

Enquanto começava a falar, meus olhos se fixaram nos lábios do homem, a fim de tentar decifrar cada letra. Eu só precisava escutar três palavras e tudo mudaria. Tudo parecia estar em câmera lenta. Cada segundo parecia um século. O som das palavras não chegavam em meu ouvido. Fechei meus olhos por alguns segundos e deixei a primeira lágrima escorrer por meu rosto.

— Você está curada.

Um sorriso genuíno surgiu em meus lábios e as lágrimas começaram a descer cada vez mais rápidas. Olhei para a janela e por detrás do vidro, vi o céu límpido.

— Obrigada. - sussurrei, sabendo que Ele realmente tinha me dado esse presente. Que Ele tinha me concebido meu único e último pedido.

Senti-me sendo puxada para um abraço conjunto e deixei-me levar pelo momento. Talvez, depois daquele dia, eu poderia voltar a ser uma criança novamente.