Cornered escrita por ColorfulWolf


Capítulo 1
Sonho




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Fogo. Fogo por toda a parte. Ao seu redor, sobre ele, abaixo de seus pés. Labaredas ferventes e brilhantes lambiam o vazio em que ele se encontrava, iluminando a grande imensidão cinzenta. As chamas o queimavam por inteiro. Não há dor, no entanto, há apenas a agonia. Agonia de sentir o fogo queimando-o por dentro, consumindo-o, a agonia de sentir suas vísceras derretendo ao toque, de ser destruído por dentro. E ele se sente frágil, ele se sente fino, ele se sente fraco.

Sniper grita em desespero uma vez mais antes de cair no abismo bem mais sombrio do que aquele Limbo em que já se encontrara.

Seus lábios se abriram e seus pulmões sugaram a maior quantidade de ar que puderam no meio segundo em que ele despertara. Suas pálpebras se ergueram num pulo e ele arregalou seus olhos ao sentir a realidade o envolvendo. Porém, antes mesmo que pudesse descobrir aonde estava e o porquê, seu estômago contrai-se violentamente e ele se joga para o lado da cama e para o chão, onde seu corpo lhe faz o favor de expulsar todo e qualquer alimento por ele consumido nas ultimas doze horas.

Ao final de sua crise de náusea, Sniper está arfando e coberto de suor. Que ótimo. Era tudo o que ele precisava. Mais um daqueles malditos pesadelos que não o deixavam em paz.

Ele tremia e sentia frio. Bom, claro, estava sem blusa, usando apenas sua calça surrada com qual ia às batalhas diárias. No entanto, aquela não era uma noite fria, e eles estavam em pleno verão, o calor dominava os dias e as noites. E, mesmo assim, Sniper tremia como se estivesse em Coldfront.

“Sonhos malditos, não me deixam dormir” Sniper sussurra, irritado, consigo mesmo. Além dos sonhos, o mal humor do australiano devia-se, também, à sua condição atual. Uma forte dor de cabeça fazia pulsar suas têmporas e Sniper tem certeza de que sua cabeça irá explodir. Mas tal condição deplorável jamais teria sido possível sem a ajuda dele próprio. Noite passada uma garrafa de uísque fora roubada do armário da despensa, o ladrão era ninguém menos que o próprio Sniper, quem ficara ate tarde bebendo antes de, finalmente, cair no sono. Bom, no final das contas ele sabe de quem é a culpa.

Sniper expira pesadamente, pegando a garrafa meio terminada de cima da mesa de cabeceira. O uísque não era bom ou caro, o gosto e péssimo e faz sua garganta queimar, mas ainda assim, era o que havia na despensa na noite em que Sniper fora procurar algo para afogar sua consciência. Ele não poderia reclamar, pois dificilmente Redmond iria aprovar o gasto com bebidas alcoólicas. Sniper entorna a garrafa e o liquido desce sua garganta, queimando.

“Que deplorável” uma voz soa atras de si e Sniper se vira num pulo. Spy esta de pé atras de Sniper, uma expressão de nojo para o vomito ao lado da cama.

“Cale a boca” Sniper sussurra e toma outro gole de sua bebida “O que você quer?”

“Nada. Apenas ver como você esta”

“Estou ótimo” o sarcasmo era pesado em sua voz, mas Sniper realmente não dava a minima. Spy era a ultima pessoa quem Sniper queria ver agora.

“Sinto muito” o tom de Spy era de lamento verdadeiro, mas Sniper não se deixou enganar, já vira Spy mentir antes.

Uma ira descontrolada explode em seu peito e o australiano se vira novamente para seu companheiro de equipe.

“Ele ainda não morreu, caralho!”

“Sim, eu sei. Mas suas atitudes fazem parecer que sim” uma resposta simples, calma e direta, e que era verdade. Spy permanece impassível diante a ira de Sniper. Ele tinha razão, é  claro que tinha razão, como não poderia? Sniper então sente culpa por sua postura pessimista.

“Desculpa, eu...” as palavras lhe fugiam.

“Não se preocupe, eu entendo. Você ama seu pai”

Sniper não responde.

“Mas tenho certeza de que ele ficará bem”

“Eu espero” Sniper diz, infeliz. A aproximadamente uma semana, Sniper recebera a fatídica noticia de que seu pai havia desenvolvido um grave câncer de estômago, e lutava por sua vida. No telefone, sua mãe tinha uma voz embargada de lágrimas e mal conseguia dizer uma palavra. Sniper tentara acalma-la, mas sem obter exito.

