Pra você guardei o amor escrita por Maria


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu juro que eu postei esse capítulo quinta feira às 3:40 da manha antes de viajar, mas eu acho que o Nyah simplesmente não concluiu a postagem. Ontem quando cheguei esperando encontrar os muitos comentários... vi somente o vazio. Rsrs
Mas foi até bom, retirei um pedacinho que vai ficar para o próximo. Porque eu sou má!!
Love u minhas gostosas.

Haaa... eu adoro essa música (Robyn - Dancing On My Own) Ouçam, e ouçam também na versão do Calum Scott é de arrebatar o coração.



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Quando Emma saiu novamente não encontrou mais com Regina tendo Madre Cecília a aconselhado ir para casa. A loira agradeceu mentalmente, não teria que mentir para a morena tão cedo sobre a conversa com Sophia. As palavras da pequena ainda rondavam sua cabeça espalhando sensações pelo corpo e coração de Emma, tão contraditórias, que estava difícil até de raciocinar.

—Acho que você deveria ir também. – A Madre disse gentilmente no que Emma somente negou com a cabeça suspirando fortemente. – O que Sophia disse? – Os olhos de Emma encheram-se lágrimas que ela tentou em vão segurar.

—Ela disse que Regina traiu a gente. Que ela pensou que fossemos uma família, eu, ela, Henry e Regina. – A loira baixou a cabeça – é minha culpa Madre. Eu me aproximei demais, eu...

—Emma, para. Sophia não conversava com ninguém desde que chegara aqui, não interagia, mas foi você chegar e ela virou outra criança. Ela sorri com facilidade, cuida das outras crianças como você faz. Então para, você não tem culpa de nada além de fazer essas crianças felizes. Aliás, ninguém tem culpa de nada. Ela vai ter que se acostumar com o fato de Regina estar namorando. – O olhar triste dado pela loira não foi perdido pela Madre. – Você descobriu que a ama, não descobriu?

—Sim, mas eu não posso. Minha família jamais aceitaria e do mais ela está com Kathryn e está feliz. – Emma respondeu tentando convencer mais a ela mesma do que a mulher mais velha.

—Por que não conversa com ela? Você pode se surpreender. – Disse gentilmente irmã Cecília esperando que Emma entendesse nas entrelinhas. A irmã não queria e nem podia interferir na vida delas, mas ela duvidava que pudesse nascer alguém mais tapada que as duas. Depois teria que pedir perdão por e[pensar assim das duas.

—Eu não tenho esse direito. Eu acho que não vou prestar a prova do doutorado e vou embora de uma vez e todo mundo fica feliz.

—Quem é esse todo mundo Emma? Porque certamente não é você! Lute pelo que você quer garota.

—Nesse momento eu queria tirar a dor de Sophia e não posso. Eu queria dizer para Regina que a amo e não posso. Talvez eu devesse desistir do doutorado também. – Suspirou tristemente.

—Cada uma dessas coisas que você disse só depende de você.

—O que quer dizer?

—Você vai ter que descobrir sozinha.

Emma enrolou pela rua um bom tempo antes de ir para casa. Ela não queria encarar Regina, muito menos sua namorada. Já passava das oito horas quando entrou em seu apartamento que estava silencioso. Encontrou Regina dormindo em posição fetal em sua cama. Sabia que ela estava sofrendo e não podia fazer nada também. Foi para seu quarto tomou seu banho, leu um pouco e se rendeu ao sono logo depois.

O verão finalmente deu lugar ao outono amarelando as folhas das árvores, trazendo paisagens lindas e noites mais frias. Emma e Regina coabitavam a mesma residência, mas estavam tão distantes como se morassem em países diferentes. Emma até preferia que estivesse sendo desse jeito, pois assim Regina não ficava convidando ela para sair com sua namorada. As duas situações partiam o coração da loira na mesma intensidade.

—Loira, - Zelena chamou a atenção de Emma – Você e Regina viram a questão do Buffet? _Quem viu com Regina foi a namorada dela. – Emma respondeu sem tirar os olhos do papel.

