Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou com o último capítulo de "Nosso último Verão" para vocês. Espero de todo coração que gostem dele e que seja como imaginaram. Vou deixar para ser toda sentimental nas notas finais suahsuahsh. Boa leitura.

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Killian

Fechei a porta da cozinha com cuidado, evitando qualquer barulho que pudesse entregar minha escapada, o que causaria reclamações infinitas por parte de minha mãe. Ela não aprovava meus passeios noturnos cada vez que o verão chegava; resmungava que esse hábito iria acabar comigo lentamente e que não valia a pena. Jenna ficara furiosa com os acontecimentos do passado e pela escolha que ela fez de se casar com outro. Brigara comigo quando retornei para o interior e fui em busca de um emprego na fazenda. Sem falar que quase arrancara minha cabeça quando anunciei que comprara o lugar.

Mas não esperava que minha mãe entendesse meus motivos, não quando ela nunca entendeu, não quando nem eu mesmo entendia, além do desejo de estar perto dela de alguma forma. Eu havia passado anos longe demais por escolha própria uma vez, agora eu sentia a necessidade de reparar isso. Eu precisava senti-la de algum modo e estar onde vivemos os dias mais felizes juntos, com a inocência e certeza de dois jovens de que seria para sempre, parecia a coisa certa.

Respirei fundo quando o ar fresco noturno de verão atingiu minhas narinas, com a conhecida essência da nostalgia que fazia com que meu coração se apertasse mais dentro do peito com a saudade agonizante que sempre estava presente, em cada segundo do dia.

Ajeitei o livro no bolso da calça, para que minhas mãos ficassem livres enquanto tomava o rumo em direção aos trigais. A noite de lua cheia jogava um brilho prateado intenso sobre o caminho e eu tinha a sensação de que naquela noite, o tempo não passaria, como se alguma magia tivesse sido lançada na Terra pelos raios do luar.

Suspirei com esse pensamento. Tudo o que eu menos queria era uma noite mais longa. Algumas horas noturnas era o suficiente para acabar com todo um trabalho de um dia, por mais que tudo ali me lembrasse ela. As noites eram totalmente dedicadas para que eu pudesse pensar nela livremente, por mais que doesse. Eram as horas que sozinho, eu podia fingir. Fingir que ela estava ali, fingir que nada tinha acontecido e que ainda éramos os jovens do início.

Fingir que eu não a perdera por culpa minha, mesmo que tenha feito de tudo para mantê-la.

Apertei os olhos com força quando o ar faltou e corri as mãos pelas espigas de trigo, sentindo a suavidade delas nas palmas, para parar imediatamente por esse simples gesto causar dor ao pensar nos cabelos dourados dela que um dia eu brincara quando se deitava em meu peito. Hoje seria um dos dias difíceis, constatei, tentando voltar a respiração normal e calar os sons sôfregos do meu coração, que experimentava a sensação de ser dilacerado mais uma vez com as lembranças. Eu esperava que depois de onze anos, ele já estivesse acostumado e já nem sentisse mais... Mas como eu estava enganado. Cada vez que a recordação dela retornava nítida como fora agora, lá estava meu coração sendo estraçalhado uma vez mais, com mais força que a vez anterior. Doendo mais e mais.

Uma vez parcialmente recuperado, continuei minha caminhada até onde era nosso ponto de encontro. Eu provocava a dor e sabia disso, todavia não conseguia evitar. Apesar de não conseguir pronunciar seu nome, nem mesmo pensar nele, eu precisava de minhas doses diárias dela de alguma forma.

E essas doses diárias era uma visita ao passado, quando tudo era mais simples. Quando éramos só nós dois e o futuro.

Apenas ela e eu, juntos.

—Olá, minha menina. – murmurei quando comecei a subir o pequeno morrinho que era terra batida e tinha algumas espigas de trigo caídas pelo caminho. – Trouxe um livro... Eu o encontrei e... Acho que foi um dos primeiros que li para você. – contei, retirando-o do bolso e estudando a capa marrom.

Sentei-me no chão e fechei os olhos, sentindo seu toque. O abraço que era comum sempre que trazia uma livro. O olhar de ansiedade e o sorriso de alegria enfeitando o rosto por ouvir uma nova história.

—Desculpe por ser repetido... Acho que preciso comprar livros novos... É só que... Foi seu aniversário recentemente e percebi que deveria ter lido uma história que você gosta. – comentei abrindo na primeira página.

Respirei fundo e engoli o ar duas vezes para limpar a garganta para poder começar a leitura, esperando que ela se ajeitasse como gostava, a cabeça em meu colo para que pudesse olhar minha boca se movimentar. Sabia que gostava disso para observar como eu pronunciava as palavras, era assim que aprendia, observando.

—Você me deixa desconfortável quando fixa seu olhar em minha boca quando estou lendo. – informei, parando a leitura para fitá-la, os olhos verdes e grandes fixos em meus lábios. – Está com mal cheiro ou tem algo nos meus dentes? – indaguei, passando a ponta da língua por eles para limpar se caso estivesse sujo.

Emma piscou e se sentou, balançando a cabeça levemente em uma negativa.

—Eu poderia muito bem estar observando sua boca por desejar um beijo. – atalhou com um dar de ombros.

—É por esse motivo que está observando-a? – inquiri, arqueando uma sobrancelha.

Swan negou novamente com um balançar de cabeça e ficou de joelhos, engatinhando os poucos centímetros que nos separava, ajeitando-se no meio das minhas pernas.

—Observo sua boca para ver como ela se movimenta. – contou. – Depois fico tentando imitar os movimentos que ela faz quando pronuncia certas palavras. É observando que sei quando a ponta da língua toca o céu da boca, quando vai atrás dos dentes ou quando os lábios devem se fechar, abrir... Eu aprendo a falar dessa forma. Não gosto de pronunciar as coisas erradas... Mas não farei mais se o incomoda. – garantiu, afagando minha bochecha.

