War of Hearts escrita por Luna Lovegood


Capítulo 2
Capítulo 1 - Damm cold night


Notas iniciais do capítulo

I'm back =D

Gente hoje é dia dos namorados! Felicidades a quem conseguiu achar seu Oliver Queen, me deem dicas de como achar o meu! Ao resto de nós, solteiros desejo felicidades também até porque, ser feliz não é algo condicionado a ter alguém ao seu lado, mas sim estar bem consigo mesma!

Obrigada pela recepção ao prólogo! Aqui estou com o primeiro capítulo, espero que gostem!

Pequena lista de termos e palavras ditas em russo:

Printsessa = Princesa
Der'mo = Merda
Da, ser = Sim senhor

Falo com vocês nas notas finais!



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I'm standing on the bridge 

I'm waiting in the dark 

I thought that you'd be here by now 

There's nothing, but the rain 

No footsteps on the ground 

I'm listening but there's no sound 

 

Isn't anyone trying to find me? 

Won't somebody come take me home?  

It's a damn cold night 

Trying to figure out this life 

Won't you take me by the hand? 

Take me somewhere new 

I don't know who you are 

But I... I'm with you 

I'm with you 

(I’m with you - Avril Lavigne)   

 

Felicity Smoak

Sentei-me na cama de uma só vez e imediatamente senti tudo girar ao meu redor. Meu corpo inteiro parecia pesar meia tonelada, minha cabeça latejava como houvesse alguém batendo com um martelo nela. Abri os meus olhos piscando lentamente várias vezes, as pálpebras estavam pesadas, era difícil fazer minha visão entrar em foco, e meu estômago revirava. Por que eu me sentia tão mal? Eu havia saído com Cooper e seus amigos, queríamos comemorar o começo do novo semestre letivo zombando um pouco dos novos alunos, Cooper forçou alguns calouros a cometerem os mais ridículos trotes, nos divertimos um pouco, mas eu sequer havia bebido noite passada, e eu me lembrava de chegar em casa e...

O homem de olhos azuis frios como uma geleira.

Meu corpo inteiro se tencionou ao se lembrar dele, eu não conseguia me lembrar das suas palavras com exatidão ou até mesmo de seu rosto. As memórias estavam confusas e emaranhadas em minha mente, pequenos flashes, o som de uma voz masculina determinada. Eu apenas me lembrava com exatidão da pressão de sua mão em minha boca me impedindo de gritar, do cheiro forte queimando em minhas narinas que deixava meu estômago revoltado e por fim seus olhos azuis. Não tinha sido um pesadelo afinal! Levei à mão a boca tentando conter meu grito horrorizado. Eu, Felicity Smoak tinha sido sequestrada!

— O banheiro é a sua esquerda. — nem tive muito tempo para assimilar a voz rouca e displicente, ou prestar maior atenção aos traços da pessoa que entrava no quarto trajando um terno escuro. Eu apenas senti aquela ânsia em meu estômago o arrepio frio subindo por minha espinha e corri na direção em que ele me indicava.

— Vai passar logo, é apenas um efeito colateral, printsessa. — escutei novamente a voz, o apelido me trouxe um flash instantâneo dele me chamando assim ontem a noite, senti seus dedos me tocando, levemente afastando meus cabelos do meu rosto enquanto eu literalmente colocava tudo para fora. Seu ato era cuidadoso, quase confortador, mas apenas servia para me deixar ainda mais confusa e irritada com o que estava acontecendo.

— Não me toque! — revidei num momento mais lúcido afastando suas mãos de mim, enquanto escorregava pela parede e me sentava no chão ao lado do vaso sanitário me sentindo tonta e fraca.

