O medo de Willy Wonka. escrita por dayane


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

ALERTA!

A fic mudou de classificação indicativa, mas não pretendo por nudes.

Fim do Alerta.

Chooorando se foi, quem um dia só me fez choooraaar....

Hello my friend!

Como vocês estão? Perdoe esta reles mortal por ficar uma semana e um dia sem postar o cap. novo, mas tive que dar um jeito na minha vida.

Não, a música não sinaliza o fim da fic e sim que ela está na minha cabeça.



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Charlie Bucket pediu uma água sem gás e sem gelo, Amanda Funk, em contrapartida pediu uma bela xícara de café expresso extra forte, sem açúcar e uma pitada de canela. Neste ponto, o herdeiro marcou um ponto negativo para a loira que estava a sua frente. Não se pode confiar em alguém que tomava café expresso extra forte sem açúcar.

— Pequeno Charlie, não me olhe com esta cara, sim? – A loira jogou os cabelos para as costas. – Willian deve ter te ensinando a não confiar em pessoas que tomam café, arrisco eu.

— Errou, senhorita. Ele disse para não confiar em quem toma café expresso extra forte sem açúcar e com canela.

A mulher soltou um riso polido, num timbre seduzente, que lhe faz querer escutar um pouco mais.

— Devo dizer que ele me descreveu. Bom, eu não me julgo uma pessoa confiável, de qualquer maneira.

O garçom chegou rápido com as bebidas e tão logo se retirou. O caixa estava aninhado em um cobertor grosso, os olhos fechados em uma soneca marota. Lá fora, apenas a neve caminhava pelas ruas.

— O que desejava me contar, senhorita Funk?

Quem via Amanda Funk, com sua beleza, sua autoconfiança elevada e seu jeito sábio e adocicado de olhar, jamais conseguiria evitar uma conversa. Charlie Bucket não seria uma exceção, já o Charlie B. Wonka era tentado a correr para longe daquele café e se refugiar sob os portões da fábrica. Os dois Charlies, então, sendo apenas uma pessoa, estavam prontos para enlouquecer.

— Tudo a seu tempo, meu pequeno. - Ela bebia o café com prazer.

— Eu não tenho muito tempo. Tenho uma reunião com Willy.

— A verdade é que você tem todo o tempo do mundo, só não percebeu. - Amanda suspirou. - O Willy que você conhece, não é o mesmo que eu conheci, sabe. Nem o que o pai dele conheceu. Quem é o Willy hoje, pequeno Charlie, somente ele e você consegue dizer. Sabe o quanto isto é valioso?

O consentimento silencioso de Charlie foi o bastante para ela.

— O Willy que conheci era um garoto perdido. Ele não tinha casa e nem um plano para seguir, mas tinha garra para agarrar qualquer coisa que o levaria até o sonho de viver com os doces que tanto amava. - Outro gole no café. Wilbur Wonka ficaria orgulhoso da mulher. - Eu o ajudei a ser quem é. Deixei que ele se moldasse como bem desejasse, guiei ele até os confins da culinária, ensinei química alimentícia. Quase tudo o que eu aprendi da vida, o ensinei. Eu fui a faculdade dele. E se me permite dizer, eu faria tudo de novo.

— Mas não se conta tudo, não é mesmo? - O mais novo arriscou quando a mais velha calou-se por um momento. - Seus segredos ficaram reservados para você. A cereja do bolo é algo exclusivo, não é?

Charlie estava atento, pronto para defender o amado chocolateiro.

— Willy também não lhe ensina tudo, não é mesmo? - Amanda Funk curvou o corpo por cima da mesinha. Os olhos penetrando na alma mais nova, desafiando a criar uma defesa para sua próxima cartada. Os lábios dela apenas sussurraram, buscaram a certeza de que era o foco de Charlie Bucket. - Ele te conta todas as verdades?

Internamente a loira sorria. Era algo tão radiante, que até mesmo um cego conseguiria ver. Mesmo que um dia ela tivesse amado Willy, seu remorso era grande o bastante para confiar nele ou deixar de atacá-lo quando a oportunidade surgisse. Ela era, percebeu o mais novo, uma criança magoada com a mentirinha que alguém amado criou antes de lhe surpreender.

Mediante o silêncio, a mulher alfinetou um pouco mais:

— Ele te contou que roubou meu livro? E que fez isto antes da última prova da competição?

— Um livro? - O herdeiro sussurrou. - Tudo por culpa de um livro?

Bastava olhar para Funk e você veria ela avançando contra o pescoço de Charlie enquanto berrava “não é apenas um livro! Meus segredos foram roubados, meus sussurros, meu passado e futuro, meu presente. Ele roubou minha alma e a usou contra mim. O livro de receitas de um chocolateiro carrega mais do que apenas algumas anotações e receitas!”. A mulher, entretanto, apenas recostou-se no estofado da cadeira.