Estudei-a, sendo invadido por uma onda forte de carinho e amor. Emma, e suas intenções eram sempre tão simples e puras, que por vezes me sentia desconfortável por imaginar algo que nunca se quer passou pela cabeça dela.

—Eu a amo. – falei, por sentir necessidade de pronunciar aquela frase e deixá-la saber como me sentia. Swan ergueu o olhar para mim e deu um sorriso amarelo.

—Não esperava ouvir isso. – comentou com as bochechas vermelhas. – Achei que vinha apenas da minha parte.

—Você me ama? – indaguei, o peito se preenchendo de alegria.

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

—Eu o amo, sim. Não sei desde quando, mas sinto saudade quando estou longe, e quando nos encontramos, e você me abraça... É a coisa mais certa do mundo para mim, apesar de saber que é errado... E estou desejando um beijo seu agora. – comentou baixinho.

—Pode ter todos que quiser, minha menina... E pode continuar observando. Não me incomoda de modo algum seus olhos em mim.

— “Então, naquela noite eu vi uma coisa que você não viu. Junto com as estrelas, desceu do céu também Cupido, voando com suas armas em direção à Terra. Ele soltou uma afiada flecha amorosa de seu arco, mirando uma sacerdotisa que meditava no templo erguido entre as árvores. Mas Cupido errou sua pontaria, e a flecha, em chamas, foi parar no campo que se estendia além da floresta, acertando uma florzinha branca como o leite. Imediatamente, a flor ficou roxa, ferida pelo Amor. Pois bem, essa flor, conhecida como amor-perfeito [...]” – puxei a florzinha solitária perto de mim, prendendo-a na página que estava, antes de prosseguir. Recordava-me até hoje quando ela havia me contado a história dos amores-perfeitos, muito melhor do que a de Shakespeare, mas mesmo assim ela adorava a versão de que uma flecha do Cupido havia a criado por acidente.

Seu cheiro leve de flores atingiu minhas narinas e meu corpo todo se empertigou com a essência tão real aquela noite que costumava exalar dela e que senti com tanta intensidade em sua pele quando dormimos juntos. Aquele cheiro vez ou outra retornava aos meus sentidos, contudo muito fraco, o que me frustrava por não ser capaz de senti-lo totalmente. Sempre que pensava, imaginava suco de flores correndo em suas veias no lugar do sangue.

Ela era feita disso.

Fechei os olhos e inspirei profundamente antes que o perfume fosse embora, torcendo que a noite mágica deixasse-o gravado para sempre em mim.

—Olá. – uma voz baixa e hesitante rodopiou até atingir meus ouvidos com doçura. Não ousei me mexer com medo de que quebrasse qual fosse o encanto que me permitia ouvi-la uma vez mais. Tinha certeza que era sua voz, afinal, ela sempre invadia meus sonhos quando dormindo, no entanto nunca pareceu tão real como agora... Isso só podia indicar que eu havia atingido a insanidade completa; que havia sofrido tanto de saudade que a consciência decidira me abandonar e me deixar viver para sempre em minhas fantasias. Minha mãe não iria gostar nada disso. – Fiquei sabendo que comprou a fazendo do Sr. Webber. – comentou e ouvi os passos pequenos se aproximando.

Virei-me lentamente, com medo que a visão tivesse sido afetada. Durante os onze anos quis tanto vê-la nem que fosse apenas de relance, todavia nunca tive essa sorte... Ou a coragem. Abandonara Londres de vez e nunca mais havia saído do condado. Tudo eu resolvia dali. Tudo para não correr o risco de encontrá-la, feliz, nos braços de seu marido e com seu filho, enquanto eu estava em pedaços por culpa dela...

Por culpa minha.

Sabia que encontrá-la feliz com outro homem iria me destruir, por mais que fosse tudo o que eu mais desejava que fosse... Feliz.

Estudei a imagem a minha frente, parecendo sólida, quente e viva. Usava um vestido azul escuro de mangas longas para uma noite de verão. Seus cabelos estavam presos da mesma forma que sempre usara, uma mecha de cada lado que se juntava atrás da cabeça, com o cumprimento louro dourado e cacheado caído em seus ombros e descendo por suas costas. Os olhos ainda eram da mesma cor de verde, todavia pareciam diferentes, tristes talvez, arrependidos e temerosos. Nunca os vi senti temor de nada antes. O rosto estava mais fino que da última vez e sua expressão era séria, quando mesmo sem esboçar nada, seus lábios costumavam permanecer com um leve sorriso.

Ela continuava linda, apesar dos onze anos, como se não tivesse envelhecido um dia.

Mas mesmo assim não parecia nada com a mulher que me lembrava, que carregava o verão dentro de si e que o tirara de mim quando escolheu Neal.

A mulher se remexeu desconfortável e apertou as mãos.

—Pensei que poderíamos... Conversar. – falou baixinho, parecendo concentrada.

Enruguei a testa confuso.

—Como... Como sabia que eu estava aqui? – inquiri. Acreditava que tirando meus pais, ninguém mais sabia do meu hábito de ir até ali todas as noites.

Ela aceitou a pergunta como um incentivo e deu mais um passo em minha direção, o ar que a envolvia, abraçando-me também como se tentasse me deixar mais perto dela.

—Comentaram comigo que... Você tem costume de passear durante as noites de verão pelos campos de trigo e que tem um local onde passa boa parte do tempo. Só não me disseram que traz um livro consigo para ler. – apontou para minha mão onde apertava com força o livro.

Minha garganta trancou e senti dificuldade em respirar ao me dar conta que não era fabricação da minha mente e que Emma estava mesmo ali.

E por ansiar tanto por aquele momento, não sabia como reagir, o que fazer...

O que deveria falar? Ou não deveria dizer nada?

