Ele estava ansioso e sentia que seu coração iria explodir dentro do peito a qualquer momento. Definitivamente aquela não havia sido a melhor de suas ideias, mas o que ele podia fazer agora? Assim, em cima da hora... Ele não poderia cancelar. Não! Isso jamais! Ele seria o que sempre foi, um idiota corajoso. Eh... Era isso mesmo que ele ia ser! Iria para aquela sala, encarar todos os seus parentes e amigos, olhar nos lindos olhos dela e cantar!

Sim, depois de tantos anos ele iria fazê-lo! Iria se declarar da melhor maneira que ele com toda a sua paciência e o mínimo romantismo que tinha conseguiu imaginar. Pegou o violão e saiu do quarto. Há alguns minutos sua mãe já havia ido chamá-lo, ele bem conhecia o gênio da ruiva de olhos azuis que tinha como mãe. Ele não iria contraria-la. E ainda tinha essa, ele realmente não podia desistir com Kushina tendo armado todo o circo para ajudá-lo. Ele podia sentir na pele a dor que viria se ele desse para trás agora. Se desistir estava fora de questão só restava a ele ir a diante e colocar o plano em prática. Suas mãos tremiam quando ele alcançou o corrimão da escadaria de mármore que o levaria até a antessala. "Mais alguns degraus..." Sussurrou no meio da escada se apoiando totalmente na mão que estava firme em volta do corrimão tentando a todo custo se acalmar.

Kami, por que ele havia tido aquela ideia mesmo? Ah sim, tudo começou quando a cabeça oca da Karin o mostrou tal música, a mesma que ele iria cantar hoje, iria cantar pela primeira vez em sua vida para alguém mais além de seus pais e a suas irmãs. Para muitas pessoas a mais. Ele muitas vezes detestava Karin com todas as suas forças. Aquela ruiva era realmente louca e por ser mais nova o fazia passar por coisas que ninguém merecia! Mas daquela vez ele tinha que admitir que Karin havia feito algo bom. Ela era sua irmã e o amava muito, ele tinha certeza, por isso ela foi intrometida o suficiente para ajudá-lo a decidir o que fazer. Até a música perfeita ela tinha encontrado.

Estava ao lado da porta dupla, que estava fechada, da sala de estar de sua casa. Ao lado da porta, na parede, havia um grande espelho redondo. Ele olhou o seu reflexo e viu seus olhos azuis nervosos. O oceano calmo que costumava ser seus olhos estava nervoso e turbulento, mas estava brilhante. O cabelo loiro estava bagunçado e ele podia ver um pouco de suor por sua testa.

— Vamos lá. Eu sou Uzumaki Naruto e não vou dar para trás agora. – Falou a si mesmo, olhando firme o seu reflexo.

Escutou uma risada abafada.

— Está parecendo um mariquinhas. – Uma voz rouca que ele conhecia bem soou ao seu lado. - Você está horrível cara.

— Cala boca, teme. – Disse fitando o moreno de olhos ônix que tinha por melhor amigo. – Eu nunca cantei assim Sasuke, ainda mais na frente dela, para ela...

— Vai ficar tudo bem, dobe. – Sorriu de canto colocando um dos braços sobre o ombro do amigo. – Agora entra lá e diz o quanto a ama Naruto.

Os dois adentraram a sala e o loiro pode observar seus amigos mais próximos, além de seus pais e suas irmãs. Na sala onde o branco e o vermelho predominavam havia um conjunto de sofás e poltronas. De frente a porta havia o maior sofá da sala, reto e com vários lugares, que acomodava suas duas melhores amigas – Sasuke permanecia ao seu lado – enquanto perpendicular a este sofá um menor, com dois lugares, dava lugar aos seus pais e a caçula dos Uzumaki. Do lado oposto havia duas poltronas, em uma ele viu Karin sentada no colo do namorado, o loiro logo endureceu suas feições. Karin estava radiante no colo do namorado estranho chamado Suigetsu, ele não gostava do cara esquisito de cabelos brancos com pontas azuladas e olhos violeta. Ela se levantou e foi em sua direção o abraçando. "Boa sorte!" Sussurrou em seu ouvido o olhando logo em seguida. Os olhos avermelhados como o cabelo estavam nervosos por baixo dos óculos de grau.

