Letter of Smoak escrita por Megan Queen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, povo lindo do meu coração! :)
Sei que tenho andado sumida por esses tempos, mas tive motivos bem fortes para isso, então resolvi compensá-los com essa one...
Recentemente, perdi meu avô, e nem posso dizer o quanto isso me afetou, porque eu era muito apegada com ele, então digamos que isso gerou um bloqueio criativo horroroso em mim...:(
Mas daí a dor do momento me inspirou a escrever essa one que fala da perda e do recomeço, quando alguém que vc ama muito se vai cedo demais...
Espero que gostem e comentem!
Apesar de dedicar essa one para a Emily, também deixo meu xero especial para minhas grandes amigas aqui no Nyah: Mili, Regina Merlyn, Tati... e Becca, que chegou a pouco tempo mas já me ganhou!
Além de todas as outras fofas que tem me apoiado durante todo este tempo :)
Outra coisa, a Luzi, a beta super diva dessa one sugeriu uma música que eu amei e que se encaixa perfeitamente com a fic. O nome é "Bye Bye" da Mariah Carrie, então deem uma olhadinha, okay?
Boa leitura!



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Eu queria que nós pudéssemos passar os feriados juntos
Eu lembro quando você me colocava na cama a noite
Com o ursinho que você me deu que eu apertava tão forte
Eu achava que você era tão forte
Que você conseguiria passar por tudo
É tão difícil ter de aceitar o fato que você foi embora para sempre

Eu nunca pensei que eu poderia sofrer assim
E todo dia que a vida passa
Eu desejo que "eu possa conversar com você um pouco"
Eu sinto saudade, mas tento não chorar
Enquanto o tempo passa

E é verdade que você encontrou um lugar melhor
Mas eu daria
O mundo para ver o seu rosto
E estar perto de você
Mas parece que você foi muito cedo
Agora a coisa mais difícil é dizer adeus
Até, até logo
Até logo

— Mariah Carrie (Bye Bye)

Felicity Smoak

Nauseada.

Era assim que eu me sentia desde a reunião com o advogado de mamãe, em que ele fizera a leitura de seu testamento. Aquele era o fim da linha, quando você entende que não há mais volta e a ficha cai de uma vez.

Nos últimos dias eu havia inutilmente tentado conformar-me de que a mulher mais cheia de vida que eu já conhecera havia sucumbido a um maldito câncer de mama. Donna Smoak, a pessoa que me dera à luz, que me criara sozinha após o abandono de meu pai, que trabalhara de forma incansável, às vezes até a madrugada para conseguir juntar dinheiro suficiente para que eu ingressasse na faculdade dos meus sonhos. Aquela para quem eu sempre corria e chorava em seus braços quando as coisas estavam na pior, que me levantara dos meus piores tombos. A pessoa mais importante da minha vida.

Morta. A palavra tinha um gosto amargo em meus lábios.

Ela deixara para mim seus poucos pertences e, conforme especificado, uma carta guardada na segunda gaveta da cômoda que há em seu quarto.

Eu não queria ir até o seu apartamento, realmente não queria. Sabia que as feridas mal cicatrizadas se inflamariam novamente ao entrar naquele que fora o meu lar por tanto tempo e, depois que eu partira, meu porto seguro.

Mas, depois de receber uma ligação avisando que o prédio seria interditado, minha única chance de recuperar essa carta e o que quer que mamãe desejasse que fossem suas últimas palavras para mim, era ir até lá ainda hoje, quando todos os moradores poderiam recolher seus pertences.

Estaciono o carro em frente ao prédio antigo e observo o quanto a estrutura parece mais frágil a cada ano que se passa. Várias pessoas entram e saem rapidamente com caixas de papelão cheias do que devem ser suas coisas.

Aperto o volante com força entre meus dedos, criando coragem para entrar.

Ouço o toque do celular e atendo rapidamente ao ver o nome de Sara no visor.

— Oi...— minha voz soa fraca até para os meus ouvidos.

— Oi, Fe.— ela responde. – Onde você está?— pergunta calmamente.

— Em frente ao prédio dela.— sinto meus olhos encherem, mas seguro as lágrimas.

Você precisa entrar logo, Felicity.— ela diz. – Tommy me falou que os bombeiros estão em estado de alerta para um possível desabamento...— ela explica, como se estivesse falando com uma criança pequena. – Eu não quero que você perca essa carta, mas também não quero que, caso esse prédio realmente caia, meu noivo acabe encontrando o corpo da minha melhor amiga entre os destroços.— a voz dela falha.

Depois que Thomas, o noivo dela e chefe do Corpo de Bombeiros de Coast City, nos avisou da situação do prédio de mamãe, a própria Sara havia se oferecido para procurar a tal carta, já que por não estar tão abalada quanto eu, a busca seria mais objetiva e rápida, descartando o perigo.

Mas eu me recusei a permitir isso. De alguma forma, me pareceu errado outra pessoa entrar ali para recolher a carta de mamãe. Além do mais, essa seria minha única chance de me despedir do nosso lar. Tinha que ser eu.

— Eu vou entrar agora.— respondo, finalmente, no tom mais firme que consigo, ouvindo o suspiro aliviado do outro lado da linha.

Ótimo.— ela diz. – E Felicity... Seja forte.— pede. – Não demore mais que o necessário para se despedir de tudo.

— Tudo bem.— suspiro, retirando o cinto de segurança ao mesmo tempo em que desligo o celular e o guardo na bolsa, colocando-a sobre o ombro.

Saio e caminho até o prédio rapidamente. Atravesso a fita de isolamento após mostrar minha identidade e a chave do apartamento.

Subo as escadas com pressa, intimidada pelas rachaduras extremamente visíveis nas paredes de todo o lugar. Para minha sorte, mamãe morava no segundo andar, então logo estou de frente à porta do seu apartamento.

Respiro fundo e, ignorando o tremor em minhas mãos, giro a chave na fechadura, empurrando a porta levemente para que ela se abra. Caminho lentamente pelo carpete empoeirado graças aos 2 meses de abandono. Observo os móveis cobertos de pó e sinto minhas bochechas molharem com o aperto em meu coração se intensificando e minha garganta ardendo. Abro uma das janelas e me viro para ver o local iluminado pelo sol. Há tanto dela aqui que quase espero ouvir sua voz partindo do quarto, me perguntando o porquê de nunca trazer um namorado para lhe apresentar. Sorrio entre as lágrimas, tentando resgatar o som doce de sua gargalhada em minha memória.

Vou até a pequena estante e pego um dos enormes porta-retratos que ela mantinha ali. Sei que deveria procurar logo pela carta, mas realmente preciso desses minutos para guardar cada pequeno pedaço desse lugar na lembrança. Passo a mão pelo vidro, limpando a poeira para poder enxergar a foto.

Minha formatura.

Faço uma careta diante das minhas madeixas absurdamente negras. Lembro-me do dia em que pintei meus cabelos dessa cor e da resposta de mamãe à minha pergunta sobre se eu estava bonita no meu novo visual gótico.

“- Você está... exótica.” ela fez uma careta engraçada e um gesto expansivo de mão aberta sobre mim. Sorrio ao lembrar a sua feição de falsa inocência quando eu, irritada, retrucara que não era um animal a ser catalogado. Acho que mamãe nunca respirou mais aliviada do que quando eu surgi loira na frente dela, anos depois.

Mais fotos.

