Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 20
Capítulo 20 – Um Pouco Mais Sobre Safira




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No sábado seguinte ao do Jogo de Quadribol, Safira e Sirius se encontraram na Sala Precisa para mais uma aula de dança.

Após cerca de meia-hora, Saf o soltou e ficou olhando para ele pelo reflexo do espelho.

—Você já sabe os passos. – comentou ela – Mas alguma coisa não está certa.

Depois de estreitar os olhos e pensar por um minuto, ela falou:

—Feche os olhos.

—O quê? – ele estranhou

—Feche os olhos. – ela repetiu.

Mesmo não entendendo o motivo, Sirius assim fez. A música continuava em volta deles.

A moça começou a andar ao redor dele como se procurasse alguma coisa. Quando estava atrás dele, tocou seus ombros dizendo:

—Tire a tensão dos ombros. – e sentiu os músculos dele relaxarem sob seus dedos.

Quando ficou à frente dele, acrescentou:

—Respire um pouco mais fundo e um pouco mais lento… Assim… Não só escute, sinta a música à sua volta. – e, em seguida, acrescentou – Não é tão estranho quanto parece.

Sirius tinha de fato achado estranho… e também tinha a impressão de que não havia deixado isso aparente…

—Solte os músculos do rosto. – Safira continuou – Ainda há uma ruga aqui. – ela tocou um ponto em sua testa entre as duas sobrancelhas.

Após deixá-lo assim por um ou dois minutos, Saf aproximou-se do ouvido dele para dizer:

—Continue com os olhos fechados.

Ela pegou, então, uma das mãos dele e apoiou a outra no ombro de Sirius. Automaticamente, ele segurou sua cintura. Em seguida, a moça o guiou pela sala até o fim da valsa. O rapaz tinha os passos bem mais leves e já não tinha o corpo rígido e os movimentos mecânicos.

Quando o ambiente voltou a ficar silencioso, ela se separou dele e Sirius abriu os olhos.

—Bem melhor. – ela comentou – Então pelo visto seu problema é quando está olhando pra mim. – ela brincou – O que vou ter de fazer pra você ficar menos sem graça perto de mim? Contar histórias embaraçosas de infância?

—Histórias embaraçosas de infância seriam interessantes. – Sirius deu um sorriso maroto

—Esquece. – fez Saf em um meio-sorriso – Foi só força de expressão pra ver se você acordava.

—Que pena…

—Agora tenta fazer a mesma coisa com os olhos abertos.

...

Passada cerca de mais meia hora, eles resolveram parar. Antes, porém, de voltar para a Torre da Grifinória, Sirius entrou em outro assunto.

—Você teve aulas de canto em Avezzano também?

—Não parece muito lógico para uma escola de magia, mas sim, tive. – ela respondeu pegando sua capa.

—Então poderia cantar a música de que falou na história que contou semana passada?

—Não fui das melhores alunas nessa matéria. – ela tentou recusar

—Mesmo assim. – Sirius insistiu

—Por que quer ouvir essa música? – Saf perguntou

—Pareceu tão viva pra você, parecia que você podia escutar as notas enquanto falava.

—Eu podia…

—Por favor? – ele tornou a pedir

—É em italiano.

—Mesmo assim. – ele repetiu – Só um trecho.

—Está bem. – ela concordou dobrando a capa sobre o braço.

Parou um momento tentando se concentrar.

È difficile capire
Qual è la cosa giusta da fare
Se ti batte nella testa un'emozione.
L'orgoglio che ti piglia, […]

Ma se ti ritroverai
Senza stelle da seguire
Tu non rinunciare mai

A voz de Safira era suave. Não dava inclinação de uma grande cantora; tampouco era desafinada.

As palavras em italiano a transportavam para outros lugares… a praia do povoado próximo à escola, as ruas da cidade onde morava, Gênova, as salas de aula de Avezzano… A mudança para a Inglaterra fora feita tão às pressas…

 —Dentro te ascolta il tuo cuore
E nel silenzio troverai le parole.


—Bravo! – fez Sirius – Poderia me dizer o que significa?

É difícil entender
O que fazer ao certo
Se aparece na cabeça uma emoção.
O orgulho que te domina […]

Mas se você se encontrar
Sem as estrelas para te guiar
Nunca desista

 Dentro de você, ouça o seu coração
E no silêncio você achará as palavras.

—É uma música bonita, obrigado por cantar. – Sirius agradeceu

—Não tem de quê. – Saf balançou a cabeça.

