A Última Sinfonia escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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Ponho as mãos no teu corpo musical

Onde esperam os sons adormecidos.

Em silêncio começo, que pressente

A brusca irrupção do tom real.

E quando a alma ascendendo canta

Ao percorrer a escala dos sentidos,

Não mente a alma nem o corpo mente.

Não é por culpa nossa se a garganta

Enrouquece e se cala de repente

Em cruas dissonâncias, em rangidos

Exasperantes de acorde errado.

 

Se no silêncio em que a canção esmorece

Outro tom se insinua, recordado,

Não tarda que se extinga, emudece:

Não se consente em violino fado.

José Saramago

 

 

 

 

 

 

 

 

Victoire se lembra muito bem da primeira vez que viu um violino.

Sua mãe estava tentando puxar seu braço, mas a garota estava congelada no meio da rua, admirada, olhando aquele homem de meia idade tocar aquele mini violão para o céu e o mundo, que passava por ele sem nota-lo. Fora a melodia mais linda que vira em toda a sua vida. Em seu mundo, há diversos instrumentos que são desconhecidos no mundo trouxa. São capazes de quase reviver uma valsa dos anjos.

Mas aquilo... Aquilo era quase um recital de toda a tristeza do mundo. Apesar de fazer sorrisos, era um instrumento triste, abatido. Por mais alegre e delicada que seja seu toque, sempre será triste e angustiante.

Então, em seu aniversário de sete anos, ela já sabia o que pedir:

— Um violino! — sorriu ela, ansiosa.

Seus pais se entreolharam, relativamente decepcionados. Esperavam comprar uma vassoura, um vestido ou quem sabe uma viagem para algum parque de diversões? Mas Bill sorriu para sua filha, decidido a lhe colocar em um curso de violino.

Mas, antes, uma preparação: Nunca fale sobre o nosso mundo, não fale sobre seus brinquedos, poções, não fale sobre feitiços, não fale sobre varinhas, não fale... Não fale. Victoire foi a criança mais silenciosa de seu curso pelos dez anos em que ficou ali. As outras crianças a achavam bizarra por não conhecer a simples história da Branca de Neve, o que fazia a garota sentir vontade de chorar.

Suas raízes veelas também eram comentadas, ela sempre ouvia a confirmação de que qualquer agência de modelos iria contratá-la mesmo que ela não tivesse um dente na boca. Por muito tempo, Victoire não gostou dos trouxas, mas aos poucos, pela paixão em comum, acabou adaptando-se a eles.

Leu os malditos contos e realmente, Branca de Neve era uma boa história. Não demorou muito para começar a ter um gosto especial pelas roupas trouxas dos outros adolescentes, desejando até mesmo ter um celular. Na verdade, fora ela que implantou a tecnologia em sua família atrasada, os convencendo que deveriam se adaptar a ela.

— Os Weasley sempre tiveram a fama de amante dos trouxas. — debochou uma corvinal enquanto Victoire se apresentava para um grupo de alunos. Era seu terceiro ano em Hogwarts, a primeira Weasley a cair na Sonserina. A garota parou imediatamente sua apresentação, olhando para a garota com descaso.

— Não somos só amantes de trouxas como somos ótimos em tudo que fazemos. Não me admira que o Coro da escola esteja indo de mal a pior, afinal você está nele. — a garota reposicionou seu violino no ombro, ainda irritada. Arregalou os olhos para a menina oriental, visivelmente ofendida. — Você vai sair daqui ou eu vou ter que terminar de te humilhar?

Edward Lupin riu entre a pequena multidão, cobrindo a boca. A garota notou sua presença, mas o ignorou, retomando a sua sinfonia original. Ela gostava dos aplausos, mas não era nada que subisse a cabeça, pois sabia que era excelente. Não precisava de afirmação... Ela sabe seu potencial.

Assim que ela terminou e começou a guardar suas coisas, Ted aproximou-se:

— Não é mentira quando dizem que os sonserinos são grosseiros. — A garota olhou para ele, debochada. Ela sabe que ele estava dando em cima dela, como em todas as vezes que os dois se falavam.

— Eu sou dois anos mais nova que você e se formos considerar... Primos. — Ted segurou o riso, dando-lhe um sorriso enorme. — Isso sim é grosseiro.

— Ok, Cersei, eu vou manter distância. — Victoire acabou rindo, colocando seu cachecol. — Eu só quero dizer que apoio seu projeto de transformar Hogwarts em um colégio trouxa e... Ai!

A garota estava rindo quando lhe deu um tapa no braço. Ela gostava dele, de fato, mas ao contrário da maioria das garotas, Ted sequer existia enquanto ela estava estudando e praticando, era como se nada no mundo existisse além dela e seu violino. Mas o garoto era apaixonado por ela desde que a viu tocar pela primeira vez, em um Natal, quando ele estava indo para seu segundo ano em Hogwarts.

Ela era arrogante e confiante, parecia estar envolvida em uma aurea tão forte e intocável que raramente se dava conta de que existia outras pessoas ao seu redor. Era bonita, e sabia. Era talentosa, e sabia. Era inteligente, e sabia. E quando uma pessoa percebe seus talentos e atributos, não há quem a pare.