—Eu fiquei sabendo sobre Neal... Sinto muito. – balbuciei sem jeito, criando coragem para voltar a olhá-la. Não sabia como terminaria aquela conversa que ela queria ter, contudo sabia que não queria perder um só instante, porque teria que fazer durar a vida inteira.

Emma ergueu levemente as sobrancelhas, parecendo surpresa por eu ter tocado naquele assunto.

—Também... Vivemos juntos por onze anos e então um dia ele não estava mais lá. – contou, começando a andar. – Tem dias que sinto muita falta dele. Era um bom homem.

—Veio até aqui para falar sobre... Seu marido? – indaguei tentando esconder a descrença. Havia dito aquilo para ser educado, porque era isso que dizia para mulheres viúvas, não que eu quisesse uma resposta para confirmar que Emma preferia ainda estar com Neal.

—Você tocou no assunto. – retrucou.

Soltei uma risada sem humor, desviando o olhar para longe.

—Ainda está no período de luto. – observei e com a visão periférica a vi negar com a cabeça.

—Não. Mas decidi manter o meio luto. – explicou.

Respirei fundo, decidindo por perguntar aquilo que sempre rondou minha mente, mas nunca tive a oportunidade de descobrir. Belle não me contara nada sobre Emma ou sua família nos anos que se passaram. Tudo o que eu tinha era o que Milah ouvia e bondosamente, com uma pontada de pena, passava para mim pelas correspondências que trocávamos. Todavia ela nunca teve a resposta para a pergunta que tirava o resto da minha paz.

—Quanto ao seu filho? Ouvi dizer que teve um menino. – voltei a encará-la, sentindo-me ansioso para ouvir sua resposta, nem ousando respirar, como se isso facilitasse as coisas.

Seu semblante se iluminou com a menção ao filho e um sorriso desenhou seus lábios.

—Ah Henry é um rapazinho adorável. Ele é amoroso e carinhoso. Muito educado... – proferiu com uma animação que apenas as mães possuíam para falar sobre seus filhos, com todo o orgulho que a preenchia. - Está passando uns tempos com Belle, Gold e Gideon. – informou, com a voz um tanto tristonha e então fixou os olhos verdes nos meus, como se pedisse desculpas. – Ele não é seu, Killian. Demorei um ano para conseguir engravidar depois que me casei.

Aquiesci, dando-lhe as costas. Durante todos aqueles anos, mantive a esperança que o filho fosse meu. Que mesmo separados uma parte havia ficado com ela para que não estivéssemos de fato separados. Nutri o sonho que um dia eu o teria em meus braços, juntamente com Emma, como deveria ter sido.

Desejei e rezei tanto para que isso fosse real, que me senti ainda mais quebrado por saber que não fora capaz nem de lhe dar um filho na nossa única noite.

Não era a coisa de homem fazer, mas eu estava desesperado para chorar.

—E quanto a você? Está casado? – ela questionou como se não quisesse deixar a conversar morrer de repente.

—Não. – respondi sem me virar de volta. – Não me comprometi e nem me envolvi com nenhuma mulher depois que desmanchei o noivado com Milah.

—Sem filhos, então?

Fiz que não, encarando o céu.

—Como disse não me envolvi com mulheres para ter filhos... A última foi há vinte anos. – falei, decidindo deixá-la saber como minha vida havia parado. – Nove anos separados e quando voltei, quando consegui ficar com a única mulher que sonhei em ter filhos... Ela casou-se com outro. – grunhi, sentindo os olhos arderem com as lágrimas que começavam a se acumular ali. – Isso faz onze anos. Vinte anos no total desde que estive com uma mulher. E eu era louco para ter filhos, só Deus sabe como eu queria tê-los. – atalhei, girando nos calcanhares para ficar de frente para Emma, que abaixou a cabeça, as bochechas vermelhas e ela voltou a apertar as mãos.

—Sinto muito. – mussitou como se estivesse engasgando.

O seu murmurado “sinto muito”, deixou-me com raiva. Um “Sinto muito” não era o suficiente para todos os anos torturantes que passei sozinho.

—Ela me fez acreditar que a teria e simplesmente fugiu para os braços de outro, mesmo depois de termos feito amor... Aparentemente a culpa foi minha. – dei um sorriso de escárnio para ela. – Eu quebrei uma promessa, não tinha o porquê ela manter a dela de que me esperaria.

Swan ergueu o olhar parecendo ultrajada com a minha fala.

—Ela o esperou. – rebateu. – Durante nove anos. Eu o esperei. – explodiu com indignação.

—O que está fazendo aqui, Emma? – perguntei finalmente, cansado daquela conversa em terceira pessoa.

—Eu estou visitando Tinker e então... – começou e sacudiu a cabeça, como se estivesse se repreendendo. –  Na verdade vim aqui por sua causa...Eu sinto sua falta. Sinto muito, muito mesmo a sua falta. Precisava vê-lo... E conversei com Milah, ela disse umas coisas e... Por que você ainda vem aqui? – quis saber, parecendo nervosa, passando o foco para mim uma vez mais.

—Porque me sinto mais perto de você. – confessei simplesmente. – Quando estou aqui, lendo um maldito livro em voz alta sozinho, ainda posso sentir o peso de sua cabeça em minhas coxas. O toque de seus dedos em minhas mãos. Quando eu me sento aqui é como se eu voltasse a ser aquele rapaz que tinha sua menina em seus braços. Aquele rapaz que nunca deveria ter lhe dado ouvidos e saído daqui.

Emma respirou fundo e andou até estar parada bem em minha frente, quase colada em meu peito. Meus braços formigavam para envolvê-la e puxá-la, contudo me mantive imóvel, prestando atenção no mínimo tremular de fio de cabelo dela.

—Eu sinto muito, por ter causado dor a você... Por não ter corrido por aquele corredor para os seus braços. Mas ao mesmo tempo que sinto muito e que desejo que as coisas tivessem sido diferentes, não me arrependo da escolha que eu fiz.

