Você é como uma viciada, e eu sou sua droga favorita.

Ouvi-lo dizendo aquilo foi como um tapa na cara, um merecido tapa na cara. Tão convencido, tão cheio de si.

E o pior de tudo, é que havia aquela parte traíra e maldita dentro de mim gritando.

É verdade, não negue você sabe que é verdade!

Talvez ele tivesse razão, e eu fosse mesmo uma dependente de sua presença. Que estava sempre avida buscando por mais de minha droga particular, a droga que me mantinha em pé, e que me dava forças para levantar todos os dias.

 Ora a quem eu quero enganar ele sempre tem razão!

É claro que ele é minha droga favorita, a única que me faz ser livre. Livre de julgamentos, e olhares tortos.

Ele nunca me julgou, ele sempre foi o motivo de eu continuar, persistir e não desistir simplesmente de tudo.

O único que realmente me entende, sem que nenhuma palavra seja dita.

Porque ele sabe que embora por fora eu esteja silenciosa e com uma expressão de tédio, por dentro eu estou gritando e pedindo por socorro.

E ele sempre me socorreu, eu nunca fiquei sem minha droga e percebo hoje o quanto ela faz falta.

E agora acho que estou em abstinência, ninguém percebe mais eu estou morrendo aos poucos todos os muros que ele me ajudou a construir estão ruindo.

Ele era o meu único alicerce no mundo, e sem ele esta tudo desabando.

Eu quero gritar pedir socorro, mas sei que não adianta nenhuma palavra atravessa meus lábios, e ele é o único que atende meus pedidos silenciosos.

Nada nem ninguém podem ocupar esse vazio, esse lugar é dele e isso eu não posso mudar. Já perdi as contas de quantas vezes tentei preencher esse lugar com coisas materiais até mesmo ilusórias.

Não adiantou eu sou egoísta demais para seguir em frente sem ele, sei que não sou uma boa pessoa, mas ele não se importa.

Qual foi o nosso trato mesmo, a última vez que nos vimos?

Se eu estou te fazendo mal então acho melhor nos afastarmos — Você disse a voz rouca não sei se de emoção ou por causa do seu mau hábito como fumante, minha cabeça estava doendo demais e a luta contra as insistentes lágrimas não me deixavam analisar as coisas com bom senso — Você quer um tempo pra pensar, eu te dou o tempo que quiser não se sinta presa a mim, quando quiser e se quiser volte se não... Não se sinta obrigada.

Então era isso você estava me mandando embora, e eu fui.

Prometi a mim mesma que não voltaria. Afinal esse foi o nosso trato não?

Mas quando me lembro da maneira despedaça que você me olhava, e a maneira como proferiu todas aquelas palavra, como uma suplica interna. Eu sabia que não duraria afinal, um viciado nunca consegue ficar muito tempo longe de seu vício.

 E para a minha dependência não existe tratamento, e talvez eu realmente queira me viciar ainda mais.

Eu tentei querido, mas não consegui. Não posso dizer que não viveria sem você, eu viveria sim e muito bem não alteraria em nada minha vida.

Mas seria uma existência muito difícil, enfrentar a vida e todos os olhares acusadores, todos os meus demônios prontos para me perseguir e perturbar minha paz inexistente sozinha.

Não, sem você isso seria tortura. Sem os poucos momentos vividos no frenesi da minha droga isso não seria viver, seria no máximo uma sobrevivência inútil.

Então eu estou aceitando a verdade, estou me entregando ao meu vício novamente, sem arrependimentos. Sem pensar em consequências, o que são ela perto do que você pode me proporcionar?

Eu estou voltando querido. Voltando pra ficar.