—Hum! – Zelena revirou os olhos. – Como Regina aguenta aquele chiclete?

—Não sei. Acho que ela gosta, pois a última conversa que tive com ela há dois dias mais ou menos ela só falou como Kathryn tinha preparado um piquenique maravilhoso no parque durante a tarde.  – Respondeu arqueando as sobrancelhas dramaticamente.

—Céus. Quando que essa fase passa? Já tem quase dois meses dessa chatice. – Zelena estava frustrada. – Ainda bem que eu tenho você e as meninas porque se não minha festa não sairia.

—Não gosta de sua concunhada? – Emma arqueou a sobrancelha.

—Não gosto de concunhadas que monopolizam as minhas cunhadas.

—Ciumenta. – Emma riu.

—Sou mesmo. Aliás, você quase me trocou pelos estudos. Que dia é a prova?

—Quarta. – Emma suspirou.

—Emma, eu sei que você entra nesse doutorado de olhos fechados, mas que precisa estar em primeiro para ter a bolsa integral, mas eu sei também que você sabe que não precisa dessa bolsa. Deixa de ser orgulhosa. Usa esse dinheiro que está em sua conta se você precisar, ele é seu. Você trabalha por ele! Nem eu nem Regina conseguimos fazer o que você faz, nem temos saco para isso. – Zelena tentava ser gentil, mas ela queria mesmo era enfiar isso na cabeça de Emma a marteladas se fosse preciso.

—Talvez o melhor fosse eu voltar mesmo. Os planos iniciais eram dois anos. Estou pensando em aproveitar que minha passagem já está comprada e ir de vez antes da formatura, acho que eu consigo adiantar as coisas para isso. – Dizia olhando para baixo.

—Como é que é? – Zelena quase gritou – Você só pode estar brincando né?

—Não. A passagem esta comprada desde a vinda e ela não pode ser trocada. Posso perdê-la ou usá-la, o mestrado se estendeu mais que o previsto. – Emma falava como se estivesse falando do tempo.

—Emma você não pode ir embora.

—Zelena, isso iria acontecer uma hora.

—E eu, e Regina? E seus amigos?

—Você é bem grandinha, casada e com um filho lindo. Regina está encaminhada. – sua voz tremeu ligeiramente - Para os meus amigos existe o skype.

—E Sophia e Henry? – Zelena sabia que estava sendo baixa, mas aquela pose de durona de Emma não a convencia, só a irritava bastante.

Emma finalmente tirou os olhos dos papeis que estava lendo, seu olhar encontrou com o de Zelena e seus olhos marejaram instantaneamente. A ruiva quis se bater ao ver a tristeza tão evidente naqueles verdes brilhantes.

—Desculpe loirinha. Eu fui cruel, eu não queria... – Emma simplesmente balançou a cabeça e respirou fundo.

—Vamos pensar que vai dar tudo certo. Ouvi uma vez que acreditar ao menos na possibilidade de um final feliz é uma coisa muito poderosa. Eu escolhi acreditar e não pensar mais sobre isso até acontecer. – Ambas sorriram – Agora vamos porque temos que checar os últimos detalhes desse evento que será sua festa de cinquenta anos. – Emma disse já saindo da sala.

—Isso mesmo, minha festa de ... pera aí, o que você disse, Emma, Emma volta aqui. Eu não estou fazendo cinquenta anos. Sua petulante.... – Mas a loira continuou seu caminho gargalhando de Zelena que ralhava com ela logo atrás.

O espaço alugado para o aniversario de Zelena era aconchegante e estava arrumado de forma elegante. Aos poucos o local ia sendo preenchido. Emma estava ajudando a receber os convidados os deixando a vontade.

Tinha escolhido um vestido justo e preto que possuía alguns recortes que deixavam pele a mostra. Seus longos cachos dourados estavam soltos em cascata em seus ombros e costas. Já Regina tinha escolhido um vestido de couro vermelho.

