First escrita por Hilana_C


Capítulo 1
Capitulo Único




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        Começou bem no primeiro dia de aula.

          Cheguei na sala como sempre. Não era novo e conhecia todos da sala.Havia apenas alguns novatos.A maioria já fizera algumas amizades.Mas havia essa garota.Não falava com ninguém.Estava somente sentada em algumas carteiras na minha frente.Pelo que deu pra ver,estava escrevendo com fones nos ouvidos.

          Decidi tentar enturmá-la.

          - Olá – eu disse. Notei que estava sem um dos fones e que a musica que escutava vinha de seu celular.

          - Hum?Ah, oi. - Ela deu uma rápida olhadela em mim. Usava um rabo-de-cavalo, assim eu via seu rosto, e pescoço, em parte.

          Seu cabelo era estranho. Não digo um estranho ruim, mas um estranho por ser quase único, já que ao invés de madeixas lisas (á força ou não) ela permanecia com cachos obviamente naturais. Cachos que em alguns lugares desciam em apenas ondas e alguns que desciam em molinhas engraçadas que iam pra cima e pra baixo enquanto ela mexia a cabeça.E o cabelo tinha uma coloração diferente,mas que se observasse bem,veria que não era pintado.Parecia um...loiro que foi escurecendo sozinho.

         Seu rosto era oval, boca pequena, nariz proporcional, olhos um tanto amendoados.

         Do nada ela virou a cabeça e olhou pra mim. Apoiando-se na mão.Unhas pretas descascando.

         - O que foi, já que você fica ai, me encarando? –Notei que não usava maquiagem nenhuma e que seus olhos eram de um castanho claro profundo. E notei que ela estava certa,devia fazer uns cinco minutos que eu a encarava.Enrolei.

         - Queria saber sobre o que está escrevendo.

         - Só uma pequena historia que veio minha mente. Comecei hoje de manhã , na hora que acordei.

         - E só saiu isso? – eu estava exagerando, ela já estava na ultima linha da folha.

         - Não questione a criatividade de uma escritora.

         - Ah, então quer ser escritora?

         - Não mesmo. Se fizer isso vou morrer pobre.

         - Ah – ri – E o que esta escutando?

         - Ai, depende sempre do momento. Agora,eu estou escutando AC/DC mas em seguida vem Kings Of Leon,Nirvana,Paramore,Kate Perry,Ke$ha...Tenho muitos gostos.

         - E...

         - Sentem-se, livro de ciências nas carteiras, cadernos abertos e anotando. – O professor falou. Me interrompendo – Meu nome é Carlos Alfredo,mas me chamem de Carlão.

         - Ei se você tem amor a essa historia esse celular e esse fone, larga isso. Ele sempre vê. – Puxei minha carteira para a detrás dela. – Ei, não sei seu nome ainda. – Perguntei enquanto pegava o caderno e o livro.

         - Anna.

         - Guilherme.

         E assim ficou. Conversamos a manhã toda (menos nas duas aulas do Carlão,cujo eu já explicara que era o diabo em forma de professor )sobre tudo:Musica,modas,manias,gostos ,livros,internet,ate sobre a vida amorosa.

         - Sabe que eu nunca beijei ninguém em quatorze anos?  – ela me confidenciou - Queria que fosse especial. Entende? – E ai ficamos em silencio, apenas observando os alunos e o professores passarem no corredor. Mas não parecia incomodo.Pra falar a verdade,a conversa,ou não-coversa nesse ponto ,ia bem.Em nenhum momento parecia que o assunto ficaria estranho,e em nenhum momento parecia que iria acabar.

         Mas ai veio o horário da saída e ela sumiu com um sorriso metálico, fones nos ouvidos e cachos balançando.

         O problema é que eu meio que queria ficar um tempo a mais com ela.

 

         Ela faltou no dia seguinte. E no outro.E no restante da semana.

         Eu já estava ficando preocupado. Porque ela não vinha?Será que estava doente?Onde morava?Será que eu poderia visitá-la?

         Eu passava os intervalos me perguntando esse tipo de coisa. Desanimado,apenas pensando.Meus amigos me perguntavam o que eu tinha,eu apenas respondia que não era nada.Sempre as mesmas perguntas vindas deles e sempre a mesma resposta.

         - Nada não pessoal.

         Logo eles pararam de perguntar. Só lançavam de vez em quando olhares preocupados.Eu fingia não ver.

         Eu perguntara pra todos da sala, e ate professores e coordenadores, mas ninguém sabia, e também não parecia ligar.

         Na sexta feira eu já estava desistindo, não sabia de que exatamente, mas estava. E me senti derrotado.Eu tentara de tudo,mas não conseguia achá-la nem nada.O pior é que tinha que admitir que sentia uma enorme falta da garota que conhecera no primeiro dia de aula.Sempre que eu entrava na sala,não importava o horário,sempre tinha um minúscula  e ridícula esperança de vê-la sentada em sua carteira,com os fones soando alto nos ouvidos,e a cara enfiada num caderno,escrevendo sua historia.E sempre via alguém que não era ela,sentado na carteira.