Soltei uma risada sarcástica, a escrutinando de cima a baixo em suas vestes finas.

—Claro que não. Neal possuía um título, certo baronesa? Um título pequeno, mas ainda assim algo que o ligue a nobreza. Agora tem suas lojas e tudo foi Cassidy que lhe deu. Agora, você faz parte da nobreza que tanto a esnobou no passado e que se matam para usar algo desenhado por você. Agora eu? Fiz meu tio tirar meu nome do maldito testamento que começou esse inferno todo, apesar de ainda ajudá-lo na fábrica... Eu tive que trabalhar e criar minha fortuna...

—E fez um ótimo trabalho, Killian. – elogiou. – Agora é dono de uma fazenda e é muito bem falado na cidade. Se soubesse o que escuto falarem sobre os grãos da fazenda Webber ficaria orgulhoso de tudo o que vem fazendo...

—Eu não me importo com isso, Emma! – gritei, enfurecido por ela achar que status era uma coisa que ainda era importante para mim, que isso amenizava as coisas. – Fiz tudo isso por você e ainda assim não fui escolhido... Creio que... Não me amava como dizia.

Swan endireitou a postura e ergueu o queixo, tentando ficar a minha altura, talvez. Os olhos claros se fixaram decididos aos meus.

—Eu ainda o amo. – confessou parecendo sincera. – Nunca deixei de amar. Nunca. Estou aqui parada em sua frente, e pensando o quanto eu o amo, e o quanto quero me atirar nos seus braços e ser beijada de verdade, porque eu amo desesperadamente você. Mais do que a garota de quinze anos. Muito mais do que a mulher que o deixou no dia seguinte que fizemos amor. Eu ainda o amo e sinto a sua falta. Morro de saudade da sua voz, do seu toque, dos seus olhos em mim, de seus beijos... Estou desesperada para sentir sua respiração em minha pele, para estar com você mais uma vez como naquela noite. Você acha que foi o único que sofreu todos esses anos? Pois saiba que está enganado, Killian Jones! – bradou, o rosto todo vermelho e desde a hora que começamos a conversar, aquele momento de explosão dela, foi o que a deixou tão parecida com a menina de um dia. Que deixava seus sentimentos transparecerem. – Você estava lá, todo maldito momento em que estava com Neal. Estava lá me lembrando do que eu havia aberto mão. E eu me comprimi para acompanhar o ritmo dele. Fiz de tudo para esquecê-lo, todavia você permaneceu aqui. – bateu no próprio peito. – Não me permitindo seguir como deveria.

Pisquei confuso, sem saber como deveria reagir.

—Então... Por que escolheu Neal? – inquiri exasperado, porque nada parecia fazer sentido. – Por que não veio até a mim mesmo depois? Eu estava aqui, esperando-a!

—Porque... Por mais estranho que isso soe, eu também o amava. Eu amava o Neal, Killian.

Comecei a rir, por não estar entendo mais nada do que ela estava dizendo e começando a considerar que havia ido até ali para zombar de mim.

—Ainda está tentando me punir, não Swan? Veio até aqui para dizer que me ama, mas que amava mais o seu falecido marido?

—Não. – sua voz se tornou aguda e ela ficou em silêncio como se tentasse ordenar os pensamentos. - Eu amava Neal, mas nunca chegou perto do que eu sinto por você, Killy. Não estou tentando puni-lo... Não mais pelo menos. – murmurou envergonhada. – Ele precisava de mim. E na época, eu precisava dele. Ainda estava machucada e frágil por sua causa. Achei que era a melhor decisão, porque não acreditei que desmancharia seu noivado com Milah. Pensei que iria voltar com aquela história que eu fosse sua amante. – contou. - Eu amei Neal e tive anos tranquilos enquanto estive ao lado dele. Dei um herdeiro para ele. Fui uma boa esposa. Contudo não teve um dia que não pensava que se tivesse escolhido você, eu teria anos tranquilos e felizes. Eu amava Neal como um amigo... Não do modo romântico, entende? Nós fomos ótimos amigos enquanto vivemos juntos e tivemos momentos que foram maravilhosos. Dividi coisas com meu melhor amigo... – Emma suspirou pesarosa, como se decidisse não se prolongar mais no assunto. - Você perguntou por que estou aqui. Estou aqui para pedir perdão a você. Pela dor que causei em ambos. Por não ter acreditado em sua palavra de que se casaria comigo, de que voltaria. Por escolher, mesmo que inconscientemente me vingar de você. Naquele dia você afirmou “Você está se vingando” – recordou. – E eu me senti ofendida por considerar isso de mim, no entanto com o tempo, percebi que estava certo. Eu estava e não percebi isso até que fosse tarde demais. – despejou tudo de uma vez, a voz embargada, os olhos verdes brilhantes com as lágrimas. – Sei que pedir perdão não irá trazer os anos de volta, porém o deixará ciente de que sinto muito por não ter escolhido você, por ter feito o que fiz. Por ter me vingado de você inconscientemente... Eu sou humana, Killian e por mais que tente, não consigo ser boa o tempo todo e quando mais nova era muito pior, porque só seguia os instintos e raramente pensava nas consequências. Estou aprendendo com o tempo. Sinto muito por ter estragado seu sonho de ter filhos. Só queria pedir perdão, Killian. Apenas isso. – terminou com um dar de ombros, reprimindo um soluço.

Permaneci em silêncio depois de seu discurso, observando-a, ainda assimilando suas palavras, seu pedido de perdão. Swan apertou os lábios com força e abaixou o rosto, passando o dorso da mão nas bochechas.

 – Eu agora o deixarei em paz. – informou desconfortável e soando triste. – Se quiser conversar comigo, estou na casa de Tink. – avisou, dando-me as costas, como se sentisse derrotada.