— Oe, Naruto, por que nos chamou aqui? – Sakura estava logo atrás de Karin com malícia no fundo dos olhos verdes. O cabelo rosado e curto estava preso em marias-chiquinhas e ela prendia o riso. – Eu tive até que matar aula na faculdade e arrastar a Hinata até aqui hehe. – Ela não conseguiu mais conter o riso.

— Baka! Para de atormentar o Naruto-nii! – Uma garotinha de olhos azuis e cabelos vermelhos chutou a canela de Sakura correndo de volta para o colo da mãe logo em seguida.

— Aimi! – Gritaram juntos os únicos adultos ali presentes. Uma mulher de lindos e longos cabelos vermelhos como fogo com olhos de um tom escuro de azul e um homem de cabelos bagunçados e loiros com olhos tão azuis quanto o céu de quem Naruto havia herdado a maior parte de sua fisionomia.

— Se você quer defender o seu aniki não o faça machucando outras pessoas. – A ruiva repreendeu a mais nova que já estava em seu colo. Ela murmurou um 'hai, okaa-chan' sem dar muita atenção a reclamação. – Mas a Sakura tem razão querido. Diga por que estamos aqui.

Ele levantou uma sobrancelha e uma gota desceu em sua cabeça. Ela sabia muito bem porquê estavam ali, afinal a ideia de fazer um show particular veio da ruiva mais velha. Sua própria mãe estava armando para ele pagar o maior mico de todos. Olhou para o seu pai e ele só ria levemente o olhando com compaixão.

— Etto... – Ele começou enquanto coçava uma das bochechas devido ao nervosismo. – Eu resolvi cantar para vocês, sempre me enchem o saco por causa disso, graças a kaa-chan que fica falando demais. – Olhou severo para a ruiva que sorriu docemente para ele.

— Naruto-kun que bom! – Exclamou Hinata que estava sentada ao lado de Sakura. O cabelo azulado caia em cascata pelas suas costas até a marca da cintura fina com mechas na altura do ombro ladeando o seu rosto parcialmente coberto pela franja reta logo acima dos olhos de tom perolado. O rosto de pele alva levemente corado.

Ele se sentou na beirada da poltrona que lhe restou vendo Sasuke sentar no braço do sofá maior, rodeando Sakura com um dos braços. Ajustou o violão em cima de uma das pernas e olhou em volta. Todos lhe sorriam, inclusive o estranho do seu cunhado. Respirou fundo e dedilhou algumas notas. A melodia foi se formando e logo ele estava cantando uma das músicas favoritas de sua mãe. Quando terminou sorriu sem jeito para a mãe que estava praticamente aos prantos.

— Meu menininho canta tão bem! – Ela tinha lágrimas nos olhos. – Oe, Minato, ele não é lindo cantando assim? Tenho certeza que ele puxou a mim.

— Demo kaa-chan a senhora cantando é pior que a Sakura-testuda. – A pequena Aimi a olhou seria.

— Aimi-chan, não fale assim, sua mãe só não tem dons para o canto. – Minato ria descaradamente da esposa que estava ficando furiosa.

— Minato! Seu...

— Yamero. – Naruto gritou se colocando no meio do casal, impedindo que Kushina matasse o marido e sufocasse a pobre Aimi entre os seus seios.

— Oe baka. – Karin disse tirando Naruto da frente e pegando Aimi no colo. – Tudo bem, Aimi-chan? – A pequena ria descontroladamente no colo da mais velha. – Vem sentar com a sua nee-sama.

— Nee-san no baka! – A pequena gritou pulando de seu colo e voltando para o colo da mãe que já estava controlada e ria também.

— Ora sua peste. – Disse mostrando um dos punhos e arrumando os óculos.

Os outros presentes riam contidos da cena que já haviam presenciado milhares de vezes. Os cinco Uzumaki sempre se estranhavam assim, mas se amavam muito.

— Já que o meu cunhadinho já cantou, por que não vamos levar a Aimi-chan para tomar sorvete Karin? – Suigetsu ria do loiro mais novo descaradamente e tinha Karin em seus braços.

— Kyah! Suigetsu-nii é o melhor. Vamos todos okaa-chan otou-chan? – A pequena pulou no colo do cunhado.

— Hai... – A mais velha ria feliz. – Vou pegar minha bolsa, por que não vai com eles até o carro Minato?

O mais velho abraçou o filho e disse para o mesmo ser corajoso que tudo daria certo e logo saiu da sala sendo acompanhado pelo casal adolescente e a pequena Uzumaki.