        Outra coisa que me incomodava era o fato de que seria feriado: Sábado, domingo, segunda e terça. E eu não tinha nenhuma esperança de vê-la nesses dias.

         De alguma maneira meus amigos conseguiram me fazer ir ao shopping. E tinham convidado a Leal.O nome dela era Larissa,mas todos a chamavam de Leal.Cabelos lisos,franjinha,branquinha,loira escuro.Olhos castanhos.Corpão.Ela era linda.Eu já ficara com ela muitas vezes,ela me paquerava,eu paquerava ela.

         Sempre rolara alguma coisa entre nós dois. E hoje,ela estava linda,a calça jeans marcava os pontos certos,a blusa com decote,sem ser vulgar,e ela estava num saltinho baixo.

         Fomos ao cinema. Eu ela e meus amigos.Iríamos assistir “Percy Jackson: Ladrão de Raios”.Tinha  estreado a umas duas semanas,e como era feriado,não tinha muita gente.Eu mal sabia sobre o que era o filme,só sabia que era baseado num livro.

         Já sabíamos o que iria acontecer em algum ponto do filme. Leal se debruçaria no meu ombro e viraria o rosto pra mim.Eu iria fazer o mesmo.Ela ia me beijar e eu ia beijar ela.Simples e fácil.Eu não pensaria em nada a não ser nela,e ficaríamos nos pegando quase ate o fim do filme.Era sempre assim.Sempre.

         Estava na cena da hidra. Percy,Annabeth e aquele garoto-bode lutavam pelas salvar suas vidas.Leal se debruçou e virou o rosto,eu virei o meu.A vi chegando mais perto e fechando os olhos.Me aproximei também.

         Já estávamos nos beijando há alguns minutos quando suas mãos foram ao meu rosto, nos separando. Ela me olhou nos olhos e perguntou:

         - Você me ama? 

         - O que?

         - Você me ama? – Eu não queria magoa-lá, e sabia que seria dramática, então dei a resposta mais sensata.

         - Obvio que sim - E sorri forçadamente.

         - Ótimo, porque quarta-feira estarei na sua sala e você me apresentará como sua namorada – Ela não me deu tempo de responder. Sorriu e continuou o beijo de onde paramos.

         O problema era que eu não a amava. Nem  queria ser seu namorado.

         O outro problema foi que junto com Leal, na quarta-feira a Anna também veio.

 

         O cabelo dela estava solto, os cachos cobriam seu rosto. Agora eu via que tinha outra coisa interessante em seu cabelo : a raiz era lisa.Aparentemente nascia assim e cacheava alguns centímetros abaixo.

Leal se agarrava a mim como se eu fosse a ultima coca-cola do deserto e Anna parecia não notar, concentrada demais em sua historia.

         Descobri que Leal era uma namorada ciumenta e possessiva da pior maneira.

         - Leal, volto já.

         - Onde vai?

         - Falar com uma amiga minha, ué.

         - Por quê?Quem? – Sua voz endureceu um pouco.

         - Aquela, a Anna. – apontei.

         - Vou com você. – E se levantou.

         - Tudo bem, então.

         Chegamos a sua carteira, já que Leal me fizera me mudar e ir para o fundão com ela. Anna havia parado de escrever e estava apenas cantarolando de olhos fechados.Sentei na cadeira a sua frente e sorri quando vi  que ela aparentemente estava saudável.

         - Oi Anna. – falei, parando o grafite que ela batia na carteira como se fosse uma bateria (Mania da qual me falara).

         - Oww, poxa, acabou com meu ri.. - e olhou pra mim – Ah,oi Guilherme! – e sorriu.

         - Porque faltou?

         - AMOR!Ande, me apresente a sua amiga! – Leal não deixou ela responder.

         - “Amor”? Não sabia que namorava.

         - Começamos nesse feriado.

         Então o professor entrou na sala. Conversa encerrada.

 

         A partir daí não conversamos quase nada. Leal me prendia constantemente e não desgrudava de mim.

        Só  uma vez. Vi ela sair de perto de mim dizendo que iria para a cantina e a vi tirando os fones de ouvidos de Anna e colocando a mão no livro que ela lia enquanto  dançava,meio que perdida no som.

        Não pude ouvir o que ela falava, mas pude ver a cara de espanto de Anna. Assim que Leal terminou Anna recebeu suas coisas de volta e ela se virou para a cantina.Assim que ela entrou na fila Anna me olhou,meio chocada,baixou o olhar e saiu com pressa.Pelo seu olhar notei alguma coisa errada.Uma tristeza que não era comum.

        No momento que me levantei pra ir atrás Leal voltou.

        - Onde vai?