O que realmente queria fazer era sair daquele buraco infernal e ir para junto de seu pai doente. Mas a Administradora negara o pedido, e o informara que poderia apenas ir a Austrália no próximo feriado – momentos raros em que os mercenários tinham 'folga' – em dezembro, para visita-los. Revoltado, Sniper se entregara a bebida e em um estado de deprimente pessimismo. Seu desempenho nas lutas ficando cada vez pior a cada batalha enquanto o consumo de bebidas alcoólicas apenas crescia.

E a unica alma que tentava ajudar era Spy.

“Por que você não vai se limpar e dormir? Amanhã cedo teremos que trabalhar”

Sniper suspira, derrotado.

“Está bem” sussurra, e poe a garrafa, agora quase vazia, de volta na mesa ao lado de sua cama.

Apesar de tudo, Sniper e Spy eram grandes amigos, e isso desde o inicio da vida de ambos no time Vermelho. Desde o primeiro dia haviam desenvolvido um companheirismo digno de inveja e desde então estavam sempre juntos. Sniper admirava e respeitava Spy, mas sempre soubera que nunca poderia realmente confiar nele, afinal, ele ainda era um espião.

Ainda assim, confiava em suas decisões, especialmente agora.

“Vou para o meu quarto” Spy anuncia, virando-se para a porta “Boa noite”

“Ta, boa noite” Sniper responde, indo para o banheiro.

 

 

A água quente desce sobre seus ombros, um pouco quente demais, mas Sniper não se move. Era boa a sensação do calor lhe envolvendo, bem diferente do sonho que tivera a pouco. Que raios de sonho foi aquele, alias?! Seria seu cérebro estressado lhe pregando pecas? Sniper não sabia, e naquela altura da noite já não se importava. Pensaria melhor sobre isso de manhã.

Ele rapidamente termina o banho e sai para o quarto, ainda molhado, a toalha pendurada em seus ombros o único tecido cobrindo-o.

Sniper caminha para o seu guarda roupas, mas para no meio do caminho, em frente ao espelho. Ele encara a si mesmo por alguns momentos, pensando. Sua pele levemente queimada pelo sol marcada por varias cicatrizes antigas e novas. Sniper observa cada uma delas, mas uma lhe chama a atenção. Um corte transversal em seu peito, que o 'matara' certa vez, agora nada mais que uma linha esbranquiçada. Tal golpe fora profundo e o fizera sangrar bastante, o autor daquele corte foi Pyro, do time Azul, com seu temido Fragmento Afiado de Vulcano. Sniper lembrava que apos ter sido cortado, suas roupas explodiram em chamas no lugar aonde o machado havia tocado. E morrera poucos momentos depois para logo renascer na sala de Respawn. Seus olhos percorrem as varias marcas de batalha e pousam sobre outra logo abaixo de suas costelas esquerdas, aonde varias cicatrizes pequenas e largas marcam sua pele. Aquelas tinham sido obra de Scout, com seu Batedor de Boston. Varias e varias outras marcas e cicatrizes decoravam seu corpo, e Sniper lembrava da origem de cada uma delas com perfeição. Mais uma vez seus olhos encontram outra cicatriz, mas dessa vez a de seu rosto. A pequena marca era composta por três pequenas cicatrizes minimas, uma em sua orelha esquerda, outra em sua bochecha e a ultima na ponta de seu nariz, todas a linhadas em uma linha reta perfeita. Aquela fora obra de Spy.

No inicio de seu trabalho como mercenário, Sniper fora escalado para o time vermelho. Spy, no entanto, foi para o time Azul a mando da Administradora. Já no primeiro dia de trabalho Spy confrontara Sniper e lhe dera essa cicatriz antes de mata-lo com uma facada nas costas. Sniper tinha certeza de que, caso pudesse se virar e observar, veria uma serie de cicatrizes da faca borboleta de Spy marcando toda a extensão de suas costas. Depois de uma semana trabalhando no Azul, Spy for a escalado para o Vermelho a mando da Administradora. De vez em quando a mulher de roxo ainda mandava alguns mercenários trocarem de lugar entre as equipes, algo que ela mesma gostava de chamar de 'Balanceamento'.

Suspirando, Sniper encara suas cicatrizes por mais dois segundos antes de se virar e se jogar na cama. Aquele tinha sido um dia longo e ele precisava descansar, algumas horas de inconsciência não fariam mal algum a sua mente perturbada.

Sniper, então, começa a viajar pelas lembranças em sua mente e adormece sem mesmo perceber.


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Notas finais do capítulo

Sim, ha alguns erros na acentuação. Problemas com o computador. :p



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