O contato do meu corpo com o piso frio me deixou um pouco mais alerta, finalmente ergui o rosto mirando o do meu sequestrador, analisando-o. Prendi a respiração, ele não era o que eu esperava. Eu com toda a certeza não esperava o homem muito bonito vestindo um terno preto elegante, rosto bem desenhado, queixo quadrado coberto por uma barba por fazer. Os traços de seu rosto eram duros, sua boca estava pressionada em uma linha reta, seus olhos eram de um azul frio e não me permitiam ver muito além. Sua imagem era... Distinta e um pouco arrogante, mas não me revelava nada mais sobre ele. Contraí-me um pouco mais contra a parede, puxando minhas pernas e abraçando meus joelhos junto ao corpo, enquanto as lembranças de como ele havia me rendido noite passada ficavam mais claras em minha mente.

O homem a minha frente tinha a imagem de um verdadeiro cavalheiro, mas quando eu olhava em seu rosto, para a máscara inexpressiva que usava, para seus olhos duros ilegíveis, mas que pareciam conter tantos segredos, eu sabia que um homem assim não poderia ser bom.

— O que você quer de mim? Minha família não tem dinheiro, então não vai conseguir nenhum resgate com o meu sequestro. — esclareci erguendo o queixo, não deixando sua presença me intimidar e me forçando para esconder o medo que corria em minhas veias — Além disso, eu tenho certeza de que a polícia já está me procurando, a essa hora minha mãe já notou minha ausência e o namorado dela é membro do FBI. — Inventei a mentira, minha mãe tinha namorado um policial, mas o caso não durou mais do que algumas poucas semanas. — Eles vão me encontrar e você passará o resto de seus dias atrás das grades. — ameacei levianamente.

Não tenho certeza se vi corretamente, ou se meus olhos me pregaram uma peça, mas pensei ter visto o canto de seus lábios se erguerem formando um quase sorriso que rapidamente ele conteve.

— Você tem meia hora para se arrumar, tome um banho, seu café da manhã será servido no quarto — levantou-se do chão tomando uma postura mais rígida e ignorando toda a minha ameaça. — Vamos deixar uma coisa clara printsessa, como você eu também não gosto dessa situação. — Sério? Então por que me sequestrou? Tive vontade de revidar, mas contive minha língua antes que ela me causasse algum problema — Mas eu preciso que você coopere comigo, ok? Tivemos alguns problemas, então você terá que passar mais tempo comigo do que o previsto.

— Cooperar com o meu sequestrador? — ri sarcasticamente — Você é completamente insano! Diga-me ao menos o que você quer? Por que está fazendo tudo isso? É por dinheiro?

— Eu preciso provar algo. — respondeu seco, dando-me as costas. Então eu era isso? Um meio de provar algo?

— Não me diga que isso é uma aposta masculina estúpida! Se tiver o dedo de Cooper nessa história, diga a ele que eu mesma irei chutar as bolas dele tão forte que irei incapacitá-lo para sempre de ter filhos! — explodi irritada, ficando de pé e puxando o homem pela mão, eu ia exigir agora que esse bastardo acabasse com a brincadeira, se a ideia era me assustar ele já tinha me assustado o suficiente. Agora eu queria ir para a casa antes que minha mãe realmente chamasse a polícia por causa de um trote idiota e de mau gosto do meu quase namorado. Depois disso eu cuidaria de chutar as partes baixas de Cooper.

Eu estava começando a ficar furiosa. Mas minha fúria foi instantaneamente substituída por uma espécie de medo quando vi os olhos frios se virarem na minha direção. O rosto inteiro tencionado em uma carranca séria e intimidante.

Printsessa, isso não é uma brincadeira de um dos seus amigos, eu preciso que entenda isso logo. — se a expressão em seu rosto não tivesse me repelido, o tom da sua voz misturado às palavras que ele me disse o teriam feito. — Sua vida inteira mudou no instante em que eu te tirei da segurança da sua casa, e você não vai voltar.  — engoli em seco diante do olhar intimidade — Não há como fugir de quem você é, ainda que tente, outros virão até você e serão bem menos gentis do que eu. — alguém precisava ensiná-lo que sequestrar uma pessoa não era um ato gentil — E quanto mais rápido você disser adeus aos seus amigos, aos seus familiares, menos doloroso será para você assumir a vida que te espera. — As palavras saíram de uma forma suave e fluida, mas eram feitas de puro desgosto. —  Tome seu banho. — Ordenou saindo das minhas vistas e fechando a porta atrás de si.