Assim como Victoire, Ted foi outra pessoa a engraçar-se com a cultura trouxa. Era comum (mas não glorioso) bruxos juntarem-se a circos. O mundo trouxa se deliciava ao ver os famosos ‘mágicos’ com seus ‘truques’ indecifráveis, mal sabiam que aquilo era algo comum em um mundo ao lado deles.

Victoire aplaudiu de pé a primeira apresentação de Ted em um circo beneficente. Ele tinha um papel pequeno (era mais um palhaço desmiolado), mas brilhou tanto quanto os outros.

— Onde estão minhas flores? —  indagou Ted, indignado ao sair do camarim coletivo. Ela apertou-se em seu sobretudo e aproximou-se, não se importando com a maquiagem em seu rosto. Victoire beijou Edward de uma forma que só faltou eles copiarem as famosas cenas de beijos de filmes, onde a mulher é inclinada para baixo, mas naquele caso seria Ted a ser inclinado.

O garoto recuperou-se, olhando-a, impressionado. Limpou os vestígios de maquiagem em seu rosto dócil e sorriu, explodindo de felicidade. Dali em diante, os dois compartilharam um mundo único e exclusivo, onde ninguém mais sabia da existência: Um Ted comprometido e uma Victoire amável.

Ted, entretanto, sentiu o que os pais e irmãos de Victoire já haviam se acostumado. Ele não era uma parte importante, ele estava abaixo, com todos os outros, até mesmo os menos importantes. Victoire não perderia seu tempo de prática e estudo para dedica-lo a Edward. E no começo era até que desafiador, mas aos poucos o menino enjoou.

O que está fazendo? — esganiçou ela, sussurrando, largando a mão de Ted. Ambos haviam terminado Hogwarts e já iriam se fazer anos de namoro secreto que não enganava ninguém já que James Potter já tinha aberto sua grande boca para a família inteira.

Estou pegando na mão da minha namorada. — declarou ele, pegando em sua mão novamente. Sua tia Ginny os olhou de relance, notando as mãos dadas. O sorriso de Ted era enorme, mas Victoire parecia estar tendo uma explosão interna de raiva. A família dedicou a noite para brincadeiras e comentários sobre o casal, enquanto a mulher ficou em silêncio.

Após o jantar, quando chegaram na casa de Victoire, ela tomou ar para começar a briga, mas Ted apenas levantou a mão, a parando. Ele sentou-se na bancada da cozinha e sorriu para sua namorada, extremamente dócil.

— Eu sou Edward Lupin. — sorriu ele. — Eu sou o último Lupin, meus pais morreram por mim. Eu... Eu faço parte da casta mais rara e preciosa do mundo bruxo, metamorfomago. Eu tive os N.I.E.M’s mais altos de Hogwarts desde que Hermione Weasley saiu daquele lugar. — o homem juntou as mãos, parecendo procurar palavras. — Eu também sou um homem gentil e amável, preocupado com o próximo, tento me desconstruir sempre que possível... E também sou um excelente cozinheiro. E você... Você é a pessoa mais desleixada que eu já conheci, mais competitiva, arrogante, raivosa e petulante ser humano que eu já vi. E eu te amo. Então me deixe te amar.

O passo seguinte de Ted foi lhe pedir em casamento. Eram quase dez anos de namoro, aquilo já estava previsto, e Victoire não conseguia se imaginar com outra pessoa que não fosse ele. Edward aceitou não fazer a turnê com seu Circo para que ele e sua noiva fossem para a França, onde ela se apresentaria em um grande teatro trouxa. A acompanhou em suas apresentações, segurou sua bolsa enquanto ela conversava com grandes maestros do mundo.

Ele estava dedicado.

Ted estava disposto a deixar de ser quem ele era para se tornar alguém que pudesse acompanhar a sombra de Victoire.  Entretanto, ela não queria uma sombra. Ela não queria que ele abaixasse a cabeça e aceitasse suas migalhas, não queria alguém submisso a ela. Queria alguém tão forte e grande quanto ela.

E Ted não era grande como ela.

 

Montage of Heck - Smells Like Teen Spirit

 

No fim do ano, Victoire estava na maior e mais famosa Orquestra do mundo trouxa, Filarmônica de Berlim, não como suplente, mas como titular. Ela, uma mulher, entre mais de cinquenta homens. Ela se tornou o famoso meio termo, o sangue bruxo corria em suas veias, mas no meio da multidão de Berlim, ela só era mais uma cidadã comum. Ted não teve outra escolha a não ser voltar para sua trupe e a família Weasley não conseguia conceber a ideia de que o casal mais perfeito da família havia terminado.

Victoire tinha quarente e dois anos quando voltou a morar em Londres. Em um passeio pelo centro, passou no mesmo poste movimentado onde vira o homem desconhecido tocar violino. Olhou ao seu redor, confiante. Pegou o violino em sua bolsa, colocando seu chapéu no chão.

Encostou o instrumento em seu pescoço, fechando os olhos.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho uma visão muito particular de Ted e Victoire, mas eu gosto de todas as suas versões, principalmente da minha hahahaha

Espero que tenham gostado!

;)



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