Secrets escrita por Grimmliz


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Faz uns dois dias que essa ideia vem sondando minha mente, até que eu finalmente consegui colocá-la em palavras.
Sou apaixonada pela Aristocracia Britânica, tenho livros e livros, e por mais que os romances acabem sendo 'água com açúcar', não consigo não me apaixonar (Anthony Bridgerton que o diga!).

Enfim, espero que gostem ~



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Secrets 

~

Ser da nobreza era uma droga. Aquela noite seria enfadonha. E fingir ligar para algo no mínimo insuportável era irritante. Já desistira a muito de tentar entender o sentido em colocar belas roupas, agir como uma pessoa educada e politicamente correta, quando sabia que oitenta por cento das pessoas que estariam presentes naquele baile eram falsas, interesseiras, e o suportavam apenas pelo fato de ter um grande nome, e melhor aparência que a grande maioria.

Preferia um milhão de vezes se jogar contra uma poltrona confortável, com roupas e cabelos desfeitos, enquanto ria da sociedade e ignorava o mundo, assim como há duas horas atrás.

Antes de sair, colocou a máscara imitando a mandíbula de um felino selvagem, como se parte de seus ossos estivesse transpassando a carne, – como se o fingimento de cada um não fosse disfarce o suficiente – e ajeitou o smoking negro e a gravata borboleta, que lhe incomodava seriamente o pescoço – sentia como se estivesse com uma maldita coleira, e fosse um cachorrinho da aristocracia.

Saiu para a rua movimentada, ignorando os acenos de cabeça e palavras educadas daqueles que se dirigiam para o mesmo lugar. O evento seria há poucas quadras, e não via necessidade de tomar uma carruagem e quicar em seu banco por minutos que poderiam muito bem ser evitados, se usasse suas duas pernas.

Não muito tempo depois, entrava pela porta da mansão que oferecia o evento. Não se dera ao trabalho de saber qual era a família, ou sequer cumprimenta-los, apenas passou cortando a fila de puxa sacos, determinado a encontrar o canto mais afastado e deserto possível, para pelo menos privilegiar-se com alguns minutos de paz, antes que as pobres moças – ambiciosas – desesperadas por atenção – e por uma conta bancária com vários zeros – o procurasse.

A cada segundo, mais e mais pessoas povoavam o local, e como previra, meia hora depois já tinha recebido tantos sorrisos, e sutis toques nos braços, que poderia jurar que buracos começavam a se abrir nas mangas do casaco. Livrando-se das companhias, procurou por algo que fosse forte o suficiente para fazer com que suportasse mais algumas horas, ou pelo menos, o inevitável momento do baile. Já podia ouvir os primeiros instrumentos sendo afinados, e eles soavam como o sussurro da morte aos seus ouvidos.

Virando um copo com líquido âmbar, – que sequer dera ao trabalho de perguntar o que era – vasculhou com os olhos toda a extensão do salão, analisando as donzelas que pareciam minimamente irritantes para possíveis parceiras de dança. Seus olhos foram atraídos para uma em especial, não só pelos cabelos ruivos que ele não se lembrava de ter visto antes, mas também pelo fato de ela não tê-lo notado. Ela se deixava encoberta por uma planta, com a intenção de permanecer como uma sombra. Talvez ignorasse o fato de que alguém com fios daquela cor e trajada como estava, dificilmente passaria despercebida.

Deixando o copo sobre a mesa, cortou a multidão mantendo os olhos sobre seu objetivo; A bela garota de vestido rosa, cabelos em coque presos por um grampo e máscara prateada. Ela não percebera sua aproximação, pois estava ocupada demais em se sentir desconfortável.

— Você parece nervosa.

A garota virou-se nos calcanhares, surpresa. Tinha olhos grandes, cinzentos e brilhantes.  Ele quase conseguia ver-se refletindo naqueles orbes, que pareciam não acreditar no que viam à frente.

— Não, eu...

Ele esperou que continuasse, mas não houve palavras depois daquelas. Ela apenas ficou a olhar ao redor, procurando uma rota de fuga. Aquilo foi o suficiente para que ele tivesse certeza que tinha escolhido a parceira perfeita. Adoraria causar tormento para alguém, e não sentir-se como o único desafortunado da noite.

— Diga-me... Está escondendo algo por acaso?

— N-Não, o que te faz pensar isso? – Ao contrário do que ela tentava demonstrar, sua voz atingira duas oitavas acima.

