HelpMe.net escrita por Leh


Capítulo 12
Capitulo onze (Caio)


Notas iniciais do capítulo

Como prometido... Mais um hoje! :D
Enjoy



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– Eles estão perguntando qual hospital você está. Acho que querem te visitar - disse meu irmão esfregando os olhos enquanto olhava meu celular.
O enfermeiro estava fazendo um check-up geral para saber se eu estava mais machucado, enquanto os exames não ficavam prontos.
Gritei de dor quando ele apalpou uma parte da cintura que doía como o inferno.
Meu irmão se virou em um salto e ficou atento ao que acontecia.
– Doeu? - perguntou o enfermeiro.
– Não! - disse meu irmão mal-humorado - Ele gritou por que teve um orgasmo.
Explodi em risadas. O homem ficou vermelho de vergonha, mas deu um sorriso também.
– Doeu bastante - falei entre risos.
– Vou trazer um analgésico intra-venoso.
Ele foi embora pegar o remédio e eu olhei meu irmão, tão preocupado comigo e, provavelmente se culpando pelo o que aconteceu.
– Pode dizer para eles onde a gente está, mas diga que não se preocupem.
Ele abaixou a cabeça para digitar.
– Eles estão dizendo que você vai precisar andar até onde eles estão para fazê-los não vir. Isso é um pouco cruel.
– E?
– Um pouco engraçado também. Mas de um jeito bem mórbido.
Sorri.
– Vai comer alguma coisa, Pê - falei - Você não come desde que saímos de casa e isso faz um bom tempo.
Ele me olhou.
– Não vou deixar você sozinho.
– Mas que besteira. Você viu, meus amigos estão vindo. Além do mais, você deve estar com tanta fome quanto eu, então vai no McDonalds em frente e compra um BigMac pra mim.
– Não pode comer BigMac em um hospital.
– Quem liga? Você traz como se você fosse comer e aí quem come sou eu.
Ele pressionou os lábios, indeciso.
– Certo, mas só pra compensar por hoje.
Suspirei.
– Não foi sua culpa.
Ele balançou a cabeça e continuou andando.
Um momento depois, o enfermeiro chegou e colocou o analgésico no acesso, cuidadosamente e foi embora.
Fiquei olhando a televisão passar o Domingão (o programa mais idiota da face da terra) e rindo de vez em quando nos momentos em que ele decidia passar algumas Vídeos Cassetadas.
– Caio Sarazate - ouvi alguém dizer do lado de fora do quarto.
– Quarto 305 - disse alguma enfermeira.
– Obrigada.
Então Pedro apareceu.
Ele era baixo, muito magro, careca e usava uma máscara muito bem fechada. Tinha a pele escura, assim como os olhos, mas quando sorriu (suponho que sorriu, já que eu não conseguia ver a sua boca) eles se iluminaram.
– Caio!
– Caio? Quem é Caio? Acho que você está no quarto errado.
Ele gargalhou.
– Você parece um lixo.
– Obrigado Valdeva. Quanto a você, parece que te jogaram de um prédio e te esmagaram com um rolo compressor. A sua mãe te dá comida?
– Que fofo, trocando elogios a essa hora da noite. Deve estar de bom-humor.
– Todo mundo fica com um excelente humor quando está no hospital.
– Isso eu posso atestar - disse uma voz feminina.
E então June apareceu. Ela era a personificação de uma nerd bonita. Tinha cabelos castanhos e volumosos, óculos estilo gatinho e olhos bem verdes. Era baixa e um tanto gordinha.
– June? - perguntou Pedro.
– Pedrinho!
Então eles se abraçaram e eu não pude deixar de sorrir.
– Cara, quero um abraço também.
Ela sorriu e veio em minha direção.
Seu abraço poderia ter quebrado algumas costelas, mas um gemido meu já foi suficiente para fazê-la aliviar o aperto.
– O que aconteceu? - perguntou ela genuinamente preocupada.
Suspirei.
– Bom, há uma semana, meu irmão mostrou grande interesse em ir ao show de um cover da Legião Urbana. Ele é muito fã, então eu me candidatei em fazer-lhe companhia. Meu irmão anda estudando muito, precisava de descanso.
