Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi agendado, se ele sair antes de eu ter respondido aos comentários, não se preocupem. Sempre respondo e com muito gosto!

Boa leitura,



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Darcelle enxergou toda incredulidade nos olhos azuis, viu o medo, a hesitação e certa curiosidade, contudo nada era maior que aquele ponto de interrogação perdido no olhar. Pensou em algo para reforçar as próprias palavras, mas não encontrou nada que pudesse acrescentar, se sentia exposta, como uma ferida aberta no meio da testa. Aguardou com pacatez, não poucos segundos, vários minutos. Era como se várias coisas corressem na mente de Damien, passado, presente, futuro. Um turbilhão de sensações incompreensíveis até então.

— Me desculpe. — Ele disse e finalmente baixou os olhos, deu meia volta e saiu do quarto, batendo a porta no percurso.

Ela ficou sem acreditar no ato feito, assistiu a porta se fechar, como um grandioso não, e sentiu uma estranha dor ter varrido toda sua espinha, fragilizando até sua alma. Teria entendido mal as palavras do patrão? Teria sido precipitada, atrevida? Como esconder os sentimentos quando acreditava que partilhasse do mesmo?

Quis ir atrás como sempre, exigir uma explicação para aquilo e abusar de todos argumentos possíveis para obter uma justificação plausível sobre tal atitude. Não conseguiu, apenas sentiu o corpo escorregar até ao chão e todas as habituais forças se perderem. Então era aquilo que Jamie sentia quando Lorenzo a magoava? Darcelle sempre fora tão firme e nunca havia experimentado até então o que era o sentimento por um homem, por isso não imaginava a proporção destruidora de uma rejeição.

Os olhos ficaram embaciados e tudo à sua frente pareceu tremer como um lago sereno maculado pelo tilintar de uma pequena pedra, e então, algo tão puro e cristalino rolou pelo seu rosto, uma seguiu a outra, como uma torrente para exilar energias negativas.

Quando chegou a sua casa ainda usava o vestido do noivado, tinha o cabelo natural desgrenhado e um olhar abatido. Jamie estava curvada sobre o sofá, tinha uma ferida aberta nos lábios e os braços todos raspados, em machucados expostos. A mão direita tremia a medida em que cosia um profundo corte na perna grossa, e sequer olhou para a prima, a vergonha cobria o rosto da médica.

— O que aconteceu? — Darcelle esqueceu de suas próprias dores ao avistar o estado precário que a outra se encontrava. O Kit médico estava aberto, e várias bolas de algodão ensanguentadas estavam num amontoado no chão. — O Lorenzo fez alguma coisa? O Chris...?

— Não, claro que não — negou veemente, deixando claro a impossibilidade de um deles fazer algo violento contra ela. — Fui assaltada, roubaram meu carro.

Mentia. Jamie mentia tão mal quanto dois mais dois fosse igual a três. Estava certo que nenhum daqueles homens tinha feito algo, mas existia outra história por trás da contada.

— Me ajuda, me passa o curativo e traz a caixa de remédios — pediu, a voz estava devastada, e isso também fez Darcelle se sentir um lixo. Quis abraçar a prima e chorar, mas sabia que ela não ia querer isso.

— Por que não foste ao hospital? Não percebo. — Questionou enquanto fazia o que lhe era pedido, também trouxe um copo com água, ajudou a fazer os curativos e limpou a sujidade do chão.

— Eu sou médica... ou quase.

A assessora de Beauchamp não gostava daquele jeito fechado da sua prima, era como um rochedo intransponível sempre a procura de alguma defesa contra a vida. Não parecia querer mudar. Limitou-se a arranjar algo para Jamie comer e beber, e um cobertor para que pudesse descansar no sofá, não parecia em condições de se deslocar até ao quarto.

— Por muito que você prefira não falar das coisas, eu quero que esteja a par do que acontece comigo. — Darcelle já tinha trocado de roupa e estava numa pequena poltrona, com o prato no colo e sem muita vontade de comer. Ouviu a outra a pigarrear qualquer coisa dentro do cobertor. — Eu tenho esse sentimento... não sei se é amor, mas é muito forte. Talvez tenha sido muito atrevida, me declarei e simplesmente Damien fechou a porta na minha cara.

— Não sejas tonta, pequena. O senhor Beauchamp não deve estar acostumado a ter pessoas que gostem dele com aquela aparência, estava certo de nunca vir a encontrar o amor. Parecias a própria noiva desejada, nunca vi um olhar mais sincero do que aquele que te deu quando dançavam no noivado. — As palavras da jovem médica soaram como verdadeiros bálsamos para o coração recém-ferido.