— A forma como seus olhos se movem, o tom da sua voz, sua atitude por inteiro. Geralmente no baile as pessoas tentam se misturar entre si, não com a flora.

Ela o fitou, admirada com a análise, e deu um passo para o lado, sem graça, saindo da folhagem que cobria parte do corpo.

— Qual seu nome? Ou isso é um segredo também?

Ela pensou antes de responder, quase num sussurro.

— Orihime.

Semicerrando os olhos ele pensou por um momento. Não se lembrava de ter ouvido aquele nome antes – não que algum dia tivesse dado atenção para algo que qualquer um dissesse. De qualquer forma aquilo não importava, ela apenas seria sua presa por alguns dolorosos minutos.

— Sou Grimmjow, e você acaba de se tornar meu par nesta dança.

— O-O quê?!

Sem tempo para maiores protestos, ele a pegou por umas das mãos, praticamente arrastando-a para o meio do salão, a tempo dos primeiros acordes soarem, e enquanto todos começaram a se mover como cisnes, ela ficou a encará-lo, tão bela e encantadora como uma estátua de Afrodite.

— Que foi?

— Eu não danço.

— Apenas siga meus passos e o que os outros estão fazendo.

— C-Como?!

Grimmjow apossou-se da cintura dela, e uniu suas mãos, elevando-as um pouco acima dos ombros, os pequenos e enluvados dedos dela se tornaram terrivelmente pequenos em relação aos longos e rudes dele. Ele a aproximou do próprio corpo, de súbito. Orihime se sobressaltou com a proximidade, sentindo o rosto se aquecer sob a máscara, ao encarar o largo peito coberto pelas camadas de tecido.

— Coloque sua outra mão no meu ombro.

Os lábios dele estavam perigosamente perto do ouvido dela, a voz rouca e profunda enviou arrepios ao longo da coluna dela.

— P-Por quê?

— Porque é assim que se dança. Vamos, faça, antes que alguém nos atropele.

Obedientemente ela o atendeu, deixando a mão livre descansar sobre o ombro dele, e antes que percebesse, ele já começava a movê-la junto aos outros, mas de forma um tanto atrapalhada e inconstante, em vez de cisnes, pareciam patos.

— Ei, ei! O que você tá fazendo? – Questionou ele, perplexo.

— Dançando...?

— Não. Você está castigando meus pés! Apenas relaxe, deixe que eu te guie.

— Certo...

— Olhe pra mim, sinta a música.

Ela assentiu, respirando fundo e soltando o ar lentamente. Elevou o rosto, mas ainda sim não se permitiu encará-lo. Passou a se despreocupar com a forma que seus pés se mexiam, deixando-se levar pelos movimentos dele. Imediatamente percebeu que assim era muito mais fácil, simplesmente fluía, não lutava mais contra a correnteza. Havia vezes que achava que ia se chocar contra outros casais, mas ele habilmente a girava em outra direção, buscando um caminho totalmente livre.

— Não disse pra confiar em mim?

Com aquelas palavras, Orihime direcionou sua atenção para Grimmjow, que a fitava de cima, com olhos atentos e tão azuis quanto céu. Definitivamente encará-lo era um terrível erro, ele era Adônis em carne e osso.

— Desculpe.

— Tá tudo bem. Você nunca veio num baile antes?

— Não.

Aquilo não era novidade pra ele, apenas queria confirmar.

— Você ao menos sabe quem eu sou?

Orihime sentiu-se desconfortável com aquela pergunta, e um tanto tímida ao responder.

— Sinto muito, eu não o conheço... Mas tenho certeza de que muitos outros sabem que é! – Completou rapidamente, como se esse fato justificasse sua ignorância.

Grimmjow não pôde evitar o pequeno sorriso torto que se mostrou em seus lábios.

— Ah, eu não ligo pra isso. Na verdade seria melhor se ninguém me conhecesse, pois assim, cada baile seria menos tormentoso.

— Achei que vocês nobres gostassem dessas coisas.

— Vocês?

Ela arregalou os olhos, e atrapalhou-se no movimento, percebendo o terrível deslize que cometera. Mas ele fez com que ela se recuperasse facilmente, como se nada houvesse saído dos conformes.

— Eu sabia – Declarou baixinho, vitorioso e conspirador.