Nós duas na praça de alimentação do shopping. Eu, criança ainda, lhe mostrando um passarinho. Nós deitadas juntas no tapete. Eu dormindo no sofá, com um livro aberto sobre a barriga... Recolho todos os porta-retratos que consigo e vou jogando dentro da minha bolsa, que felizmente é enorme, enquanto pequenas lágrimas deslizam pelo meu rosto sem pudor. Fotos de Barry. Fotos de Caitlin. Do casamento dos dois no ano passado, onde mamãe pegara o buquê. Eu e Sara de bailarinas, com os braços cruzados e sorrindo cúmplices uma para a outra, quando tínhamos 7 anos. Nós quatro na cadeira da roda gigante. Eu abraçada à mamãe, que beija minha testa, no dia em que fui embora para Star. Achei que nunca choraria tanto quanto naquele dia, mas nos últimos 6 meses consegui chorar o bastante por uma vida inteira.

Engulo as lágrimas e resolvo procurar logo a carta antes que perca o controle de vez.

E então eu ouço.

O barulho de milhares de trovões sobre minha cabeça. Arregalo os olhos ao me dar conta do que aquilo significa.

Quando finalmente acordo do choque, em meio ao caos, ao pó e ao barulho de louças se partindo com violência, começo a correr na direção do quarto.

Antes que o alcance, porém, algo acerta minha nuca com força e, alguns segundos antes de perder a consciência, a única coisa que consigo pensar é que, se eu não morrer agora, Sara com certeza me matará mais tarde.

~*~

Oliver Queen

Percebo a tensão no rosto de Tommy desde que assumimos nosso plantão.

Quando ingressei no Corpo de Bombeiros de Coast City, ele rapidamente se tornou um bom amigo e tem sido assim por mais de 6 meses. De certa forma, conviver com ele tem me feito esquecer toda a bagunça que eu deixei para trás em Star City. Então Thomas e sua noiva, Sara, têm sido companhias bastante frequentes minhas. Além do mais, trabalhamos na mesma unidade, então digamos que convivemos bastante e isso me rendeu um bom conhecimento a respeito de suas manias.

Observo sua expressão contraída, como se estivesse esperando por algo. Não algo bom.

— Cara, o quê que tá acontecendo?— me aproximo, sentando de frente para a mesa dele, o vendo suspirar, cansado.

— Eu só estou preocupado com uma amiga.— ele diz.— Mas acho que é mais paranoia minha mesmo...— sorri forçado.

Antes que eu possa questioná-lo mais sobre isso, o alarme soa estridente e seus olhos arregalam-se.

— Não, não, não.— ele caminha rapidamente, pegando o rádio comunicador.— Sim, estou ouvindo. Av. Highwalls, certeza?— ele massageia a têmpora esquerda, parecendo agoniado.— Estamos a caminho.— grunhe, enquanto todos nós corremos, vestindo nossos equipamentos com uma pressa e adrenalina tão conhecida nesse lugar.— Preciso de um minuto.— ele ergue o dedo quando eu o apresso, batendo em seu ombro de leve, e tira o celular do bolso, fazendo uma ligação.— Sara... é sobre a Lis. Ela ainda está no prédio?— pergunta afobadamente e trava o maxilar com a resposta.— Ele... Ele desabou, Sara.— informa num ofego.— Calma, por favor, amor, calma. Eu...eu vou tirá-la de lá, o.k.? Viva.— promete, entredentes.— Agora eu tenho que ir...— desliga e começa a correr em direção às suas roupas, se vestindo com habilidade e me acompanhando até o caminhão.

— Sua amiga...— falo, a respiração ofegante pela corrida.— Ela está no prédio?— questiono e ele me encara com o semblante fechado.

— Sim.— responde, saltando na lateral e se agarrando a escada, comigo logo atrás.— Ela...— ele para, fechando os olhos brevemente.— É a melhor amiga de infância da Sara. Acho que já te falamos sobre a Lis algumas vezes. Na verdade, ela vai ser a madrinha do meu casamento...— dá um riso triste.— E, bom...— me encara e eu vejo a preocupação em seu olhar.— Ela perdeu a mãe recentemente. O prédio é onde sua mãe morava.— explica, sacudindo a cabeça como se não concordasse com o que diria a seguir.— Ela quis se despedir antes de ele ser interditado de vez.— estala a língua, saltando quando chegamos ao nosso destino, que por sorte não ficava muito longe.

— Relaxe, cara. Vamos tirá-la de lá.— dou um tapinha de leve em suas costas.

Antes que eu tenha tempo para questioná-lo sobre a aparência da tal amiga, ele começa a comandar a operação de resgate.

Resolvo me mover e corro para dentro do prédio, que ainda não desabou por completo, mas já está bastante danificado. Subo as escadas em ruínas, rachadas e empoeiradas, e logo o corredor se estreita por causa dos blocos de concreto que desmoronaram. Vejo algumas pessoas encolhidas num canto e as empurro para as escadas ao perceber que elas estão em estado de choque.

— Tem uma moça...— uma senhorinha arqueja para mim à medida que eu a conduzo.— Ela entrou junto comigo no prédio, mas não saiu do apartamento ainda...— sua voz sai trêmula, mas extremamente clara.

— Em que apartamento?— questiono, rapidamente, quando alcançamos a portaria. Vejo meus colegas correrem para dentro, pressa em cada semblante.

— 7.7b.— ela responde e eu assinto voltando para o prédio, que continua ruindo devagar.

— Connor, Riley.— chamo dois bombeiros que passam por mim.— Para os andares superiores.— aponto com a mão.— Vou procurar uma garota que está no segundo.— aviso e eles assentem, se espreitando entre os destroços e subindo as escadas.

Sigo pelo corredor estreito e empoeirado, forçando a visão a procura do apartamento indicado pela senhora.

Quando o encontro, não preciso fazer muito esforço e a porta cede por si só, soltando-se da parede e caindo ao chão. Pó, fuligem e escuridão impedem-me de enxergar com clareza e eu acendo a lanterna para poder ter uma visão melhor. Afasto a estante que está caída no meio da sala, pressa me corroendo ao ouvir o estalar do alicerce ao ceder.

— Alguém?— grito, empurrando algumas cadeiras no caminho para o que devia ser a cozinha, onde várias louças estão espatifadas pelo chão.— Moça?— chamo novamente, mas logo paro ao ver um par de pernas escapando por debaixo da mesa. Corro até lá e me agacho ao lado do pequeno corpo que, por sorte, se abrigara embaixo do móvel e por isso não fora mais atingido.

Prendo minha respiração por alguns breves segundos ao encarar o rosto jovem e angelical da loira desacordada, temendo o pior. Mas logo relaxo ao sentir sua pulsação, leve, porém ainda presente. Suspiro aliviado e levo a mão para sua nuca, levantando sua cabeça. Estremeço de leve ao sentir meus dedos molharem com um líquido pegajoso e, ao retirar minha mão de entre seus cabelos macios, constato que se trata de sangue. Provavelmente esse foi o motivo do desmaio.

O ruído do prédio me desperta e rapidamente, ainda que com delicadeza, pego o corpo leve da loira em meu colo, recolhendo sua bolsa também, tencionando carregá-la para fora dali o mais breve possível. Porém, mal dei três passos, ela se agita em meus braços, despertando de vez com um resfolegar alto, quase caindo no processo. Por precaução, mantenho-a apoiada contra mim, segurando-a pela cintura.