Só os quatro amigos ficaram na sala e Sasuke zoava Naruto pelo fato de achar que o loiro tinha voz de mulherzinha, mesmo o outro tendo a voz rouca e grave para cantar.

— Ano... – Hinata havia chamado a atenção para si quando Naruto começou a revidar as ofensas que Sasuke proferia sobre sua pessoa. Ela juntou as mãos e batendo os dedos indicadores um no outro e levemente corada prosseguiu. – E-eu gosto da voz do Na-naruto-kun, Sasuke-kun... É muito bonito te ouvir cantar Naruto-kun. – No fim olhou o loiro totalmente vermelha.

Naruto que estava irritado com Sasuke logo se acalmou e sorriu abertamente e envergonhado quando viu Hinata com um sorriso doce nos lábios, e ele se lembrou o porquê daquela balburdia. Era por ela.

Já fazia alguns minutos que sua família havia saído de casa e que os quatro estavam conversando besteiras quando Sasuke reclamou de fome. Sakura – que na opinião de Karin era a maior intrometida que ela conhecia – levantou-se puxando o namorado para a cozinha dizendo que iria fazer algo para comerem. Os outros três engoliram seco conhecendo a fama da rosada de péssima cozinheira. Mas o casal se foi mesmo assim deixando Naruto e Hinata a sós na sala. Ela estava sentada no sofá que antes era ocupado pelos pais de Naruto e o mesmo estava em pé, o violão em cima da mesinha de centro. Ele o pegou e se sentou ao lado da morena ganhando sua total atenção. Ele começou a dizer o texto que estava ensaiando há uma semana.

— Essa música quem me mostrou foi a Karin e foi por causa dessa música que vocês estão aqui hoje. Na verdade, minha mãe só chamou todos para me deixar mais relaxado. Ela disse que se eu cantasse antes para todo mundo ia ser mais fácil fazer o que eu vou fazer agora. Eu fiz a melodia dessa música para você, Hinata. A letra a Karin disse que achou perdida no chão e que o autor não deveria ter gostado muito da poesia, mas... Ela é tudo que eu sinto por alguém muito especial para mim. – Disse a última frase olhando fixamente para a morena de olhos perolados e os dois coraram com a ação. - É tudo que eu estou sentindo agora. É o que vai ti dizer o que eu sinto por você Hinata.

Sorrindo ele dedilhou as notas e a melodia calma foi se formando e tomando todo o ambiente.

Pra você guardei o amor

Que nunca soube dar

O amor que tive e vi sem me deixar

Sentir sem conseguir provar

Sem entregar

E repartir

Pra você guardei o amor

Que sempre quis mostrar

O amor que vive em mim vem visitar

Sorrir, vem colorir solar

Vem esquentar

E permitir

Ele a olhava sorrindo e ela tinha uma cara de boba e um sorriso lhe escapava dos lábios ao mesmo tempo que seus olhos perolados se arregalavam a cada verso da música.

Quem acolher o que ele tem e traz

Quem entender o que ele diz

No giz do gesto o jeito pronto

Do piscar dos cílios

Que o convite do silêncio

Exibe em cada olhar

Guardei

Sem ter porquê

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei

Vendo em você

E explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor

Que aprendi vendo os meus pais

O amor que tive e recebi

E hoje posso dar livre e feliz

Céu cheiro e ar na cor que arco-íris

Risca ao levitar

Vou nascer de novo

Lápis, edifício, tevere, ponte

Desenhar no seu quadril

Meus lábios beijam signos feito sinos

Trilho a infância, terço o berço

Do seu lar

Guardei

Sem ter porque

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei

Vendo em você

E explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar

Eles sorriam um para o outro enquanto pequenas lágrimas escorriam pelo rosto já vermelho de Hinata. Naruto não entendia, mas sentia que tudo estava certo e seu sorriso foi aumentando com cada verso da música que ele cantava com todo o coração.

Pra você guardei o amor

Que nunca soube dar

O amor que tive e vi sem me deixar

Sentir sem conseguir provar

Sem entregar

E repartir

Quem acolher o que ele tem e traz

Quem entender o que ele diz

No giz do gesto o jeito pronto

Do piscar dos cílios

Que o convite do silêncio

Exibe em cada olhar

Guardei

Sem ter porque

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei

Vendo em você

E explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar

Ao fim da música ele estava sorrindo para ela que vermelha secava algumas lágrimas.

