Detetive Penélope escrita por Amorinha 1991


Capítulo 4
Castiel


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo veremos o Castiel como narrador.



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Eram 5:30 quando cheguei no trabalho. Abri a porta da delegacia e olhei para a mesa de Penélope. Espero que ela siga meu conselho e tire uma folga. Ela passou por muita coisa e precisa de um descanso. Será certamente um desfalque, mas prefiro ter mais trabalho por um tempo do que ver ela se matar de tanto trabalhar até não conseguir mais dar conta de nada e acabar parando em um hospício. Seria um desfalque bem maior. Ela é uma detetive brilhante!

Fui até a mesa dela, verificar se ela não tinha deixado o notebook na gaveta. Se estivesse ali era certamente voltaria ainda hoje. Não estava. Fiquei aliviado e sentei um pouco em sua cadeira. Fiz uma anotação mental de comprar uma cadeira melhor que aquela para quando ela voltasse. Levou uns 10 segundos até que visse o papel em sua mesa. Estava dobrado e escrito centralizado:

Mau humorado, leia.

É a cara dela. Depois de ser vencida em uma discussão chamar ele de mau humorado. Dei um pequeno sorriso e comecei a ler.

Caro Cas,

Eu compreendo que se preocupe por mim, e fico agradecida por isso. =) Acho que errou em me obrigar a aceitar isso dessa maneira, mas assumo: Você está totalmente certo quanto a eu precisar de uma folga. Vou aproveitar pra ver algumas das pessoas que há tempos eu não vejo. Principalmente minha avó Angel que se nega a usar telefones, ou computadores.

Era verdade a doce Angel sempre se negou a usar telefones ou email. Para ela não havia nada mais emocionante que receber uma carta. Ainda escrevo pra ela quando algo de emocionante me ocorre. Algo me diz que essa carta da Penélope vai dar um bom assunto pra escrever pra dona Angel.

Como é mesmo que ela costuma dizer? Ah,sim! ‘Essa tecnologia só serve pra afastar as pessoas, elas se contentam em se falarem só por essas coisas e se esquecem de fazer visitas. Se esquecem do valor de um abraço, de um singelo beijo no rosto, de um aceno de mão e de um olhar que diga muito mais do que qualquer palavra dita ou escrita.’

É dona Angel sabe mesmo das coisas. De repente me deu uma saudade dela. Quando eu tiver uma folga vou ter que visitá-la.

Talvez ela tenha razão. Talvez até possamos ampliar, complementar isso. Porque não pensarmos que, mais do que simplesmente a tecnologia, o vício e a fixação por uma determinada coisa, seja o trabalho, o celular, a internet, enfim seja lá o que for… Qualquer coisa no qual nos foquemos demais, é prejudicial. Faz-nos esquecer das coisas mais importantes, aquelas coisas simples que deixamos de prestar atenção todos os dias porque estamos focados demais em outra coisa.

Sei bem o que ela quis dizer, pode não parecer mas eu também tenho mania de me focar demais em uma determinada coisa, ou melhor... em alguém. Suspiro.

Ainda assim, mesmo sabendo disso, percebendo essas coisas… estou te deixando esse bilhete, que mais parece uma carta, por não ter tido escolha.

Não é bem assim senhorita Penélope, eu te dei a opção de ser demitida. Sorrio vitorioso como se ela estivesse ali pra ver.

Eu gosto de trabalhar, me faz bem. Sabe… Eu teria pedido uma folga quando achasse ser a hora certa para tirar umas feriazinhas. Eu sei que um dia eu teria pedido uma folga, pedido férias talvez mais de um mês.

Até parece, nesses cinco anos o trabalho é a vida dela. Nem quando eu a dispensava do trabalho e lembrava-lhe que íamos sair mais cedo pra festejar um pouco e se descontrair ela ia. Ela nunca ia, sempre vinha com a famosa desculpa “Não posso, tenho muito trabalho a fazer, e já que vocês todos vão festejar alguém tem que ficar de plantão aqui.” Pra depois me dar um lindo sorriso como se disse algo como: Você sabe que estou certa e que não vai me convencer a ir.

Não estou querendo feri-lo dizendo essas coisas, apenas… queria que você soubesse.

Até mais. Se mudar de ideia e precisar de mim, estarei com o meu celular sempre a mão. Sabe que nunca o largo. ;-)

Comecei a rir sozinho, lembrando de um tombo dela segurando na escada, documentos importantes em uma mão e na outra o celular. Desceu 15 degraus de bunda sem tentar se segurar no corrimão por estar com as mãos ocupadas. Uma pessoa normal jogaria os documentos ou o celular pro alto pra poder se segurar, mas ela não. Ficou uma semana dolorida e aguentando minhas risadas a cada vez que eu lembrava.

