Os Doze Escolhidos escrita por Ginger Bones


Capítulo 6
O Soldado




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Ezekiel já devia ter se acostumado aos jogos de caça logo cedo há muito tempo, mas haviam poucas coisas que ele era capaz de se acostumar desde que entrara para o exército do Egito, seu país natal. Ele acompanhou sua equipe recém formada até dentro da floresta, a besta modelo crossbow pesando em seus braços. 

 

A garota que lutou com tanto empenho aquele dia na arena, Cassidy, agora estava em silêncio acompanhando a direção da bússola enquanto os conduzia por um caminho que há muito já tinha sido uma trilha, mas que agora já estava tão emprenhado em galhos e raizes que era difícil proteger-se das plantas e evitar que uma delas acabassem machucando-o de alguma forma.

 

Kyle e outro garoto que ainda não havia aprendido o nome não demoraram para se juntar à sua líder de equipe segurando a bússola de luz azul, iniciando uma conversa que Ezekiel não tinha interesse em participar. Ele sempre foi do tipo quieto, e preferia ficar cuidando da retaguarda do que passar o tempo conversando, ainda mais estando em uma floresta escura em um planeta desconhecido, mas talvez só ele se preocupasse com as questões de segurança, visto que os outros não tinham seu senso de perigo. Com pouco mais de uma hora caminhando pela mata, no entanto, Cassidy enfim resolveu parar. 

 

— Tudo bem, já chega.- Ela disse virando-se para os outros três que os seguiam e deixando no chão a besta pesada que levava na mão livre.- Essa bússola é inútil e não vai nos levar a lugar algum. Sugiro que se algum de vocês cinco tiver uma ideia melhor de como encontrar essa maldita bandeira, é bom falar agora. 

 

Ezekiel achava que poderia ajudar, afinal, já tinha participado desse tipo de atividade antes. Resolveu arriscar, embora não soubesse se as mesmas regras se aplicavam à outras dimensões.

 

— Eu talvez possa entender melhor a bússola.- Ele disse em tom de voz baixo, fazendo com que os outros tenham que se aproximar mais dele, o que o fez ter que repetir a mesma frase.- Eu vou precisar mexer nela. 

 

— Se nos fizer parar de andar em círculos, é toda sua.- Cassidy deu de ombros, jogando a bússola para ele, e não foi difícil conseguir pega-lá no momento certo.- Eu já não sei se essa bússola não é um objeto mágico brincando com a gente. 

 

Zeke a analisou, notando que a seta apontava a sudeste independente de que direção estivesse. Fazia sentido que não haviam chegado a lugar nenhum, as setas estavam praticamente imóveis, como se a única direção possível fosse aquela. 

 

— A bússola estava apontando sempre para Sudeste quando estava com você?- Ela confirmou, parecendo entender o que ele queria dizer. Nos filmes de ficção científica e fantasia, era comum que esse tipo de objeto mágico só respondesse a uma única pessoa. Zeke quis confirmar a hipótese.- Talvez só não tenhamos chegado longe o suficiente. A bússola aponta para as montanhas à Sudeste, talvez nessa bandeira esteja escondida lá, e por isso não chegamos a lugar nenhum esse tempo todo. 

 

Assim, os outros também olharam na mesma direção de Ezekiel, e se ele estivesse certo, ainda teriam mais algumas horas de caminhada até as montanhas que podia ver no horizonte.

 

— Ir até lá ainda vai demorar muito, e não sei se temos tanto tempo.- Cassidy avisou.- Cada minuto que passa é menos tempo que temos para vencer a Equipe Vermelha, e há a possibilidade de que eles já tenham cumprido sua missão e estejam nos esperando. 

 

— Não dá pra saber.- Kyle lembrou.- Viemos em direção oposta. E mesmo assim, Etakarine avisou que o jogo só acaba quando todos tivermos voltado. 

 

— Acaba quando estivermos de volta, mas isso não significa que o primeiro a voltar não é o vencedor.- Cassidy disse.- E eu tenho certeza que os vencedores terão algum tipo de vantagem, ou essa Caça à Bandeira não faria sentido. Não sei vocês, mas eu quero vencer. 

 

— Vamos para as montanhas.- Ezekiel insistiu.- Estávamos demorando por que não sabíamos o que procurar, mas se andarmos mais rápido e direto para lá, talvez ganhemos tempo. Quero terminar isso antes de escurecer, porque percorrer todo esse caminho à noite pode ser pior ainda. Não sabemos o que se esconde nessas árvores. 

 

— Ótima lembrança.- A líder de cabelos coloridos respondeu.- Não sei que tipo de criatura existe nessa floresta. Não vamos ter que lidar com isso. Vamos para onde você disse. Agora. 

 

— Estou de acordo com essa ideia, mas se vamos passar muito tempo aqui, não devíamos pensar em um plano para o caso de termos que passar mais de um dia aqui?- O garoto italiano perguntou.- Talvez tenhamos que parar para descansar. 