Tentei controlar o ritmo cardíaco.

Eu acreditei nele. Em cada palavra. Havia uma escuridão em seus olhos que me assegurava isso. E havia muito mais em suas palavras para ser considerado. Primeiro ele disse que “outros virão até você” e “assumir a vida que te espera”. Inferno, aquilo soava como a porcaria de um culto ou seita!

Eu precisava sair daqui antes que fosse oferecida como a virgem a ser sacrificada no altar. Talvez devesse contar que eu não era mais virgem? Bani meus pensamentos, eu estava sendo estúpida e minha mente seguia por uma linha absurda, culpa dos muitos livros do Dan Brown que eu andava lendo. Concentrei-me no que era mais importante: escapar. Olhei pelo pequeno banheiro a procura de algo que pudesse me ajudar, a janela era minúscula demais e não havia nada ali que eu pudesse usar como arma. Se ao menos eu conseguisse meu celular... Num reflexo levei minha mão ao bolso da calça e imediatamente meu corpo começou a tremer diante da minha constatação.

Abri a porta do banheiro como um furacão, era difícil descrever o que eu sentia naquele momento, eu estava furiosa, desesperada e assustada. E internamente eu rezava para que de alguma forma eu estivesse errada.

— Onde estão as minhas roupas? — o confrontei. Eu vestia nada mais do que calcinha, sutiã e uma blusa masculina branca que me cobria até metade das coxas.

— Você queria dormir com aqueles jeans apertados? Seria desconfortável. — devolveu, fazendo pouco caso da minha pergunta. Ele estava sentado à pequena mesa que havia no canto do quarto, parecia despreocupado, bebericando uma xícara de café.

— Você tirou as minhas roupas? — Insisti engolindo em seco.

— Claro. — falou como se aquilo não tivesse a menor importância, e eu instantaneamente congelei. — Elas estão sobre a cama. — indicou com um movimento de cabeça.

Sequer movi meu olhar até elas, nesse momento eu apenas tentava conter as lágrimas que se acumulavam em meus olhos, o sentimento de violação tomando conta de mim.

— O que mais você fez? — ele deve ter notado que minha voz falhou naquele ponto, que minhas palavras soaram desestabilizadas e repletas de medo, eu estava prestes a desabar, mas tentava me conter porque assim que o fizesse eu não tinha certeza se seria capaz de me levantar depois e tentar fugir. Seus olhos frios se prenderam nos meus, e por um momento eu vi calor neles quando seu rosto se contorceu numa expressão de horror, era a primeira vez que eu o via exprimir alguma emoção.

— Eu não fiz nada com você. — garantiu, colocando-se de pé sua figura imponente caminhando até mim, dei passos para trás tentando aumentar a distância. Talvez a percepção do meu ato o tenha feito parar na metade do caminho. — Eu gosto das minhas mulheres acordadas e ativas. E você não foi mais do que um zumbi essa noite. — Ele falou, meus olhos se arregalaram com a afirmação, milhares de ideias passando em minha mente — Me desculpe, não deveria ter colocado as coisas dessa forma. — era impressão minha ou ele parecia incomodado com a minha acusação? — eu entendo que esteja assustada e com medo de mim nesse momento, mas eu lhe asseguro que não fiz nada a você. E eu prometo que não lhe tocarei, Felicity. Nunca. — pisquei surpresa ao ouvi-lo me chamar pelo nome, eu estava ainda mais surpresa como a tonalidade da sua voz havia mudado de repente. Era suave e temerosa, quase respeitadora. Se eu não soubesse que ele era o homem que havia me sequestrado seria muito fácil acreditar nas palavras dele, eu na verdade já me sentia um pouco mais calma apenas em ouvi-las. — Tem a minha palavra, confie em mim.

Confie em mim.

Confiar nele? Acho que não. Eu não cairia no conto do lobo em pele de cordeiro.

