Pra você guardei o amor escrita por Maria


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, pois eu estou amando escrever. E estou amando mais ainda as descobertas que estou fazendo e os preconceitos que eu mesmo estou quebrando.



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Narrado pela autora.

Emma havia conseguido, ela ainda não acreditava. Colocava as últimas coisas nas malas e não conseguia parar de sorrir. Estudar no exterior sempre fora seu sonho, agora, uma bolsa integral para um mestrado em Havard era mais do que ela conseguiria sequer sonhar. Estava radiante.

Havia estudado a vida inteira, se formado em Direito, mas o salário que estava recebendo como Advogada mal dava para pagar suas contas. Ainda morava com sua família, a família que a acolheu quando foi abandonada por seus pais, e aos seus quase 27 anos ter que dizer à sua adorável e rígida avó, aonde foi, com quem foi e a que horas voltaria já estava afetando sua sanidade mental.

Emma deu uma última olhada, não estava esquecendo-se de nada. Sentou-se na cama. De certa forma, apesar de toda felicidade, sentia como se também estivesse abandonando uma parte de sua vida. Seriam só dois anos, mas ... e depois? O que ela faria? Voltaria? Retomaria sua carreira de Advogada? Suspirou.

Estava deixando seu escritório, e isso também fora um sonho em um dia. Deixaria seus amigos de longa data. Deixaria sua família que havia a acolhido com tanto amor e carinho, a criou, a educou, formou seu caráter e seus valores. Emma sacudiu a cabeça, não podia pensar em nada daquilo. Ela não estava dando um passo, mas sim um salto para fora e sua zona de conforto, e não havia como voltar atrás.

Deu uma ultima girada em seu quarto. A TV na parede a frente da cama, seus DVds perto. Olhou sua estante na parede azul safira, seus livros preenchendo cada pedacinho. Passou a mão por eles, por tanto tempo foram seus melhores amigos, a consolaram e ajudaram. Ela secou uma lágrima teimosa. Odiava despedidas.

Seu celular vibrou em cima da mala. A loira o pegou, e a foto de Killiam sorrindo enquanto uma loira sorridente pulava em sua cacunda preenchia toda a tela. Seu coração deu um salto. Ainda tinha Killiam. Rejeitou a chamada, ainda não estava pronta. Durante muito tempo Emma havia pedido para encontrar alguém que a fizesse rir até sua barriga doer, mesmo que o motivo de sua risada fosse ela mesma, alguém que quisesse dividir a vida com ela, dividir as tristezas, somar as alegrias e Jones entrou na sua vida.

Lembrava como se fosse ontem, aquele petulante chegando por trás dela que escolhia um livro para comprar na livraria “se você levar esse livro com você, eu já sei com quem vou me casar”, foi a primeira vez que ele tinha feito ela rir histericamente.

Mas ela estava deixando Killiam também, ainda assustada, claro, de como a decisão veio fácil demais. Afinal, ele era tudo que ela sempre havia pedido.

Pegou as malas de cima da cama, deu uma última olhada e saiu do quarto antes que desabasse a chorar e fosse obrigada a cancelar tudo e ficar onde exatamente estava, onde achava que pertencia.

Desceu as escadas e encontrou toda sua família esperando, foi uma despedida difícil. A menininha estava saindo de casa. Apertou suas sobrinhas, consolou uma inconsolável avó e já partia para o carro de seu irmão David quando seu namorado, ou futuro ex namorado chegou;

—Achei que iria embora sem se despedir de mim. – Ele falou indo em direção à loira. Mal sabia ele que essa era a total intenção dela.

— Não faria isso Killiam. – Emma correspondeu ao abraço. Quando se soltaram ficaram se encarando por algum tempo. Os cabelos dele estavam tão espetados e rebeldes essa manhã, e aquela barba por fazer devia fazer uma cócega tão gostosa no pescoço.

Emma piscou algumas vezes para afastar esses pensamos de sua cabeça. Selou seus lábios a ele.

—Dois anos passam rápido, não é?  - Ele perguntou fazendo bico, estava realmente chateado. Tinha descoberto em Emma uma alma boa que iluminava os lugares que passava, uma pessoa forte, mas extremamente gentil.

—Kill, você sabe que não pode viver me esperando, não sabe? Não faria isso com você, jamais lhe pediria isso. – Emma passou a mão em sua bochecha, e ele fechou os olhos.

—É que por algumas pessoas vale a pena esperar. – Emma queria desesperadamente chorar, mas deu um riso fraco disfarçando e agradeceu aos céus quando seu irmão buzinou impaciente, ela fez um gesto de tchau para todos e disse que iria atrasar. Saiu em direção ao carro, a mão de Killiam foi arrastando contra a sua até se separarem. O carro já havia ganhado movimento quando a loira percebeu que a mão dele ainda estava estendida.