Um abraço, e obrigada por tudo. :-*

Essa era a Penélope. Ela tinha o dom de criticar de forma a dar em qualquer pessoa um soco no estômago com suas palavras e terminar o seu show com gentileza e educação.

Coloquei a carta-bilhete no bolso e me dirigi a minha sala.

Eram relatórios e mais relatórios, eu não aguentava mais isso. Precisava de ação. A única coisa que me deixava tranquilo nos dias que eram cheios de relatórios era saber que eu poderia chamar Penélope pra me ajudar. Ela era boa nessas coisas o trabalho que eu sozinho levo 3 horas pra completar com ela junto levávamos meia hora no máximo. Quando terminávamos eu não conseguia evitar chamá-la de ‘geniazinha’ ela me respondia com um soquinho no peito e a frase “Não sou geniazinha, você que é muito burro. Como conseguiu se tornar meu chefe?” Em uma dessas vezes eu respondi “Paguei propina ao responsável por decidir quem ficaria com o cargo” Sorri pra ela e ela riu da minha resposta e disse “Agora tudo faz sentido”

Estava em meu horário de almoço já, quando recebi uma ligação de um número desconhecido. Atendi, eu não dava meu número pessoal pra qualquer pessoa. Por isso decidi atender

‘Cas, rastreie esse número. Urgente! Tem um carro tombado e duas pessoas muito feridas. Não quis mexer nelas para não dificultar o trabalho da perícia.’

‘Você está bem?’ Como essa maluca me liga avisando de um carro tombado assim? Na hora me veio a imagem dela toda quebrada, sangrando e preocupada apenas com os outros. Só para variar, né?

‘Sim. Venha logo!’ E depois de me ordenar como se ela fosse a chefe simplesmente parou de falar.

Eu não sabia se ficava furioso ou preocupado. Eu sabia que ela era bem capaz de me ignorar por pura impaciência. Mas...Poxa, fiquei preocupado. Pois, eu também sabia bem que ela era capaz de estar toda quebrada e ainda sair correndo atrás dos responsáveis.

Chamei aos berros ‘Marcelo Brown!’

‘Senhor,estou aqui senhor Castiel’ Era sempre assim todos tinham medo de mim, só a Penélope que me trata ainda como se fossemos as mesmas crianças que se conheceram no orfanato.

‘Tem um número que está ligando pro meu celular, rastreie imediatamente!’

‘Senhor, sim senhor’ Eu amo ser chamado assim. Sinto-me como se estivesse no maior cargo do exército.

Enquanto ele se mexe e faz o trabalho dele eu ouço alguns barulhos pelo telefone não consigo identificar bem. E então...

Uma batida de porta. É claro, ela deve ter deixado o celular no carro pra podermos descobrir o local.

Larguei o celular ligado em cima da mesa.

‘Conseguiu alguma coisa Marcelo?’

‘S-Só ma-mais um minuto senhor’ Ele disse isso, mas até eu sei que computadores costumam nos enganar com a previsão de conclusão das coisas.

‘Seja o mais rápido possível. Se algo ocorrer com Penélope por ela ter saído de férias vou me sentir culpado o resto da vida.’

‘Preocupa-se muito com a senhorita Penélope, não é mesmo senhor?’

‘Aonde quer chegar Marcelo?’

‘A lugar algum senhor, só puxando assunto pra matar o tempo enquanto esperamos.’

‘Humm, entendo. Bom... respondendo a tua pergunta. Nós nos conhecemos a anos, muito antes de trabalharmos juntos. Quando éramos pequenos eu cuidava dela mas nos separamos ainda muito jovens. Eu tinha dezesseis e ela nove. Mas todos os anos eu ia ver ela no aniversário dela. Quando ela fez quinze anos eu fui entregar o meu presente de aniversário pra ela. Não sabia que seria o último por três anos. Eu perdi o aniversário de 18 anos dela.

Quando que eu desconfiaria que ela decidiria ser uma detetive e que seria tão brilhante como é? Eu não tinha como saber. E então ela veio transferida de outra cidade. Pode imaginar a minha surpresa?’

‘Perdoe-me senhor, mas o senhor está falando como um adolescente apaixonado. Já se declarou pra ela?’

‘O quê? M-Mas é cla-claro que não. Você está vendo coisas. Eu gosto dela como uma irmã. Nada mais, nada menos do que isso’

‘Pronto senhor. Aqui estão as coordenadas’

‘Bom trabalho Marcelo.’ Pego a chave do meu carro e saio correndo do meu escritório. ‘Katy!’