Fiquei fitando-a se afastar em passos lentos. Seus ombros tremiam e eu tinha a impressão que Emma conversava consigo mesmo, como se se reprimisse. Estudei seus fios louros brilhantes balançarem conforme ela andava cada vez mais para longe de mim e sabia que precisava pedir para que parasse, que meu silêncio não significava o que ela estava pensando. Não significava que eu não queria vê-la ou que não a perdoava.

Não significava que eu queria que fosse embora mais uma vez.

Eu apenas não parecia encontrar força para falar através das emoções que percorriam meu corpo de forma anárquica pela sua afirmação de que nunca deixou de me amar. Pela sua confissão e palavras sinceras, que era algo tão típico dela quando percebia estar errada. Emma sempre engoliu o orgulho e se desculpava por seus erros.

 Estava em júbilo pelo seu pedido escondido nas entrelinhas para que eu a deixasse ficar e, fossemos felizes finalmente.

—Espere. – consegui proferir com a voz rouca de emoção. Minha menina estancou no lugar, os ombros tensos, sem se virar. Mesmo sem ver seu rosto eu sabia como deveria estar sua expressão: os lábios apertados, a testa franzida e um dos olhos fechados, enquanto deixava o outro meio aberto.  – Gostaria que eu lesse para você? – perguntei e soube que foi o suficiente para que Emma entendesse qual era a minha resposta.

Swan se virou, os olhos verdes um pouco duvidosos, mesmo que seus lábios sustentassem um meio sorriso.

—Você... Quer mesmo que eu fique? – inquiriu esperançosa.

—Claro que quero, minha menina. – respondi com toda a certeza de meu coração que batia descompassado tamanha alegria que estava sentindo. Tinha medo que a qualquer momento parasse se continuasse daquele modo. – Sempre quis. Cada dia, desde que eu a conheci, quero que fique e faça de mim sua morada... Seu porto seguro.

Os lábios de Emma tremeram e em um minuto senti-a se chocar contra mim, seus braços me envolveram com força e senti sua respiração quente em meu pescoço quando escondeu o rosto.

—Obrigada. Muito obrigada. – ela murmurava de forma enrolada. – Eu o amo. Eu o amo, Killian Jones. Eu sempre o amei minha vida toda, antes mesmo de conversar com você pela primeira vez. Lembro-me de vê-lo vez ou outra quando vinha visitar seus pais... E como suspirava. – contou, as bochechas rosadas estavam erguidas por conta do sorriso que exibia. – Muito obrigada por ter me perdoado.

Afaguei seu rosto, enquanto procurava as sardas de seu nariz, querendo desesperadamente prolongar aquele momento, para o caso de não ser real.

—Eu estou mesmo aqui. – sussurrou, como se tivesse acabado de ler meu pensamento, suas mãos subiram para minhas bochechas e as pontas de seus dedos acariciaram minha pele áspera por conta da barba por fazer. – Pode me beijar que prometo não sumir.

Emma se esticou e para facilitar, abaixei-me para ela, capturando seus lábios e no momento que os senti sobre os meus, algo pareceu explodir. Sua boca se abriu ávida, recebendo-me, enquanto se apertava contra mim com certo desespero. Suas mãos abandonaram meu rosto e foram se ajeitar em meus ombros, quando a senti amolecer por completo em meus braços, como costumava acontecer sempre nos beijávamos. O calor tão conhecido de seu corpo me envolveu e fui atingido com força pela necessidade que sentia dela. Nossas línguas ainda pareciam brigar para encontrar um ritmo certo, mas recusavam a se afastar. Um gemido saiu de Emma e meu interior se contraiu do modo delicioso com o som.

—Eu o amo, Killy. – sussurrou em um arquejo, quando se separou um pouco de mim. – Apenas para reforçar se não ficou claro.

Afastei-me, sem soltá-la do abraço em que estávamos e senti minha expressão refletida ne dela. Seu sorriso era largo, assim como o que estampava meu rosto, seus olhos estavam alegres e leves, como eu me lembrava e muito diferente de como chegaram ali, e sabia que nos meus a alegria finalmente estava de volta também. E seu semblante era de admiração, enquanto percorria meu rosto, como se não acreditasse na sorte que tinha. S

—Eu... Tenho minha parcela de culpa. – atalhei e minha menina enrugou a testa em confusão. -  Eu dei motivos para que não acreditasse em minha palavra. Prometi coisas demais que quebrei... Quebrei sua confiança muitas vezes, assim como a machuquei no processo. Eu também preciso de perdão.

Emma ficou séria, as pontas de seus dedos em meu rosto, desenharam meus traços, enquanto parecia se indagar dessa vez se eu era real. E não a culpava por se questionar, a mesma pergunta ainda se passava em minha mente que duvidava da cena que se desenrolava, mesmo depois de tê-la beijado, sentido seu calor.

 Era difícil acreditar que ela estava em meus braços depois de tantos anos longe e agora com a promessa de que ficaria para sempre.

—Está perdoado, meu amor. Não há nada pelo o que pedir perdão... Nós somos humanos e erramos... E não fique tão convencido de que foi o único a quebrar promessas. – retorquiu divertida.

—Como assim?

—Uma vez prometi ser todos os suas boas lembranças e não cumpri. Te dei recordações dolorosas. Mas estou aqui para cumprir com minha palavra... Se quiser mesmo que eu fique, irei fazer o possível para apagar tudo o que te fiz sofrer.

Soltei uma risada pelo nariz.

—Você ainda tem dúvida se quero que fique? – perguntei, sapecando um beijo em seus lábios. – Eu a amo, Emma Swan Charming... Recuso-me a pronunciar o seu último sobrenome que logo será substituído. – brinquei, tirando uma risada dela.

Mesmo contra toda a minha vontade, separei-me dela e entrelacei minha mão na sua, guiando-a para o nosso ponto de encontro quando mais jovens. Sentei-me e sem cerimônias, Emma se ajeitou no meio de minhas pernas, as mãos deslizando por minhas coxas até os joelhos. Passei meus braços ao seu redor, apertando-a de encontro ao meu peito como se tentasse colocá-la ali dentro, ainda temeroso que ela decidisse se levantar e ir embora. Estava me sentindo um verdadeiro tolo por toda aquela insegurança, mas simplesmente não conseguia evitar.

