Through The Wonderland Glass escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 – Minha Alice




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Capítulo 3 – Minha Alice

                - Mamãe... – Alice disse baixinho ao sentir a mão da mãe tocar seu ombro.

                A mulher se apoiou na beirada do navio, assim como Alice, e observou junto com a filha a imensidão azul do céu e do mar. Estavam no meio do nada, nenhum navio, nenhuma baleia, nenhum navio pirata, nenhum sinal de terá firme... Dentro de alguns dias deveriam voltar a Londres. Os cabelos dourados de Alice esvoaçavam com o vento, estavam longos de novo.

                - Querida, eu não suporto vê-la assim. Não sei onde você se mete quando some daquele jeito, mas sei que não fica assim por qualquer coisa. Ou por qualquer pessoa... Se há algum lugar aonde você queira ir, deve ir.

                - Não vou deixar a senhora sozinha por mais que me surpreenda lhe dando com piratas e tudo mais.

                A mais velha riu. Era tão boa em deixar os piratas para trás quanto a filha. Embora Alice fosse uma capitã muito melhor.

                - Querida, em alguns anos poderei me aposentar com mais tranquilidade. Nós podemos encontrar um jeito de resolver isso.

                - É impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo.

                - O que aconteceu com a menina que acredita em coisas impossíveis?

                Alice sorriu.

                - Nós estamos bem, saudáveis... Acabamos com o Hamish em menos de um ano, recuperamos nossa casa, o casamento de sua irmã e meus netinhos estão muito bem. Mas também quero ver milha filha mais nova feliz. Vamos chegar a um consenso, entendo sua preocupação. Você se preocuparia ainda se eu fosse jovem. Prometo não viajar quando você não estiver comigo. Treinamos bons aprendizes e homens e mulheres competentes. Eu posso comandar tudo de casa de vez em quando.

                - Tem certeza, mamãe?

                - Sim, querida?

                Alice ficou em silêncio por longos minutos, refletindo, tudo que ela dissera era de fato possível. Alice amava ser capitã, amava o mar, amava viver com sua mãe... Mas parte de todo aquele amor estava muito longe. E também precisava dele.

                - Nunca se esqueça do quanto eu te amo, mamãe – disse por fim ao encarar a mulher loura.

                - Alice faz o que ela quer – ela respondeu com um sorriso antes que se abraçassem.

******

                Absolem passou voando por cima da mesa onde todos tomavam chá, inclusive a família de Tarrant, a Rainha Branca, seus dois guardas e seu cavalo. Como de costume ela sorria graciosamente apreciando a alegria louca dos demais, que, com exceção do coelho, dos pais de Tarrant, e dos gêmeos que arengavam como sempre, estavam rindo como loucos por motivo aparentemente nenhum. Em seguida o chapeleiro morria de rir de alguma piada contada pelos irmãos. Bayard e sua família estavam esparramados no chão, aproveitando o sol da manhã.

                - Ria, Chapeleiro – a borboleta azul falou ao pousar na xícara que o maluco segurava -  Você tirou a sorte grande no dia de hoje – Absolem sorriu antes de sair voando e desaparecer.

                Tarrant ficou sério, buscando significado para as palavras do sábio, e sua reação seguinte foi olhar para a Rainha Branca, que mostrava um lindo sorriso para ele, aquele sorriso que ela dava quando se sentia completamente feliz, completamente em paz.

                - Nossa salvadora regressou ao País das Maravilhas – a rainha disse tão docemente que quase sussurrava.

                Todo e qualquer barulho desapareceu com aquelas palavras e todos fitaram a rainha, que voltava a tomar chá.

                - Faça as honras, Tarrant – ela sorriu mais uma vez – Nós seremos pacientes por um pouquinho mais de tempo.

                O chapeleiro se levantou e caminhou para longe da mesa, sendo seguido por todos os olhares quando correu para longe. Ele correu, e correu, na direção de onde Absolem tinha vindo, até estar na porta de sua casa.

                - Tarrant!!

                O coração do chapeleiro falhou ao escutar aquela voz distante.

                - Essa voz... É minha Alice...!

                - Tarrant – ouviu novamente, agora mais perto.

                - Alice... – disse para si mesmo quase sem fala quando a viu andando de costas para ele ao lado da casa.