Ela o fitou no fundo dos olhos, tensa, as costas tão eretas que faziam os músculos doerem, totalmente na defensiva. Grimmjow diminuiu as passadas, até que a música terminou, e todos pararam em seus lugares. Os demais ao redor cumprimentaram-se com mesuras, logo buscando pelo próximo parceiro, mas eles sequer se moveram. Ela tentou se afastar, mas ele a segurou com firmeza.

— Não importa – Afirmou, respondendo o questionamento mental que ela se fazia.

Orihime engoliu seco, involuntariamente apertando os dedos ansiosos no casaco dele.

— A música já acabou...

— Eu sei, tenho ouvidos, e eles funcionam divinamente bem.

— Você precisa escolher uma dama para a próxima dança.

— Eu não preciso de outra, você parece boa o suficiente pra mim, e ainda não te ensinei tudo que sei.

Orihime voltou sua atenção ao redor, e percebeu os vários olhares curiosos que recaíam sobre eles. Ambos estavam dando um espetáculo para a sociedade. Ela apertou os lábios em linha reta, voltando a encará-lo, engolindo seus temores, e rezando para que a soltasse e pudesse irromper pelas portas para nunca mais voltar.

— É inadequado dançar mais de uma vez com uma mesma garota.

Ele resfolegou, girando os olhos diante do comentário dela.

— Quantas vezes vou ter que repetir que não ligo pra essas coisas?! Se estou infligindo alguma lei, que venham arrancá-la de mim.

A resposta dele a pegou desprevenida. Novos parceiros posicionavam-se no centro, e eles continuavam em sua guerra interna, ainda mantendo a atenção do público sobre sua situação, mesmo que nenhuma palavra ultrapassasse o mundo dos dois. Grimmjow os ignorou completamente, trazendo-a para ainda mais perto, colando seus corpos. Se eles queriam algo do que falar, ele lhes daria algo de qualidade.

— Solte-me.

A fala foi quase um suspiro entrecortado. Tentou empurrá-lo, mas era como tentar mover uma montanha.

— Não antes de terminarmos esta dança.

Os olhos dela estavam tomados pela desconfiança e temor.

— Eu preciso ir!

Aqueles orbes brilhavam tanto, que Grimmjow achou que ela iria às lágrimas a qualquer momento. Aquilo surpreendentemente o incomodou. Com um suspirou pesado e irritadiço, confessou à meia voz.

— Olha, eu não vou te entregar pra ninguém se essa é a sua preocupação. Não tô nem aí se você é filha do cavalariço, do cozinheiro, e o que quer mais que exista nesse mundo. Já que está aqui, ao menos aproveite mais um pouco, e de bônus, me salve desses pavões por mais algum tempo.

Ela piscou repetidamente, comovida com as palavras iniciais dele, relaxando os ombros no processo. Mordeu o lábio com o máximo de força possível para segurar o riso, que o restante da frase tornou impossível de conter.

— Pavões?

Ao ver o rosto dela iluminado com uma nova expressão, algo dentro dele se atenuou.

— Você já viu como elas gostam de exibir suas plumas? Pavões fazem isso quando cortejam.

— Ah, agora faz sentido...

Orihime sorriu abertamente imaginando a cena, e ele a acompanhou com o dele, um sorriso largo e sincero.

— Bem melhor.

Grimmjow a fitou com olhos divertidos, afrouxando os braços minimamente para facilitar os movimentos.

— A última, prometo.

Ela assentiu, e ele imediatamente voltou a girá-la ao som da valsa. A saia do vestido farfalhava, e por vezes se enroscava nas pernas dele, lembrando-o de sua proximidade com ela. Orihime estava bem menos tensa, aproveitando a musica com um grande sorriso no rosto. Por um momento ele teve curiosidade de descobrir o que se escondia por trás daquela máscara prateada, e algo lhe dizia que não se decepcionaria com a revelação.

Eles dançaram, dançaram e dançaram. Entre troca de olhares, sorrisos e piadas irônicas vindas da parte dele. A valsa se passou, então vieram muitas outras mais, e ele ainda se recusava a soltá-la. Na verdade nenhum dos dois estava atento para se a musica acabava ou iniciava.

Depois de uma infinidade de notas e acordes, e seus pulmões implorarem por oxigênio e ar fresco, ele a tirou dali, levando-a para o terraço de frente ao jardim. Neste momento ninguém mais ligava para os dois, já haviam cansado de fofocar à custa deles.

