Memória escrita por Mel Bronte


Capítulo 1
Prólogo




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O silêncio na casa de Áries era ocasionalmente rompido por golpes de metal contra metal. Não se tratava de um som estrondoso. — A impressão era a de que nenhum som poderia ser estrondoso ali. — Era, contudo, ampliado pela aparente calmaria perene do local.

Naquelas ocasiões, mesmo o inquieto Kiki acompanhava o ritmo, tão hipnotizado pelos movimentos de seu mestre quanto o cavaleiro da sexta casa.

O aprendiz de Áries não se encontrava ali naquele dia, porém: Mu julgara que era hora de delegar-lhe mais responsabilidades, então Kiki restaurava uma outra armadura, às portas da primeira casa zodiacal.

— Sei que está me observando — não desviou os olhos verdes da armadura dourada à sua frente.

Descoberto, sentou-se em posição de lótus agora à frente de Mu. Uma visão bem mais agradável do que apenas o contorno perfilado que tivera antes.

— Não queria atrapalhar, mas gosto de te observar.

Em silêncio, o tibetano despejou um punhado de pó de estrelas sobre o metal precioso. Manejou com perícia as ferramentas tão antigas quanto as armaduras.

Na maior parte do tempo, Shaka descobrira, Mu permanecia com o semblante plácido.

Quando ele otimizava as armaduras, contudo, um pequeno vinco forma-se em sua testa. E sempre havia um pequeno sorriso quando, após breves reflexões — e, Shaka desconfiava, alguns rápidos e precisos cálculos mentais — ele conseguia uma execução satisfatória para os padrões dele.

Não parecia uma tarefa fácil, quando sabia que uma execução satisfatória para os padrões de Mu significava nada menos do que a perfeição.

Shaka associava até mesmo o instrumento que Mu selecionava naquele momento ao pequeno sorriso que certamente apareceria em instantes.

Mu ergueu levemente o cinzel e, quando formou o entalhe preciso, lá estava, delineando-se nos lábios de Mu, o que Shaka previra.

O vinco entre os dois pequenos pontos peculiares formara-se naquele instante. O sorriso de Mu estava mais evidente e seu olhar mais penetrante, quando enfim encarou Shaka.

— Diga-me algo que eu ainda não saiba.

Pensou em responder-lhe que petulância poderia ser contagiosa. Não o fez, porém.

Tal fase fora superada por eles havia muito. Lembrava-se do relacionamento conturbado que iniciaram na adolescência — eles trocavam muitas farpas então.

Trocaram muitas farpas e provocações no início da idade adulta, também. E o fariam até alcançar um equilíbrio. Até funcionarem juntos. Não como se fossem um só, mas como se um abrisse as perspectivas para o outro.

(Foi por isto — dentre outras coisas—, afinal, que Mu procurou Shaka naquela caverna em Asgard.)

Nostalgia tampouco lhe serviria. Não quando o momento presente mostrava-se tão satisfatório.

— Estou pensando em trazer um espelho para que você possa ver seu sorriso da próxima vez.

Mu mirou a armadura mais uma vez. Seu silêncio foi breve, pois logo gargalhou. O riso breve, discreto, e cristalino ondulava pelo cômodo e preenchia os momentos de quietude.

— Você não pode estar falando sério, Shaka.

— Falou-me para dizer algo de que você não soubesse. Fiz o que pediu.

— Isso não é do seu feitio.

— Sou surpreendente.

— Talvez… — Mu suspirou. — Mas eu te conheço melhor do que você imagina.

As feições do cavaleiro de Virgem suavizaram-se. Havia o esboço de um sorriso nelas, o mesmo que aparecia quando — pensava — deixava Mu sem argumentos.

— Diga-me, meu caro Mu de Áries, algo que eu não saiba.

A resposta de Shaka foi um sorriso de Mu. Muito mais precioso do que qualquer revelação ou do que qualquer palavra.


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Notas finais do capítulo

N.A.: É um prólogo, está curtinho e não pretendo me demorar muito na história. É só uma fic mais ou menos despretensiosa porque senti falta de OTP material por aí.

Críticas, dúvidas, sugestões: os canais estão todos aí. Podem chamar.



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