— A Karin é uma péssima amiga e menti como ninguém. – A morena sorria e limpava as lágrimas que ainda caiam.

— Nani? Por que ela é mentirosa e péssima amiga? – Naruto olhou confuso para a morena. Ela e Karin eram amigas de longa data, já que a ruiva estudava com a irmã mais nova de Hinata desde sempre. Elas estavam sempre juntas de Sakura e suas amigas.

— Etto... Eu pedi a ela que não mostrasse isso a ninguém... – Hinata tirava um papel dobrado do bolso e com um sorriso estendeu a Naruto.

— O que... – Ele estava perplexo. No papel amassado, com a letra redonda e pequena de Hinata estava rabiscada a letra da música.

— E-eu escrevi a letra que você cantou Naruto-kun. – Ela estava de cabeça baixa, Naruto não pode ver, já que a franja da morena tampava suas feições, mas ela sorria.

— Vo-você... – Ele ainda estava surpreso.

— Ela é tudo que eu sinto por alguém muito especial para mim. – Levantou a cabeça e sorriu para o loiro ficando totalmente vermelha. – É tudo que eu estou sentindo agora. É o que vai ti dizer o que eu sinto por você Naruto-kun, porque eu escrevi isso para você.

Ele estava estático. Sua cabeça fervilhava com a possibilidade de sua irmã ter armado tudo isso. Ela bem sabia que ele gostava de Hinata há algum tempo, e sendo amiga da morena... Bem, agora ele sabia que ela gostava dele também.

Com esse pensamento um sorriso bobo foi surgindo nos lábios finos do Uzumaki e ao final ele exibia um grande sorriso, um que iluminava Hinata por inteira sempre que ela o via. Ele era o sol para ela. E se era ela a lua, como seus amigos a chamavam por causa dos olhos, ela com certeza só se iluminava através dele, o sol.

Com carinho e cuidado ele a puxou para mais perto de si largando o violão no chão, uma das mãos na curva de sua cintura e outra em seu rosto. Ela fechou os olhos sentindo o carinho delicado que a mão dele fazia em seu rosto. Ele chegou mais perto e roçando seu nariz no dela murmurou "Eu te amo" contra os lábios já entre abertos e secos da morena que estremeceu com o hálito dele contra sua pele.

Ele a beijou leve e delicadamente como se ela fosse a mais perfeita obra de arte e que com o mínimo toque pudesse quebrar. Ela colocou uma das mãos sobre o ombro do loiro enquanto a outra se agarrava aos fios dourados e desgrenhados do Uzumaki. O sentimento puro que um nutria pelo outro estava todo explicito naquele singelo roçar de lábios. Não havia pressa, não havia cobiça nem luxuria. Só um belo sentimento florindo como as palavras doces de uma poesia de amor no coração de um romântico apaixonado. Só havia Naruto e Hinata, um através do outro, juntando-se num só coração.

Mas esse momento não durou, os dois se separaram ao ouvir um estrondo ao fundo. Logo olharam na direção do barulho e viram Sakura e Sasuke caídos no chão embolados.

— Sakura sua idiota, eu disse que se você se inclinasse mais para frente a gente ia cair. – Esbravejou o moreno saindo de cima da rosada.

— Mas eles estavam se beijando! Eu tinha que ver melhor e... – A rosada que havia se sentado no chão parou de falar ao sentir uma aura assassina nas suas costas. Ela lentamente se virou para trás, apavorada com a situação. Ao se virar ela viu Naruto com o rosto escuro e uma aura assustadora em volta do mesmo. Ela apavorada se escondeu atrás de Sasuke.

— Yo Naruto... Etto... Ja ne. – O moreno saiu correndo puxando Sakura pela mão enquanto Naruto corria atrás deles falando inúmeros palavrões.

Sorrindo delicadamente no sofá e observando a cena bizarra de Naruto correndo atrás do casal de amigos que corriam em círculos em volta dos móveis da sala Hinata tocou os lábios sentindo-os formigar pele recente encontro com os lábios do loiro por quem é apaixonada desde a infância. Ela se sentiu a mais feliz de todas naquele momento. Com certeza iria agradecer a Karin, já que de um jeito torto fora a amiga e agora cunhada que a juntou com o amor de sua vida.