 A festa já rolava solta há algum tempo quando Kathryn puxou Emma do meio dos seus amigos para um lugar mais reservado aonde a música não estava tão alta.

—Emma, queria falar com você em particular. – Disse a namorada da morena com um sorriso que poderia partir sua face a qualquer momento. Olhando para ela, Emma pensou por um segundo que ela se parecia muito com um emoticon, só boca e olhos.

—Eu percebi. Essa coisa de me puxar para um lugar reservado e tal deixou bem claro. - Emma colocou todo o sarcasmo em sua voz, mas a outra não percebeu.

—Eu comprei um presente para Regina e queria que você visse. – Emma deu um sorriso amarelo observando a mulher retirar uma caixinha de veludo azul de uma pequena bolsa e suas pernas tremeram em antecipação, ela queria dizer que o aniversário era de Zelena e quem deveria receber presentes era a ruiva, mas se conteve – Olhe, você acha que ela vai gostar? – Quando Emma viu o colar ali dentro quase gargalhou em alívio.

—É claro que ela vai gostar. – Disse fingindo animação – Ela vai amar. – Era um colar e um pingente de coração. Tão patético e previsível.

—Sério?

—Seríssimo.  – Então Kathryn a abraçou. Sério, qual era a dessa mulher com abraços? Ela tinha que seriamente aprender a respeitar o espaço pessoal das outras pessoas. A partir daí tudo que Emma conseguia ver na festa era Regina e a namorada. Regina e a namorada se abraçando, Regina e a namorada se beijando, Regina e a namorada de mãos dadas. Se a loira pudesse colocava uma fita preta nos olhos. Ela tentava a todo custo ignorá-las, mas elas eram praticamente onipresentes. E mesmo agora, rodeada por seus amigos, os únicos que poderia distraí-la, o assunto era Regina e namorada.

—Essa mulher é uma chata inconveniente – dizia Ruby – Ela não deixa Regina respirar ou interagir com as outras pessoas. - Então Emma cansou. Pediu licença e foi sentar em uma das muitas poltronas espalhadas pelo salão tentando entender como um momento de celebração e alegria tinha se tornado em uma noite de tormenta. A resposta a essa pergunta silenciosa passou em sua frente alguns minutos depois parando na pista de dança.

Emma sentiu inveja da alegria delas. Desejou ser ela ali com Regina. As mãos em sua cintura passeando demoradamente, ter a cabeça dela apoiada em seu ombro e sentir sua respiração em seu pescoço. Ela se perguntava como sobreviveria a essa noite sem desmoronar. Desviou o olhar delas, recostou-se à poltrona e deixou-se envolver pelo ritmo gostoso das músicas que ecoavam por todos os lados.

 Mas quando a voz de Robyn começou a sair da caixa de som, a música fazendo tanto sentido para a loira que seu coração pulou duas batidas antes de bater em disparada, ela finalmente entendeu que não poderia suportar. Era como se alguém ali soubesse o que ela estava pensando e queria provocá-la, tirar sarro dela e de sua dor.

A música continuava, Eu estou no canto, vendo você beijá-la. Eu estou bem aqui, porque você não consegue me ver?  Eu estou dando tudo de mim, mas eu não sou a garota que você está levando pra casa – cada frase parecia roubar um pouco mais do fôlego da loira - Eu continuo dançando sozinha. Tão longe, mas ainda sim tão perto, mas você não me vê aqui de pé. — Até ela perceber não estar respirando e começar a hiperventilar. Levantou da poltrona em um pulo, mas suas pernas pareciam chumbo e ela mal conseguia se mover entre as pessoas. As vozes e a música parecia ter sido abaixada no mínimo possível e não passavam de um zumbido ao longe. Sua cabeça estava oca e ela não conseguia respirar. Ela só queria um pouco de ar.