Swan deitou a cabeça em meu ombro, depositando um beijinho leve em meu pescoço que fez meu corpo todo se arrepiar com o contato.

—Obrigada por ter me esperado. – mussitou.

—Você fez isso uma vez por mim. Não foi fácil, eu achei que enlouqueceria cada dia que passava e não a tinha exatamente aqui. Mas fui forte e tive fé, que voltaria... Achei uma forma de mantê-la por perto.

—As visitas ao campo. – afirmou.

—Eu ajudo também na colheita. Lembra-me como começamos... Os empregados acham estranho quando venho. – contei divertido.

Minha menina segurou em minha mão esquerda e a estudou, passando a ponta do dedo pelos calos que agora a ornava e comparou sua cor alva com minha pele morena de sol, então beijou minha palma com devoção, levando-a até seu coração.

—Está sentindo? Ainda bate da mesma forma… - observou e eu fechei os olhos, reconhecendo o mesmo ritmo da batida que estava em meu peito. Senti o subir e descer que vinha dela, rápido. – Eu já tenho trinta e cinco anos, Killian. – começou e abri os olhos para fitá-la, sem entender onde queria chegar. – Não sou tão nova como fui um dia. Já sou mãe… - constatou. – Mas posso tentar te dar um filho. Conheço mulheres que conseguiram tê-los depois dos trinta. Eu posso ser uma delas. Nós podemos tentar todas as noites, todos os dias, quantas vezes quiser e eu aguentar... É claro. – abriu um sorriso envergonhado. – Eu quero tanto lhe dar um filho, Jones.

Pestaneei e tive a noção do momento exato que as lágrimas que vinha segurando bravamente até ali, desceram por meu rosto depois de sua fala.

—Eu sempre quis que fosse mãe dos meus filhos. – afirmei, beijando sua testa. – E iremos tentar, porém se não conseguirmos, está tudo bem. Eu vou ter você. – garanti para tranquilizá-la. Eu a conhecia muito bem para saber que se culparia se caso não engravidasse. – Mas e quanto seu filho? Ele não ficará bravo de ter um homem no lugar do pai dele? Não que eu queira roubar o lugar de Neal... Nunca pensaria algo assim. Apenas quero que... Tenhamos uma boa relação.

—Eu sei, meu amor. – sua mão foi uma vez mais para o meu rosto. – Provavelmente Henry não ficará feliz a princípio. Todavia ele irá entender… E outra, ele não irá querer que eu fique sozinha, agora que está no colégio. Se você prometer para Henry que irá cuidar de mim, acredito que irá concordar.

—Eu prometo. – assegurei. – E não quebrarei essa promessa.

—Ótimo! – exclamou feliz, pegando o livro do chão e o folheando, pensativa. – Talvez poderíamos ler esse livro na sua casa, em um lugar mais confortável. - sugeriu, arqueando uma sobrancelha provocativa para mim.

Ri, beijando aquela fina linha loura.

—Acredito que se eu levá-la a esse lugar confortável, não conseguirei me concentrar na leitura. – retorqui.

—É essa a minha intenção… - cantarolou, abrindo um sorriso malicioso. – Diga-me, ainda tem sonhos quentes comigo? – quis saber, empertigando-se.

Comecei a rir de sua pergunta e olhei para cima, sentindo meu rosto esquentar. Logo o corpo de Emma estava estremecendo com risadas também.

—Sim. Sempre. Todas as noites. – admiti, olhando em seus olhos.

—E como são esses sonhos? – indagou provocativa e se ajoelhou para que pudesse ficar de frente para mim.

—Envolve uma cama… - comecei, abandonando o livro e segurando em seus quadris.

—O que mais? – inquiriu interessada.

—Você e eu nela… - continuei, a voz distante.

—Com roupas ou sem roupas? – questionou como se fosse um detalhe muito importante.

—Sem uma única peça de roupa. - garanti, mordiscando seu queixo e descendo as mãos para a curva de seu traseiro.

—Eu em cima ou embaixo? - quis saber de modo inocente e arregalei os olhos de surpresa com aquela pergunta.

—Em… Embaixo. – engasguei, fazendo-a rir deliciada por conseguir me deixar constrangido daquela forma.

—Mas posso ficar em cima se eu quiser? – perguntou com a voz baixa e sedutora, abrindo os botões da minha camisa e se abaixando para beijar minha clavícula.

—Meu bom Deus, você não mudou nada. – constatei, sentindo o volume crescer em minha calça apenas com a imagem que se formava em minha mente. - Se você conseguir se manter. – entrei na brincadeira.

—Eu acho… Que você está falando demais. – desafiou baixinho em meu ouvido.

—Então acredito que terei mostrar para você quem está falando demais.

Seus olhos desceram para minha calça e aquela expressão travessa que tanto amava dela, tomou forma em seu semblantes, os olhos brilhantes, o verde sempre claro, escurecido de alguma forma pelo desejo.

—Garanto para você... – começou. – Que com toda certeza eu adorarei ver. – afirmou, a voz assumindo um tom sério. – Senti falta de poder brincar dessa forma... Neal não gostava de brincadeiras assim. – contou. – Não eram coisas adequadas de se dizer.

—Neal não sabia o que estava perdendo. – resmunguei, enquanto beijava a base de seu pescoço.

—Hmm. – ela gemeu, oferecendo-se ainda mais. – Isso é muito, muito delicioso. – balbuciou, enfiando as mãos em meu cabelo. - Faça amor comigo, Killian. Venho ansiando para ser amada de verdade mais uma vez. Ame-me como aquela noite. – pediu com humildade.