A garota pisca os olhos freneticamente e engole em seco ao encarar meu rosto, ainda confusa pela pequena concussão que sofreu.

— Deus! Eu morri e mandaram um anjo pra me buscar, é isso?— murmura, lambendo os lábios rosados, para umedecê-los. Mesmo em meio ao caos, não consigo evitar um minúsculo sorriso de diversão ao ouvi-la continuar divagando.— Estranho... Sempre pensei que mandariam minha mãe para me levar até a luz...— ela coça a testa, me observando atentamente.— Por que raios mandaram um anjo totalmente sexy vestido de bombeiro?— continua, distraída com meu rosto, alheia aos barulhos do prédio ruindo. Arqueio uma sobrancelha em sua direção e ela fecha os olhos, corando profusamente ao entender.— Você não é um anjo.— murmura, cerrando os olhos com força e se apoiando contra mim para não cair.— É claro que não. É um bombeiro. Um bombeiro que acha que eu sou louca...— parece repreender a si mesma, e eu sorrio sem me dar conta.— Ai! – ela geme de dor, levando a mão à nuca para depois vislumbrar o sangue em seus dedos, se afastando de mim com o susto.— O que inferno aconteceu?— questiona, tossindo por causa do pó.

— O prédio cedeu e você foi atingida na cabeça.— explico e ela assente devagar, parecendo recordar o acontecido, as peças se juntando em sua mente.— Teve sorte de ter caído embaixo da mesa.— informo.— Poderia ter sido muito pior...— acrescento, vendo-a varrer o local com os olhos, nostalgia presente em suas íris azuis.— Mas temos de sair daqui agora, antes que a construção desabe de vez e acabemos realmente mortos.— falo, recuperando meu senso de urgência que essa garota parece ter anestesiado.

Ela concorda e eu a puxo pela mão rumo à saída do apartamento, desviando dos móveis e cacos de vidro no caminho. Quando chegamos à porta, no entanto, ela estaca no lugar e tira sua mão de dentro da minha.

— Espera!— grita.— Eu preciso pegar algo!— exclama, me dando as costas e voltando para o loft sem mais explicações.

Ouço os estalos do concreto partindo e o barulho de coisas caindo, a poeira aumentando e dificultando a respiração.

— Moça!— chamo por ela, entrando novamente no imóvel, atrás da loira maluca que parece estar brincando de pega-pega com a morte.— Não temos muito tempo.— alerto, vendo a persiana cair da janela e procurando pelos fios dourados e brilhantes, à medida que afasto cadeiras, destroços de vasos e outros objetos.— Onde você se enfiou, garota?— rosno, agitado pelo perigo.

— Só um momento!— ela grita e eu sigo sua voz para dentro do que parece ser um quarto.

Vejo uma cama box virada de lado, roupas espalhadas pelo chão e a garota tentando desvirar uma cômoda sem muita paciência.

— O que você pensa que está fazendo?— esbravejo, mas mesmo assim vou até ela e a ajudo a endireitar o móvel. Ela me lança um leve agradecimento com o olhar e não responde minha pergunta, apenas abre a segunda gaveta e começa a revirá-la diante do meu olhar incrédulo.

— Achei!— grita, erguendo uma pequena caixa de papelão azul.

— Você se dá conta de que está arriscando nossas vidas ao desperdiçar o pouco tempo que temos à procura da porcaria de uma caixa?— grunho, furioso, e vejo raiva cintilar em seus olhos turquesa.

— Seu bastardo!— ela se levanta e empurra meu peito com o punho da mão livre.— Quem você pensa que é? Nunca pedi que viesse aqui pra me buscar!— acusa, ingrata.

Reviro os olhos e agarro seu pulso, começando a arrastá-la para a saída.

— O que diabos você está fazendo?— ela enterra os calcanhares no chão, nos emperrando. Céus! Nunca vi alguém mais difícil de salvar! — bufo, irritado com sua teimosia.

— Meu trabalho!— retruco, sentindo um novo tremor na estrutura, o lustre da sala caindo e se esfarelando no chão, por pouco a atingindo. Felizmente, fui mais rápido e a empurrei contra a parede, prendendo-a com meu corpo.— Tradução: Salvando nossas peles!— acrescento, ofegante tanto quanto ela pela adrenalina e dando uma piscadela prepotente que a faz revirar os olhos.

— Nossa!— exclama, com sarcasmo.— Meu herói!— bufa, me empurrando.

— Deixe seus agradecimentos petulantes para quando estivermos fora deste moquifo!— rosno, voltando a puxá-la em direção à porta, os estalos cada vez mais altos, me enervando.

Quando alcançamos a metade da sala, um ruído ensurdecedor é ouvido e vemos a laje acima de nós começar a rachar. A loira arregala os olhos, apavorada, para mim e eu começo a procurar rotas de fuga antes que sejamos esmagados. Mesmo sob seus protestos, pego-a no colo e corro em direção à primeira porta que encontro, o estrondo se fazendo ouvir no mesmo instante. A madeira é lançada com violência contra minhas costas e eu caio de mau jeito, com o corpo da garota por cima de mim dentro do pequeno cômodo.

Ótimo! Agora estamos presos em um prédio que está desabando sobre nossas cabeças. — constato, ao forçar a maldita porta e ver que ela não se abre.

~*~

Felicity Smoak

Observo a feição frustrada e desanimada do bombeiro à minha frente após mais uma das suas tentativas fracassadas de arrombar a porta. Encolho-me, abraçando minhas pernas contra o peito e me sentindo culpada ao vê-lo escorregar lentamente até cair sentado no chão, de frente comigo.

— Sinto muito.— murmuro, cabisbaixa.— Foi minha culpa.— assumo.

Ele apenas cerra o maxilar e escora as costas da cabeça na madeira da porta, fechando os olhos e fazendo uma careta de dor que não passa despercebida por mim.

— O que faremos?— questiono.

— Vamos esperar.— ele responde com a voz rouca, abrindo seus olhos de um azul extremamente penetrante na minha direção.— E torcer para que a estrutura aguente o suficiente para dar tempo de sermos resgatados.— conclui, fechando os olhos novamente com o novo ruído que ouvimos.— Droga. Isso dói.— grunhe entredentes.

— Suas costas?— pergunto e ele assente, com a testa franzida.

— Peguei uma pancada forte antes de cairmos aqui.— explica.

— Posso ver?— sussurro, não sei bem por que.

Ele abre os olhos outra vez e fica me encarando em silêncio por tempo bastante para que minhas bochechas corem. Depois, sem dizer uma palavra, começa a se livrar da jaqueta do uniforme de bombeiro.

Se eu perdi o ar ao vislumbrar seu físico sob a regata branca, acho que desaprendo a respirar quando ele a arranca num movimento fluído. Suspiro ao ver as cicatrizes espalhadas por seu tórax musculoso e a tatuagem em seu peito, contra a pele bronzeada.

— São feias, né?— ele me traz de volta à realidade, passando o indicador sobre uma das cicatrizes, onde parece ter havido um ferimento grave.

— Elas não me incomodam.— retruco, levantando-me sobre os joelhos ao mesmo tempo em que ele se aproxima, de sobrancelha erguida, e me vira as costas, mostrando-me o que eu pedi.— Todas tiveram uma causa nobre, suponho.— acrescento, prendendo o ar ao tocar de leve na marca roxa logo acima de suas costelas.— Há algo de muito belo no fato de você tê-las conseguido enquanto salvava vidas...