Emma caminhava para a saída determinada. Sentiu alguém segurar seu braço e chamar por Emma, mas ela nem sabia se esse era mesmo seu nome. Ela só queria ar. Ela precisava respirar. Céus, morrer afogada é uma maneira muito ruim de morrer, constatou. Saber que o ar existe, mas não conseguir puxar. Sentir a cabeça flutuar.

Puxou seu braço de volta e continuou seus passos até chegar à porta. Lágrimas queimavam em seus olhos quando finalmente a abriu e se puxou para fora. Então a realidade voltou para ela como uma batida de carro. A música mesmo lá de dentro voltou a ficar alta, o ar queimou suas narinas até chegar aos seus pulmões. A loira teve que se apoiar no corrimão da pequena escada da frente para se manter de pé antes de sentir seu braço ser segurado mais uma vez.

—Emma, está tudo bem? – Mulan perguntou preocupada.

—Sim. – ela forçou sua voz para fora – devo ter bebido demais, só isso.

—Você não bebeu uma taça de absolutamente nada Emma.

—Então eu devo ter comido algo que não me fez bem. Eu só preciso ir para casa. Por favor. – o tom choroso de Emma fez Mulan largar seu braço.

—Quer que eu te acompanhe? – Perguntou gentilmente. A loira só balançou a cabeça negativamente.

Emma literalmente desabou em sua cama no instante seguinte que tomou um comprimido forte para dormir que fez efeito por longas horas. Foi acordada por um pesadelo do qual já nem lembra mais. Tomou um banho antes de sair do quarto só para descobrir que seu pior pesadelo era estar acordada.

—Nós poderíamos morar juntas lá. – ouviu a voz que passou a odiar dizendo – Ou talvez Emma não consiga passar, aí teríamos esse apartamento aqui livre para nós duas.

A loira realmente não ficou para ouvir a resposta de Regina, voltou o mais silenciosamente possível para o quarto, arrumou uma mochila com algumas roupas e pegou seus livros. Voltou para a cozinha com cara de poucos amigos.

—Emma - Regina disse reparando na presença da loira recebendo um olhar azedo dela de volta – já estava começando a ficar preocupada que não acordava. – Disse gentilmente.

—Bem, não precisa mais. Eu não morri ainda. – Falou sem emoção alguma frisando o ainda deixando Regina chocada com seu sarcasmo e agressividade.

—Emma, a Regina adorou o colar! Bem que você disse. – Emma controlou a vontade de revirar os olhos – Ela até tirou um que ela sempre usava meio esquisito.

—Ha ela tirou? – Voltou seu olhar para Regina franzindo o cenho dando um sorriso que gelou toda espinha da morena – Ela gostou mesmo. Esse coração combinou mesmo com você. Faltaram só as rosas. Regina as adora, são a cara dela - A loira usava de todo seu sarcasmo porque sabia que Kathryn não iria perceber e Regina sim – Patético — disse baixo enquanto rolava os olhos, o que não escapou do ouvido de Regina. – Eu vou estudar na Ruby. Tenham um bom dia. – disse enquanto caminhava para a porta.

—Por que está levando roupas para estudar na Ruby? – Regina perguntou arregalando seus lhos apontando para a manga da camisa que escapulia da mochila de Emma.

—Se ficar muito tarde, eu durmo por lá mesmo. – Respondeu fechando a bolsa. – Aproveitem o apartamento. – E então saiu.

Emma não voltou para casa até o dia da prova, e depois dela voltava simplesmente para trocar algumas roupas. Ela agora não fazia a mínima questão de esconder que estava evitando Regina. Não atendia as ligações da morena e sempre ia à empresa quando sabia que ela já não estava mais lá. Belle, a secretária, a avisava.

—Loirinha, não é que eu não aprecie sua companhia toda noite na minha cama, até porque você tem um corpo dos deuses – Emma olhou para Ruby e rolou seus olhos – Mas o que está acontecendo? – Emma se perguntava quando Ruby iria questioná-la, até que demorou um pouco, ela agradeceria a amiga outra hora pelo espaço que tinha lhe dado, ao menos até a prova, pois ela precisava de toda concentração.