— O que faço?

— Espera.

— Por que não me contou sobre Christian Dash?

— Por vergonha.

— Promete que nunca mais vai ter vergonha de me falar as coisas?

— Prometo.

— Estamos juntas em tudo. Sempre...

— ... E agora.

***

A semana na Beauchamp começou cheia de expetativas para a Johnson, ansiava por ver Damien entrar na sala a frente, e poder vê-lo ou falar, mas isso não aconteceu. Recebia ordens através do senhor Dash, e trabalhava diretamente com ele ou com outros responsáveis por outras áreas.

— Er... Darcelle, será que eu podia ter uma palavrinha com você? — Parado junto a porta, o administrador da empresa parecia novo de mais e perdido naquele meio. Só a sua competência o salvava.

— Claro, está tudo bem? Fiz algo errado? — Olhou para o relógio manual pendurado no alto da porta, indicava o fim de mais um dia de trabalho. Ainda assim, não sentia vontade de ir para casa, era como se estar ali a pusesse mais perto daquele que a tinha rejeitado.

— De errado? Não. Quanto ao trabalho só recebo elogios sobre você. — Andou um pouco mais e fechou a porta com cuidado. Os olhos verdes contrastavam com o cabelo irremediavelmente desalinhado. — Sei que não é o local, mas a sua prima... o que aconteceu com ela? É que o carro que eu lhe dei não foi roubado, foi trocado num beco de viciados.

A assessora levantou os olhos num ato rápido e crítico, buscando Dash a perceber que era algo bem longe do que poderia imaginar.

— É a minha tia. A mãe de Jamie deve estar de volta e é drogada! — A voz quase saiu chorosa, entendendo tudo com uma rapidez inimaginável. Estremeceu por todo corpo e sentiu a garganta ficar seca. — Ela apareceu toda ferida, deve ter tentado salvar a mãe de alguma coisa.

— Por que ela não fala comigo? — gritou sem se conter e pediu desculpa logo a seguir.

— Nem comigo fala. Você precisa ajudar ela, se estiver sendo vítima de alguma chantagem, pode ser muito perigoso.

Christian não disse mais nada, apenas abandonou a sala da assessora de Beauchamp mais rápido que as pernas poderiam permitir. A jovem também não se fez de rogada, desligou os eletrónicos e usou o seu casaco antes de apagar a luz do lugar, descendo o elevador de forma impaciente, o coração palpitava contra o peito.

— Senhora Johnson! — Étienne a intercetou na saída do enorme edifício, inclusive Rupert, a rececionista, não deixou de curvar o pescoço para assistir o que quer que fosse. — Por favor, venha comigo.

Não teve tempo sequer de reclamar, apenas engoliu saliva para molhar a garganta e não demorou a confirmar as suas suspeitas. O Bentley Mulsanne estava parado em toda sua opulência, e o motorista cada vez mais se perguntava a importância daquela mulher.

— Senhor Beauchamp — disse assim que entrou no carro, tentou parecer o mais séria possível, mas a felicidade interna por o ver depois de alguns dias, parecia querer se descontrolar.

— Preciso lhe falar.

— Eu não posso agora, preciso ajudar minha prima. O senhor Dash foi atrás dela e...

— Aposto que o Chris trata disso, melhor que você. — Damien fez um sinal com a mão, e as portas do carro se trancaram e o carro começou a ganhar velocidade.

— Não tem o direito de aparecer assim do nada e decidir sobre o que pretendo fazer ou não. — Estava magoada, o tom acusatório era visível na voz.

O monstro du Camp estava calmo, o lado deformado mais encostado à janela. Os cabelos loiros bem organizados para trás, e aquela fragância masculina inebriante. Darcelle não tinha como descrever a sensação de o ter por perto.

— Me deixe falar algumas coisas e depois a levarei até sua prima.

A negra trincou os dentes com força, unindo os lábios numa linha reta como se quisesse proibir o próprio linguajar de sair para fora.

— Pois fale.

— Não aqui.

Queria perguntar aonde, mas preferiu ficar calada com o olhar distante para o movimento da cidade. O que lhe diria Beauchamp? Estaria preparada para o que vinha pela frente? Eram muitas perguntas, por isso se permitiu relaxar durante a viagem que se seguiu.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo terá Bónus de Chrismie/Jamian. Espero que gostem!

Qualquer coisa? Por favor usem a caixa abaixo, é rapidinho e não custa nada. É tão bom saber o que pensam, o que ta bom e o que ta errado. Não hesitem!

Beijos de luz.