Seus dedos passearam pela capa do livro, e ela sentiu o coração apertar-se contra o peito. Levantou os olhos para a manchete a qual lia e relia desde que havia descoberto, há uma semana atrás. A frase que a impedira de dormir escrita ali, tão sem sentido, tão devastadora para seu coração, e seus próprios pensamentos...


“O famoso escritor Richard Castle surpreende os fãs com mais um livro lançado da trama Nikki Heat.”


Kate encostou as costas no sofá e respirou fundo, enquanto trazia o livro para o peito e o apertava com os braços, com uma força desnecessária, mas ainda assim incontrolável. Fazia meses que ele havia ido embora. Seu último livro – aquele que ela, e todo o resto do mundo haviam pensado ser o último – fora lançado, e então ele partiu. Sem um adeus, sem uma explicação, sem dizer uma palavra. Ela riu ironicamente, enquanto as lágrimas que antes se mantinham presas em seus olhos, agora transbordavam por seu rosto. Afinal, o velho ditado estava certo. Você só sabe o que tem, quando o perde.
“Se você continuar o afastando, e não desistir de mentir para si mesma sobre o que sente por ele, um dia, ele irá embora e você se arrependerá, Kate.” Lanie houvera dito uma vez. É, Detetive, você plantou o seu destino, e agora o está colhendo.
Beckett afastou o livro para olhar a capa novamente. Para o título, especificamente. “Nikki Heart”. O que significava àquilo? Depois de tanto tempo... desaparecido, ele volta com um novo livro, com um título daqueles. Um livro que ela só havia tomado coragem para comprar naquela noite. Respirando fundo, ela tomou coragem e o abriu.

“Eu poderia dedicar este livro à mim mesmo, pois ele foi mais sobre o que eu sinto, o que eu penso, do que qualquer coisa. Mas no momento, por ter tido coragem de escrever o que meu coração mandou, mas não ter tido para obedecê-lo, não me sinto digno disto. Então dedico este livro a única pessoa que realmente me interessa lê-lo. Detetive Kate Beckett.”

Seu coração parou naquele instante. E embora o mesmo gritasse que não havia mistério, não havia confusão alguma ali, sua cabeça ainda girava com aquelas palavras. Virou a próxima página e analisou o sumário. Um título em especial lhe chamou a atenção.“Thinking Of Nikki”. Ela marcou o número da página na cabeça e então seguiu para o próximo. Logo se seguia o último capítulo do livro anterior a esse. Percorreu com os dedos as últimas palavras, e uma gota de lágrima caiu sobre as mesmas.


“- Você tem certeza disso? – Rook perguntou, segurando a mão de Nikki. Ela engoliu as lágrimas e soltou da mão dele.
— Sim, eu tenho. – Afirmou firmemente, tentando esconder a dor que lhe consumia por dentro.
— Por que? – A voz do homem que geralmente era tão forte e segura, soou falha, em um sussurro coberto de mágoa.
— Porque, eu não te amo. – Ele se aproximou dela, olhando-a fixamente. A Detetive segurou a respiração e sentiu seu coração palpitar, ao achar que ele a beijaria. Mas Rook apenas sussurrou.
— Você está mentindo. – O escritor se afastou, aumentando um pouco o tom. - Só porque eu quase morri, e você acha que a culpa é sua, Nikki. Acha que eu ficarei melhor longe de você. – Ela abriu os lábios para responder, mas não conseguiu ao ver as lágrimas que se formavam nos olhos dele. Heat nunca havia o visto chorar antes. – Você está enganada, Detetive. Mas se essa é a sua decisão, o que eu posso fazer, não? – Rook virou as costas e saiu da Delegacia. Assim que ele sumiu de sua vista, Nikki permitiu que as lágrimas escorressem, assim como os soluços que pulavam por sua garganta. Ela abraçou o próprio estômago, sentindo uma dor física quase tão pior quanto a emocional, e voltando a fitar o corredor por onde segundos atrás ele havia passado, ela sussurrou, como se ele pudesse ouvi-la.
— Eu sempre vou amar você.”