Pegando-me de surpresa, ele gira rapidamente, quase chocando nossos narizes, e segura minha mão.

— Meu nome é Oliver.— diz, me encarando com uma expressão indecifrável e, não sei o porquê, seu nome me parece familiar.

— Felicity.— retruco, rápida, atordoada pela proximidade.— Meu nome é Felicity.— meneio a cabeça e ele me lança um sorriso mínimo antes de voltar-se novamente para frente.

Mordo o lábio inferior, observando o hematoma de Oliver, e começo a analisar as prateleiras ao redor, já que coincidentemente caímos na despensa de mamãe, onde há de tudo um pouco.

Levanto-me e caminho até achar o vidro do gel que ela sempre usava quando alguma de nós levava uma pancada forte. Ele é leve e causa uma sensação de frio no local onde é aplicado, aliviando a dor. O pego e retorno para Oliver, voltando a me ajoelhar atrás dele.

— Vai arder um pouco.— aviso, colocando uma porção na minha palma.

— Felicity, eu sou bombeiro.— ele ri pelo nariz e eu me estapeio mentalmente por minha gafe.

— Okay, então, Sr. Durão...— zombo, começando a aplicar o gel em suas costas, sentindo os músculos tonificados sob as pontas de meus dedos. Ele enrijece de leve, mas logo relaxa enquanto eu faço uma pequena massagem no local machucado.

— Me desculpa por ter sido grossa com você mais cedo.— murmuro, estremecendo ao ouvir os estalos acima de nossas cabeças.— Sei que estava apenas fazendo seu trabalho.

— Tudo bem.— ele assente devagar.— Posso te fazer uma pergunta? – murmura de volta.

— Claro. – digo. – Na situação em que nos encontramos, não acho que haja algo mais para se fazer, além de conversarmos...

— O que tem nessa caixa que fez você voltar no meio do perigo para buscá-la? – ele aponta na direção do papelão azul, no canto do cômodo.

Suspiro ao ouvir sua pergunta.

— Longa história. – solto o ar pesadamente, pegando mais um pouco do produto para aplicar em suas costas.

— Eu sou um bom ouvinte. – ele dá de ombros.

Rio pelo nariz com sua insistência, mas paro ao ouvir um estalar alto.

— Minha mãe morreu de câncer 1 mês e meio atrás. – falo, num fôlego só, a garganta fechando.

— Eu sinto muito... – ele sussurra.

— Eu também... – encolho os ombros. – Ela era a melhor pessoa que já conheci. – acrescento. – E deixou uma carta pra mim nessa caixa.

— Desculpe por ter sido tão duro. – pede. – Eu não fazia ideia.

— Tudo bem, eu entendo. Como já disse, você estava apenas fazendo seu trabalho. – meneio a cabeça com um pequeno sorriso.

Levanto-me e bato a poeira de meu vestido, caminhando até a estante para guardar o gel.

Outro tremor me faz fechar os olhos com força, levando a mão até a nuca, que lateja, e me sentindo tonta. Antes que assimile a dor, sinto as mãos grandes de Oliver em minha cintura, me fazendo estremecer com o toque inesperado.

— Me deixe ver isso aqui. – ele pede, levantando meus cabelos com uma das mãos e me surpreendendo com a sensação de arrepio que se espalha por minha nuca ao toque de seus dedos calejados. – Você tem água em algum lugar? – pergunta profissionalmente, me despertando.

— Hmm... – balbucio, ainda perdida, até entender sua pergunta. – Na bolsa. – indico, me virando e batendo de frente com seu peito pecaminosamente musculoso. Assim fica complicado pra minha sanidade...— sacudo a cabeça, me afastando dele para pegar a tal bolsa, lhe entregando e me virando de costas novamente.

— Muitos porta-retratos, hein? – ele ri pelo nariz e eu coro ao me lembrar desse detalhe. – Achei! – exclama, abrindo a tampa da garrafinha de água mineral que sempre trago comigo.

Em poucos segundos, sinto sua mão molhada em minha nuca e me encolho com o ardor. Ele faz isso por várias vezes até limpar todo o sangue.

— Não machucou muito. – informa, passando o polegar com delicadeza pelo local, o que me faz fechar os olhos por um momento. – Só a pancada é que foi forte. – explica, empurrando meu cabelo para cima do ombro e depois se afastando para guardar a garrafinha de água. Seguro um gemido de frustração e me viro para vê-lo sentar-se encostado à parede, enquanto veste novamente sua regata. Graças a Deus por isso!

— Melhor sentar. – ele aponta. – Os tremores vão continuar por um tempo. – acrescenta.

— Você acha que vamos ficar muito tempo presos aqui? – questiono, sentando-me ao seu lado e prendendo meu cabelo num coque alto.

— Não sei. – Oliver coça a cabeça. – Se os tremores continuarem diminuindo e a equipe de resgate tiver certeza de que o prédio não vai desabar de vez, vão mandar homens à nossa procura. – dá de ombros. – Uma hora. Duas quem sabe. – deduz.

Assinto, fechando os olhos e encostando a cabeça em seu ombro. Se ele se incomoda, não demonstra.

— Felicity... – chama após algum tempo e eu o encaro. – Sempre há a possibilidade de tudo isso cair e acabarmos soterrados. – informa calmamente e eu arregalo os olhos. – Eu só estou querendo dizer que, no seu lugar, eu leria logo a carta. – seu olhar cai sobre o meu profundamente.

Reflito um pouco sobre o que ele diz e assumo que, quanto antes eu ler a carta de mamãe, melhor. Afinal, ninguém pode garantir que sairemos daqui com vida e, na pior das hipóteses, eu gostaria de ter lido as últimas palavras de Donna Smoak para mim.

— Tudo bem... – suspiro, engatinhando até o local onde a caixa caiu. Pego-a e volto a me sentar ao lado de Oliver.

Depois de algum tempo observando-a, quando acho que consigo me controlar, retiro a tampa.

Surpreendo-me ao notar mais fotos, sentindo o olhar de Oliver seguir o meu.

— Você era uma criança fofa... – ele comenta e eu rio, ainda que com os olhos marejados, para a foto onde eu, com 5 anos de idade e vestido azul rodado, estou sentada na janela, os cabelos presos num coque alto lateral. – Essa era sua mãe? – aponta a fotografia maior, onde estamos juntas no casamento de Cait e Barry.

— Sim. Era. – engasgo com o peso da palavra.

— Dói falar dela no passado, não é? – ele pergunta baixinho e eu o encaro, surpresa por vê-lo lendo meus pensamentos. – Eu sei como é. – suspira, baixando a cabeça. – Perdi meu pai no fim da adolescência e minha mãe há 11 meses. – sua voz soa cansada e de repente tenho a sensação de que minha dor ameniza à medida que me compadeço da dele.

— Eu sinto muito. – sussurro e ele aquiesce, ambos encolhendo os ombros com o novo tremor.

— Eu... não superei muito bem. – ele admite. – Por isso me mudei para cá, apesar dos protestos de meu padrasto, e trouxe minha irmã. Era demais para nós dois. – revela.

— Oh. – é tudo que consigo dizer, realmente interessada em que ele continue.

— Sabe, Felicity, é meio difícil ser um bombeiro, salvar várias vidas todos os meses e não estar lá para resgatar sua mãe quando ela sofre a droga de um acidente de carro. – seu tom é amargo. – Quero dizer, qual é o sentido disso?

