X X V escrita por Kes Kurosawa


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Agraço se não me jogarem paus e pedras pelo tamanho do clichê v:
Enfim, espero que gostem ♥ (se alguém realmente ler, tenho fé que sim -q)



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Música.

Música extremamente alta.

Como diabos eu poderia estudar com aquele som ecoando na minha cabeça quase explodindo-a? Não havia como se concentrar em nada.

Isso é ridículo.

Precisava dar um jeito antes que enlouquecesse. Seria coerente ir até a casa ao lado pedir para que parassem? Na verdade, não faço ideia do que me espera lá então sequer tenho base para opinar. Mas algo devia ser feito, não é?

Levantei-me com confiança, porém, só ao olhar pela janela e ver a quantidade de gente lá fora, me deu um frio na barriga incontrolável. Era idiotice ir lá, não era? Mas vejamos, quantas vezes fui idiota nessa minha curta vida, uma a mais não faria diferença. Eu esperava. Retomei a minha confiança inicial e respirei fundo, dando uma última olhada pela janela, vendo aquele bando de pessoas bêbadas.

Quando saí pela porta, logo senti vontade de voltar correndo pra dentro, contudo, deveria continuar pois deveria estudar já que havia prova no dia seguinte e eu me martirizaria pelo resto do mês se não tirasse uma nota suficientemente boa. Respirei fundo mais uma vez e continuei a caminhar, atravessando o gramado. Eu sequer precisei bater na porta — isso é tão óbvio assim? —, assim que cheguei várias pessoas que mal se mantinham em pé saíram por ela. Entrei no meio da multidão e me senti o mais deslocada possível. O pior ainda da situação era não saber quem era o dono daquela bagunça toda, além de que todo mundo naquele local não paravam de me lançar olhares estranhos. Sinto que minha presença desagradava, e muito.

— Olha só o que temos aqui, uma garotinha perdida. — um garoto com cabelo até o ombro colocou seu braço por cima do meu, sorrindo. Fiz uma expressão de desagrado mas ele ao menos percebeu.

— Ahn... você sabe quem é o dono da casa? — perguntei gritando, já que com o volume da música era impossível ouvir algo além dela.

— Oh... ele está lá em cima. Transando.

— Como?

— Ele está lá em cima, em um quarto, com uma garota. Sabe, transando. — ele riu.

— Opa! — outro garoto chegou, escorando-se no outro, olhando diretamente pra mim. — Quem é esse?

— Essa. — o de cabelo longo disse, rindo baixinho.

— Ohh, é uma menina? — desta vez, perguntou para mim.

— A-ahn... sou. — por que diabos eu gaguejei?

— Você não parece ser o tipo que gosta de festas... — o segundo garoto disse isso olhando para mim de cima à baixo. Aquele olhar sob mim era desconfortável. — O que está fazendo aqui?

— Ela tá procurando o Will.

— Por quê?

— O som tá muito alto e eu não consigo estudar... — eu mal pude terminar a frase e o segundo garoto já estava dando gargalhadas, como se o que eu tivesse dito fosse uma ótima piada.

— Não liga pra ele, é só um idiota. — o de cabelo longo disse e me puxou junto com ele, para fora da casa, enquanto o outro continuava lá, rindo sem parar.

Ele me levou pra longe da casa, já que o jardim era enorme, então me fez sentar perto de uma grande árvore. Fiquei em silêncio, esperando que ele falasse algo.

— Olha, mesmo que você fale com o Will, ele vai fazer a mesma coisa que o Sam fez, rir da sua cara e ainda mandar você ir se foder, então nem adianta tentar.

— E o que eu faço? Eu tenho prova amanhã!

— Ei, calma. Se quiser, tenho o gabarito dela. — olhou-me com um sorriso estranho.

— Eu estaria colando!

— E daí? Pelo menos iria bem. E sinceramente, essa festa não vai acabar antes das seis da manhã, então não vai ter como você estudar. Desculpe.
Bufei, encostando a cabeça na árvore. Se meus pais descobrissem que eu sequer pensei em colar, eles me queimariam viva. Mas eu tinha escolha?

— Quanto você quer? — indaguei.

— Ahn?

— Pelo gabarito, quanto custa?

— Ah, pra você, nada. — sorriu.

— Por quê? — eu gostaria de saber o motivo de minhas bochechas estarem quentes como lava.

— Você não é como as outras pessoas que me pedem, entende? Você realmente quer estudar e ser honesta, mas não tem escolha. — por que ele tinha que falar olhando nos meus olhos? Que embaraçoso.