— Uau! A palavra de um sequestrador o qual sequer sei o nome, com certeza deve ter muito valor.  — explodi deixando claro todo o meu ultraje.

— Oliver Queen. — ele falou baixo, seus olhos cravados em mim.

— O quê?

— Meu nome é Oliver Queen. — explicou suavemente, nossos olhares se encontrando e mantendo um preso ao outro por mais tempo do que era normal. E eu comecei a entender, aquela era uma pequena concessão, uma pequena prova de que eu deveria confiar nele. — Agora se arrume, precisamos sair dentro de meia hora. — completou seus olhos assumindo a habitual frieza e saindo novamente do quarto.

***

Oliver Queen. Decorei bem o nome dele, poderia ser útil quando eu fugisse e precisasse dar um nome ao meu sequestrador à polícia, é claro que ele poderia estar mentindo, mas não sei por que eu escolhi acreditar, acho que o nome simplesmente parecia certo para ele. Depois do nosso pequeno momento mais cedo, eu tomei um banho aproveitei de sua ausência para pensar em modo de escapar. Mas é claro que a porta estava trancada e janelas muito bem lacradas e com grades. Me aventurei a olhar por entre as persianas e tudo o que vi foi uma rodovia e o que parecia ser um posto de gasolina um pouco mais a frente, o resto era simplesmente uma extensão de um deserto sem fim.

— Totó, acho que não estamos mais em Las Vegas. — parafraseei o mágico de Oz para mim mesma.

— Deixamos Las Vegas há muitos quilômetros atrás. — O meu sequestrador, ou melhor, Oliver respondeu. Virei-me para ele um pouco assustada por ter sido pega de surpresa. Ele parecia displicente encostado no batente da porta apenas me observando com curiosidade, travei por um momento, meu olhar caindo num objeto escuro preso no cós da calça dele.

— Vamos. — ordenou, endireitando a postura parecendo incomodado com o meu olhar sobre a arma dele.

— Você é estranho. Parece achar que eu irei de bom grado com você! Devo lembrá-lo que estou aqui contra a minha vontade? — cruzei os braços.

— Eu posso te levar desacordada se preferir. — advertiu e imediatamente eu me retraí me lembrando de como eu acordei essa manhã, meu organismo ainda estava revoltado, eu sequer tinha conseguido comer qualquer coisa. — Ninguém estranhará se eu sair com você desfalecida em meus braços nesse hotelzinho de beira de estrada. Aliás, eu paguei muito bem pelo silêncio dos donos daqui. — deu de ombros — É sua escolha, printsessa.

Suspirei o acompanhando porta afora enquanto a mão de Oliver agarrou com força meu braço, seu aperto não machucava, mas me impossibilitava de tentar correr.  Tentei relaxar um pouco e o acompanhar, talvez se achasse que eu estava colaborando, em algum momento ele abaixaria a guarda. Eu precisaria apenas de uma distração, um lugar para onde correr, e muitas pessoas para me misturar.

Observei bem o carro para o qual caminhávamos, era preto, com vidros escuros e bem discreto, anotei mentalmente a placa. Oliver abriu a porta do carro para que eu entrasse dando a volta e se sentando ao lado do motorista. Novamente o seu ato me surpreendeu, era educado e até mesmo cavalheiro. Eu não sabia que tipo de jogo era esse, como ele podia ter aquela expressão séria e o olhar frio e ao mesmo tempo parecer ser alguém normal? Voltei a me convencer de que aquilo não significava nada, ele apenas agia da forma menos suspeita possível.

Tentei me concentrar na conversa de Oliver em uma língua estranha ao telefone. A pessoa do outro lado da linha parecia irritada, eu apenas estando próxima a ele era capaz de escutar os berros irritados que pareciam sair do telefone.

Da, ser. — Oliver disse com uma postura firme, como de um soldado que está sendo repreendido. — Der’mo! — explodiu assim que desligou o celular, batendo fortemente com ambas as mãos no painel do carro.