— Não foi sua culpa. – ponho a mão em seu antebraço forte, como se fosse um gesto natural e o olhar caloroso que recebo em troca aquece meu coração de uma forma até então desconhecida por mim, que me fascina e assusta ao mesmo tempo. – Eu... – limpo a garganta, sem graça por perceber que nosso contato visual durara muito mais que o convencional ou necessário. – Você poderia ler para mim? – lhe estendo o envelope rosa-pink, extremamente “Donna Smoak”, com as mãos trêmulas.

— Eu não acho apropriado... – ele murmura com cuidado. – Quero dizer... É algo tão pessoal. – explica.

— Por favor... – insisto. – Não sei se dou conta. – meus olhos lacrimejam.

Depois de um suspiro longo, ele assente e pega o envelope, abrindo-o com suavidade.

Assisto Oliver analisar as primeiras linhas com o cenho franzido e logo um sorriso divertido, ainda que surpreso, brota em seus lábios, me intrigando.

— O que foi? – questiono, confusa.

— Tenho certeza de que eu adoraria sua mãe! – ele exclama, sacudindo a folha levemente.

— Provavelmente. – anuo. – Todos a adoravam, na verdade. Mas por que diz isso? – insisto, confusa.

— Escute... – Oliver limpa a garganta. – “Para minha linda garotinha. Primeiro de tudo, quem quer que seja a pessoa que está lendo essa carta para Felicity... Sim, eu a conheço bem o suficiente para saber que ela usou aqueles seus olhos extremamente azuis no modo pidão para convencê-lo a ler isso.— ele ri pelo nariz e eu o acompanho, revirando os olhos quase como se a estivesse vendo de braços cruzados e sorriso vencedor ao dizer essas palavras. – Isso é adorável da sua parte... – a carta continua. – Principalmente se você for um homem. Solteiro. Ela é solteira também, sabia? – minhas bochechas esquentam com o sorriso divertido de Oliver, mas ele simplesmente continua. – Enfim, por mais adorável que isso seja, devolva essa carta para ela. Sei que Felicity provavelmente acha que não consegue lê-la, eu mesma quase não consigo escrevê-la, mas ela é bem mais forte do que pensa e eu sei muito bem disso! Espero que você também seja capaz de olhá-la nos olhos e ver a força que emana da minha garota.” – a essa altura, meus olhos já estão cheios e Oliver me lança outro olhar caloroso, enquanto eu balanço a cabeça negativamente. – Ela tem razão, Felicity. – ele concorda, baixando o papel e estendendo a mão para secar uma lágrima teimosa que escorre pela minha bochecha. Seu toque me acalma como se fosse algo natural e esperado. – Desde o começo, o que mais se destacou em você para mim, foi sua força, determinação e coragem. Poucas vezes vi um olhar tão decidido como o seu. E isso é... Belo. – afirma, me estendendo a carta, que aceito automaticamente, ainda abestalhada por suas palavras e seu olhar intenso. – Você não só consegue como deve ler isso! – ele incentiva com uma piscadela e uma leve carícia eletrizante na maçã do meu rosto.

Assinto, pondo a mão sobre a dele pouco antes de ele retirá-la. Fecho os olhos brevemente com o ranger profundo que se propaga ao nosso redor, abrindo-os logo depois para encarar a folha em minhas mãos.

— Se eu fosse você, sairia de perto dessa estante. – Oliver aponta, antes que eu recomece a leitura. – Ela está balançando muito e algo pode cair em cima de você. – alerta e eu concordo com a cabeça. – Sente aqui. – indica o espaço à sua frente. Obedeço e cruzo os calcanhares, me sentando sobre eles.

Volto novamente o olhar para o papel, suspirando antes de recomeçar a leitura:

“ Agora sim...

Espero que entenda minha decisão, querida. Eu preciso que faça o esforço de ler diretamente esta carta, Lissy. Se está fazendo isso, então é porque eu não consegui ficar, afinal de contas.

Me desculpe.

Eu juro que, de todo o resto, deixar você é a pior perspectiva que me apresentaram nos últimos 6 meses. Sei que nunca fui a mãe do ano, que muitas vezes te decepcionei, mas nada me dói tanto quanto não ter mais nenhuma chance de continuar te compensando por cada erro cometido.

Eu te amo tanto! Posso ter falhado em muitas coisas, não ter sido tão presente e não ter dado os melhores conselhos sempre, mas nunca deixei de amar você com todo o meu coração!

Sabe, Felicity, eu me orgulho muito da mulher que você se tornou. Tão forte, tão persistente e a pessoa mais amável que já conheci. Quando olho pra você, meu anjo, só consigo agradecer a Deus por ter me presenteado com sua chegada em minha vida tão conturbada. Você deu objetivo a cada um dos meus dias e quando olhei para seu rostinho assustado dentro do pequeno embrulho rosa há 26 anos, eu tive a certeza de que havia encontrado a felicidade nos seus grandes olhos azuis: Minha Felicity!

Cometi tantos erros, tomei tantas decisões tortas, mas no meio do caminho eu ganhei você e tudo valeu a pena.

Não estou dizendo que foi perfeito, você sabe que não foi.

Somos tão diferentes que muitas vezes eu me via sem ter ideia do que fazer e tinha vontade de correr feito louca pelo mundo! Quanto mais você crescia, mais parecida ficava com seu pai, o que me assustava bastante, embora nunca tenha te contado. Quero dizer, John me considerou insuficiente para ele... E se eu fosse insuficiente para você também? Nada me apavorava mais do que essa dúvida. Não foi fácil pra mim aceitar que teria a responsabilidade de educar sozinha um pequeno gênio como você. Mas eu tentei, e espero ter sido o suficiente pra você, Lissy.

Vejo em você tantas coisas que queria ter tido em mim. Sua vontade de crescer, seu foco, sua determinação. Acho que vai concordar comigo que muitas vezes você se mostrou mais madura que eu. (Por Deus, Felicity! Eu quem arranjei o seu primeiro namorado! Que mãe precisa fazer isso? E as vezes em que você me consolava após minhas frequentes decepções amorosas? Não deveria ser o contrário?)

Fico feliz por você ter se poupado de muito sofrimento ao ser tão focada assim, mas não deixo de me preocupar...

Quando você poupa demais a si mesma para evitar a dor, acaba perdendo muitas alegrias também. Eu já assisti você fazendo isso mais vezes do que consigo contar nos dedos, meu amor! E, agora que não vou estar mais por perto, preciso dizer algumas coisas a você...

Lissy, você não está condenada a cometer os mesmos erros que eu! Você é tão inteligente e tenho certeza que se sairia absurdamente melhor que eu se investisse de verdade no amor.

Seu pai nos deixou porque considerava-nos um erro, para ele, o amor era uma fraqueza e por isso ele virou as costas para a maior benção que poderia receber! Sua “racionalidade” o cegou para o fato de que o amor é uma via de mão dupla e se torna a maior força daqueles que se permitem mudar por causa dele.

Não seja como seu pai, meu anjo! Não fuja do amor, com medo de que ele a enfraqueça! Esse sentimento apenas a deixa mais fraca para que a outra pessoa lhe dê a força restante e vice-versa... Se você o renegar, sempre haverá um vazio em sua alma, o buraco que só outra alma incompleta pode preencher!

Eu imagino que meu último conselho será diferente do que a maioria das mães daria, mas eu nunca afirmei ser uma mãe normal, não é agora que isso vai mudar...rs

Se arrisque!