Assenti, puxando-a para um beijo, enfiando minhas mãos por baixo de seu vestido, escutando-a gemer e se contorcer, quando dedilhei o interior de suas coxas.

—Acho que deveríamos esperar para depois do casamento. – falei o mais sério que pude, apenas para ver sua reação. Eu não era tão forte assim. Não quando estava quase arrancando a roupa dela ali mesmo.

Emma abriu os olhos e vi uma pontada de irritação neles.

—Pff, até parece. – retrucou com sarcasmo, empurrando-me para o chão e se deitando sobre mim, pousando os joelhos de cada lado dos meus quadris, tentando-me ao se remexer levemente. – Vamos para casa, por favor. – suplicou, fazendo um beicinho.

Sorri contente com a frase “Vamos para casa”, agradecendo a todas as divindades para o caso de alguma delas ser responsável por aquela noite.

Girei, trocando nossas posições e então fiquei de pé, para logo erguê-la nos braços.

—Para casa, então. – concordei. Swan soltou um gritinho vitorioso e comecei a descer o morro em direção a casa da fazenda, o caminho e a noite, preenchidos com as risadas de Emma e os pedidos para que eu a colocasse no chão.

E pela primeira vez em onze anos, era finalmente verão para mim.

[...]

Estava ajoelhado em frente a Emma que pressionava os lábios com força, lutando contra a risada e evitava meu olhar. Sabia que se eu me permitisse olhar em volta, encontraria os outros dois casais, Regina e Robin, Tinker e Graham, prendendo o riso da mesma forma, quando deveríamos estar com expressões de completo desolamento no rosto, em consequência a todas as tragédias que haviam se desenrolado durante a peça.

As tochas fincadas no chão, iluminavam e separava o nosso palco improvisado nos trigais da plateia e as chamas bruxuleantes faziam sombras dançarem no rosto de minha esposa, que tentava a todo custo, manter a compostura, enquanto em minha mente eu não via a hora de chegar ao fim aquela encenação para que eu pudesse desenrolar o vestido em estilo grego que Emma usava. Ela estava deslumbrante como sempre, os cabelos soltos e uma coroa de flores na cabeça, mas apesar disso, preferia que o momento de ir para o quarto chegasse o mais breve possível.

Captei um olhar irritadiço de Belle que estava “coxia” e abaixei a cabeça, encostando a testa na de Emma e a puxando um pouco mais para perto. Aquilo havia sido ideia de minha prima que viera passar o verão conosco e decidira que seria uma boa ideia que montássemos uma peça para passar o tempo e nos divertimos. Ela ficara encarregada de adaptar o texto e direção, fazendo um trabalho excelente nisso, o problema era que não éramos atores muito dedicados. Ainda mais lidando com três casais que entre uma cena e outra, acabavam se empolgando e sendo consequentemente atingidos por pequenas pedrinhas que voavam em nossas direções por uma diretora incrivelmente brava.

Relanceei uma olhadela para a plateia. Nosso público se resumia a Branca, David, Henry, Gideon e Roland, que havia escapado de estar em cena, pois havia chegado aquele dia pela tarde do colégio. O filho de Emma, no início não parecia contente quando ela anunciara que iria se casar novamente. Passou um ano inteiro sem ao menos dirigir uma palavra para mim e me afastando de todos os modos possíveis, até que um dia, talvez a pedido de Emma, já que o garoto fazia de tudo para agradá-la, aceitara ir pescar comigo e quando garanti que não tinha intenção de roubar o lugar de seu pai, Henry pareceu baixar a guarda. Contava-me histórias das coisas que fizera com Neal e mostrava-me seus escritos, confessara para mim que gostava de escrever narrativas. Estávamos nos tornando bons amigos e bem no interior, eu torcia que em um futuro próximo, ele me enxergasse como uma figura paterna, não que me chamasse de pai, apenas que soubesse que eu estava ali para ele.

Escutei um praguejamento vindo de meu pai, que entrava em cena e Emma engasgou, apertando os olhos. Brennan tinha uma expressão infeliz no rosto quando parou atrás dos três casais ajoelhados de modo dramático um de frente para o outro no chão de terra e ergueu um dos braços, abraçando minha mãe que estava ao seu lado em seu figurino de Titânia, com o outro.

—“Vamos abençoar este lugar!” – sua voz gutural soou na noite silenciosa. – “ Que cada fada e elfo ande por aqui à vontade, espalhando felicidade! Enquanto isso, Titânia e eu vamos lançar nossas bênçãos sobre os leitos nupciais para que as famílias neles procriadas sejam sempre muito felizes.” – Emma abriu os olhos verdes e sorriu para mim, dizendo um “Eu o amo” sem som. – “Os três casais que aqui estão serão sempre fiéis no amor.” – a voz de meu pai se tornou mais terna quando ele abaixou o olhar para mim e Emma, passando para Tinker e Graham, e por fim em Regina e Robin. – “ Ninguém em suas famílias terá qualquer defeito, nem problemas de saúde.” – declarou e o lábio inferior de minha esposa tremeu, quando ela olhou para a plateia e então para trás, em direção à Belle, que saltitava impaciente em seu figurino de fada, estiquei o pescoço, tentando enxergar a mesma coisa que minha menina procurava. – “Todas as fadas e elfos deverão sair agora, pelo palácio, borrifando-o com o orvalho da madrugada, que terá o poder de realizar o encantamento. E os ocupantes desta casa serão assim abençoados com a doce e eterna paz e terão repouso tranquilo. Vamos todos! Nós encontraremos quando o dia raiar.” – gritou

Belle se empertigou e pulou, fingindo jogar algo no público, então se virou, esticando as mãos e dois ciscos louros idênticos cambalearam com dificuldade, vestidas de fadas também, os olhos azuis grandes, achando graça em tudo aquilo. Emma deitou a cabeça em meu ombro, observando nossas filhas, chacoalhando as mãozinhas brilhantes no ar, imitando Belle.