— Se um dia você for um chocolateiro tão grande quanto eu e o seu amado tutor, então, pequeno, você vai entender que não é apenas um livro. - Ela ainda finalizou com um olhar mortal embrulhado em um sorriso pronto para ser ocultado pela xícara de porcelana branca.

Outro gole no café que Wilbur Wonka deveria amar devido ao saldo negativo de açúcar.

O que Amanda Funk não esperava, o que ninguém poderia esperar era que Charlie Bucket estava pronto para tudo. Parecia até mesmo conhecer os trejeitos de Amanda.

— Meu pai uma vez me contou uma mentira, sabe. - Os dedos finos brincaram com a garrafa d'água que jogava luzes coloridas contra a mesa de madeira. - Disse que eu não ia ter que tomar uma injeção, mas eu tomei. Aquilo doeu no corpo e na alma, fiquei magoado com ele, mas hoje eu entendo que foi para o meu bem.

Charlie ergueu os olhos para a companheira. Os dedos ainda acariciando a tampa da garrafa.

— Agora ele está mentindo para mim, dizendo que minha mãe está apenas viajando. Eu sei que é algo grave, mas não vou buscar o que é. - O herdeiro sorriu. Ele tinha entendido tudo. - Se Willy Wonka mente para mim, então é por uma boa causa. Me irrita, as vezes eu explodo, mas sempre me desculpo porque me lembro da injeção. É o melhor para mim, não saber naquele momento. A verdade sempre aparece na hora certa.

Amanda Funk pousou a xícara sobre a mesa. Charlie Bucket tinha entendido tudo. Tinha entendido até mesmo o que ela não queria contar.

— O que eu não entendo é você continuar mentindo para si mesma.

Amanda foi traída por si mesma.



Ϣ.Ϣ.



Quando Willy Woka saiu do consultório pacato da faculdade de medicina da cidade, sentia-se muito mais leve e imensuravelmente mais animado.

— Céus, você fica muito melhor sem aquele treco na cabeça. - O futuro chocolateiro devorava um prato de comida tão grande, que deixaria qualquer pedreiro com inveja. - E parece esfomeado, também.

Ruminando o teor das palavras açucaradas de Amanda Funk, o pequenino ergueu os olhos. As bochechas pálidas ficando levemente avermelhadas por ter esquecido-se dos bons modos.

— Desculpe. Hoje eu só tomei café da manhã.

— Oras, não se incomode com isto, pequenino. Gosto de ver as pessoas comendo com gosto, por isto faço gastronomia.

— E o que faz quem estuda isto?

Quando mais novo, Willy Wonka tinha os olhos grandes, redondos e curiosos. Ele era tão apaixonado por descobrir o mundo, que qualquer pessoa sentiria orgulho de saber explicar o que faz para ganhar a vida, o que gosta de estudar. Era bem provável, então, que esta curiosidade natural tenha sido a causadora da aproximação de Funk e Wonka. Talvez, mais do que talvez, na verdade; Amanda sentiu-se maternalmente apaixonada pelo garoto desamparado.

— Ah – Ela pareceu pensar um pouco. - De tudo que se trata sobre comida, eu acho. Prefiro me especializar em doces.

— A senhora é uma chocolateira?!

Contra os olhos de Willy Wonka, Amanda Funk estava levemente abismada com a inocência e curiosidade que cobriam o garotinho. Quão apaixonado alguém poderia ser por doces? Ela já tinha, inúmeras vezes, visto criancinhas se apaixonando por beijinhos e brigadeiros depois de passarem anos sem os comer, mas nunca tinha visto alguém se interessar com tanto anseio. Nunca tinha visto alguém que parecia pensar vinte e quatro horas em chocolate.

Para a loira, ela só tinha encontrado um garotinho assustado, travado em frente a casa de um dentista famoso. Achava que era um garotinho novo na cidade, com medo de entrar no consultório. Mas cada segundo que passava ao lado do pequeno Wilvi, Wilk, Wil-algumacoisa, ela percebia que não. Era alguém com muito mais do que uma simples paixão desenfreada por doces.

— Meu pequeno, todo mundo pode ser um chocolateiro.

— Mesmo quem não estuda gastronomia? - Os olhos, chocolates, dele brilhavam apaixonados.

— Estudar gastronomia é conhecer um pouco mais do que se pode fazer com os alimentos, mas não é a única forma de saber cozinhar. - Ela se curvou contra a mesa, aproximando o rosto do pequenino que estava admirado. - O importante, querido, é ser único.


Ϣ.Ϣ.



— Como assim você conversou com Amanda Funk? - Willy sussurrou. - Quando?

Wonka não conseguia berrar, sentia seus planos escorrendo pelas calças como se estivesse acabado de sair de uma piscina aquecida. Ele tinha tudo em mãos, a história perfeita que tinha sido criada há alguns minutos enquanto tirava as roupas molhadas e colocava um pijama quentinho, as respostas para qualquer pergunta que o herdeiro pudesse fazer.

