Maria, teu corpo, tua vida.

Maria, bem como as demais mulheres, possui um medo. O desrespeito ao seu corpo, sua vida, sua vontade, sua liberdade. Muitos lhes dizem que é besteria, que se tiver cuidado seu medo será apenas imaginação. Ledo engano.

Mal sabem eles que voltar ilesa de seu trabalho é uma vitória. Pegar um ônibus sem olhares suspeitos, palavras lascivas, ou apalpadas indesejadas é uma vitória. Andar pelas ruas, seja onde mora ou em passeio, sem precisar trocar de lado ou mudar sua rota por conta de outro indivíduo é uma vitória. Pedir uma orientação ao chefe, professor, colega, sem receber propostas é uma vitória.

Dizem que se ficar em casa, nada acontece. Mas, Carla estava em casa quando foi abusada por um tio, e Júlia também estava em casa quando a invadiram a residência e seu corpo. Dizem que se não beber, nada acontece. Mas, Rafaela só tinha consumido suco e a doparam. Dizem que se for apenas a igreja, nada acontece. Mas, Cláudia ainda pequena foi abusada pelo pastor, e Camila sofreu nas mãos de um padre. Dizem que se for casada, nada acontece. Mas, Rebeca era casada e seu marido a violentava todas as noites.

Dizem que voltar acompanhada, nada acontece. Maria voltava com uma amiga do supermercado, as sacolas nas mãos, os passos rápidos. O ponto de ônibus estava perto, dava para enxergar. Mas, mãos fortes lhes subjugaram, cortando seu destino. Maria e sua amiga brigaram, choraram, negaram.

Maria e sua amiga foram estupradas.

E junto daquele chão sujo e suas roupas rasgadas, estava sua dignidade, sua liberdade, sua coragem, sua felicidade. Quando os policiais lhe pediram o que havia ocorrido, Maria, vazia, dizia:

“Levaram meu corpo, minha vida”.

Dizem que se não for mulher, nada acontece. Quem sabe assim, o ditado se confirme.