A mulher olhou a paisagem atrás dela, admirada.

Nunca tinha notado o quão linda Londres conseguia ser em uma manhã chuvosa. Abaixou os olhos para os quadros na extensa cômoda a sua frente, com fotos de Rose, Hugo e Ron. Entretanto, sua preferida, era a que erguia seu primeiro prêmio, ainda grávida de sua filha.

Uma mulher negra e nascida trouxa, a primeira a ganhar o prêmio Merlin: Mais um padrão quebrado.

Cruzou os braços, sentindo uma sensação indescritível de solidez. Pensou em todos os seus anos em Hogwarts e quantos tapas teve que levar para se manter. E após ela, mesmo acostumada, os tapas pareciam mais fortes. Tinha uma ilusão quase infantil de que o mundo fora da escola era um lugar maturo e consciente, mas estava redondamente errada. Ninguém quer ouvir uma mulher negra e nascida trouxa falando.

Uma mulher negra e nascida trouxa, com os N.I.E.M’s mais altos de Hogwarts desde Minerva McGonagall: Mais um padrão quebrado.

Primeiro, porque ela é uma mulher. O que ela tem de interessante para dar? Será que ela realmente tem a capacidade de estar ali, apenas ela entre tantos homens? Segundo, por ser negra. Uma raça pisada diariamente, de forma velada ou exposta, desvalorizada e ignorada. Terceiro, nascida trouxa. A casta mais impura e imundo do mundo bruxo, a que precisa provar todos os dias que merece estar ali, mesmo que não tenha nascido em um berço mágico.

Mas ali estavam eles, assistindo suas palestras com plateias lotadas, lendo seus livros, seus artigos, suas aulas. Uma disputa de lugares para que ela dê um mero discurso de trinta minutos. Filas imensas apenas para um autógrafo.

Uma mulher negra e nascida trouxa, uma referência: Mais um padrão quebrado.

“Hermione?”, a mulher virou-se, assustada ao ser tirada de seus pensamentos. Seu escritório parecia grande demais, uma vez que ela era tão organizada. Sua prateleira de prêmios ficava simetricamente diante dela, um reforço nas horas frágeis. Draco Malfoy continuou com a porta entreaberta, sorrindo para a amiga. “Eles estão esperando, diretora”.

Ela sorriu enormemente, parando por um segundo, como se um choro repentino fosse invadi-la. Olhou para sua prateleira, parecendo viver um sonho. Tocou seu terno mais uma vez, indo em direção do homem grisalho, saindo com ele e fechando a porta. Ela virou-se mais uma vez, apenas para dar uma olhada em sua parte preferida:

Departamento Para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas

Dir. Hermione G. Weasley

Uma mulher negra e nascida trouxa na direção.

Mais um padrão quebrado.