Who are I? escrita por Mary


Capítulo 1
Prólogo




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Uma simples garotinha.

Não, não tão simples assim.

Mas aparentava ser.

Não exatamente.

Era só mais uma garotinha.

Não com tanta certeza.

Mas não havia nada de errado com ela.

Não parecia ter.

Não deveria ter.

O caso é: por que implicavam tanto com ela? Era uma boa pessoa e continuaria sendo se não a irritassem. Por mais forte e poderosa que fosse, continuava sendo sensível. Qualquer coisinha poderia despertar o monstro escondido dentro dela.

Ou melhor, de mim.

Não.

Eu não era um monstro. Eu não sou um monstro.

Eles me causaram isso.

Eu só tinha sete anos quando fui mais cruel em toda a minha vida.

O seu nome era Alice. Ah, ela não era perfeita. Não era aquela aluna com notas maravilhosas ou com aquele cabelo invejável. Não era rica, não era metidinha. Era criança. Corria pra todo o lado, se sujava sem medo, não ficava arranjando confusão.

Mas parecia me odiar.

Nós éramos crianças. Não tínhamos essa de roubar namorado nem nada. No máximo, uma boneca. Mas a gente não podia levar brinquedo. Eu nem tinha um brinquedo para levar.

Eu estava sentada na quarta ou na quinta cadeira. Usava uma calça jeans de segunda mão, uma blusa azul bem fina e um casaco que cobria o meu corpo todo. Fazia frio naqueles dias.

Alice chegou perto de mim e disse com nojo que as outras garotas estavam me chamando para brincar. Acrescentou que se eu fosse, ela sentaria no meu lugar.

Eu falei que não ia.

Ela disse que eu era estranha e esquisita.

Eu ignorei.

Ela disse que eu me vestia mal.

Eu ignorei.

Ela disse que ninguém gostava de mim.

Eu ignorei.

Ela disse que eu não deveria estar na escola.

Eu ignorei.

Ela disse - ou me lembrou - que eu não tinha pais.

Eu queria ter ignorado.

Mas foi mais forte do que eu. Não fui capaz de controlar.

Alice se jogou no chão gritando, as mãos nos ouvidos. Pedia que parasse, falava que eu estava fazendo mal a ela.

Eu não tocava nela.

Todos estavam confusos.

Ninguém ouvia o que ela ouvia.

Mas eu sim. Só que não me machucava tanto. Era suportável.

Ela estava implorando. Arrastou-se para os meus pés e me pediu para parar. Também pediu desculpas. Falou que nunca mais seria uma idiota comigo. Mas precisava parar de ouvir aquele som.

"Mas, Alice, o único som é o que você está fazendo", foi o que os outros disseram.

Ela gritou mais alto ainda, até não aguentar mais.

Uma enfermeira chegou e assustou-se com a cena.

Todas as salas pararam para nos assistir.

Em algum lugar, alguém falou sobre ambulância.

Mas o problema dela não seria resolvido com médicos.

Ela ergueu os olhos e tentou me encarar, mas eu não deixei. Viu o vulto atrás de mim. Viu os vultos que a cercavam, que corriam para ela. Sentiu os seus toques gelados, forçando-a a se levantar, erguendo-a no ar. Sentiu o seu corpo sendo cortado até o sangue jorrar. Leu as palavras que estavam escritas nas feridas.

Não gritava mais. Não chorava mais. Só me pedia silenciosamente para cessar com aquilo.

Eu também senti a sua dor. Eu também li o que estava escrito.

Somente eu e Alice.

Todos os outros achavam que ela era maluca.

Eu a enlouqueci.


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