—Ouvi Kathryn dizer a Regina que seu eu não passar o apartamento fica livre para elas. – Foi a vez de Ruby franzir a testa.

—O que Regina disse?

—Não fiquei para escutar. Se tivesse ficado talvez eu fizesse alguma besteira. – Ela sorvia um suco pelo canudo sem vontade nenhuma. O celular de Emma vibrou em cima da mesa, o nome de Regina aparecendo pela vigésima vez aquele dia, a loira somente ignorou.

—Não vai atender? – Ruby questionou já sabendo que a loira não atenderia, como vinha fazendo nos últimos dias.

—Não. Acho que nem seu eu passar nessa prova eu vou ficar Ruby. – A ruiva quase cuspiu todo o liquido que estava em sua boca.

—Emma! Eu nem vou fazer um doutorado e vou ficar aqui, assim como todos os outros vivendo o sonho americano e você quer simplesmente ir embora. Você vai passar nessa prova, você é uma merdinha inteligente pra caramba. Quer dizer que aquela sem graça vem rouba Regina de você, e agora você vai simplesmente deixar o apartamento de vocês para ela?

—Ninguém roubou nada de ninguém Ruby. – Emma disse tentando esconder sua voz afetada falhando terrivelmente.

—Emma, você pode tentar esconder, mas eu sei que boa parte do fato você se esconder no meu quarto e querer ir desesperadamente embora, é porque você percebeu gostar de Regina. – Emma ia protestar – não precisa me confirmar. Mas se eu fosse você eu não deixava o caminho livre assim. – Emma deixou as palavras de Ruby entrarem em seu organismo e passearem ao redor e antes que ela percebesse uma ideia se formou em sua cabeça.

Irada. Era assim que Regina estava. Emma simplesmente havia desaparecido desde a festa de Zelena e a situação do colar do outro dia. Ela percebeu que a loira havia ficado chateada e queria explicar que ela não tiraria o colar que ela havia lhe dado. Tinha feito só para agradar Kathryn, mas aquele colar com pingente de coração não combinava em nada com ela. Assim como as rosas que a sua agora ex-namorada havia lhe dado no dia seguinte que Emma insinuara que a morena gostaria. Ela queria matar Emma por isso.

 Ela queria saber como havia sido a prova do doutorado, ela queria saber como ela estava. Ela precisava de Emma ao redor. A morena se perguntava como tinha conseguido ficar esse tempo longe dela e se perguntava mais, como Emma havia se tornado tão essencial.

Ela queria contar que havia terminado com Kathryn no segundo que percebeu que estava tentando transferir os sentimentos que mantinha por Emma para a outra mulher. No segundo que Kathryn propôs para morarem juntas, no segundo que ela viu a decepção nos olhos de Emma ao perceber que ela tinha retirado o colar. No segundo que ela viu aquela loira petulante saindo de casa com uma mochila de roupas, roubando todo ar de seus pulmões e cada pensamento seu nos dias seguintes.

Se possível ela queria contar a Emma que a amava muito e desde sempre. Ela queria pedir desculpas por ter mentido mais uma vez, ela teria que se desculpar por tocar Kathryn  pensando que era ela, e que ela jamais se perdoaria por isso. Mas ela primeiro tinha que conseguir encontrar Emma.

Regina gritou em frustração quando a chamada caiu e a loira não atendeu. Bateu a porta do apartamento e jogou o celular no sofá dirigindo-se ao quarto de Emma, montaria vigília lá se fosse necessário, mas quando entrou sentiu o ar faltar em seus pulmões fazendo seu coração praticamente despencar em seu peito, havia malas em seu quarto. Uma fechada, as outras pela metade.

Se Regina já estava brava, agora ela estava furiosa e um tanto quanto apavorada. Como assim haviam malas sendo arrumadas? Ela escutou a porta da frente bater, pegaria Emma de surpresa na sala já que esse não era um horário comum para ela estar em casa.