O rapaz tirou a capa do braço dela e a segurou estendida para que ela vestisse com mais facilidade.

—Obrigada. – Saf disse antes de os dois saírem para o corredor

… … … … … … … … …

Na biblioteca, Ana e Maia estavam entre as estantes da seção de Feitiços procurando por algum livro que as fizesse entender a matéria da última aula de Flitwick.

—Vai sair com Guilherme hoje? – Ana perguntou em voz baixa para não atrair a atenção da bibliotecária

—Não.

Depois dessa resposta monossilábica, Ana perguntou algo que vinha guardando há dias.

—Maia, o que aconteceu que você está quieta desde sábado passado?

Ignorando que a amiga havia virado-se para ela, Maia continuou voltada para as prateleiras com os olhos ainda passando pelos títulos.

—Nada demais. – ela respondeu

—Nada demais? Você nem implicou com Sirius quando ele soltou um comentário machista na mesa do jantar anteontem.

Maia parou de correr os olhos pelas bordas dos livros e soltou o ar dos pulmões com peso ao dizer:

—Guilherme brigou comigo outra vez.

—Qual o motivo dessa vez? – Ana perguntou com ironia – Por você não ter torcido para Lufa-Lufa no jogo de Quadribol?

Maia apenas contraiu os lábios deixando a boca enviesada.

—Você está brincando! – exclamou Ana com os olhos arregalados

—Shh! – fez Maia olhando dos lados – Não foi bem isso. Ele disse que não tinha me visto durante o jogo.

—Como ele queria ter te visto da distância da arquibancada da Lufa-Lufa?

—Queria saber onde eu estava, com quem eu estava.

—Seu namorado precisa de terapia. Terapia de choque.

—Ana… - Maia advertiu

—Ele não tem o direito de te deixar mal desse jeito. Você sabe disso, não sabe?

A amiga tornou a expirar e contrair os lábios.

—Maia! – Ana disse indignada dessa vez tomando o cuidado de falar baixo.

—Ana, - Maia virou-se para ela já tendo uma idéia do que ia na cabeça da amiga – ele está me deixando cansada? Está, mas eu não sei o que fazer. Estou preocupada, não quero que o nosso namoro acabe. Eu o amo. Eu ainda o amo.

Ana não disse mais nada, não queria deixá-la ainda mais chateada. Porém, cada vez mais tinha a incômoda impressão de que Ashfield estava mais preocupado consigo mesmo, com seu ciúme do que com os sentimentos de Maia.

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Dezembro chegou fazendo as temperaturas caírem ainda mais. O interior do castelo já estava sendo decorado para o Natal, e o exterior parecia uma grande extensão branca por causa da neve, recortada apenas pela cabana de Hagrid, pelos troncos das árvores da Floresta Proibida ou pelas Estufas.

Em um fim de semana no meio do mês houve uma visita a Hogsmeade. Na manhã desse sábado, quando se viu sozinha com Lily no dormitório, Maia comentou:

—Estou meio desapontada.

—Por quê? – fez Lily enquanto procurava um par de luvas em seu malão.

—Achei que Frank fosse convidar Lice para ir com ele a Hogsmeade hoje… - Maia respondeu em frente ao espelho

—É, eu também achei…

—O que eu não entendo é que… é tão claro que ele gosta dela…

Nesse momento, Alice entrou no quarto e as duas acharam melhor mudar o rumo da conversa.

… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Cerca de meia hora depois, Ana, Lice e Lily vinham andando pela estradinha que levava ao povoado – Maia já tinha ido com Guilherme. Não falavam muito por causa do vento frio, mas logo antes de chegar à rua principal de Hogsmeade, Ana comentou:

—Estou preocupada com Maia. Ashfield não está fazendo bem a ela.

—Ela tem andado mais cabisbaixa ultimamente. – falou Lily

—Ela está brincando menos. – notou Lice

—Parece que fica esperando a próxima vez que ele vai brigar com ela… - completou Ana – E Saf, não vem ao povoado hoje?

—Não, aliás, acho que ela nunca veio. – respondeu Alice

—Não, não veio. – confirmou Lílian

—Por quê? – perguntou Ana

—Não sei bem, ela sempre tem uma desculpa. – respondeu Lice

—Talvez os pais não tenham dado autorização. – supôs Lily

—É uma possibilidade... – fez Lice

Entrando no Três Vassouras, as três dirigiram-se a uma mesa, mas Ana nem chegou a sentar. Do outro lado do bar, uma amiga da Corvinal acenava para ela, e Ana foi até lá.