O prato de sanduíches caiu de suas mãos e pousou delicadamente na mesinha que havia no quarto do herdeiro.

— Depois que você se trancou na ala de criações. - O herdeiro sentiu a voz gaguejando antes de sair. - Eu... Eu fui até seu pai, conversar um pouco com ele, Willy e então…

Charlie não lembrava de ter tido receio em suas atitudes, por mais absurdas que tenham sido, desde que Willy entrou em sua vida. Nem mesmo quando recusou a fábrica, ele sentiu-se tão… perto de surtar. Só que bem la no fundo, no fundo do coração, ele sentia que havia traído seu tutor.

— Acabou encontrando Amanda Funk.

— Sim. - O herdeiro suspirou. - Desculpe, Willy. Eu tentei recusar o pedido dela, tentei não ir conversar com ela, mas há algo de errado comigo.

Por um bom tempo, a única coisa que aconteceu naquele quarto foram respiradas leves, piscadas de olhos e o tic-tac de um relógio velho. Enquanto Charlie Bucket se corroía para saber o que o tutor estava pensando, Willy Wonka não conseguia pensar. Diversas coisas começavam a surgir em sua cabeça, mas ele não se agarrava, não conseguia se agarrar a nenhuma ponta daqueles milhares de pensamentos que corriam por sua cabeça. Ele não tinha forças para se agarrar a alguma mentira, a alguma fantasia.

— O que você sabe, Charlie? - Willy Wonka parecia que ia vomitar. Estava com o rosto preso em uma careta esquisita.

— Sei que seu pai te abandonou. Sei que Amanda te… te ajudou quando não tinha para onde ir. Do arrependimento de seu pai e…

O Bucket gaguejava a cada careta de Willy.

— Que fui um mal agradecido? - O mais velho cortou o mais novo. Um sorriso quase surgindo no rosto pálido de Wonka - Sabe sobre o livro roubado e como venci a competição? - Fora uma pergunta retórica.

Sim, pensou Charlie. Ele conhecia o ponto de vista de Amanda Funk.

Respirando fundo, o mais novo soltou:

— Me conte a verdade, Willy. Só… só me conte a verdade.

— Que verdade, Charlie? - O chocolateiro estava amargurado.

— Toda a verdade Willy! Me trate como um amigo, como um apoio. Pelo menos uma vez nesta vida.

Quem via Charlie Bucket, acreditava ver um pai saturado das mentirinhas que o filho arteiro. Um pai que estava saturado de não conseguir ajudar o filho devido as mentiras que o outro contava. Mesmo sendo uma pessoa calma, havia um limite até para a paciência quase ilimitada de Charlie e, mais do que aparentemente, ela estava extinguindo-se. O limite estava mais próximo do que qualquer um poderia calcular.

— Droga, Willy! - O herdeiro puxou os próprios cabelos. - Como posso ser seu amigo, seu sócio, seu herdeiro, se você só consegue me ver como uma criança de dez anos que acaba de ganhar a mais fantástica fábrica? Eu preciso saber de tudo, Willy, se quiser que eu te ajude!

Não, Charlie não estava certo. Willy não o via como uma criança, como alguém que tinha que ter algum cuidado com os segredos a serem contados, mas era justamente por vê-lo como a coisa mais importante de sua vida, que Willy Wonka escondia as coisas de Charlie. Perder o herdeiro era algo que ele não poderia aguentar.

— Tudo bem, estrelinha. - Um riso morto escapou das narinas de Willy Wonka. Ele sabia exatamente o que Amanda Funk estava planejando fazer, mas também lutava para acreditar em sua ciência. - Eu lhe contarei exatamente o que acho que aconteceu.

— Acha? - Estranhou o herdeiro. - Você viveu, Willy.

Como, pensou o herdeiro, poderia alguém “achar” que sabia sobre o que tinha vivido? Se a história dos dois seguissem o rumo certo, Willy Wonka deveria saber exatamente o que ele fez, o erro que cometeu e os motivos que o impulsionaram. Então, Charlie teria pequenas pontas para julgar como verdadeiras e montar uma história centrada. Caso contrário, um dos dois chocolateiros estava mentindo e ele teria um trabalho enorme para descobrir a verdade.

Willy se sentou na poltrona que havia no quarto. Perfeitamente ereto, como apenas ele conseguia ser, o chocolateiro pousou as duas mãos sobre os joelhos cobertos com o pijama de barrinhas de chocolate angelicais que ele mesmo tinha mandado fazer. Era, apenas para pontuar, seu pijama mais confortável.

— Somos tendenciosos, Charlie. Lembre-se sempre disto quando for julgar alguém. O ser humano é tendencioso a se prostrar como inocente.

Willy Wonka começou a narrar um passado que ele julgou ter esquecido. Eis a história que Willy Wonka sentia temor em ter vivenciado, seu mais medonho filme de terror.


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Notas finais do capítulo

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