Margarita “Peggy” e Lília, haviam sido uma verdadeira surpresa... Pelo menos uma delas, já que esperávamos que um bebê estivesse a caminho. Então, assim que Lília finalmente saíra, Emma começou a gritar e em seguida, Belle começara a gritar também “Tem mais uma cabeça saindo!” e fui obrigado a sair do lado de minha menina, coisa que ainda me arrependia profundamente de ter feito, pois a visão lá embaixo, naquele momento, não era das mais agradáveis, e vi Peggy lutando para sair também. No fim, minha mãe e Branca, que trabalharam juntas no parto, estavam em lágrimas e por um momento achei que Emma também estaria, porém a encontrei olhando para minha prima cheia de si e soltou “Eu não disse vagina e nem dei piti” e Belle lhe deu a língua, rindo e se inclinando para beijar a testa suada de minha esposa.

Emma e minha prima, voltaram a se aproximar e em pouco tempo já haviam reatado a amizade há tanto perdida. Era normal ter Bell em casa durante os verões, junto com Gideon, e com a graça dos céus, sem o marido que havia ficado incrivelmente furioso com a união minha e de Swan, recusando-se a manter contato com ela. Não que Emma sentisse falta. Ela simplesmente dava de ombros e tirava sarro da situação.

Branca se levantou e pegou as netas, entregando Peggy para David e sentando-se com Lília. Bell deu um cutucão no filho e em Henry, que se colocaram em pé contra a vontade e correram até o palco, pigarreando duas vezes com dramaticidade.

—“Meu querido público.” – começaram juntos, a voz em um tom esnobe proposital. – “Espero que tenham gostado desta história. Mas, se ficou qualquer dúvida, imaginem que tudo não passou de um sonho... Um belo sonho que, apesar das dificuldades, termina cheio de amor e felicidade. Como a própria vida... Como um Sonho de uma noite de verão... Que um dia pode se realizar!”

Estudei Emma enquanto ela se levantava e caía na risada, abraçando os meninos, antes de correr para os pais e beijar o rosto de nossas filhas, mal esperando os aplausos. Graham e Robin riam um do outro por estarem usando “vestidos”, enquanto abraçavam suas respectivas esposas. Troquei um olhar com Belle que olhava orgulhosa seu teatro que mais saíra errado do que certo e entendi a sua escolha. Cada um ali, passaram por momentos difíceis em algum momento da vida, momentos desesperadores de quase perda do amor, da família... Da felicidade.

Emma e eu tivemos verdadeiras provações até que chegássemos ali, plenamente felizes, todavia isso nos ensinou, nos fez crescer e valorizar ainda mais o que tínhamos hoje. Vivemos por muitos anos com um sonho de verão, um sonho que por mais de uma década, achamos que havia sido de nosso último verão juntos...

Mas agora era real. Havia se realizado depois de tanta dificuldade.

Assim, era a vida. Ela primeiro o testa e o ensina, antes de dar aquilo que pede. Temos que parar de pedir as coisas já prontas e começar a pedir força para consigamos alcançar todas as etapas e obstáculos. Se começar por aí e manter a perseverança, o caminho se torna mais fácil de suportar.

Corri até minha menina dos cabelos dourados e olhos verde esperança. Meu verão particular e beijei sua têmpora, pegando Lília do chão e beijando sua bochechinha gorda, enquanto Peggy se divertia com a coroa de flores da mãe.

Eu viveria cada dia aproveitando o meu sonho, contudo o vivendo como se fosse o nosso último verão.




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Notas finais do capítulo

Meus queridos leitores....

Então foi isso. Nem acredito que concluí mais uma história no espaço de um ano e ainda mais nesta semana que considero especial... Nem se eu planejasse certinho daria tão certo usahsuahsh. Muito obrigada de todo coração por tudo: cada leitora que adicionou a história as listas de leitura, cada voto, cada leitura, cada acompanhamento, cada indicação para os amigos, cada comentário, as meninas que ajudaram a divulgar a história no twitter (desculpe por não escrever o nome de cada uma, eu acabaria deixando alguém de fora sem querer e não seria legal, mas vocês sabem quem são) e cada leitora que veio até mim conversar sobre a história, compartilhar suas teorias, me contar como a história estava ajudando-as de alguma forma... Sério, sou eternamente grata por isso e continuo me considerando sortuda por ter leitores tão queridos e que me apoiam da forma que vocês fazem. Espero de todo coração que tenham gostado do final da história, que tenha sido como imaginaram e quem sabe até mesmo melhor. Espero ter atingido a expectativa de vocês e não ter decepcionado ninguém. Espero que tenham tirado alguma mensagem da história... E principalmente, espero ter feito o dia de alguém melhor mesmo que por alguns minutos.

Muito obrigada por me deixarem fazer parte da vida de vocês por alguns instante enquanto liam. Por aceitarem passar esse tempo em minha companhia, dizem que o escritor escreve sozinho e o leitor lê sozinho, logo eles estiveram sozinhos um com o outro. Espero que tenham sentido todo o carinho que tenho por vocês e saibam que nesse período vocês foram amigos incríveis. Espero ter sido uma boa amiga para vocês também.

Fico por aqui, com o peito apertado por ter que me despedir de NUV e de vocês. E sobre futuras fanfics, infelizmente informo que por hora, não vejo nada no horizonte para Captain Swan. Não estou dizendo que não irei escrever mais sobre eles, apenas que acredito que está na hora de dar meus próprios pulos, sair da minha zona de conforto e trabalhar com minhas personagens originais. Todos serão bem-vindos para novas histórias (uma começará a ser publicada em junho), contudo para aqueles que não ficarão: muito obrigada por seu tempo e apoio. Eu realmente aprecio cada um de vocês.
Continuarei sempre por aqui (ou no twitter) sempre que precisarem.

Com amor muito amor e principalmente gratidão....

Lady.