—-..—

Boston era linda, diferente de tudo que Emma já vira na vida. Fazia duas semanas e meia que havia chegado e sempre se surpreendia estar com a respiração presa ao passear pelas ruas de alguns bairros. Eram magníficos.

Estava hospedada nos dormitórios da universidade e permaneceria por lá pelo tempo de um mês, depois teria que procurar um lugar para morar. A bolsa de estudos era alta e permitiria ela pagar o aluguel e viver bem com sobra. Sempre fora uma pessoa que aprendeu a viver sem esbanjar. Não que sua família fosse miserável, nem perto. Tinham boa condição financeira, mas eles lutaram para estar ali e sempre ensinaram o valor do trabalho duro e a recompensa da partilha.  Emma sempre dividiu as coisas com os outros.

Havia saído para uma caminhada matinal e o vento já estava fresco com a proximidade do outono. Entrou no prédio dos dormitórios para tomar uma banho e seguir para sua próxima aula.

Emma amava as aulas. Alias, sempre gostou de aprender. Sua turma era composta por gente de diversos países, que contribuíam cada um de sua forma para o aprendizado do grupo, e os professores eram brilhantes.

Havia se identificado de primeira com um grupo bem peculiar, uma espanhola chamada Ruby, com seus cabelos vermelhos e longos. Ruby era cheia de vida e de piercings e tatuagens, Emma odiava piercings, mas eles combinavam em cheio com a ruiva. Neal, era um francês galanteador muito gentil, Mulan a chinesa mais séria que a loira já viu na vida e Ana, a alemã boba alegre e sonhadora.

—Está viajando Emma? – Ruby estalava os dedos na frente da loira que estava meio paralisada.

—Acho que ela está pensando no amor que deixou em casa. – Disse Ana fazendo todos revirarem os olhos, inclusive Emma, que não vinha pensando em Killiam desde o dia que botara os pés em Boston pela primeira vez.

—Nada disso bobinha. – a loira respondeu – estou pensando em como o tempo passou rápido e eu ainda nem comecei a procurar um apartamento.

—Tem que fazer isso logo Emma. – Mulan se pronunciou, seu pai era da comissão da embaixada chinesa no país e ela já tinha onde morar. Era fácil para ela falar.

—Se Elsa não fosse tão implicante chamaria você para morar comigo e com minha irmã. - Ana disse e Emma simplesmente sorriu com a gentileza da amiga.

—Pode sempre vir morar comigo na nossa república loirinha -  Neal falou a abraçando.

—Eu prezo pela limpeza e organização rapaz – Emma retrucou – e tropeçar em cueca suja de marmanjo não é nem de longe meu hobby favorito, portanto eu recuso sua oferta. – ela respondeu arrancando gargalhadas dos demais – aliás - continuou – em quantos vocês moram mesmo, uns 20?

—Por aí – respondeu rindo.

—Cruz credo.

—Então loirinha, minha bolsa não é integral como a sua, nem todos tem seu privilégio de receber para estudar, então papai e mamãe estão bancando o dormitório – Ruby acendia um cigarro enquanto falava, outro habito que Emma odiava.

—E as festas – Mulan falou rindo.

—Claro!!! E as festas – Ruby completou gargalhando – Como pude me esquecer das festas??

—Apaga isso. – Emma pediu se referindo ao cigarro.

Ruby olhou para a loira e revirou os olhos quando percebeu aquele olhar suplicante da outra. Afundou o cigarro na grama o apagando.

—Obrigada. – Disse gentilmente.

—Careta. -  Disse revirando os olhos.

O grupo continuou conversando mais um pouco durante aquela manhã. Tiveram uma aula vaga, o professor estava com uma infecção intestinal. Quando as aulas acabaram se despediram.

Naquela quarta-feira eles não tinham aula a tarde, aliás, só tinham aulas no período vespertino às terças-feiras então Emma decidiu que sairia à procura de um apartamento para alugar.

Em seu dormitório passou a considerar algumas coisas para sair à procura. Não queria um apartamento em uma rua muito movimentada, mas também nada longe do centro, queria também no bairro da universidade só para poder fazer o caminho a pé sem precisar de nenhum a condução e é claro não poderia pegar nada exorbitantemente caro.

Estava ferrada.

Emma saiu à rua e começou sua caminhada, fez diversas rotas saindo da universidade e já estava quase desistindo quando encontrou uma perfeita praça rodeada por um jardim onde as pessoas faziam caminhadas ou passeava com seus animais e crianças brincavam alegremente.

