Apagando os erros escrita por Doctor Seimei


Capítulo 1
Apagando os erros




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A vida é cheia de erros, não dá pra fugir disso, é a natureza humana...

  Alguns podem não ser nada mais que um pequeno incômodo, alguns podem definir o rumo de uma vida...

  Mas diferente do que a maioria acredita, o que também é demonstrado pela sociedade, eu creio que não são nossos erros que nos definem, mas nossa capacidade de conserta-los.

  A própria juventude é uma sequência de erros, e é assim mesmo que deve ser, não é errado estar errado. Mas chega um ponto em que passamos a tentar cometer menos erros, chega um ponto em que tentamos conserta-los, isso se chama amadurecer...

  Sempre fui tido como uma pessoa madura, mas somente após realmente amadurecer que eu percebi o quão infantil eu era. Era arrogante, me recusava a usar uma parte do meu poder e ainda assim me achava melhor do que os outros, melhor do que meu pai, a pessoa que eu mais odiava naquela etapa da minha vida.

  O fogo é meu pai, o gelo é minha mãe, este foi o pensamento com o qual cresci, era nada mais que um produto de um casamento sem amor com o intuito de gerar uma individualidade poderosa. Eu odiava meu lado vermelho e insistia em usar somente meu lado branco, o poder de minha mãe, só com isto eu já era melhor do que a maioria, isto me tornou em alguém prepotente e cheio de si.

  Mas esta minha forma de pensar estava errada...

  “Este não é o poder de ninguém mais, este poder é seu e somente seu, não há vergonha em usa-lo!”, as palavras originais não estão mais em minha cabeça, mas era isto que elas queriam me transmitir. Estas palavras foram transmitidas por aquele que veio a se tornar meu melhor amigo. Foi aí que eu comecei a mudar, meu ódio por meu pai foi aos poucos diminuindo para um ressentimento, que encolheu até não ser nada além de uma pequena birra. Ele fez algo imperdoável, mas eu aprendi a perdoa-lo. Foi quando senti o primeiro erro sendo apagado, o erro de manter um ódio que me corroía dentro de mim.

  Este grande amigo, hoje conhecido como o símbolo da paz, o maior de todos os heróis, aquele que salva a todos com um sorriso, Midoriya Izuku, está aqui como o padrinho de meu casamento.

  “O grande dia”, como chamam, não é? Eu estava mais nervoso do que quando vou para uma grande operação contra vilões.

  Mas enquanto estava no altar eu tinha de admitir, era uma visão bonita. Meus melhores amigos, os colegas que se formaram comigo na academia U.A. para super heróis, outros colegas de profissão, foi um pouco difícil de acreditar, mas até o Bakugou compareceu!

  Em cantos distintos eu pude observar os que mais me preocupavam, meus pais...

  Quando o convidei ele não disse uma palavra, não opinou nem nada, apenas me respondeu que estaria lá. Sua expressão era estoica e arrogante como sempre, mas não pude deixar de me sentir um pouco feliz com isso, afinal era meu único pai...

  Em um canto distinto estava minha mãe, com um sorriso de felicidade tão sincero que senti vontade de chorar...

  Ela estava completamente recuperada, vivendo sua vida, sendo feliz. Uma pessoa totalmente diferente de anos atrás...

  Ao observa-la bem não pude deixar de criar em minha mente uma imagem de seu casamento. Acredito que ela estivesse feliz no momento por não saber dos maus tratos que a esperavam. Isto era um erro, um casamento sem amor...

  Foi quando ela entrou, deslumbrante, com seu vestido de noiva. Yaoyorozu Momo, que daqui a não muito tempo viria a ser Todoroki Momo. A imagem de um casamento sem amor quebrou-se em minha mente enquanto ela se aproximava...

  Eu não tinha este sentimento por ela na época de nosso colegial, mas aos poucos isto veio crescendo dentro de mim e se tornou uma outra forma de felicidade.

  Lembro-me de esboçar um leve e nervoso sorriso.

  E nos casamos...

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  Pouco mais de um ano e meio se passou desde então, continuamos com nosso trabalho e nossa relação se tornou mais forte. Eu era racional e plano demais, mas com o tempo eu aprendi uma das coisas mais importantes para os seres humanos, a empatia...

  Eu estava na sala deitado no sofá, lendo um livro, quando ela me se aproximou.

  Gentilmente ela tocou no lado direito de meu rosto com sua mão esquerda, sorriu levemente e me disse:

  “Esse seu lado é tão bonito...”.

  Eu paralisei, imagens de minha mãe fazendo algo semelhante a isso vieram à minha mente. Eu sabia o que viria logo depois, já estava na espera de algo como “mas este seu outro lado é tão feio...”