        - Lugar nenhum – e sentei novamente.

        Agora Anna não só não falava comigo com me evitava. Sentava-se mais longe,não me olhava  nem direcionava a voz  pra mim.Passava as aulas com a cara metida no caderno e fones nos ouvidos.Nos intervalos trocava o caderno por um livro  ou as vezes ficava apenas em pé no banco,dançando um pouco enquanto cantava.

        E assim foi se passando o tempo. Um mês.Dois meses.Mais meses.Leal  continuava agarrada a mim,me chamando de amor.Me pergunto se ela notava que eu não queria nada com ela e fingia não ver,ou realmente não via.

        Chegaram as provas bimestrais e Leal me disse que as perderia viajando mais cedo.

        - Promete não me trair com nenhuma ai que você viu na esquina, rodando algo?

        -  Tudo bem. – Falei friamente.

        - Tchau amor. Te vejo em uma semana.Te amo.

        - Tchau. Eu também.

        As provas se iniciaram. Eu queria falar com Anna,mas ela sempre se atrasava e depois saia tarde demais.

        Primeiro Dia.

        Segundo Dia.

        Terceiro Dia.

        Quarto Dia. Ultima chance antes das férias.

        A esperei, não atendendo o celular, deixando meu pai pensar que eu ainda estava em prova.

        Já era quase fim do horário quando a vi sair. Levantei da cadeira e comecei a andar ate ela.

        - Anna – ela parou e apertou os olhos. Abriu e os virou pra mim,como pra confirmar.Não havia ninguém no pátio.Ela desviou e recomeçou a andar,com o passo mais apressado.

        - Anna – Parei em sua frente, agarrando suas mãos. Ela continuava olhando o chão calada,larguei  uma de suas mão e a levei comigo ate duas cadeiras,uma em frente da outra.

        - Sente-se. Por favor. – Hesitante ela sentou. Soltei sua mão e ergui seu rosto para olhá-la nos olhos. Ainda estava lá,a tristeza que eu vira naquele dia.

        - Porque tem me evitado? – Ela apenas negou com a cabeça. – Por favor, me explique.

        - Eu... eu não posso...Falar com você. – Ela falou com a voz tremula.

        - Por quê?

        - Porque não posso.

        - Por causa da Leal? – Ela demorou, mas fez que sim com a cabeça. Então soluçou.Me lembrei  daquele primeiro dia de aula ,ela havia me dito que não chorava,a não ser quando afetasse profundamente ela.E aqui estava ela.Chorando.Na minha frente.

        Não sei exatamente porque fiz isso, mas fiz.

        Peguei ela nos meus braços e levantei-a mais confortável e fiquei afagando seu cabelo enquanto murmurava baixo:

        - Shhhh.. Vai ficar tudo bem.Tudo bem.

        Depois de algum tempo ela já não chorava e ninguém falava nada.

        Ela se levantou.

        - Obrigado. Mas agora eu vou pra casa.

        - Obrigado você. E vai como?

        - A pé. A minha casa é aqui perto.

        - Te acompanho. Só pegar a mochila.

        - Não precisa. – Mas eu já voltava com minha mochila nas costas.

        - Vamos.

        E fomos. Ninguém falou nada.O silencio não incomodava.

        Chegamos a cada dela. A mãe que nos recebeu.

        - Olá!Anna vejo que trouxe um amigo. Milagre,nuca traz ninguém – Anna corou – Entrem,devem estar morrendo de sede,e aqui tem almoço.Vamos.

        Depois de um pouco de insistência acabei aceitando. Almocei ,conheci a casa.Anna morava com a mãe e a irmã mais nova,Maria.Depois do almoço fiz meu pai vir me pegar na casa dela.Enquanto ele não chegava ficamos conversando como naquele dia.Ela já havia trocado de roupa e tinha um coque na cabeça.Usava um short jeans e uma camiseta escrito “Paramore es uma banda”  .Seu quarto era simples,mas lotado de CDs e livros.E tinha um computador.Agora já tinha um sorriso no rosto e nos lábios.Estava linda.

        Meu pai ligou avisando que estava na porta. Anna foi me deixar.

        - Obrigado, pelo almoço e por me explicar.

        - Obrigado você. – Já estávamos na porta.

        Foi ai que percebi. Era provavelmente a ultima vez que eu a veria em um bom tempo.Ela tentava achar a chave certa.Cheguei mais pero e a beijei.De verdade.Com sentimento.E pelo o que eu me lembrava era seu primeiro beijo.

Ela deixou a chave cair e lentamente colocou as mão no meu rosto. E continuou o beijo.Depois de alguns poucos minutos nos separamos e ela abriu a porta,olhou pra mim:

       - E a Leal?

       - Tchau pra ela. – Ela riu e eu lhe dei um beijo rápido. – Me encontra no MSN. -Sorri.Ela sorriu pra mim.

 


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