Tsha Tshá! escrita por Giovanne Augusto


Capítulo 1
Piromania


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores e Igor Feijó, como vão?
Estar participando desse concurso foi um soco no estômago de inspiração, obrigado!
Boa leitura!
PS: Leiam as notas finais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/694771/chapter/1

Eu sempre tive uma atração estranha em relação ao fogo.

Tudo nele me atraía. Suas formas curvilíneas, sua dança sensual, seu suspiro sedutor, seu jeito de me encarar naquela noite como se fosse um amante que sabe que tem toda a minha atenção. E de fato tinha.

Estava uma noite relativamente fria e silenciosa, mas a fogueira, naquela clareira, me aquecia de modo intenso. Ela me acolhia depois de um trabalho excessivamente longo na grande floresta amazônica, a floresta do desconhecido e sedutor perigo.

Aproximei minhas mãos do fogo, para aquecê-las. Naquela luz podia-se ver os calos de tanto operar máquinas e cortar árvores, e as queimaduras por colocar fogo nos terrenos para abrir área para a criação de gado. O salário era uma mixaria, eu sempre pensava, mas o perigo, o intenso e destruidor fogo fazia valer tudo a pena.

Eu sorri quando recebi uma lambida inesperada de meu amante. Ardia, como o amor sempre faz. Peguei algumas toras, cortadas naquele mesmo dia, e alimentei meu fogo, assobiando alegremente, o observando crescer e ouvindo seu crepitar aumentando. Mas ouvi algo a mais.

Parecia um sussurro no começo. Um sibilar baixo. Então ele foi aumentando, junto com os arrepios em meu corpo. Parecia vir de algo muito pesado.

Tsha tshá. Tsha tshá! Tsha tshá! Tsha tshá! Tsha tshá. Tsha tshá!

Meu coração acelerou quando corri até minha espingarda. Eu sempre a deixava carregada quando fazia excursões a floresta para reconhecer o terreno que seria queimado.

A noite se agitou. Vários animais começaram a emitir suas vozes a minha volta, como um coro mórbido, e junto com elas, veio um vento estrondoso.

Um redemoinho veloz apareceu diante dos meus olhos, arrancando a espingarda de minhas mãos com facilidade, e apagando meu amante ao passar por ele e sumir. Mal acreditei em meus olhos!

Corri para acender o fogo novamente, mas algo capturou minha atenção, do outro lado de onde eu estava, no escuro da floresta. Algo brilhante chicoteava o ar.

Era como uma linha, de luz laranja, dançando pelo ar, bamboleante, rápido, furioso. E belo. Ele se apagava, e aparecia novamente em outro lugar. Cada vez mais perto. Cada vez mais… Então apareceu a distância de apenas alguns passos de mim.

Uma cobra, uma cobra enorme me encarava com seus olhos elípticos. brilhantes como fogo. Não pude ver seu corpo, pois sua cabeça tampava todo o resto. Sua língua bifurcada saía rápido da boca, de tempos em tempos.

Minhas pernas tremeram e amoleceram, me fazendo cair no chão. Minha mente e meu corpo foi tomada pelo horror e não conseguia nem respirar. Abri a boca em busca de ar, mas nada veio para meu desespero.

Estava ciente que cobras assim não passavam de lendas. Não existiam cobras daquele tamanho, mas uma estava na minha frente, maior que um boi, maior do que qualquer coisa que já tinha visto. Senti minha mente sendo pressionada, como se algo a tivesse se fechado em torno dela. Uma presença fria, e antiga, me paralisando. E furiosa.

Ouvi o sibilar novamente.

Tsha tshá! Tsha tshá!

Rápido, ela virou fogo. Na frente dos meus olhos, a cobra era uma linha de fogo. Os olhos ainda me observando. Envolveu meu tronco rapidamente, queimando minhas roupas, minha pele, meus olhos, meu corpo. Ela me pressionou, fazendo meus olhos saírem das órbitas. Eu só pude gritar na agonia de ser queimado vivo.

Ela me deixou no chão, gritando de dor e cego!

E pela primeira vez, eu odiei o fogo.

Eu não entendia como ele podia estar me machucando daquela maneira! Ele dizia que me amava! Eu fiz tudo por ele! Eu o alimentei, eu o amei mais do que achei possível.

Ele não era bom, ele me aquecia, mas me destruía como todas antes fizeram. Ele me traiu. Disse que me pertencia, mas pertencia aquela cobra, a agente de minha morte.

E a única coisa que ouvi antes de deixar esse mundo foi o sibilar, parecido com um riso.

Tsha tshá!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tsha Tshá: Tata, fogo em tupi, na língua de cobra.
O folclore me inspira!
Obrigado por lerem!
Rola algo entre nós? Eu, você, um comentário, que tal?
Talvez uma recomendação, mas estaríamos avançando demais no nosso relacionamento, não? Depende de você.
Se você quiser, eu quero.