Pare de se esconder da vida! Ela só acontece uma vez, então viva! Saia! Conheça pessoas! Namore (!!!). ;)

Você vai quebrar a cara às vezes, é verdade, mas pelo menos vai saber que tentou ao máximo ser feliz! E, sinceramente, não conheço ninguém que mereça mais a felicidade.

Muitas vezes, aquilo que vai te fazer feliz parecerá um grande loucura, mas lembre-se: As pessoas felizes geralmente são um pouco loucas mesmo!

Olhe ao seu redor, sinta, abrace tudo que aquece seu coração. O homem dos seus sonhos pode não ser o cavaleiro da armadura brilhante. Pode ser o cara que você conheceu há menos de um dia, aquele que você até achou um bastardo, no primeiro momento... mas o sorriso dele chama o seu, os olhos dele lêem sua alma e o toque dele suspende sua respiração e incendeia sua pele... É loucura, não é? Eu sei que é!

Mas é justamente por isso, meu doce, que tenho um último pedido.

Sei que não vou estar aí para vê-la tomar grandes decisões futuras ou para estragar netos... Isso aperta meu coração. Porém, quero que faça algo que eu passei a vida inteira querendo que você fizesse:

Cometa uma deliciosa loucura!

P.S.: Se quer uma sugestão de alguém que já cometeu diversas loucuras, não pense muito antes de decidir fazer o que tem em mente. As melhores loucuras que podemos cometer, nascem espontaneamente! ;)

De sua mãe maluca que te ama mais que a si mesma,

Donna Smoak.

Várias emoções transitaram por meu coração durante a leitura, a mais forte sendo a saudade. No fim, ao mesmo tempo em que tenho os olhos cheios de lágrimas, um sorriso achou lugar em meus lábios trêmulos. Aquela carta era tão “Donna” que não sei como pude esperar algo diferente. Apesar do tom de despedida evidente em cada sentença, seu humor leve e sua personalidade pulsante estavam indiscutivelmente presentes ali. Rio ao pensar que nem após a morte, mamãe desistiu de bancar a Cupido para mim, mas o riso logo se parte em um soluço vindo do fundo da garganta ao constatar que ela não estará aqui para me ver encontrar o amor ou construir uma família. Meus ombros tremem à medida que o choro se intensifica.

Antes que tenha tempo para reagir, sinto as grandes mãos calejadas de Oliver me puxarem com familiaridade para seus braços. Me deixo ser abraçada por ele, meus soluços ecoando pelo pequeno cômodo e se misturando aos ruídos menos frequentes do prédio.

— Shiuss... – ele afaga minhas costas quando eu enterro a cabeça na curva de seu ombro. – Tudo bem chorar. – murmura, beijando meus cabelos. – Você vai ficar melhor, as coisas vão ficar melhores...

Surpreendo-me com a sensação morna em meu corpo, à medida que me aconchego mais contra o dele, a paz que acalma meu coração com as palavras doces que ele sopra contra meus cabelos.

— Obrigada... – sussurro contra seu pescoço, esfregando o nariz, o choro cessando após longos minutos.

— Não por isso... – ele devolve, sua mão fazendo movimentos circulares por minhas costas.

Afasto-me levemente, sem sair de seus braços, para poder encará-lo. Impulsionada por algum sentimento desconhecido, levo minha mão até seu maxilar bem marcado, ao mesmo tempo em que ele toca minha bochecha com a ponta de seus dedos, limpando as lágrimas de meu rosto vermelho. Seus olhos parecem imantados pelos meus e um pequeno sorriso brinca em seus lábios finos quando começo a acariciar sua barba rala. Por alguns instantes, apenas admiro os traços bem desenhados do homem que me salvou diversas vezes nas últimas horas.

— Eu estava certa... – inclino levemente a cabeça para o lado, ainda hipnotizada por suas íris absurdamente azuis.

— Sobre quê? – ele questiona, pondo uma mecha do meu cabelo, que se soltara, atrás da orelha. Seu polegar desliza pela lateral de meu rosto, me fazendo fechar os olhos brevemente.

— Você é um anjo. – respondo num murmúrio, abrindo os olhos, pondo a mão sobre a dele e entrelaçando nossos dedos. – O meu anjo da guarda... – acrescento e ele dá um sorriso de canto que rouba meu ar.

— Talvez... – ele fala, num sussurro rouco que acorda algo dentro de mim. – ...você seja o meu anjo! – conclui, seu olhar caindo em meus lábios entreabertos pela respiração falha.

É insano me sentir tão pateticamente atraída por um homem que mal conheço, eu sei. Mas, ainda assim...

Cometa uma deliciosa loucura...

Talvez seja esse o tipo de loucura do qual mamãe falara.

— Minha mãe... – engulo em seco. – ela pediu que eu fizesse uma coisa. – digo atrapalhadamente.

— Que coisa? – ele ergue uma sobrancelha, confuso pela mudança de assunto.

Arfo. Na falta de palavras para responder sua pergunta, aproximo nossos rostos ainda mais, roçando nossos narizes e então nossas testas. Antes que possa desistir, Oliver toma a iniciativa de colar seus lábios aos meus, ambos se encaixando de maneira surreal.

Passamos alguns segundos apenas provando o sabor dos lábios um do outro, os dele prendendo o meu inferior entre seus dentes, mas logo sua mão parte para minha nuca e sua língua invade minha boca num misto de carinho e desespero. Sinto a outra mão de Oliver descer por minhas costas e apertar minha cintura com posse, ajeitando meu corpo em seu colo e me fazendo pôr as pernas ao redor do dele. Nossas respirações se provando e nossas bocas se testando como se há muito tempo estivessem esperando por isso.

~*~

Oliver Queen

Aperto o corpo pequeno de Felicity contra o meu, à medida que separo nossos lábios em busca de ar, impedindo que se afaste e mantendo nossas testas coladas. Encaro o rosto vermelho da loira e a vejo morder o lábio inferior, sem-graça.

— Sua mãe pediu que me beijasse? – arqueio uma sobrancelha, apenas no intuito infantil de fazê-la corar ainda mais.

— Sim... – ela balbucia. – Quero dizer, não. Não nessas palavras, mas... – se enrola, começando a tentar sair de meu colo, mas paro seu movimento, apertando o agarre de meu braço em sua cintura fina.

— Quer saber? Esquece. – ponho o polegar sobre seus lábios, escovando-os carinhosamente com a ponta do dedo, o olhar fixo neles. – Sabe? Por mais maluco que pareça... – suspiro, sacudindo a cabeça e rindo fraco. – Eu posso te beijar de novo? – questiono, sem saber de onde veio essa vontade louca, erguendo meu olhar para encontrar o surpreso azul do dela.

O pequeno sorriso que ela solta, sem desgrudar os olhos dos meus, é a resposta que eu precisava.

Não é usual. Não é nem mesmo lógico. Mas, contrariando as expectativas, aqui estou eu, num prédio que há pouco tempo estava desabando sobre nossas cabeças, preso em uma despensa no apartamento de uma estranha falecida, beijando a filha dela, a garota mais incrível que já conheci.

Não é como se minha vida amorosa fosse calma. Seria hipocrisia da minha parte alegar que já levei algum relacionamento a sério. Pelo contrário, McKenna, minha última namorada, chegou a me dizer que, de longe, eu parecia o cavaleiro da armadura brilhante, mas de perto não passava de um idiota enrolado em papel alumínio. Palavras duras, mas a pura verdade.