 

— Qual é seu nome mesmo?- Cassidy questionou. 

 

— Lorenzo.- O garoto respondeu com timidez. 

 

— Muito bem, Lorenzo.- Ela começou a explicar.- Faremos isso. Vamos encontrar comida e lugar para descansarmos se for necessário, mas agora nossa prioridade é aproveitar as horas de sol que temos para nos aproximarmos ao máximo do nosso objetivo final, as montanhas. Quando estivermos cansados de caminhar, paramos e encontramos algo para comer. Todos de acordo? 

 

— E como você pretende encontrar comida em uma floresta desconhecida, sendo que nem sabemos o que há aqui que possa ser comestível?- Aleksander questionou. O garoto europeu não parecia ser muito comunicativo também, mas pelo menos era inteligente e não tinha medo de ofender os outros com suas palavras. Ezekiel achava isso tanto um defeito quanto uma qualidade. 

 

— Se tivesse prestado atenção nas aulas de Zoobotânica da Zoey essa semana, saberia que existem algumas regras para sabermos o que podemos comer daqui que não vai nos matar.- Ela explicou.- Não é difícil de decorar. 

 

— E eu era do exército.- Ezekiel revelou.- Posso encontrar um lugar seguro para ficarmos, se necessário.

 

— Viu? Problema resolvido.- Cassidy continuou.- Temos até um soldado com a gente, então vamos seguir com o plano e depois nos preocupamos com comida e abrigo. 

 

Então ela tirou a bússola das mãos de Ezekiel e seguiu abrindo caminho pela mata, prendendo a besta nas costas com a corda que pegara da caixa de armas e usando uma cimitarra para cortar os galhos no seu caminho como se fosse um facão de explorador. Os cinco entenderam que deviam segui-la e continuaram caminhando para sudeste, direto para as montanhas altas no horizonte. 

 

******************

 

— A bússola está indicando que é aqui.- Cassidy disse parando mais uma vez.- Muito bem, Ezekiel. 

 

Eles haviam chegado até a base da primeira montanha depois de mais algumas horas caminhando. Agora o sol estava em seu ápice e ele já estava com fome, mas não diria nada até que essa atividade tivesse acabado. Estavam em uma clareira gramada entre o fim das árvores alguns metros atrás deles e o muro de pedras de muralha à sua frente. A bússola nas mãos da garota começara a piscar há alguns minutos e não parava de jeito nenhum, e por isso imaginaram que tinham enfim chegado ao seu destino. Era difícil ter certeza, de qualquer maneira.

 

— Bem, espalhem-se.- Cassidy ordenou.- A bandeira deve estar escondida em algum lugar por aqui. Comecem a procurar. 

 

— Nós nem sabemos como ela é.- Ezekiel fez questão de lembrar. 

 

— Exatamente.- Ela respondeu.- Que bom que estamos em grupo, então. Tenho certeza que vamos saber como é quando a virmos. 

 

Ele assentiu concordando. De fato, o que quer que fosse, era algo muito artificial para estar em uma floresta. Eles procuraram em silêncio nas redondezas, até que Ezekiel viu o garoto de óculos da Itália entrar em uma caverna. Percebendo que só ele tinha visto o ocorrido, ele parou de caminhar entre as árvores perto de onde Cassidy estava com a bússola, e apenas observando a entrada da caverna. 

 

Por alguns minutos, Ezekiel não foi capaz de escutar nada vindo lá de dentro, então ele ouviu um som muito parecido com um rugido, seguido de pancadas como pedra contra pedra. Em seguida, o garoto saiu correndo da caverna, gritando o mais alto que podia. Com todo aquele barulho, os outros também entraram em estado de alerta, segurando as armas firmes nas mãos quando uma enorme criatura de rocha cinza como a Montanha irrompeu atrás do italiano. 

 

Ninguém nunca tinha visto uma criatura como aquela, embora Cassidy a olhasse como se tentasse se lembrar de algo. O italiano corria para a mata, mas Alek o segurou antes que fosse muito longe. O grupo precisava continuar unido, afinal. 

 

— Cassidy, o que é isso?- Ezekiel se ouviu perguntando. 

 

— Eu não tenho certeza.- Ela respondeu girando o cabo da cimitarra em suas mãos aparentemente nervosa. O monstro de pedra era lento, e visivelmente pesado, mas com certeza não teriam muito tempo até que chegasse até onde os 6 estavam tentando se abrigar entre as árvores. 

 

— Mas você tem uma hipótese?- Kyle gritou ao ouvi-los conversar alguns metros de distância.- Sugiro dividir sua opinião agora.

 

— Ei, garoto!- Ela gritou chamando pelo italiano. O menino a olhava aterrorizado, mas ela não se intimidou, aproximando-se dele em uma corrida rápida de árvore em árvore. Ezekiel a seguiu um pouco atrás, tentando escutar a conversa por cima do barulho que a criatura fazia ao andar.- O que é aquilo? Como ela apareceu? O que você viu lá dentro? 

