AMELIA

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As pessoas nutrem algumas ideias absurdas sobre feminilidade. Em algum ponto da história definiriam o que cabia às mulheres e o que não lhes dizia respeito. Definiram que as pessoas pertencentes àquele gênero deveriam ser delicadas, maternais, afetuosas e recatadas. Definiriam que aquilo lhe faria mulher, ou pelo menos, faria com que fosse mulher da forma correta.

Pensar sobre tais questões fazia uma gargalhada escrachada escapar pelos lábios de Amelia Bones. Se aquilo era o que definia uma mulher, ela estava mais próxima a um dragão do que de uma das integrantes do gênero feminino. A garota sabia que tinha fama de encrenqueira e mal humorada. Não se importava. Tinha consciência de que nenhum daqueles rótulos lhe pertencia verdadeiramente.

Não era encrenqueira, apenas não se calava diante a uma injustiça e lutava com unhas e dentes pelo que acreditava. Homens seriam admirados por tal característica, mas em uma sociedade patriarcal, mulheres devem se calar e aceitar o que lhes foi imposto. Bom, era mais fácil o inferno congelar do que a jovem se submeter a tão estúpidas convenções sociais. Além disso, também não era mal humorada, tinha apenas uma personalidade complicada.

A verdade era que Amelia Bones não era simpática, agradável ou afetuosa. E não via motivos para ser. Sabia que não era a pessoa mais fácil do mundo, mas havia muito tempo que desistira de pedir desculpas por ser quem era. Seu irmão jamais se desculpava pelo que quer que fosse. Sequer cogitava a possibilidade. Homens eram criados para serem assim. Homens eram criados para não sentir muito, mesmo quando estavam claramente errados. Mulheres, por sua vez, tinham a ideia de que deveriam ser "belas, recatadas e do lar" incutida em suas cabeças desde o momento em que nasciam. Era triste como algo insignificante como gênero poderia mudar completamente o destino de uma pessoa.

Amelia entendia tudo isso e, por entender, se esforçava tanto para fugir desse ciclo macabro e infinito. Não viera ao mundo para ser graciosa, bela ou maternal. Não viera ao mundo para distribuir sorrisos ou sonhar com amores impossíveis. Amelia Bones nascera para ser extraordinária. Nascera para ser uma das bruxas mais importantes de sua geração e entrar na história por sua genialidade e trabalho duro. Há quem diga que era uma grande presunçosa, eu prefiro acreditar que a moça apenas tinha consciência de seu potencial. Por que não deveria? No fim, ela fora de fato uma mulher excepcional e não deveria – ou iria – se curvar ou pedir desculpas por isso.