A sacada estava deserta e tão silenciosa quanto era possível. A brisa da noite soprou pelos cabelos dela, levando até ele o aroma agradável dos fios ruivos. Ele estava exausto, a máscara o incomodava ainda mais que a gravata. Afrouxou o laço da mesma, e retirou o objeto que até então cobria parcialmente sua face.

— Era suposto ficar com a máscara até o fim da noite – Comentou ela, fitando de soslaio o belo rosto descoberto de seu acompanhante.

— Você vai me prender por isso?

Ela negou com a cabeça, e ele sorriu torto.

— Então não vejo porque mantê-la.

Grimmjow recostou-se contra o corrimão, levando uma das mãos à máscara dela, um toque sutil e carinhoso, afastando os dedos quase que imediatamente. Este ato atraiu o olhar dela pra ele.

— Não acha injusto que eu revele o meu rosto e você mantenha o seu coberto?

— Não sou tão rebelde quanto você.

Ele sorriu maliciosamente diante do gracejo dela.

— Não fui eu quem invadiu a festa...

Orihime corou diante do apontamento dele. Hesitante, levou os dedos delicados ao adorno por um breve momento, mas repensou, e voltou a baixar a mão.

— Acho que gostaria de manter ao menos um de meus segredos esta noite.

— Me parece razoável...

Os dois ficaram a fitar as luzes do jardim em silêncio. O burburinho de vozes começava a diminuir. Já não restavam tantas pessoas no baile, e se ela quisesse partir despercebida, aquela era a hora.

— Grimmjow... Obrigada por hoje.

Ele a olhou de canto, dando de ombros.

— Não foi nada demais, apenas uma troca de favores.

— É, acho que sim.

Ela apertou as mãos no tecido do vestido, dando as costas a ele.

— Eu... Boa noite.

Orihime foi em direção às escadas que levavam a uma das saídas da mansão. Grimmjow conteve o ímpeto de agarrá-la belo braço e lhe arrancar a máscara, sanar a curiosidade que ainda o corroía. Mas se conformou em apenas cobrir a distância que os separava, chamando-a. Ela se virou, surpresa ao encontra-lo logo atrás dela. Questionando-o com o olhar.

— Você não está se esquecendo de nada?

Ela tocou o rosto para confirmar se a máscara continuava ali, e estava. Não se lembrava de ter trazido nada mais.

— Não, acho que não...

Ela se espantou ao visualizar o momento em que a mão dele foi em direção à sua cabeça, e ao contrário do pensou que ele faria, sentiu os cabelos caindo em cascata pelas costas e ombros, e imediatamente viu o grampo que os prendia de posse dele.

— O que está fazendo?

— Roubando.

— Isso é meu!

— Vai me prender por isso?

Ela abriu a boca pra falar, mas desistiu. Não conseguia pensar em algo que fizesse sentido para usar contra ele.

— Vou tomar isso como compensação por manter seus segredos.

Lançando a ele um olhar resignado, sorriu para si mesma, assentindo. Deu-lhe as costas, retomando o caminho que fazia antes.

— Vou te ver de novo? – Não pôde evitar, quando percebeu já tinha perguntado.

— Provavelmente não. – O respondeu, sem interromper os passos.

— Caso queira reaver seu grampo... Me procure para negociarmos o preço.

Orihime virou o rosto, não disse uma palavra sequer, mas o olhou sob os cílios espessos de tal forma e ofereceu tamanho sorriso, que ele agradeceu profundamente por ela estar a certa distância, pois se não, não a teria deixado ir tão livremente. Grimmjow a encarou até que desaparecesse na escuridão. Guardou o grampo no bolso, e voltou a colocar ambas as máscaras; A de mandíbula felina, e a que despira apenas para ela.

Ele não era um idiota infantil que acreditava que de alguma forma a encontraria através daquilo. Contos de fadas não existiam, e se existissem, não seria o príncipe do cavalo branco, estava mais para fera, monstro, ou qualquer outra coisa que muito provavelmente ficaria com a mocinha tão somente por mágica.

Decidira por fim que guardaria aquilo como uma lembrança, apenas para ter certeza que ela não fora elemento de um sonho. Pensando melhor, ela estava mais para um ser maligno, que espreitara seu coração, aprisionara sua alma, e por mais que soubesse que dificilmente teria um vislumbre daquilo tudo novamente, no fundo continuaria a clamar por mais, noite após noite. Almejando, cobiçando... Desejando-a.


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Notas finais do capítulo

:)



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