Sinceramente falando, há muito tempo eu desacreditara na existência de uma garota capaz de fazer-me levá-la a sério. Tem escuridão demais em toda a minha vida e, até agora, todas as garotas com que me envolvi falharam miseravelmente em trazer luz para minha alma atormentada.

Não Felicity.

Desde o começo, apesar de toda a dor presente em seu olhar, eu vi um fogo, um brilho, que só a presença dela desencadeia. Em anos, ela foi a primeira pessoa a penetrar em meio a toda dor e mágoa que eu sentia pela morte de ambos os meus pais e fazer-me sentir verdadeiramente em paz com meu passado. É como se ela soubesse que gatilhos puxar e que botões apertar apesar do pouco tempo de convívio entre nós.

Durante muito tempo, me afastei emocionalmente da maioria das pessoas. Em meu trabalho, me habituei a enxergá-las como vidas a serem salvas, números em uma estatística. Achava que assim eu seria mais prático e útil, que seria mais eficiente em salvar rostos sem nome. Não consegui erguer essa barreira contra Felicity. Ela foi a primeira pessoa em um salvamento que eu vi como... Uma pessoa. Com sentimentos, uma história e personalidade próprias.

— O treinamento de bombeiros também ensina a beijar tão absurdamente bem para acalmar mulheres presas em um prédio desabando? – a loira murmura, parecendo falar consigo mesma, no instante em que desgrudamos os lábios.

— Na verdade, não. – respondo seu pensamento e seus olhos crescem uma centelha ao perceber que pensou alto, suas bochechas adquirindo um tom rosado adorável. – Posso sugerir ao meu comandante, se quiser. – dou de ombros com uma piscadela.

— Não, não! – ela discorda. – Gosto de saber que sou a única garota que você beijou em um salvamento. Não que esteja com ciúmes. Não sou possessiva. – nega com a cabeça rapidamente. – Pode beijar quem você quiser, quando quiser... – afirma e meu sorriso começa a crescer, diante de seu constrangimento cômico. – Deus! Só piora... – põe as mãos na testa, completamente vermelha.

— Prefiro beijar você... – digo, tirando suas mãos de seu rosto. – E como você disse que eu posso beijar quem eu quiser, quando quiser... – dou de ombros, me aproximando novamente.

— Oliver, calminha aí... – ela põe a mão sobre minha boca. – Estamos presos em um prédio em ruínas e, ainda assim, nos beijando dentro de uma despensa? – franze a testa numa careta engraçada, retirando a mão.

— Basicamente. Aliás, não houve mais ruídos há um bom tempo... – assinto despreocupadamente e ela arregala os olhos, talvez surpresa com meu tom de casualidade. – Mas, se você preferir, podemos sentar frente a frente e esperar quietinhos pelo resgate... – ofereço, soltando sua cintura e erguendo as mãos.

— Maldito seja... Recua depois de saber que não vou resistir à tentação... – ela murmura e eu ergo uma sobrancelha. – Eu realmente preciso pôr um filtro na minha boca, enquanto ainda há alguma dignidade para salvar. – se recrimina, fechando os olhos.

— Sou bombeiro. Salvar é minha especialidade... – provoco e ela ri, abrindo os olhos apenas para revirá-los.

— Você é louco! – dá um tapinha em meu ombro, soltando um gritinho assustado quando a ergo de cima de mim e a deito no chão, ficando por cima, num movimento só. – Completamente louco! – arfa.

— Todos nós somos um pouquinho, Smoak... – retruco. – O que foi? – pergunto ao ver sua expressão pensativa.

— O último pedido da minha mãe. – diz e eu franzo a testa, confuso. – “Cometa uma deliciosa loucura.”. Foi o que disse. Não acho que ela imaginou que eu iria me agarrar com um bombeiro dentro do apartamento destruído dela enquanto o prédio estava desabando, mas... – cora. – Você me entendeu. – diz, mordendo o lábio e meneando a cabeça. – Não deixa de ser loucura.

— Eu sou a sua deliciosa loucura, Srta Smoak? – questiono, provocando-a, e ela cora efusivamente, mas me surpreendo ao ver diversão surgir em seu olhar logo depois.

— Vai deixar de ser, se não parar de falação... – diz petulante, deslizando suas pequenas mãos de sobre os meus ombros pela extensão dos meus braços, que mantém a mim sobre ela, e me fazendo retrair os músculos.

— Okay... – rio pelo nariz, colando nossos lábios novamente.

— Espera. – ela me empurra no peito, nos afastando de leve. – Não vou transar com você em uma despensa, só pra constar. – afunda o indicador no meu ombro. – E não falei como se fosse transar com você em qualquer outro lugar... Não que eu não quisesse, mas...

Gargalho e interrompo sua fala, antes que ela diga algo pelo qual irá se crucificar pela eternidade, atacando sua boca num beijo nada paciente como os anteriores. É como se eu já sentisse saudade do sabor dos lábios de Felicity por antecipação e, só de pensar que depois de hoje dificilmente irei vê-la, me sinto inconformado.

Somos tirados de nosso momento quando ouço a voz de Tommy soar desesperada e preocupada a alguns metros, o barulho de picaretas quebrando os destroços e se aproximando.

— Felicity?! – ele grita e ela me empurra com certa violência de sobre si. – Inferno! – pragueja. – Você está aí?

— Tommy!!! Eu estou aqui! – grita, se levantando atrapalhadamente e tirando o sapato para bater o salto contra a porta.

Ainda confuso pela interação entre eles e atordoado por todo resto, ajudo-a a fazer barulho, focando apenas em sair desse cubículo.

— Estamos aqui! Aqui! – forço a voz e ouço o barulho se aproximar mais.

— Queen?! Você também está aí? Graças a Deus! Graças a Deus! – sua voz soa afobada e desesperada à medida que ele alcança a porta. – Se machucaram? Estão feridos?

— Estamos bem... Só nos tire daqui, por favor. – Felicity implora, ainda batendo na porta e eu continuo confuso demais para fazer algo mais além de ouvir os dois trocando exclamações de alívio, enquanto a porta é forçada e destroços são removidos da sua frente.

— Oliver? Tire-a de perto da porta. Vamos arrombá-la. – a voz de Tommy no modo de comando me acorda, e pego Felicity pelo braço, levando-a para o canto mais afastado do cômodo, tudo no automático.

Ponho-me à frente dela e prendo seu corpo entre o meu e a parede. Diferentemente da outra vez em que fiz isso, ela aperta seu pequeno corpo contra o meu, me abraçando.

As peças juntam-se na minha cabeça rapidamente ao mesmo tempo em que a porta vai sendo arrombada.

Felicity é a amiga de Tommy. A melhor amiga de Sara. A garota que eles tanto haviam tentado dar um jeito de me apresentar, mas nunca conseguiram que ambos arranjássemos um tempo para isso.

Eu a salvei.

Apaixonei-me por ela em poucas horas e sequer sabia que estava salvando a melhor amiga da noiva do meu melhor amigo.

E agora ele a buscaria e ela iria embora para Star novamente, sem nem ao menos saber quem eu sou de verdade ou o que eu sinto.

É loucura.

— Já pode soltá-la. – ouço a voz emocionada de Tommy e sua mão toca meu braço com força, me empurrando levemente para que possa ver a amiga. – Lis! – fala, puxando-a de mim para seus braços.

