Eu não pude acreditar quando vi Felipe e aquela garota fantasiada de desenho animado.
Eu nunca tinha visto alguém tão colorido em toda a minha vida. Não era só o cabelo arco-íris, os olhos dela eram azuis, ela vestia uma saia rosa pink e uma regata verde limão com um all star vermelho, com meias listradas em amarelo e preto que eu reconhecia do filme que assistimos algum tempo atrás.
E ela pulou no colo de Caio pedindo um passeio e alegando que era uma Sarazate.
Eu não conseguia falar nada, estava estática. Só olhava para aqueles olhos caleidoscópicos de Felipe, querendo me desculpar silenciosamente.
Ele deu um sorriso que partiu meu coração e falou:
– Eu vou pra casa.
– E vai me deixar aqui sozinha? - falou a nova Sarazate.
– Você vai ficar com Caio, é bom que vocês se conhecem.
– Vamos dar um passeio de cadeira de rodas maninho?
– Quê?
– Para o alto e avante! Ou qualquer coisa parecida.
– O quê?!
E então ela começou a rodar a cadeira e Caio começou a gritar com ela.
Era uma visão muito engraçada se Felipe não estivesse indo embora nesse exato momento.
– Espera! Felipe! - gritei correndo atrás dele.
– Oi June - disse ele parando para que eu conseguisse alcançá-lo.
– Está tudo bem?
– Sim.
Mas ele não parecia nada bem.
– Tem certeza?
Ele franziu as sobrancelhas.
– O que você quer dizer com isso?
– O que aconteceu antes, eu...
– June, para mim nunca foi uma duvida que você gostava do Caio. Eu sabia, fui um burro idiota por ter nutrido sentimentos por você e por ter tentado te esquecer com a Amanda.
– Eu...
– Mas não tem problema, eu estou acostumado por perder para o Caio. Não que isso fosse uma competição, por que eu estava competindo sozinho...
– Você não entende...
– Eu não preciso entender June. Eu estou realmente cansado de me machucar.
– Mas Felipe...
– Por favor June. Você me pediu para ser seu amigo e é isso que eu vou ser.
Pisquei. Senti vontade de chorar, mas não iria fazer isso. Em vez disso dei o melhor sorriso que pude e falei:
– Ok.
Que foi o máximo que consegui falar sem desmoronar.
Então ele acenou com a cabeça e deu a volta.
Então eu me sentei no banco mais próximo e desabei.
Felipe nem tinha me deixado explicar o que acontecera e eu entendia perfeitamente o porquê.
E o pior: eu não podia culpar a ninguém mais do que eu mesma por passar tanto tempo enganando a mim mesma quando na verdade, o Sarazate que eu amava estava indo embora, tão decepcionado quanto eu.