  Mas ela simplesmente demonstrou um sorriso mais belo ainda, tocando no lado esquerdo com sua mão direita e disse-me:

  “Este seu lado também, pois sem ele não seria o que você é...”.

  A imagem de minha mãe queimando o meu lado flamejante simplesmente se quebrou em minha mente. Eu consegui esboçar um sorriso bobo como o de uma criança inocente...

  E assim permanecemos, em silêncio, por mais alguns momentos.

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  Dois meses se passaram até que veio a notícia...

  “Estou grávida.”, ela me disse.

  Eu reagi de uma forma totalmente inusitada, acho que congelei metade da casa sem querer enquanto emanavam labaredas de meu corpo, foi estranho.

  Mas ao mesmo tempo eu estava extremamente feliz. Quase que ao mesmo tempo me veio à mente uma imagem de meu pai esperando um filho com a “individualidade perfeita”, imagem esta que se quebrou quase que instantaneamente.

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 Quatro anos se passaram, estava eu chegando da agência quando vi a cena.

  “Oh. Você ganhou uma individualidade? Que legal! Pode me mostrar? Como será que isso funciona, me lembra à sua mãe e a seu pai ao mesmo tempo...”

  “Izuku, a que devo sua visita?”, Perguntei-lhe interrompendo-o antes que começasse a balbuciar eternamente. Ele estava com sua típica roupa verde de herói, brincando com meu filho.

  “Ah, Shouto! A Ochako-chan disse-me que escutou da Todoroki-san que seu filho havia finalmente manifestado sua individualidade e eu corri aqui para ver!”, respondeu-me meu amigo.

  Eu estava inacreditavelmente feliz, meu filho havia recebido sua individualidade!

  Eu já havia imaginado caso tivesse sido meu pai, se não fosse o esperado ele seria só uma “falha”, mas ele com certeza não será assim para mim!

  Lá estava ele, quase com seus quatro aninhos, seu cabelo era branco, como meu lado direito, mas ele tinha traços da Momo em seu rosto.

  De seu corpo ele criava pequenas esculturas de gelo. Quem diria, de certa forma era uma mistura dois pais, chega a ser irônico...

  “Papai, olha só, eu tenho uma individualidade!”, ele disse entusiasmado correndo para mim.

  “E uma bela individualidade!”, exclamou sua mãe entrando na sala, ainda com a roupa de heroína.

  “Com toda a certeza...”, disse enquanto abraçava meu filho. Uma fina lágrima escorreu pelo meu rosto nesse momento.

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  Meu garoto estava então com quinze anos, era seu primeiro dia de aula na U.A.

  Ele havia sido aprovado, pois havia aprendido a controlar com esplendor seu poder, o de criar gelo nas mais variadas formas.

  Palavras ditas pelo meu pai vieram à minha mente:

  “Você tem de ser o melhor! Você foi criado para superar o All Might!”, mais uma imagem que logo se quebrou.

  “Irmão, irmão, manda ver!”, quem havia dito isso era a filha mais nova, de cinco anos, cuja peculiaridade lhe permitia aquecer seu corpo à altíssimas temperaturas, ela pulou em cima dele e lhe abraçou.

  Ela, com seu cabelo rubro e representando o calor. Ele, com seu cabelo branco e representando o frio. Juntos de uma forma tão harmoniosa e alegre...

  “Ai, ai, Kotori, tá quente!”, ele lhe disse, criando gelo para resfria-la.

  “É que eu to muito feliz por você, irmão, era seu sonho ser herói como o papai, né?”.

  “Tem algo a dizer para ele, Shouto?”. Perguntou-me minha esposa.

  Eu olhei atentamente para ele. Eu sentia que ele lembrava muito a mim mesmo, porém sem que meus traumas de infância tivessem me atingido.

  “Seja o melhor...”, passou pela minha mente...

  “Não!”, pensei.

  Foi quando finalmente lhe disse:

  “Hibari.. Apenas me prometa uma coisa. Dê o seu melhor!”, disse-lhe com vontade.

  “Plus ultra!”, ele me respondeu sorrindo ao sair de casa.

  Kotori o acompanhou e pouco depois seguiu seu caminho para sua escola.

  Fiquei sozinho um pouco com a Momo, nos beijamos e nos despedimos, ela normalmente saía antes de mim para o trabalho.

  Antes de, também, tomar meu caminho, segui para o banheiro, lavei o rosto e me olhei no espelho.

  Eu esboçava um sorriso.

  Não era um sorriso bobo, não era um sorriso nervoso, não era muito largo e nem um sorriso leve,

  Era, porém, um sorriso amadurecido. De quem cometeu erros e que soube concertá-los.

  Era simplesmente...

  Um sorriso...


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