Ela nunca se esqueceria da revolta do público ao ler aquilo. Castle havia encerrado a série de livros com o fim do casal que - naquela época - era um dos mais famosos do país. Sempre a disseram que Nikki e Rook eram a cópia escrita dela e o escritor, e o primeiro pensamento que teve quando lera aquilo pela primeira vez, fora que para ele, ela havia terminado o que eles tinham. Talvez por não ter cedido aos seus sentimentos. Talvez por nunca ter dado uma chance a ele. Mas isso não era verdade! Foi ele que foi embora sem dizer nada, afinal de contas. Respirando fundo, ela seguiu para a próxima página. O nome J. Rook. estava escrito em negrito, no inicio da página. Kate ergueu uma sobrancelha, ao mesmo tempo que sentiu seu coração acelerar. O livro havia sido escrita pela visão de Rook... de Castle. Isso só aumentou sua vontade de ler aquele capítulo em especial, então ela correu para ele, com as mãos trêmulas.


Thinking Of Nikki

Todo dia é uma nova luta. Uma guerra entre meu coração e minha razão. Um grita para que eu a esqueça, e o outro me leva sempre há algo que me lembre dela. Da cor de seu cabelo, do brilho de seus olhos, ou dos lábios rosados ao qual tantas vezes eu me deliciei. Tento achar uma saída para tudo isso, mas não consigo. Repasso na minha cabeça tudo que vivemos, desde o primeiro contato, até o adeus. O que eu fiz de errado? Eu deixei de dizer algo? Mas eu acho que estou tentando encontrar um erro que não cometi. Eu me entreguei a ela como nunca havia me entregado a outra mulher. Eu a amei todos os dias, mais do que a mim mesmo. E então o que tínhamos simplesmente... acabou.
Quando eu fecho os olhos, eu lembro do primeiro caso que tivemos juntos. Nikki estava tão linda, tão... sedutora. Aqueles olhos, que me encaravam como um tigre tentando conhecer o inimigo, fizeram algo estranho crescer dentro do meu peito. Depois, o que vem a minha cabeça, foi quando - mesmo ela pedindo para que eu nunca o fizesse - eu mexi no caso de sua mãe. Céus, eu nunca havia sentido tanto medo de perder alguém, e nós se quer tínhamos alguma coisa. Quando ela preferiu matar o assassino da mãe a correr o risco de que eu me machucasse, eu me senti um lixo. Como se toda a dor que ela expressava naquele choro descontrolado fosse minha culpa. A primeira vez que eu vi a forte Detetive chorar, e como eu desejei que fosse a última. Tudo que eu queria naquele momento era abraça-la, beijá-la, dizer que ficaria tudo bem.

Kate parou um pouco de ler, cobrindo o rosto com a mãos, enquanto as lágrimas misturavam-se com os soluços. Aqueles não eram momentos de Rook e Nikki. Eram momentos deles! Beckett e Castle. Sentiu uma dor devastadora se apossando de seu ser, e sentiu como se seu coração tivesse se apertando contra o peito, rompendo sua respiração e fechando sua garganta, em um misto de dor silenciosa e um desejo quase incontrolável de gritar. Gritar. E gritar. As imagens passavam-se por sua mente, como se houvessem acontecido ontem.
A Detetive levantou os olhos para o porta retrato que havia sobre sua estante. Ela, com mais ou menos uns nove anos, abraçava sua mãe e beijava seu rosto. Um sorriso triste percorreu os lábios trêmulos, e seus olhos já vermelhos se abaixaram, fixando-se em uma frase. Apenas uma frase, que seguia todo o resto da história. Uma frase que a fez abrir os lábios para respirar e contrair as pálpebras.

Eu já há amava ali.

Limpando o rosto, ela virou a folha, tentando engolir o nó que sufocava sua garganta.

As vezes eu penso: "Se eu pelo menos houvesse tentando falar... Se eu a tivesse realmente tomado em meus braços, o que aconteceria?" Eu há amei durante tanto tempo, que não sei dizer. E em vez de deixar esse sentimento me guiar, eu vivia movido pelo medo. O medo de que aquilo acabasse. De que se um dia eu me declarasse, eu a perdesse. E pra vocês verem, eu acabei perdendo-a. Perdendo-a porque ela é cabeça dura demais, se protege demais, e tem tanto medo quanto eu. A perdi, porque eu não fui capaz de abraçá-la e dizer que ficaria tudo bem, que eu faria dar certo. Nós faríamos dar certo. Mesmo com os obstáculos, mesmo com os empecilhos, mesmo com os riscos, nós faríamos dar certo.

Sua leitura foi interrompida pelo telefone que começou a tocar. Kate respirou fundo, imaginando o quanto sem vontade de falar com alguém ela estava. Quando ia voltar sua atenção para o livro, o som de sua secretária eletrônica soou, e uma voz conhecida começou a falar.