Der'mo. — repeti testando o som da palavra em meus lábios — Isso é russo? Parece um palavrão. — chutei, eu estava curiosa e queria algumas pistas, Oliver por sua vez tomou uma respiração profunda, apertou os lábios formando uma linha dura, sequer me olhou e deu partida no carro. Pelo seu estado irritado eu tinha certeza de que era um palavrão.

O restante da viagem seguiu-se assim, com um silêncio mórbido entre nós. Oliver dirigiu por horas com um o olhar compenetrado na estrada, e ignorou completamente todas as minhas tentativas de começar um diálogo que fosse capaz de me dar mais pistas do porquê ele havia me sequestrado. Seja lá o que tenham dito a ele pelo telefone o tinha feito tomar uma atitude completamente séria e impassível. Eu tinha certeza de que teríamos seguido desse jeito até sabe-se lá onde ele pretendia me levar, mas lá pelo meio da tarde o ronco alto e desesperado do meu estômago vazio preencheu todo o silêncio, e pela primeira vez em horas o olhar de Oliver desviou-se para mim.

Em qualquer outra situação eu teria ficado envergonhada, mas estava faminta demais para isso.

— Me desculpe, mas se sua ideia era sequestrar alguém e matá-la de fome devo dizer que o plano está correndo perfeitamente bem. — respondi mal humorada, cruzando os braços sobre o estômago tentando abafar o ruído que continuava.

— Eu deixei o seu café da manhã no quarto. — argumentou.

— Eu o teria o comido prazerosamente se um idiota não tivesse me apagado ontem a noite, e eu não sei que tipo de droga ele usou em mim, mas me deixou tão enjoada que tornou impossível manter qualquer coisa em meu estômago.

Esperei por seu pedido de desculpas que não veio, embora em tenha visto um ligeiro vislumbre de culpa em seu semblante. Oliver simplesmente abriu o porta-luvas do carro revelando uma pequena barra de cereais.

— Coma. — Como uma única palavra podia estar tão impregnada de um tom imperativo? Eu normalmente odiava isso, ordens de qualquer tipo, eu tendia a rebatê-las apenas pelo simples prazer de dizer não, você não manda em mim. Mas nesse momento eu estava com tanta fome que simplesmente agarrei a embalagem com pressa, e não segurei um gemido de puro prazer ao me deliciar com a cobertura de chocolate que se derretia em minha boca.

— Nunca pensei que acharia uma barra de cereais deliciosa, normalmente essas coisas tendem a ter um gosto terrível de sola de sapato. Mas essa aqui é divina. — tagarelei mordendo mais um pedaço.

— Quando chegarmos a cidade você terá uma refeição de verdade — notei que um quase imperceptível sorriso surgiu em seu rosto.

— E então teremos um encontro? — todo o seu corpo havia ficado tenso com minhas palavras, suas mãos se prenderam ao redor do volante do carro com tanta força que as veias começaram a se estufar. Tive vontade de me bater mentalmente, por que eu havia dito aquilo? Alguma espécie de síndrome de Estocolmo? Eu precisava manter meu foco aqui — Então... Quando você vai começar a me dar respostas do porquê está fazendo isso? Ou o que quer de mim? Para onde está me levando?

— Eu não estou certo de até que ponto devo contar. — seu tom foi reticente, mas pelo menos aquilo era algum progresso.

— Eu estou assumindo que você não tem planos de me deixar voltar para a minha casa. — falei, tentando soar controlada, embora aquela mera ideia de imaginar o desespero da minha mãe causasse um aperto doloroso em meu peito. — Então seria muito mais fácil para mim se você ao menos você me dissesse o que está acontecendo. Porque as opções que passam em minha mente não são nenhum pouco boas, e estou nesse momento calculando o quanto eu me machucaria se pulasse do carro em movimento.

Oliver me lançou um olhar assustado e rapidamente travou a minha porta. Segurei o riso, eu já havia calculado o risco, e a velocidade que estávamos na rodovia era simplesmente perigoso demais.

— Seu pai. — murmurou após alguns minutos.

— O quê?

— Seu pai ordenou que eu a levasse até ele. — respondeu mantendo os olhos fixos na estrada.