— Ah... entendi. — olhei para frente para evitar um pouco aquela conexão estranha de olhares. Eu não sou muito acostumada a falar com meninos.

— Tome. — ele tirou um papel de dentro do bolso. — O gabarito.

— Não sei nem como agradecer...

— Não precisa. — sorriu mais uma vez. — Bom, eu vou indo. Não quer ficar?

— Ah, não, não, eu não me dou bem com festas. — sorri levemente. Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar e me acompanhou até o fim do gramado.

— Então... boa sorte.

— Obrigada. Aliás, qual seu nome? — só agora havia me tocado de que não sabia.

— Jackson. — sorriu, mais uma vez. — Ah, e o seu?

— Kess.

— Boa noite, Kess. — seus olhos fixaram-se em mim, e mesmo quando me virei para entrar em casa, sentia ele me observando. Mal consegui caminhar.

E naquela noite, eu sequer consegui fechar os olhos. Jackson estava certo sobre a festa não acabar antes das seis, eu já estava explodindo de raiva vendo o tempo passar e a música nunca acabar. E quando fui pra escola, parecia que estava fantasiada de zumbi, até mesmo o jeito de andar era parecido.

— Jesus, o que houve com você? — meu melhor amigo Bryan chegou do nada no corredor, me olhando como se eu fosse um tipo de monstro.

— Meu vizinho deu uma festa até amanhecer. Não dormi um segundinho. — suspirei.

— Oh, pobre menina. — apertou minha bochecha em deboche.

— Sai, idiota.

— Mas conseguiu estudar?

— Ahn... claro. Sabe que sempre estudo antes. — dei um sorriso forçado que qualquer pessoa inteligente veria que eu estava mentindo. Sorte a minha que Bryan era burro.

— Exemplo de menina. — riu e continuou seu caminho, enquanto eu revirava os olhos tirando os livros do armário, tentando não ficar nervosa com o fato de que estava colando pela primeira vez na vida. Respirei fundo e segui para minha sala.

Pare de ser tão patética.

O professor entregou as provas para cada um, e eu já sabia todas as respostas antes mesmo de ver as questões. Eu estava me sentindo muito culpada. Droga, tem como ser mais idiota?

Tentei demorar um pouco, para que ninguém desconfiasse, nunca se sabe. E depois de uma meia hora, entreguei minha prova, rezando para que tudo desse certo. Mentalmente agradecia Jackson por aquilo.

Quando fui liberada, fui para o terraço da escola, como era costume. Pelo celular, mandei mensagem para Bryan não me incomodar dessa vez, eu precisava de um tempo sozinha, por algum motivo. Talvez todo aquele negócio de cola estivesse me estressando mais do que deveria.

Subi as escadas com pressa, esperando que nenhum professor tenha me visto. Digamos que não é permitido entrar lá em cima.

Quando terminei de subir toda aquela maldita escadaria desnecessária, vi a porta levemente aberta. Por um momento, hesitei, mas nenhum professor a deixaria assim, então com certeza só era mais um aluno idiota que não sabia disfarçar suas fugidinhas. Eu nem entraria lá pelo fato de, certamente, já ter alguém no terraço, porém minha curiosidade era algo difícil de controlar.

Ao entrar não me deparei com ninguém direto, mas consegui ouvir barulhos que me mostravam a direção para matar essa pequena curiosidade em mim — e talvez fazer com que tal pessoa fosse embora e deixasse o local só para mim.

Quando cheguei perto o suficiente, vi que eram duas pessoas. Se beijando — ou quase se comendo, mal tinha diferença. Eles perceberam minha presença e se afastaram, rindo. Um dos rostos era conhecido.

Jackson.

— Olá, Kess. — ele ria, mandando beijo para a garota que saiu do seu colo e já se retirava do local, sem parecer se importar.

Eu fiquei com uma expressão provavelmente estranha, olhando para ele e para a porta da qual a garota acabou de passar.

— O que foi? — riu.

— Não sabia que tinha namorada.

— E não tenho.

— Mas...

— Ela é só uma diversão, entende? Não é nada sério. Nosso relacionamento é mais focado no sexo. — a risada que ele soltou me pareceu maliciosa demais.

— Entendi... — ousei me sentar ao seu lado, observando o céu nublado.

— E como foi a prova?

— Não sei. — suspirei. — Me sinto um pouco culpada.

— Entendo. — Jackson passou a observar o céu comigo. — Mas não tem que se preocupar, você é uma aluna exemplar pelo que parece, nunca desconfiariam porque já estão todos acostumados com suas ótimas notas.