                Ela parou e olhou o céu. Tarrant a observou. Estava linda, como sempre. Os cabelos ondulados, longos e dourados esvoaçando com o vento. Ela usava um vestido azul celeste claro, muito parecido com o que ela tinha sete anos atrás quando regressou ao País das Maravilhas depois de dez anos, e botas da mesma cor.

                - Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha? – Tarrant perguntou quando já estava atrás dela.

                A garota se virou surpresa. Por alguns segundos apenas se olharam, como se o tempo tivesse parado. Alice sorriu e se jogou nos braços dele. Abraçaram-se com força e fecharam os olhos, querendo guardar aquele momento para sempre.

                - Tarrant... – ela murmurou com a voz trêmula de alegria.

                - Minha Alice...

                Alice sorriu ao ouvir aquilo. Finalmente abriram os olhos e se afastaram, mantendo suas mãos unidas e se encarando. O Chapeleiro estava igualzinho a como se lembrava, as mesmas roupas coloridas, a pele pálida, os olhos verdes, o cabelo ruivo, o sorriso louco e contagiante, o mesmo chapéu. Só uma coisa diferente... No olhar dele, o jeito como ele segurava suas mãos, o abraço ainda mais carinhoso. Ela sabia porque. Porque sentia o mesmo.

                - Tarrant... Quer me dizer alguma coisa?

                O Chapeleiro ficou em silêncio por mais algum tempo, talvez buscando as palavras certas, talvez pensando se deveria ou não dizê-las.

                - Já estou aqui, depois de todo esse tempo. O que você pode perder me dizendo o quer? Você é meu melhor amigo, pode me dizer qualquer coisa.

                - Eu... Amo você... Alice – ele terminou com um sussurro na última palavra.

                A garota sorriu e soltou uma de suas mãos para acariciar o rosto dele.

                - Eu também te amo, Tarrant – disse com sinceridade – Por isso eu voltei – ela falou segurando o rosto do chapeleiro entre as mãos.

                Logo estavam tão perto que mal perceberam quando fecharam os olhos e logo seus lábios estavam se tocando. Tarrant a abraçou pela cintura e os dois se abraçaram forte quando se separaram. Alice inspirou fundo ao sentir o carinho em seus cabelos. Séculos pareceram se passar até se afastarem.

                - Dessa vez você vai ficar?

                - Eu quero ficar. Talvez minha mãe ainda precise da minha ajuda, mas vou encontrar um jeito de poder fazer as duas coisas.

                - Então ainda acredita em coisas impossíveis – o Chapeleiro abriu um enorme sorriso.

                - Eu nunca deixaria de acreditar – ela sorriu de volta.

                Os dois caminharam de mãos dadas ao encontro dos outros. Uma algazarra se formou na mesa de chá quando os gêmeos , o coelho, Bayard e sua família, e até a Lebre de Março e Marllykum correram para abraçar Alice ao mesmo tempo. Quando se afastaram, Alice viu Mirana com seu sorriso doce e seu olhar tão acolhedor a aguardando. As duas se abraçaram forte por longos segundos e a rainha tomou o rosto da garota entre as mãos a observando, a amava como se fosse sua irmã mais nova.

                - Seja bem vinda, Alice. Que bom que está aqui.

                - Que bom que vocês sempre estão aqui – ela respondeu com o mesmo sorriso.

                - Vejo que... Agora vai ficar tudo bem – a rainha disse apenas para ela escutar, e Alice sabia que ela falava de Tarrant.

                As duas olharam rapidamente para o Chapeleiro que conversava alegremente com o pai, e Alice tornou a fitar rainha, sorrindo e acenando positivamente com a cabeça.

                - O seu amigo Tempo tem um presente para você, meu doce – a rainha falou – É um espelho. Ele permitirá que você viva no País das Maravilhas sem problemas quando precisar ir até sua casa. Também pode se comunicar com sua família por ele.

                Alice teria ficado estarrecida se já não estivesse tão acostumava a ver todas as coisas impossíveis se tornarem possíveis em sua vida.

                - Isso é um segredo?

                - Não pra todo mundo. Falaremos sobre isso mais tarde – Mirana respondeu baixinho – Agora venha se sentar conosco, estávamos esperando você.

                Todos riram e murmuraram baixinho quando o Chapeleiro e Alice deram as mãos, trocando um sorriso de derreter corações, e sentaram-se lado a lado para tomar chá.


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