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Muitas coisas passavam pela minha cabeça, a maioria sem uma resposta certa, mas nenhuma daquelas perguntas embaralhadas poderia se comparar a dor que se alastrava pelo meu corpo como um corrente elétrica. Estava doendo, muito, e minha mão sobre o corte na barriga não conseguia mais conter aquela quantidade de sangue que abandonava meu corpo. Me sentia como um morto sendo arrastado pela floresta, sem força ou esperança.

Não queria ser apenas uma fonte de força vital, não queria existir apenas para ter toda minha vida sugada por ela. Dawn, a abelha rainha. Eles a chamavam assim, e eu sabia que ela era minha irmã. Pelo menos essa era definição humana para nossa relação, e eu gostava.  Dawn, porém, apenas me via como a garota que nasceu uma hora depois do corpo já falecido da mulher que nos gerou. Meu casulo nem ao menos era digno para ficar do lado da abelha rainha. Eu não significava nada além de uma pessoa que deve viver para servir sem receber respeito. Era estranho, esse era meu objetivo com a família e mesmo assim não conseguia o aceitar como cada um ali aceitava seu lugar.

Era tudo tão... Mecânico.

Por isso Dawn me arrastou docemente para longe de todos quando me neguei a dar um pouco da minha vida para ela, e mostrou seu lado obscuro com uma luta onde ela tornou-se visivelmente mais forte. Eu compreendia que ela nasceria com tudo em dobro do que eu possuía, e com apenas uma facada ela me deixou para morrer. A gêmea não idêntica.

Não tinha certeza de onde meus pés estavam me levando, um lugar seguro, talvez. Só queria ir para longe daquilo, limpar meus pensamentos e aquela pontada de tristeza de me lembrar de Eva. Minha mãe que não me viu, e meu pai que não me veria. Pelo menos era isso que brilhava em minha cabeça, até eu vê-lo passando a minha frente, de lado para o meu corpo e concentrado demais para me notar.

"— Pai! —".  Falei alto, feliz e com medo.

Barbie virou seus olhos verdes para mim, as sobrancelhas arqueadas. "— O que? —".

"— A-a Eva... Ela não teve apenas uma filha eu... —". E então minhas forças se esvaíram e eu cai. Meu pai conseguiu me segurar deitada nas folhas, tentando me analisar. "— Eu nasci uma hora depois da Dawn. —".

Eu esperava uma negação, surpresa ou espanto. O que recebi foi um abraço. "— Você está ferida, eu preciso te levar para a... —".

"— Não! —".  O interrompi com minha voz fraca. "— Não vai dar tempo. Precisa impedir ela. —".

Barbara me observou com... Amor? Eu não saberia explicar, entretanto, segurança era o que não me faltou quando ele se aproximou. Meu pai, doce pai.

"— Ela fez isso com você não é? —". Perguntou, a voz começando a se misturar com raiva e lagrimas.

"— Pai, eu a amo, ela é difícil. Se não tiver como ajuda-la então ajude aos outros. —". Pedi, sorrindo curto. Minha visão já estava começando a embaçar trazendo consigo o cheiro de morte. Eu estava morrendo. E Barbara parecia não entender porque eu e Dawn tínhamos sentimentos tão opostos. Também não sabia.

"— Me desculpa. —". Chorando, beijou o topo da minha cabeça. "— Não queria que você tivesse passado por isso. A culpa é minha. —".

Apertei sua mão. "— Eu... E-eu... Eu acho que sei o que é amor. Eu te amo, amo a Dawn e amo a Eva. —". Sussurrei, fechando os olhos por alguns segundos, abrindo-os de novo.

"— Eu também te amo, filha. —". Seus lábios formaram um sorriso triste. Sabia que ele havia me reconhecido mesmo eu sendo diferente de Dawn. Eu tinha os seus olhos.

Respirei mais um pouco, apertando sua mão mais forte. Queria ficar, o conhecer melhor do que havia visto na realidade virtual, contudo, eu iria me juntar a Eva. Tinha que ser assim, e foi.

Meu coração parou de bater aos poucos e o rosto úmido do meu pai foi a ultima coisa que vi antes da luz branca.