Sorri com seu comentário, arriscando por um momento olhá-lo. Ele já estava me encarando.

— A-ahn... você estuda aqui?

— Sim, mas geralmente não vou em muitas aulas.

— É do segundo ano?

— Sim.

— Legal...

Decidi parar de olhar para ele. Era desconfortável até para mim.

— Hm... me desculpe por ter atrapalhado seu momento com sua... amiga. — sim, eu estava envergonhada. Que ridículo.

— Tudo bem. — ele riu. — E pode chamá-la de namorada, é um pouco melhor.

— Oh... ok.

Ficamos mais uns bons minutos sentados ali, em silêncio e observando o nublado do céu. Era embaraçoso. Para falar a verdade, todos os poucos momentos em que o vi, foram embaraçosos. Por quê?

— Eu acho melhor você ir andando, sua próxima aula vai começar em dois minutos.

— Ai, meu Deus! — levantei com pressa, quase tropeçando nos meus próprios pés. Ele ria de mim o tempo todo.

— Tchau, nerd! — ouvi ele gritar enquanto eu corria para minha sala.




O fim da aula finalmente havia chegado. Peguei minha mochila e ao sair pela porta, pensei por alguns segundos. Eu queria ir para o terraço, por algum motivo. Talvez eu pensasse que Jackson ainda estivesse lá. Mas por que eu queria vê-lo?
Suspirei e deixei de pensar sobre, apenas agi. Subi as escadas mais uma vez, a porta ainda estava entreaberta. Adentrei o local sem hesitar, mas não havia ninguém lá. Nem uma alma. De certa forma fiquei decepcionada. Suspirei e me virei para voltar lá para baixo, mas acabei esbarrando direto com alguém.

— Olá, nerd. — era Jackson.
Eu sorri sem perceber, já ele, infelizmente percebeu e sorriu junto. Escondi meu sorriso na hora.

— O que faz aqui? — ele perguntou, sentando no mesmo lugar que antes.

— Eu que pergunto.

— Venho pra cá quando quero sossego, e pra fumar também. — riu, pegando um cigarro do seu bolso.

— Ah, você fuma...

— Incomoda?

— Um pouco. — olhei para o chão, tentando evitar os olhares dele.

— Oh... desculpe.

— Tudo bem, eu não tenho nada a ver com sua vida.— ri sem humor. Que clima estranho.

— Claro que tem.

— Tenho?

— Tem. — confirmou, sorrindo pra mim. Pare de sorrir, filho da puta. — Você é minha nova amiga nerd.
Acho que o conceito dele de amizade era um pouco diferente do meu, mas tudo bem.

— E você tem muitas amigas nerd? — sorri de leve, sentando-me em um banco de concreto perto dele.

— Você é a primeira. — senhor, por que ele sorri tanto? É desconcertante.

— Legal...

— Legal.

Balançava meus pés para lá e para cá, um pouco tímida. Resumidamente, dentre quase trezentos garotos naquela escola, o único do qual eu conversava era Bryan, e mal dava pra considerar já que ele era quase que meu irmão. Falar com Jackson é estranho, ele não está na mesma faixa social que a minha. Ele tem vários amigos, vai para festas, pega garotas, se diverte, e eu só fico em casa estudando. Eu não conseguia me sentir confortável perto de um cara como ele, era estranho.

— Vem, vou te levar pra casa. — ele levantou do nada, estendendo sua mão para mim, mais uma vez, sendo que desta vez ao menos tinha necessidade.

Andamos juntos até a minha casa, ele falava sobre coisas engraçadas que aconteciam em algumas festas e eu só ficava de cabeça baixa, rindo uma vez ou outra. Para falar a verdade, eu estava envergonhada demais para falar qualquer coisa.

Estávamos na frente da minha porta e eu fiquei ali parada como idiota, esquecendo que eu devia abrí-la. Ele riu quando viu que eu havia percebido isso. Eu abri e olhei para ele uma última vez.

— Boa noite, nerd. — ele sorriu, pela milésima vez. Eu não conseguia evitar de reparar no sorriso dele.

— Boa noite, Jackson. — sorri e ele se aproximou, dando um quase-abraço em mim.

Nem preciso explicar como fiquei, não é? Apenas sorri de leve e fechei a porta, me encostando nela logo depois. Suspirei, sorrindo. Droga, pare de sorrir. Idiota.
Mas inevitavelmente, até mesmo quando fui dormir, lembrei do sorriso dele. E por algum motivo, acabei sorrindo também.

Ah, droga.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo e.e



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