‘Ca-Castiel?’ Ela ficou vermelha, sempre fica assim quando falo com ela.

Não posso dizer que o problema é com Penélope ela ficaria furiosa e mandaria eu pedir pra outra pessoa fazer isso, mas eu sei que depois da Penélope ela é a única que pode fazer o que preciso.

‘Preciso que você faça o meu trabalho enquanto eu resolvo um problema, tudo bem pra você?’ Por favor diz que sim, por favor diz que sim. Eu ficava na torcida. Sabia que com ela ameaças de demissão não adiantaria merda nenhuma.

‘Porque não pede pra Penélope? Ela não é a senhora perfeitinha daqui?’ Ela diz enciumada e range os dentes.

‘Porque ela me deixou na mão tirando férias.’ Respondi fazendo cara de cãozinho perdido, um olhar triste, um beicinho e ela não vai resistir.

‘Droga Castiel! Porque fica fazendo essa cara irresistível? Isso é um golpe muito baixo, viu?’ Viu só? Eu disse! Eu sou bom nisso. Katy que não saiba disso, mas aprendi esse truque com a Penélope.

‘Mas eu duvido que aquela idiota tenha mesmo pedido férias, aposto que você a obrigou a tirar férias. Só espero que seja por não estar mais aguentando aquela garota insuportável e não por preocupaçãozinha estúpida com ela.’

Eu quis muito brigar com ela por chamar Penélope de insuportável, mas eu precisava dela no meu lugar. Quando Penélope voltar de férias, decididamente vou demitir essa garota.

‘Obrigado! Mande a perícia pra essas coordenadas, eu já as decorei mesmo’ Respondi dando um beijo rápido em sua face, pra ela deve ter sido como um sonho, pra mim foi um pesadelo. Mas era necessário, eu não podia deixar que ela notasse o quanto seu comentário sobre Penélope me afetou.

Saí correndo até o carro. Abri a porta, entrei pus as coordenadas no GPS e liguei o motor. Demorei, mas cheguei.

Enxerguei o carro tombado e recebi uma ligação.

‘Castiel, depois de várias ligações feitas para o pessoal da perícia, recebi a noticia de que em menos de 2 minutos eles estarão aí.’

‘Ok! Obrigada Katy.’ Esperei, se eram só dois minutos não havia mal em esperar.

A perícia foi rápida.

‘Ei seus panacas! É isso que chamam de perícia? Pensaram em verificar o banco de trás? Ou só se focaram nos da frente?’

‘Estamos fazendo o melhor que podemos senhor Castiel.’

‘Nesse caso acho que vocês todos precisam de exame de vista.’ Respondi apontando para o vidro de trás do carro onde dava pra ver que havia um papel grudado por dentro. ‘O que é esse papel?’

‘Não sei, não havíamos visto esse papel aí.’ Respondeu o jovem meio sem jeito.

‘Então vá verificar!’ Berrei.

O jovem foi lá e pegou o papel.

‘Não deve ser importante. São só letras sem sentido, totalmente desconexas.’

‘Deixe que eu vejo isso, seu incompetente.’ Detesto incompetência ainda mais quando tem pessoas do meu distrito em perigo.

Já suspeitando que fosse de Penélope peguei o papel e li mentalmente:

CAS, ENCONTREI UM BEBÊ.

NÃO DIGA PARA NINGUÉM.

TEREI QUE ME AUSENTAR POR MAIS DE UM ANO.

VOCÊ SABE...

PARA SEGURANÇA DELA.

ME DESCULPE!

SENTIREI TUA FALTA.

PENÉLOPE                                   

Devo ter ficado nitidamente mais aliviado.

‘Quer dizer que é algo importante? O que está escrito? Sabe decifrar isso?’

‘Sim eu sei decifrar. É de uma das minhas colegas de trabalho. Foi ela que me ligou avisando do acidente. Não é nada importante ela apenas está me informando que nunca havia visto um acidente tão feio assim e que apavorada com o que viu vai precisar de mais do que apenas uma semana de folga. Avisou-me que vai tirar um ano de férias pra tentar esquecer desse acidente e lamentou me deixar na mão durante esse tempo’ Nunca pensei tão rápido na vida.

Penélope sua doida, nunca soube lidar com crianças o que vai fazer com esse bebê? Como vai cuidar dele? Ainda bem que só li e pontuei o bilhete mentalmente, se eu o tivesse feito em voz alta eu não sei como resolveria a situação.

Colocou-me em uma situação difícil Penélope.


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Notas finais do capítulo

N/A: Não percam no próximo capítulo a visão do nosso Homem Misterioso



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