— Isso não faz o menor sentido. — meneei a cabeça incrédula — Por que meu próprio pai me sequestraria? Ele não pode fazer como todos os pais normais que abandonam seus filhos, e aparecem anos depois às suas portas querendo recuperar o tempo perdido? Precisa mandar um cara assustador drogá-la e sequestrá-la para levá-la até ele?  Isso não faz sentido. — resmunguei irritada, toda aquela justificativa não era nem um pouco crível.

— Seu pai não faz o tipo normal — notei uma inflexão em sua voz — e eu não sou assustador. —  ergui uma das sobrancelhas esperando por mais, mas ele se limitou a olhar para frente — Chegamos. — disse e me virei para a placa de boas vindas da cidade, que estava coberto por pichações, mas ainda se lia Gotham City. Viramos em uma rua escura e imediatamente me vi rodeada por casas e prédios, a cidade apesar de grande parecia um pouco decadente, com seus prédios abandonados e pichados, além da grande quantidade de moradores de rua.

— É aqui que meu pai mora? Depois que eu encontrá-lo e de nós termos nosso momento pai e filha, eu poderei ir embora? — falei ao Oliver sem desviar meus olhos da janela.

Oliver respirou pesadamente parecendo irritado.

— Você faz muitas perguntas. — entendi que aquilo era um não.

— E ainda estou esperando pelas respostas.

— Precisamos parar em um lugar antes. — disse me ignorando novamente, manobrando o carro em frente a uma lanchonete, fiz menção de retirar o cinto e segui-lo, mas Oliver me parou — Você fica dentro do carro. — falou no tom imperativo usual.

— Mas eu pensei que fossemos comer! E isso é uma lanchonete, e eu também preciso usar o banheiro. — argumentei. Oliver não pareceu gostar muito do que eu disse, mas no fim deu-se por vencido.

— Não tente nada estúpido. — sussurrou ao meu ouvido enquanto entrávamos no lugar de braços dados. A lanchonete, assim como a cidade, parecia já ter visto dias melhores, mas pelo menos era limpa e os sanduíches pareciam decentes. Caminhamos até o balcão, onde Oliver fez nossos pedidos e ali mesmo esperamos.

— Ei, você viu o jogo do Blue Jays ontem? — um homem forte e negro, usando um boné de time de beisebol se aproximou amigavelmente de Oliver perguntando.

— Foi uma bela vitória! Acho que podemos ganhar o campeonato. — estranhei ao encontrar o tom amigável em sua resposta.

— Veremos se eles se sairão tão bem no jogo da próxima terça. — papeou, eu teria ignorado toda aquela conversa masculina se eu não soubesse bem que não era época de jogos. O homem sorriu para nós quando a moça trouxe o seu lanche e ele saiu, esbarrando em Oliver e se desculpando em seguida. Se eu não tivesse atenta eu teria perdido aquilo, foi um movimento quase imperceptível, mas o homem havia colocado algo sobre a mão de Oliver, algo que imediatamente ele colocou dentro do bolso do paletó.

— O que foi isso? — questionei

— Não foi nada. — seu tom era ríspido.

— Mas isso não pareceu com nada! Aquele homem te entregou algo e você... — insisti, e Oliver me lançou um olhar duro e repressor. Me arrastou até a parede mais próxima, seu corpo pressionando o meu, seu aperto se tornando mais opressor, seu rosto se escondendo em meu pescoço. Qualquer um que nos visse apenas pensaria que éramos apenas um casal de namorados tendo um pequeno momento.

— Você não viu nada. — a respiração quente em meu ouvido me  deixou imediatamente tensa e engoli em seco — Estamos entendidos? Estamos entendidos, Felicity? — Insistiu encarando o meu rosto, seus olhos completamente escurecidos, sua feição era tão ameaçadora que eu teria me afastado se não estivesse presa entre ele e a parede. Apesar de Oliver estar me sequestrando, até então ele tentava manter uma distância entre nós e era, na maior parte do tempo, gentil. Mas agora, nesse momento ele não agia dessa forma, e só então eu percebi que estava sendo tola e perdendo o meu tempo conversando com ele, quando eu deveria unicamente fugir.