—O bom filho a casa retorna. – Disse quando viu a loira na cozinha que se assustou ao ouvir a morena falando. – no caso a filha.

—Que susto Regina. – Rebateu. – O que faz em casa esse horário?

—Acho que você calculou errado a hora que não me encontraria aqui ou então eu simplesmente quis te fazer uma surpresa, já que você me ignora há dias. – ela queria controlar sua voz, mas percebeu estar falhando ao notar as sobrancelhas de Emma arqueadas.

—Surpresa para mim? Nossa que honra! Mas acho que terei que melhorar minhas performances já que você percebeu mina façanha. – A loira não economizou no sarcasmo também.

—O que são aquelas malas no seu quarto? – Perguntou diretamente, não querendo se perder do assunto ou entrar nas provocações daquela loira estúpida.

—São o que você acabou de dizer, malas lá no quarto. Você já foi mais inteligente Regina. – Respondeu como se isso não importasse fazendo Regina fechar os punhos e apertar os dedos contra a palma da mão a ponto de se machucar.

—O que aquelas malas estão fazendo quase arrumadas lá naquele quarto Emma? – Regina dizia por entre os dentes. Por que aquela loira estava sendo tão tão tão ignorante, sarcástica, nojenta...?

—Talvez eu tenha uma passagem de volta marcada para amanhã. – ela deu de ombros - Talvez eu não tenha feito uma boa prova, talvez eu tenha que ir embora, quem sabe? Você não saberia, afinal nada além de sua namorada parece fazer parte do seu mundinho, então o que diabos importa o que são aquelas malas lá no quarto? - Regina ainda estava processando a primeira informação que Emma lhe dera.

—E o restante do mestrado, a formatura? Como assim passagem marcada para amanhã? Quando você pensou em me contar? – Regina realmente não controlou nada dessa vez, sua voz saindo algumas oitavas mais alta. Emma apenas deu de ombros. Ela não iria a lugar nenhum, mas Regina não precisava saber disso por agora.

—Achei que você gostaria de me ver longe, que você até gostaria da ideia de eu não passar na prova, de não ficar para o doutorado. Ao menos sua namoradinha iria adorar. – Falou no mesmo tom recebendo um olhar incrédulo de Regina que nem toda raiva que estava sentindo da morena pode controlar o enxame de borboletas em seu estômago. – As passagens já estavam compradas desde que eu vim para cá, primeiramente. – disse mais mansa, afinal amava essa mulher com todas as suas forças mesmo a odiando.

—E você não pensou em trocar? – Regina queria a todo custo entender o que estava ouvindo.

—Claro que não Regina, imagina – Emma disse zombando sua calma esvaindo de seu corpo mais uma vez – eu fiz toda essa caminhada pensando em ir embora antes de realmente acabar! – esbravejou - É claro que eu tentei, mas não dá. Ou eu perco a passagem, ou a aproveito. E eu pensei sim na possibilidade de ir de vez, antes mesmo da formatura... antes mesmo... – ela parou para controlar as lágrimas que beiravam seus olhos.

—Você não pode ir assim, como assim não ficar para o doutorado? Como foi sua prova? – gritou uma Regina indignada com a loira. Ela não podia simplesmente largar tudo assim, e os sonhos dela? E Regina?

—Eu não sei! Eu não sei se eu fui bem. Não sei, qual é o seu problema afinal? Isso sempre foi uma possibilidade. Você está cansada de saber disso. Você sabia que eu podia ir embora a qualquer momento.

—Você sabe que não precisa dessa bolsa, mas você é uma orgulhosa idiota! – Regina quase chorou sentindo o pânico a dominar – Você tem dinheiro em sua conta. Você pode usá-lo.

—Não posso! – Emma respondeu tentando controla sua raiva.

—Pode sim. Para com isso Emma. – O tom de Regina era de súplica. Ela não podia simplesmente perder Emma, nem amanhã, nem nunca!