Ignoro a vontade de puxá-la de volta e vejo-a abraçá-lo fortemente.

— Como Sara está? – ela questiona, contra ele.

— Sara?! Você estava presa num prédio desabando e está preocupada com Sara? – ele fala, rindo de uma forma que evidencia seu alívio.

— Oliver cuidou de mim... – ela dá de ombros, corando, e me aponta com a cabeça.

Tommy a solta e se vira para mim parcialmente com um sorriso grato nos lábios.

— É... Parece que ele cuidou mesmo. – diz, saudando-me com a cabeça, e eu devolvo o gesto. Ao contrário do que eu imaginava, ele nada diz sobre nossa amizade ou sobre o fato de que eu era o cara que há tanto tempo ele queria apresentá-la. – Vamos sair daqui, okay? – diz, passando o braço sobre os ombros dela e encaminhando-a para o meio do monte de destroços que antes era o apartamento de sua mãe. – A propósito, já que perguntou, Sara está em casa, louquinha para arrancar o seu couro... – conta a ela, que dá um riso fraco, os dois se afastando de mim.

Olho ao meu redor, para o pequeno cômodo em que passamos cerca de 2 horas presos, pensando em como tudo parece um borrão. Meu olhar cai sobre a pequena caixa de papelão azul e a recolho, consciente de que a loira provavelmente a esquecera na euforia.

Dou as costas para o lugar e sigo pelo caminho que vira meu comandante tomar, passando por diversas obstruções e destroços antes de conseguir chegar à saída.

Ao chegar do lado de fora do prédio, a primeira coisa que faço é perceber a situação lastimável da estrutura, o que me leva a agradecer mentalmente a qualquer que seja a entidade que nos permitiu sobreviver àquilo. Porém logo meus olhos são atraídos para a pequena mulher loira que caminha entre as faixas de isolamento, vindo em minha direção. Franzo a testa. Confuso.

— Acho que você tem algo que é meu... – ela brinca, apontando a caixa em minhas mãos.

— Oh, claro! – sorrio de volta e lhe entrego o objeto.

Ambos ficamos encarando um ao outro por alguns segundos, sem saber o que dizer.

— Eu... – começamos juntos e rimos de nós mesmos. – Você primeiro. – meneio a cabeça.

— Obrigada. – ela diz suavemente. – Por ter me salvado. Três vezes. – diz, erguendo três dedos e eu rio pelo nariz, pondo as mãos nos bolsos. – E por ter me ouvido e sido tão legal comigo. – acrescenta se aproximando e me abraçando sem que eu espere.

— Hmm... – murmuro, pondo o queixo sobre sua cabeça e envolvendo-a com meus braços. – “Legal” é tudo que você tem a dizer sobre meus beijos? – provoco e sinto o corpo dela tremer pela risada.

— Idiota. – me empurra levemente, sem quebrar o contato. – Não vou agradecer pelos beijos! – faz um tom ofendido que arranca um riso curto de mim.

— Partiu meu coração. – brinco, beijando seus cabelos, e me afasto brevemente. – Vou sentir saudade de você, baixinha... – cutuco seu nariz, com um aperto real no peito ao falar sobre sua partida.

— Baixinha é a sua vó. – ela retruca, aliviando o clima por alguns instantes. – Também vou sentir saudade, Oliver. – suspira, tristeza em seus olhos azuis.

— Sabia que Star não é tão longe? – digo, dando de ombros.

— Então você sabe que eu moro em Star... – ela estreita os olhos.

— Sou bom de palpites... – pisco um olho e ela ri.

— Não gosto de despedidas... – murmura, depois de alguns segundos de silêncio.

— Então não faremos uma. – replico, baixando meus lábios até encontrar os dela, num toque deliberado.

Não me importo nem um pouco com a plateia quando sinto a loira jogar seus braços sobre meus ombros e corresponder ao beijo suave e carinhoso que trocamos. É como se eu e ela, nós, aqui e agora, fosse feito pra acontecer. Encerro com dois selinhos breves e colo nossas testas por um instante, para logo depois beijar a sua.

Faço o possível para não demonstrar a dor que sinto em meu peito quando ela se afasta e, com um aceno de cabeça, segue para seu carro.

Porém, pouco antes de entrar, ela se vira para mim com um sorriso travesso que só ela tem, me intrigando.

— E, Oliver? – chama. – O jantar de ensaio é na terça. Vê se, dessa vez, aparece! – pisca um olho e entra no veículo, partindo.

Encaro o rastro de poeira deixado por ela, ainda assimilando o que Felicity disse com um sorriso completamente idiota no rosto. Não posso evitar um suspiro divertido quando sinto os tapinhas de Tommy em minhas costas.

— Ouviu a patroa. Nada de dar um perdido dessa vez... – faz uma cara hilária de aviso.

— Como se eu precisasse ouvir duas vezes. – falo, mais pra mim que pra ele e ouço seu riso cansado.

— Vamos lá, bobão... – dá um tapa em minha nuca, começando a se afastar. – Teve duas horas de descanso, então pode ir começando a mexer esse esqueleto pro trabalho de verdade. – provoca e eu reviro os olhos, o acompanhando.

— Por que nunca me disse que Felicity era tão... Felicity? – questiono, alcançando-o, ao lado do caminhão.

— Eu disse. – ele retruca num tom entediado, subindo no lado do motorista. – Mas parece que você é do tipo que precisa de um incentivo mais forte. E, pelo visto, Donna Smoak não deixa de resolver as coisas nem depois da morte... – ri, de forma nostálgica e vejo o carinho que usa ao se referir à mãe da amiga. – Agora, vê se começa a trabalhar e tira esse bando de repórteres daí, Queen! – aponta na direção do prédio e dá a partida no caminhão.

— E você? – cruzo os braços.

— Como já resolvemos o maior problema, tiramos todo mundo do prédio e você vai cuidar da imprensa pra mim, vou pra casa, tentar evitar o assassinato da garota que nós dois demos duro pra salvar... – pisca e eu rio, entendendo, antes de vê-lo partir.

Sorrio, observando a confusão de pessoas ao redor, imaginando o quanto minha vida havia mudado drasticamente, tudo porque eu fui o cara que estava no lugar certo e na hora certa pra tentar salvar a garota mais difícil de ser salva. Quem diria que a carta deixada pela mãe dela seria o motivo que uniria duas almas tão vazias como as nossas na despensa de um prédio em ruínas.

Donna Smoak... A mulher que, como último pedido, queria que a filha cometesse uma deliciosa loucura e que mudou minha vida sem nem ao menos tentar.

Ela pode não ter deixado um testamento bilionário ou um legado heroico, mas deixou para trás amor suficiente para curar dois corações.

Eu não a admiraria menos por isso.

Esta é para as pessoas que acabaram de perder alguém
Seu melhor amigo, seu bebê, seu marido ou sua mulher
Levantem suas mãos bem alto
Nós nunca iremos dizer adeus
(Não não não)
Mães, pais, irmãs, irmãos
Amigos e primos
Esta é para as pessoas que perderam suas avós
Levantem sua cabeça para o céu
Pois nunca iremos dizer adeus

— Mariah Carrie (Bye Bye)


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Notas finais do capítulo

E então? Espero que tenham gostado e aguardo o feedback de vocês!
Pra quem lê minhas outras histórias, logo logo estarei na ativa novamente!
Xero ♥