Fugir de seus olhos frios e de seu semblante ameaçador.

— Preciso ir ao banheiro. — falei num sopro de ar, segurando o medo dentro de mim. Oliver me olhou, parecendo ver além dos meus olhos e de uma única vez se afastou, embora ainda mantivesse meu braço sob seu aperto, muito mais suave agora. Ele me acompanhou até a porta do banheiro, segurou firme em meu braço e me deu um aviso antes de soltá-lo.

— Você tem três minutos.

—O quê? Vai controlar até mesmo isso? — revidei.

— Agora são dois minutos e cinquenta e seis segundos.

Não tentei discutir e entrei no banheiro me sentindo momentaneamente livre. Mas não por muito tempo. Analisei o lugar decepcionada, não havia janelas, apenas pequenos basculantes e ainda esses eram cobertos por grades.

Pense Felicity! Pense! Forcei o meu cérebro, mas nada vinha, ele parecia concentrado em fazer uma contagem regressiva, zombando de mim enquanto esperava por Oliver entrar aqui. Eu estava quase tomando uma decisão extrema e saindo do banheiro apontando para Oliver e gritando sequestrador, mas ele tinha uma arma e eu não o conhecia, eu não sabia o que ele seria capaz de fazer num lugar com tantas pessoas inocentes.

Joguei um pouco de água no rosto, me sentindo derrotada. Até o momento que escutei um barulho de descarga, e vi uma garota deixar uma das cabines do banheiro.

Sorri esperançosa. Eu tinha tido uma ideia.

***

Caminhei pela rua com passos apressados e puxando o capuz sobre o meu rosto, tentando-o deixar o mais escondido possível. Virei na primeira esquina, após a lanchonete, seria bom tentar me manter o mais longe possível da visão de Oliver, eu tinha certeza que ele me procuraria assim que notasse a minha ausência. Para o meu azar a garota no banheiro não tinha um celular, e parecia um pouco chapada demais para eu pedir sua ajuda, por isso apenas a convenci a trocar seu moletom verde com capuz pela jaqueta que eu vestia. Eu estremeci quando passei por Oliver, parado como um guarda à porta do banheiro, temia que ele notasse minha pequena trapaça, mas isso não aconteceu.

Agora eu andava pelas ruas escuras a procura de um telefone público, eu já tinha encontrado um completamente depredado, estava indo em direção ao outro no final da rua.

— Ei, gatinha. — escutei a voz arrastada do outro lado da rua onde havia um grupo de cinco caras chapados — Por que não vem curtir com a gente? — ofereceu abrindo os braços, todos os outros que estavam com ele esboçaram uma reação positiva, escutei alguns assovios de aprovação e risadas junto a alguns termos bem chulos. Os ignorei seguindo meu caminho. Mal pude acreditar, quando retirei o telefone do gancho e percebi que tinha linha, eu não sabia se ligava para a minha mãe ou para a polícia primeiro.

— Por que não se juntou a gente? — escutei a voz arrastada novamente soando ofendida, só que dessa vez ela estava muito mais próxima do eu gostaria. Tão próxima que eu sentia o bafo de álcool fungando em meu pescoço, senti suas mãos nojentas se colocando ao redor da minha cintura e me girando. — Eu e meus amigos não gostamos dessa atitude, e agora você vai ter nos compensar pelo seu mau comportamento. Nós faremos tantas coisas com você gatinha... — ele disse, parecendo achar graça dos seus próprios pensamentos. Babaca, eu já tinha meu joelho pronto para acertá-lo nas partes baixas, ia fazê-lo agonizar no chão, mas de repente ele simplesmente não estava mais ali na minha frente.

Ele estava contra um muro. Sendo socado múltiplas vezes, sem a menor pena pelo meu sequestrador, os amigos que até pouco tempo o estavam incentivando fugiram com medo da ira de Oliver, que por sua vez não parou até que o homem estivesse implorando por misericórdia.