De um lado a praça era cortada por uma avenida movimentada e do outro havia duas quadras com prédios residenciais. Emma sorriu, era definitivamente ali que iria morar. Seguiu animada em busca do lugar perfeito, mas depois de duas horas entrando nos prédios que ela poderia pagar um aluguel, não havia conseguido nada. Sua animação estava indo para o brejo.

Parou no meio da rua arborizada para pensar, havia um prédio que tinha pulado, por fora era simples, mas por dentro inspirava elegância. Talvez não fosse tão caro assim. Emma suspirou e subiu as escadas entrando no saguão. Percebeu que não estava errada sobre a elegância. Dirigiu-se a bancada da recepção onde o porteiro conversava com uma mulher morena, cabelos negros e alinhados e estava em um terninho elegante. Sua voz era melodicamente grave. Parecia uma versão mais moderna da senhora das trevas, elegante, chique, mas mortal.

De repente Emma percebeu que talvez ali não fosse um lugar para ela. Estava de calça jeans, uma blusa de Hogwarts, tênis e os cabelos presos em um rabo de cavalo. Já ia virando para se retirar quando o porteiro lhe chamou a atenção.

—Pois não senhorita? – Ele falou com Emma interrompendo a conversa com a outra mulher.

A mulher não sabia o que fazer. A morena havia prestado atenção nela e agora a mirava, o batom vermelho lhe caía muito bem. Ela aparentava ser um pouco mais velha que Emma, mas com a roupa que a loira usava ela parecia uma adolescente geek.

—Senhorita? – ele perguntou novamente e a morena sorriu com a confusão da loira.

—Desculpe-me senhor. – Emma começou a dizer movimentando as mãos chegando perto da bancada – eu não queria atrapalhar - sorriu timidamente para a morena que apenas balançou a cabeça sorrindo também desfazendo aquela imagem de senhora das trevas da cabeça de Emma – Estou procurando um apartamento para alugar e gostei muito dessa área e já rodei diversos prédios e ainda não consegui nada. – O senhor a olhava intrigado aquela adolescente querendo morar sozinha.

—Senhorita, você não é muito novinha para querer alugar um apartamento sozinha não? – Emma ficou olhando para aquele senhor tão gentil com uma cara de espanto. – Já é maior de idade? – Perguntou.

Emma foi obrigada a rir. O Senhor a olhava desconfiado.

—Desculpe – ela disse – mas acho que não escolhi o melhor look de mulher responsável para procurar um apartamento. - O senhor ruborizou – Sou Emma e faço mestrado de direito e relações e conflitos internacionais em Havard e sinto muito se meu visual deu a entender que era muito nova, mas te garanto que não o sou.

A morena a olhou interessada.

—Eu que peço desculpas senhorita Emma, mas é que realmente parece uma menina. Uma menina linda. – Emma sorriu timidamente – mas infelizmente nosso último apartamento foi alugado há dois dias – ele falou olhando para a mulher morena. Ela acompanhou o olhar dele e sorriu pelo olhar constrangido que a morena lhe dava.

—Bem, - ela suspirou – valeu a tentativa. Talvez hoje só não seja meu dia de sorte. Agradeço a atenção.

—O prazer foi todo meu senhorita.

Emma sorriu e se despediu e já estava quase na calçada quando ouviu uma voz rouca lhe chamar. Olhou para cima e percebeu que era a mulher da recepção, parou e esperou ela chegar no degrau que se encontrava.

—Emma, certo? – ela perguntou com a respiração alterada e a loira somente acenou – sou Regina - ela estendeu a mão para Emma que a apertou – bem... se você quiser podemos dividir o apartamento, ele é realmente muito grande para uma pessoa só.

Emma ficou olhando aquela estranha ali na escada lhe oferecendo para dividir um apartamento. Só podia estar ficando doida. Nem conhecia a mulher.

—E então? – Ela perguntou receosa e Emma percebeu que teria que recusar gentilmente a oferta.

—Bem Regina, muito obrigada pela oferta, mas parando para analisar, acho que o aluguel aqui é um pouco acima do meu orçamento – ela na verdade não sabia, mas supôs que sim, mas também descobriu que era a desculpa perfeita – acho que vou ter que recusar – sorriu, mas o sorriso congelou ao ver os olhos da morena, pareciam decepcionados?

—Tudo bem entendo. Mas faz o seguinte, toma meu telefone – ela lhe entregou um cartão – se caso não encontre um não hesite em me ligar.

Emma pegou o cartão e agradeceu saindo a passos largos dali. Arriscou olhar para trás e aquela estranha ainda lhe encarava, resolveu colocar o papel na bolsa para que ela não visse a desfeita quando jogasse fora. Que mulher mais maluca essa. Balançou a cabeça e correu para qualquer outro prédio que ainda não havia entrado.


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Notas finais do capítulo

xoxo



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