A mestra das poções escrita por Jude Melody


Capítulo 3
Poção do amor




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Os lábios dela não tinham gosto de mel. Tinham gosto de morango. E isso não era a metáfora de um tolo apaixonado. A manhã se iniciara comum. Pokkuru arrumou as camas e buscou água no rio. Ponzu ajoelhou-se diante do fogo para preparar o café. Logo ambos foram preenchidos pelo cheiro forte e conversaram sobre amenidades. Ele já não se lembrava de mais nada do que disseram. Estava muito distraído com o andar das coisas. O olhar de Ponzu, a forma como segurava a xícara, o meio sorriso, as mãos trêmulas dele.

Ela parecia tão próxima, tão atenta. E ele jorrava palavras sem entender muito bem seu sentido. Às vezes, Ponzu sorria. Sorria de verdade, exibindo os dentes brancos. E seus olhos verdes brilhavam. Ou talvez fosse apenas o brilho nos olhos de Pokkuru deixando tudo mais bonito.

Sentiu os dedos dela tocarem os seus, e os lábios de repente ganharam autonomia, pois o cérebro já não acompanhava o que tentavam dizer. Ponzu interrompeu algumas vezes, tecendo comentários fascinantes e inteligentíssimos que Pokkuru absorvia sem entender uma vírgula, pois estava ocupado demais decifrando o sorriso.

E os olhos piscaram e se esqueceram de abrir de novo. Ele sentiu a respiração dela. E depois sentiu o gosto. O gosto dos morangos que Ponzu comera nos primeiros minutos da manhã. Era um gosto bom que Pokkuru não desejava parar de sentir. Ergueu as mãos não tão trêmulas e buscou a textura de seus cabelos. Eram macios, mesmo em meio à selvageria da floresta. E Ponzu ergueu as mãos também, tocando as de Pokkuru. Ele se perguntou que gosto ela sentia.

A tarde correu em um ritmo mais ameno. Recolheram alguns exemplares das espécies de inseto que procuravam, ouviram o chilrear dos passarinhos e disputaram quem pescava mais peixes. A cada segundo, Pokkuru percebia que estava mais e mais enfeitiçado, mais e mais inebriado. E suas faces ganhavam uma nova cor, assim como as de Ponzu.

Quando a noite caía, e ele terminava de vestir as roupas após o banho, ouviu um zum-zum perto do ouvido e virou o rosto com deslumbramento. A abelha solitária rodopiava como as borboletas metafóricas no estômago do arqueiro. Ele estendeu o indicador para que a pequenina pousasse e murmurou três palavras. Ela partiu sem cerimônias tão logo Pokkuru fechou os lábios.

Uma vez, ele lera em um livro que a paixão é mesmo como uma droga. Ela vicia o corpo, fazendo-nos desejar mais da sensação provocada por quem desejamos. Mas, se era mesmo como uma droga, Pokkuru estava feliz em prová-la por alguns meses, pois, enquanto retornava à clareira, avistou Ponzu sorrindo para a abelha pousada em seu indicador. E os olhos verdes brilharam, preenchendo o mundo de encantamento.


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