— Você está bem? Ele tocou em você? Fez algo a você?  — Oliver se virou para mim, largando o homem no chão no chão como se fosse um saco de lixo.

— Como me achou?

— Eu sequer te perdi. — falou deliberadamente retirando um lenço do bolso e limpando o sangue de suas mãos. — Eu só quis te dar alguns instantes, para pensar que tinha conseguido me enganar para no fim te mostrar que não há fuga disso. — fiquei irritada ao ouvir aquilo, ele apenas quis brincar comigo — Agora vamos, essa cidade não é para alguém como você. — disse puxando-me pelo braço e me levando até o carro parado de qualquer forma sobre a calçada.

— Alguém como eu? — repeti, achando estranha a forma como ele havia colocado isso.

— Entre no carro, printsessa. — devolveu não me escapando o tom de ordem, não respondendo as minhas perguntas. Ele nunca respondia as minhas perguntas e eu odiava isso nele.

— Não. — bati o pé, cansada desse jogo.

— Por que você sempre quer fazer do modo difícil? — ele revirou os olhos para mim.

— Eu estou fazendo do jeito difícil para você, Oliver? Oh, me desculpe por isso! — estourei — Como você não entende o que está acontecendo aqui? Você me SE-QUES-TROU! Eu estou preocupada com minha mãe, eu quero ir para minha a casa, ver os meus amigos... E eu estou assustada, confusa. Eu não entendo e sequer acredito nessa história de pai que mandou me buscar! Um pai não trataria uma filha dessa forma, não mandaria um capanga me dopar e viajar comigo pelo país. Um pai não trataria a filha como um refém, ele apenas... amaria.

— Eu te disse que te levaria ao seu pai, eu nunca disse que ele era uma pessoa boa. — Sua presença se impôs de tal forma a minha frente que foi impossível não me sentir intimidada e ao mesmo tempo suas palavras enviaram arrepios à minha espinha. — Para o seu próprio bem, você precisa entender que não terá sua antiga vida de volta, ele te reivindicou, ele não vai desistir. Ainda que eu a deixe partir, outros virão, e eles ameaçarão as pessoas que você ama, destruirão tudo o que você preza até que aceite o seu destino. — as palavras de Oliver não soavam como ameaças, eram avisos e pareciam conter certa compaixão — Eu não gosto da ideia de machucar você, mas eu o farei se for necessário para te levar até ele.

Não conseguia compreender aquele tipo de lealdade cega, por isso tentei apelar pelo lado humano dele, aquele pequeno pedaço de calor que havia em seus olhos gélidos.

— Então não machuque, me deixe ir Oliver. — pedi, implorando para aquele vislumbre de compaixão que as vezes eu via eu sem semblante.

— Não é assim que funciona, printsessa. Eu tenho ordens a seguir. — permaneceu firme em sua decisão embora eu tenha sentido uma pontada de remorso em sua voz. Ele segurou em meu braço, seu aperto era suave, mas ainda assim forte o suficiente para me forçar a entrar no carro.

E assim ele fez.

— Você vai me levar para o meu pai agora? —  perguntei num fio de voz quando ele dava partida.

— Sim. — Oliver afirmou, sua voz parecendo conter certo pesar.

— Pode ao menos me dizer se estamos perto?

— Não muito. — ele hesitou antes de completar — Ele vive na Rússia.

Olhei para Oliver incrédula e soltei a primeira palavra que veio em minha mente.

— Oh, der’mo!

 


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Notas finais do capítulo

Hey gente, só queria deixar claro algo aqui sobre a síndrome de estocolmo. É algo que algumas vitimas costumam sofrer após serem sequestradas, elas começam a criar uma empatia com o sequestrador e a nutrir sentimentos por ele. Essa fic NÃO irá seguir por esse caminho, vocês entenderão o porque.

Isso estando esclarecido, queria saber a opinião de vocês? Estão gostando? Não estão?

Aguardo nos comentários, beijos ♥

ps.: Em breve chegaremos na Rússia, o voo apenas fez uma escala!



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