— Kate? Hum, eu não sei se está aí, mas eu só queria dizer...— O escritor pareceu fazer uma pausa para respirar profundamente, e continuou. - Eu sei que você já deve ter visto a notícia do novo livro, mas não sei se ainda o leu.. - Kate se levantou do sofá com o livro em mãos, e se aproximou do telefone, sem saber se queria atender ou não. - Se você estiver com ele em mãos - o que por te conhecer eu acho que você está, com medo de atender o telefone e com lágrimas caindo dos seus olhos - eu peço que, por favor... — Ele fez mais uma pausa, pensando se diria aquilo mesmo. Kate sorriu, mordendo o lábio ao ouvi-la descrevê-la exatamente como ela estava. Será que ele a conhecia tão bem? Balançou a cabeça afastando esse pensamento e o ouviu terminar a frase. - não esqueça de ler a última página... hum, acho que é isso. Até mais, Detetive.— Beckett parou uns segundos para pensar, então levantou o livro e o abriu na última página. Estava toda em branca, a não ser por uma curta frase, bem no centro dela.

"Ainda não é tarde para nós. Me encontre está noite aonde nos conhecemos."

Uma última lágrima escorreu por sua face, mas não mais de tristeza. Decidida, a Detetive pegou a jaqueta que estava esquecida sobre o sofá e saiu, ainda com o livro nas mãos.

x.x.x

O bar onde Castle havia lançado o último livro da saga Derrick Storm estava praticamente vazio. Havia apenas uns dois casais namorando em mesas no fundo do estabelecimento, e dois homens sentados no balcão, com uma grande distância entre eles. Kate sentiu seu coração falhar uma batida ao reconhecer um deles. Em passos lentos, ela se aproximou.

— Sr. Castle? - O escritor que levava um drink há boca parou imediatamente o que fazia, abrindo um enorme sorriso no rosto. Ele deixou o copo no balcão e se virou para ela.
— Aonde eu autografo? - Ela riu, ponto as mãos nervosamente no bolso. Um silêncio estranho surgiu entre os dois. Os olhares sendo desviados, e sorrisos envergonhados pousando sobre o rosto de ambos. - Então... eu precisei realmente ligar para que você viesse? - Kate encarou-o, com uma sobrancelha erguida.
— Desde quando você está me esperando aqui? - O garçom, que servia o copo de um novo cliente olhou para a linda mulher, com um sorriso cansado no rosto.
— Há uma semana senhora. - Ela entreabriu os lábios, surpresa. - Toda noite ele vem e a espera até o bar fechar. - Rick apenas olhou sorrindo para o garçom, então voltou a fixar seus olhos naquele rosto ao qual ele sentia tanta falta.
— Desculpe. - Ela disse, envergonhada. - Mas eu só comprei o livro hoje.
— Eu achei que você correria para comprar o livro assim que ele fosse lançado! - Ele exclamou, surpreso. Depois balançou a cabeça, bebendo mais um gole de seu drink. - Mas pelo visto eu te subestimei. - Percebendo o que ele estava pensando, Kate se adiantou a explicar.
— Eu fiquei com medo. - O escritor levantou os olhos pra ela, prendendo sua atenção ali. - Com medo do que eu poderia ler aqui. Do que eu sentiria...
— E o que você sentiu, Kate? - Se aproximando dele, com o livro escorado em seu peito sobre os braços cruzados, ela perguntou.
— Rick, o que está escrito aqui, é verdade? - Ele largou novamente o copo e pediu licença para segurar o livro. Acenando com a cabeça, ela o entregou a ele. Castle abriu o livro em uma página certa, e o virou para a Detetive, com um dedo apontando para uma única frase da folha repleta de palavras.

— Porque você voltou, Rook? - Ele acariciou o rosto dela e respondeu.
— Por que eu te amo, Nikki. Eu sempre te amei e sempre vou te amar.

— Eu escrevi com toda a verdade que há em meu coração. - Beckett levantou os olhos marejados para ele. - Agora é a vez de você mostrar a sua para mim, Detetive. - Abrindo um enorme sorriso, Kate encaixou o rosto dele entre as mãos e sussurrou contra seus lábios.
— Eu te amo. - Retribuindo o sorriso, Castle abraçou-a pela cintura e a beijou, com todo o amor que agora ele estava disposto a demonstrar. Um amor, que para ele eram mais do que palavras. Era a maior de suas emoções.


Fim.