Lice se ofereceu para ir ao balcão fazer os pedidos. Com um sorriso disfarçado, Lily notou a coincidência de Frank também estar ali naquela hora. Os dois ficaram um tempo conversando e Lily pegou seu caderno e ficou rabiscando fingindo escrever – Lice ficaria muito sem graça se percebesse que alguém os estava observando.

Quando a amiga voltou para a mesa trazendo três cervejas amanteigadas, Lily cantarolou:

—Você está vermelha…

—Quieta, Lily.

—Muito vermelha… - ela brincou

—Obrigada, Lily. … A propósito, como vão você e o Tiago?

—Por que o assunto sou sempre eu e o Tiago? Você me perguntou o que eu pensava dele, mas não me contou o que pensa de Frank. – disse Lílian com a voz baixa e doce

Lice abaixou ainda mais a voz para responder:

—Eu não sei bem o que dizer… Ele… é inteligente, é bonito, cavalheiro… - e levantando ligeiramente os ombros, falou - …é um príncipe encantado… Lily, eu pareço boba demais?

—Não, - Lily sorriu doce – parece apaixonada…

Lice abaixou o rosto um instante antes de perguntar:

—Lily, você concorda com Maia? Acha que ele pode gostar de mim?

—Sim. – Lily respondeu balançando afirmativamente a cabeça com o mesmo sorriso

Lice tornou a abaixar a cabeça corando de novo.

—Agora a tarde ele vai encontrar um amigo que terminou Hogwarts ano passado e está na Academia de Aurores. E… me convidou pra ir com ele.

—Que fofo…

—Eh…

—Por que você não contou antes?

—Frank acabou de chamar. Pediu desculpas, mas só recebeu a resposta do amigo agora de manhã. Quim Shacklebolt. Você se lembra dele?

—Era da Corvinal, não era?

—Acho que sim. … Para de sorrir assim, está me deixando sem graça.

—Não consigo. – fez Lily continuando a sorrir – Estou feliz por você. Encontrou seu príncipe encantado, princesa Alice.

Alice não teve tempo para ficar mais encabulada, pois notou uma discreta alteração nos olhos de Lílian quando Tiago apareceu e sentou na cadeira vaga de Ana.

—Olá, meninas. Meus pais vão fazer uma festa de natal, e queria convidar vocês. Dona Alexandra já deve ter mandado o convite para seus pais, Lice.

—Ah, certo. – fez ela

—Você vem, Lily? – ele perguntou tentando não deixar aparecer tanto assim o quanto esperava a resposta

—Eu não sei, preciso falar com meus pais.

—Claro. – fez ele – Como geralmente as pessoas passam o natal com a família, minha mãe achou melhor fazer essa festa na noite do dia 25.

—Noite do dia 25. – Lily falou para memorizar – Falo com eles e depois te respondo.

—Certo.

—Mas olha a folga! – brincou Ana atrás dele – Está achando que só porque é o capitão do time de Quadribol pode sentar onde quiser... Pediu minha permissão por acaso? – disse ela colocando as mãos na cintura

—Mil desculpas, artilheira-que-marcou-o-primeiro-gol-do-campeonato, já estou de saída. – falou ele inclinando a cabeça

—Ah, só por ter lembrado disso, agora pode ficar. – fez ela fazendo as amigas rirem

—Não, eu tenho de ir. – disse ele levantando – Aliás, já te falei da festa de natal dos meus pais, não falei?

—Já, sim.

—Então, tudo bem. Até mais. – Tiago despediu saindo

Ao vê-lo fechar a porta, Ana falou:

—Derreteu muito, Lily? Precisa de ajuda pra ficar reta?

A ruiva não pôde responder nada, só viu o olhar de Alice como se tivesse sido vingada.

… … … … … … … … …

Em uma aula vaga em uma tarde no meio da semana seguinte, fazendo quase as últimas tarefas antes das férias de Natal, Safira, Remo e Sirius dividiam uma mesa no Salão Comunal estudando Poções.

Lily tinha entrado pelo Retrato da Mulher Gorda quando Tiago desceu as escadas do dormitório. Aproveitando o encontro, Lily dirigiu-se a ele.

—Tiago, desculpe, acho que não vou poder ir à sua casa no natal.