—Eu não posso! – Disse entre os dentes enquanto apertava a pasta em sua mão.

—Claro que pode! Porque você não deixa essa baboseira de ser tão exageradamente orgulhosa de lado e usa o dinheiro, ele pode pagar todo seu doutorado...

—Não posso! – Emma gritou perdendo realmente a linha pela primeira vez – Não posso porque ele não existe mais.

—Co... como assim? – Regina perguntou e viu a loira jogar a pasta que ela nem tinha percebido que a outra estava segurando em cima da mesa.

Regina pegou a pasta e a abriu, dentro continha dois contratos de compra e venda um em nome de Emma e outro em nome de Emma e Regina. A morena folheava aquelas páginas incrédula enquanto as lágrimas que já vinham descendo há algum tempo se tornaram mais espessas.

—Você comprou esse apartamento, por que você fez isso? Esse dinheiro poderia ser usado para pagar todo seu doutorado Emma. – Regina estava bem alterada e com a voz embargada, mas no fundo ela sentia algo a aquecer. Se Emma havia comprado o apartamento, talvez ela estivesse querendo ficar. A morena não queria ter esperanças falsas e ter seu coração quebrado depois, mas as próximas palavras da loira fizeram seu corpo inteiro se partir em mil pedaços, e ela jamais iria reclamar por isso. Pelo contrário, iria querer ser quebrada assim mil vezes por dia.

—Porque eu não suporto a ideia de você dividir esse apartamento com ninguém além de mim. – a loira gritou finalmente – Eu não suporto a ideia de você dividir apartamento com ninguém mais, mas se for o que você quiser fazer vai ser fora daqui e eu vou assinar esse contrato sozinha. Eu posso ter perdido você para aquela loira irritante, mas eu não vou deixá-la viver aqui, não no lugar em que eu dividi com você os melhores momentos da minha vida – sua voz ainda estridente perdia gradualmente as forças antes de completar em um sussurro - não no lugar em que eu me apaixonei perdidamente por você. Era isso que queria ouvir? Satisfeita?

Regina recebeu o impacto daquelas palavras com seus olhos arregalados em horror. Emma havia se apaixonado por ela? Como assim? Então algumas coisas começaram a fazer sentido para a morena. E ela quis se bater por ter sido tão estúpida. Emma estava apaixonada por ela e ela tinha lhe pedido para cozinhar o jantar para outra pessoa.

Tudo que se podia ouvir eram as respirações pesadas e os ecos da fala de Emma que pareciam rebater ao redor delas como agulhas finas sendo absorvido por cada poro do corpo das duas ou por cada superfície dos móveis se instalando feito poeira.

Tudo parecia estar em câmera lenta, era como aqueles segundos de recuo do mar antes do tsunami. A tensão em volta delas mudou para um nível quase palpável. Regina tinha perdido qualquer capacidade de fala ou movimento.  Poderia ter passado um minuto ou um século nesse silêncio ensurdecedor, ninguém realmente saberia precisar.

Então Hiroshima aconteceu.

Os olhos de cor avelã jamais deixaram os olhos verdes enquanto Regina caminhava de encontro a Emma a beijando no mesmo instante em que empurrava o corpo da loira contra a pia sem se preocupar se estava a machucando ou não. Não naquele momento quando sentiu os lábios finos da mulher mais nova sob os seus, não quando passou a mão pelo pescoço dela a trazendo para mais perto, e definitivamente não quando sentiu os braços de Emma circundarem a sua cintura a trazendo para tão perto que qualquer terceira testemunha poderia achar que elas queriam se fundir em uma só. Não que a loira estivesse se importando tampouco.

Elas podiam sentir as ondas da explosão ao redor carregando tudo e transformando em poeira, desintegrando a matéria, mas nada mais importava. Não quando o mundo, mesmo no meio de uma explosão, parecia fazer sentido para as duas mulheres novamente.


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Notas finais do capítulo

Comentem please, eu acho que mereço.