'O show foi ontem e quando nós chegamos lá não tinham rampas de acesso e o show seria no subsolo da casa de shows. Então meu irmão ficou triste e estávamos voltando quando eu parei pra tentar convencê-lo de ir e me deixar esperando, mas começamos a discutir por que ele tem um senso de justiça muito específico. Acontece que paramos para discutir e o terreno era levemente inclinado e eu esqueci de travar as rodas da cadeira. Então ela foi andando para trás devagar e só notamos quando já estava rápida. Então eu caí da escada.
Eles arregalaram os olhos. June arfou.
– Era uma escada bem grande - salientei.
– Caramba! - falou Pedro - E aí?
– Eu acordei e estava em uma ambulância com meu irmão.
– Você ficou desacordado? - perguntou June preocupada - Já fizeram tomografia?
– Sim, estamos esperando resultados.
– E cadê o seu irmão? - perguntou Pedro olhando ao redor.
– Eu consegui convencê-lo de ir ao McDonalds comer alguma coisa, ele estava sem comer há um bom tempo.
– E sua mãe?
– As vezes ela viaja a trabalho. Ela ainda não sabe.
Pedro riu.
– Se ela for que nem minha mãe, como você disse ela irá ficar uma fera por vocês não terem contado!
– E ficaria morta de preocupação se contássemos.
– Você já está melhor? O que é isso que estão lhe dando? - perguntou June.
– Analgésicos. Algumas partes do meu corpo ainda doem bastante. Como eu disse, era uma escada bem longa.
June sentou ao lado da cama do hospital e Pedro veio para o lado dela.
Ela pegou no acesso em meu braço, com o pulso repleto de pulseiras. Eu logo entendi.
– June?
Ela me olhou.
– O que é isso? - falei puxando as pulseiras e mostrando pequenas cicatrizes em linhas.
Ela riu.
– Eu sabia que você ia notar. Parece ser observador.
Pedro deu uma olhada e levantou uma sobrancelha.
– Por que?
Ela suspirou.
Então June finalmente partilhou por que estava no HelpMe.net. As pessoas na escola praticavam bullying com ela e ninguém queria ouvi-la. Então ela cortou seus pulsos para chamar a atenção. E conseguiu. Depois disso seus pais passaram a prestar atenção nela (inclusive insistindo que ela entrasse no site de autoajuda) e o diretor da escola falou pessoalmente com os colegas para pararem de importunar a pobre garota suicida.
Porém os outros continuaram insistindo em falar dela e, segundo June, ela não reagia. Então tudo voltou novamente, mas dessa vez ela fingia não se importar.
Quando ela acabou de contar tudo, eu segurei sua mão e olhei fundo em seus olhos. Sabia exatamente o que falar.
– Então você não é uma borboleta. É uma lagartixa.
Ela piscou.
– Ele tem razão - disse Pedro.
Sorri.
– Fico feliz por ter compartilhado conosco.
– Pensei que fossem se sentir ofendidos. Vocês lutam pela vida quando eu tentei acabar com a minha.
Eu ri.
– June, eu entendo você.
– Eu também - falou Pedro.
Ela sorriu, com os olhos lacrimosos.
– Obrigada!
Então puxou a mim e a Pedro para um abraço coletivo.
Quando ela nos soltou, senti alguma mudança no ar, como se nós três tivéssemos acabado de criar um novo laço. Bem mais forte.
– Minha mãe sempre diz que as alegrias podem juntar pessoas, mas são as tristezas que testam a verdadeira amizade - disse Pedro - Acho que começamos bem.
Nós três rimos.
– Obrigada, meninos - disse June - Vocês são meus melhores (e únicos) amigos.
– Vamos melhorar essa parte de únicos - falei.
– Caio? - falou meu irmão à porta.
Nós três olhamos. Ele estava paralisado.
– Pessoal, esse é meu irmão Felipe. Felipe esses são Pedro e...
– June? - falou meu irmão perplexo - O que você está fazendo aqui?


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