Pérgamo escrita por Gardella


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essas história provavelmente será composta por vários pequenos capítulos pois não há tempo disponível para escrever bons grandes capítulos. Economizar na quantidade para esbanjar na qualidade.



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Era uma quinta feira de maio. Como de costume naquela cidade estúpida as manhãs começavam frio demais para que, ao meio do dia, tornassem-se insuportavelmente quentes.

Faith estava sentada no ônibus, com suas pernas estiradas de modo relaxado. Mesmo no calor de 28ºC ela usava seu casaco leve numa tentativa de esconder a blusa vestida do avesso.

O dia começara atípico. O sono de hoje fez com que ela desligasse o despertador e esquecesse de levantar. Acordou atrasada, já havia perdido o ônibus. Vestiu-se às pressa e só quando chegou no ponto de ônibus percebeu a camisa do lado errado, os cabelos sem pentear e o estômago roncando de fome. Miséria pouca é bobagem, como se não bastasse, numa tentativa vã de tentar chegar rápido no colégio, pegou um ônibus errado. Apesar de tudo conspirar para ela não sair de casa, ela conseguiu cumprir todas suas obrigações matutinas e, agora de consciência tranquila, seguia para casa onde ainda tinha muito mais a fazer.

Quando entrou no ônibus sentiu-se com sorte pela primeira vez no dia. Havia ainda um último banco na janela disponível, e ao jogar seu corpo no inflexível acolchoado sentiu algo duro contra suas nádegas.

Era hábito dos cidadãos daquela cidade, largarem os livros que já terminaram de ler em bancos de rodoviárias, aeroportos e estações de trem para que uma nova pessoa pudesse ter acesso a eles, no entanto, não era surpreendente que encontrasse um desses largados dentro de algum transporte público sem ser dado como perdido. Ela mesma já havia encontrado dois ou três. Saindo de cima do livro, colocou-o no assento ao lado e esqueceu-se de sua existência por metade do caminho.

Na pressa havia esquecido os fones em casa e agora era forçada a olhar a paisagem já conhecida pela janela grande e embaçada.

Uma mulher, aparentando cinquenta anos, cabelo pintado de preto enquanto a raiz implorava um retoque. Suas ancas eram largas. Largas demais. Ela tinha cor de sertanejo, gente que é branca mas adquire melanina pelo contato exacerbado com o sol. Sua blusa de manguinha com uma estampa floral grande tentava chamar mais atenção que suas coxas largas cobertas por uma bermuda bege elástica que parecia lutar para manter suas fibras juntas ao redor daquele enorme pedaço de carne. 

Faith tirou o livro no banco ao seu lado, não exatamente por educação, não queria ver o exemplar esmagado pela mulher glutona.

Quando sentou ao seu lado, foi empurrada pelas ancas da mulher, de forma que sentia as suas esmagadas contra a parede. Por mais espremida que estivesse naquele momento, teve a impressão de que a mulher mal tinha conseguido colocar uma de suas nádegas no banco.

O tempo parecia não passar, uma consequência do aperto juntamente ao calor e ao sol que incidia diretamente sobre sua janela. Não parecia haver ar o suficiente dentro daquele lugar, ou se havia, não chegava a ela. A agonia era tamanha que mesmo a sede passou a assombra-la. Decidiu saltar dois pontos antes do seu.

Quando desceu do ônibus parou alguns segundos para sentir a brisa batendo no seu rosto, o mormaço dera uma pausa por ela estar na sombra de uma árvore, a sede ainda estava presente, mas seu corpo já estava aliviado o suficiente para se importar com isso no momento.

Foi então que percebeu que ainda segurava o livro. Não era pesado, não achou ruim, colocou-o dentro da mochila e planejou deixa-lo em algum lugar publico no dia seguinte.


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