 

Ele não pôde escutar com clareza a resposta do menino, mas conseguiu distinguir algumas palavras entre cortadas. Ezekiel ouviu algo sobre pedras soltas no chão se juntando para formar a criatura e ter visto de relance algo azul se movendo no fundo da caverna pouco antes da confusão começar. Cassidy soltou o garoto ainda tremendo de assustado, mandando-o ficar por perto, onde pudessem vê-lo, e se juntou aos outros, chamando-os até ela entre as árvores. Ezekiel a seguiu, a crossbow em suas mãos enquanto ela explicava sua hipótese.

 

— É um Golem.- Cassidy explicou. Ezekiel já tinha ouvido esse nome antes, mas nem todos pareciam entender o que isso queria dizer.- Não é exatamente uma criatura viva, e sim um feitiço. Há um boneco de pedra escondido em algum lugar do corpo dele, provavelmente onde deveria estar o coração. Para matá-lo, precisamos destruir a miniatura de onde ela estiver. Imagino que esse golem seja um teste que temos que passar antes de chegar até a bandeira dentro da caverna, então sugiro mirar no coração ou cabeça. Quando perceberem algum tipo de compartimento onde um boneco de pedra pode estar, mirem lá até destruí-la. 

 

— E como você tem certeza de tudo isso?- O britânico questionou ainda duvidoso. 

 

— Leio muitos livros.- Cassidy respondeu. Olhando sobre o ombro, viu que a criatura já estava muito perto deles, em breve não teriam mais as árvores para se defender.- Vão.

 

Tomando a dianteira, Ezekiel seguiu as ordens da garota, mirando na cabeça e peito da criatura que avançava sobre eles. O Golem passou a revidar assim que a primeira de suas flechas acertou-o no rosto. Logo, todos se esforçavam para encontrar o lugar onde o pequeno boneco de pedra se escondia no corpo enorme da criatura, porém, nada parecia realmente afetá-lo, apenas era possível deixá-lo mais irritado. 

 

Quando Cassidy se cansou de arranhar suas cimitarras nas pernas da criatura para tentar atrasa-la, ela se afastou dos outros, correndo em direção ao monte de rochas altas saindo da terra onde o Golem ainda não tinha chegado. Aproveitando que o gigante de pedra estava ocupado lutando com os outros 5, ela escalou a rocha mais alta, guardando as longas espadas nas bainhas presas ao seu quadril. De pé lá em cima, ela estava quase na altura da cintura do defensor da bandeira de sua equipe. Ezekiel viu o que ela pretendia fazer quando ela puxou a besta das costas, encaixando a flecha e levantando a arma sobre o próprio rosto. 

 

Ele quis gritar para que a garota não o fizesse, mas logo uma flecha prateada reluzia pelo ar, atingindo o exato ponto a esquerda do peito da criatura, bem onde deveria estar o centro de um coração humano. A flecha cravou-se no golem humanoide, pedra rachando e estilhaçando enquanto a criatura parava seus movimentos como um robô em falha. Eles se afastaram quando partes de granito voaram pelo ar, protegendo o rosto o quanto podiam. E ali, repousando dentro do corpo do golem, uma miniatura exata da criatura era quase dividida em dois com a flecha prateada de Cassidy Haynes a atravessando. 

 

Sem perder tempo, a garota recolocou a arma nas costas, descendo da pedra alta em um único pulo habilidoso. 

 

— Ei, você, garoto da Itália!- Ela exclamou apontando para o jovem de óculos que olhava apavorado para toda a cena.- Você sabe exatamente onde está a bandeira? 

 

— Acho que sim.- Ele gaguejou. 

 

— Ótimo.- Cassidy respondeu.- Você a encontrou, então vá buscá-la. 

 

Ele assentiu, acatando a ordem e correndo de volta para dentro da caverna. Pouco tempo depois, o menino apareceu com uma bandeira azul royal presa à uma haste de metal nas mãos. Entregando-a para Cassidy, ele se afastou do grupo mais uma vez. A garota assentiu em agradecimento e os conduziu de volta à floresta. 

 

Era meio da tarde quando eles enfim encontraram a clareira que tinha sido o ponto de partida da atividade que precisavam cumprir. Regie e Lawrence os esperavam de pé, lado a lado, porém não se manifestaram quando se aproximaram, e Cassidy cravou a bandeira da equipe no chão de terra bem em frente aos dois. Antes que dissesse qualquer coisa, porém, escutaram gritos vindo do lado da floresta de onde o outro grupo tinha ido. Correndo para fora da floresta, uma menina de longos cabelos ruivos cacheados vinha chamá-los em desespero. 

 

— Aconteceu uma coisa terrível.- Ela disse entre arfadas, e Ezekiel viu a expressão do impassível Lawrence se transformar na mesma hora.- Me mandaram até aqui para buscar ajuda. Uma daquelas coisas protegendo nossa bandeira pegou uma das nossas. Arrastaram Giorella para dentro do abrigo deles, não pudemos fazer nada.


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