—Por quê? Se não se importa que eu pergunte. - falou ele

—Com toda sinceridade, não sei como chegar à sua casa. Lice e os pais vão estar na casa da avó dela, e a minha lareira não é ligada à Rede do Flu. Mas muito obrigada pelo convite.

—Você vai estar em casa?

—Vou. Minha família vai ficar em Londres esse ano.

—Eu posso buscar você, se quiser. – ele ofereceu

—Ah, eu… eu não quero atrapalhar. – disse Lily muito sem jeito – Vocês vão estar bastante ocupados…

Tiago deu um meio riso.

—Você não conhece minha mãe, às cinco horas já vai estar tudo pronto.

—Tem certeza que não vai incomodar? – ela tornou a perguntar

—Absoluta. Posso te pegar às 8 mesmo?

A ruiva sorriu ainda sem jeito.

—Pode, obrigada.

—Por nada.

Mais ou menos perto dali, Safira havia feito uma pausa na leitura do livro de Poções e assistia discretamente a cena.

—Eles formam um casal tão fofo…

—É que você não viu uns dois anos atrás. – falou Remo

—De vez em quando a gente ouvia até gritos. – comentou Sirius

—Tiago gritava? – Saf estranhou

—Na verdade, a Lily. – respondeu Sirius

—Lily gritando? – Saf perguntou pasma

—Minha cara, você não viu nada. – falou Sirius – Pelo menos, naquela época.

—Vendo os dois juntos hoje é difícil imaginar. Tiago faz uma sutil expressão de apaixonado, às vezes Lily finge que não vê…

Droga, tinha falado demais.

—Finge? – fez Sirius

—Ah, não, não sei. É só um palpite. Lily não me falou nada se foi isso o que quis perguntar.

Sirius lembrou entre outras coisas, de uma das aulas de dança.

—Você parece ter muitos palpites certos só de olhar para as pessoas. – falou ele

—Impressão sua. – falou ela desviando os olhos de volta a seu pergaminho

—Tem certeza? – fez Sirius

Remo se mantinha calado, mas sabia do que Sirius falava. Também já havia notado algo diferente. Uma certa tensão pairou no ar.

Sentindo dois pares de olhos sobre si, Safira voltou a olhar para eles.

—Ok, perguntem.

—Perguntar o quê?

—Eu tenho uma idéia, mas é melhor vocês perguntarem direto.

—Como tem esses bons palpites? – perguntou Remo

Safira respirou.

—Quando eu olho para alguém, em geral consigo perceber certas coisas. É meio inconsciente, não é como se eu ficasse bisbilhotando a vida alheia.

—Desculpe, não foi isso que quis dizer.

Safira sabia que de fato não tinha sido, mas achou melhor não dizer nada a respeito.

—É como Legimência? – perguntou Remo

—O quê? Não. – fez ela surpresa – Sei que os legimentes não gostam dessa palavra, mas não posso “ler” a mente de ninguém. Só percebo coisas como alterações no humor, no tom de voz. Não é como se eu pudesse descobrir um segredo seu só de olhar pra você. No máximo, em alguma situação, posso supor que você está escondendo alguma coisa.

Saf citou esse exemplo inocentemente. Não imaginava que veria um brilho discreto passar pelos olhos de Remo. Um brilho de apreensão. Ela, no entanto, achou melhor não fazer nenhum comentário.

Ela também havia sido bastante vaga ao dizer que tipo de características percebia com mais sensibilidade. Notava, além da voz, os olhos, a jeito de se mexer, a respiração e outros aspectos que não saberia enumerar, pois os via inconscientemente. Mas ela tinha razões para ser reservada…

Como se aquela conversa estivesse tomando um rumo perigoso, Sirius se apressou em dizer alguma outra coisa.

—Como você aprendeu a ser assim?

—Não sei, deve ser de família. – ela respondeu vagamente antes de voltar para o livro de Poções

Naquela noite, Remo dizia aos outros Marotos:

—Ser só uma boa observadora não adiantaria muita coisa se ela não fosse boa nos palpites. É melhor ter muito cuidado sobre as luas cheias...

 


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Notas finais do capítulo

N/A - Oiê!
O que estão achando das aulas de dança da Saf e do Sirius? Expectativas para o natal? Não percam o próximo capítulo.

A música que Safira canta diz muito a respeito dela, nos próximos capítulos vai ficar mais claro porquê. Aliás, a música é Ascolta il tuo cuore, da Laura Pausini.

Beijos,
Palas



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