lacrymosa -  string quartet version

A casa no fim da rua, caindo aos pedaços, não mostrava nenhum sinal de presença humana.

As janelas eram escuras, assim como toda a rua. Ainda há manchas de sangue pelo asfalto, mesmo com todas as construções demolidas, como se alguém tivesse se dado o trabalho de explodir cada estrutura. Não havia grama e nem árvores, era o início da Era Industrial no mundo bruxo. Entre uma gargalhada, a porta da única casa em pé abriu-se, saindo um homem alto, acendendo um charuto. Ele tinha seus olhos contornados de preto e uma cicatriz atravessava seu rosto.

Ele tinha todos os seus dentes quebrados, mas uma elegância em sua vestimenta, apesar de estar imundo. Aos poucos, vários saíram da casa, segurando maletas carregadas de bombas, com varinhas atrás da orelha. O último a sair fora um homem de boina, não era o mais alto, e nem o mais forte, entretanto, era visivelmente o líder quando tomou a frente do grupo na caminhada para o início da alameda.

Havia um jovem rapaz louro ao seu lado, pomposo, era o único que parecia ter tomado um banho antes do encontro, com um cigarro pendendo em sua boca, girando a varinha entre seus dedos. Ele ria de algo que um homem dissera atrás dele.

Era uma besta. Meio homem, meio lupino, escondia-se debaixo de seu tophat, segurando as bases de seu sobretudo negro, feito por medida. Ao lado do líder, havia um homem de meia idade, sério, o único que parecia saber lidar com a classe de suas roupas. Andava perto do homem no centro, como se fosse seu conselheiro. Conferiu seu relógio de bolso, brincando com seu bigode pontudo.

Um deles, não muito atrás, disparou um raio verde para o céu, em uma gargalhada que tomou o local sombrio. Ele tinha um olho azul e o outro negro, mas apenas o azul era visível com suas madeixas longas imundas cobrindo o direito. O céu iluminou-se em uma fumaça verde, aos poucos tornando-se uma caveira, com uma cobra deslizando-se delicadamente para fora de sua boca. Parecia vigiar o mundo. O líder parou, pegando algo no bolso interno de seu sobretudo negro.

Acendeu seu cigarro, tirando a varinha de seu bolso, a acariciando.

O garoto louro ao seu lado ajustou delicadamente a ponta de seu athame para dentro do forro falso de sua boina, assim como estava a de seu líder. Continuou brincando com cajado em forma de cobra, animado. O homem com metade de seu rosto queimado aproximou-se do líder, jogando fora seu cigarro.

— Chefe, você não acha melhor mandá-la...

— Fale diretamente, Nott. — ordenou uma voz feminina. Ela estava tão atrás do grupo, que era quase invisível. Seu rosto era jovem, mas tinha um traço de tristeza e desesperança quase tocável. Seu vestido negro cobria todo o seu corpo, até o pescoço e pulso, mas suas mãos estavam descobertas. Ela tirou seu chapéu tophat, abrindo caminho entre os homens. Era pequena, mas seus olhos eram enormes. — Talvez você seja o único que deva ser mandado embora depois da semana passada.

— Chega. — a voz do líder era baixa, mas cortante. A garota abaixou os olhos, recolocando seu chapéu. Ele tragou seu cigarro mais uma vez, virando-se para seu grupo. A iluminação esverdeada do céu parecia atingir apenas ele, dando-lhe uma iluminação única. Um sorriso terno nasceu no canto de sua boca, mas seus olhos eram gélidos. — Vamos começar.